LULA LÁ, VENDO AS COISAS POR UM OUTRO ÂNGULO III – AS NOSSAS PERDAS
Por volta de 1997 ou 1998 – até esqueci a data! -, FHC disse poder dar um reajuste de dez vírgula alguma coisa ao funcionalismo público. Houve grande mobilização, com apoio do partido do Lula, e eu mesmo recebi adesivo que dizia que aquele percentual, “NEM PENSAR”. Os cálculos mostravam uma perda bem superior a cinqüenta por cento. Houve muitas reivindicações e explicações, mas o superpoderoso acabou não dando sequer um por cento.
Os anos foram passando, as coisas aumentando, os tributos crescendo e os vencimentos dos servidores murchando. Chegou ao final do seu governo, zero!.
Um único exemplo: o que eu pagava de mensalidade escolar para a minha filha, considerando que o real surgiu valendo um dólar, deveria ser uns oitenta reais; este ano chegou a quase quatrocentos reais.
Lula chegou lá! Ah, os tempos são outros, as coisas permanecem, mas pessoas mudam! Do lado de lá, as mesmas coisas são vistas com outros olhos! Diz ele que o Estado está podendo dar “quatro por cento” (!!!!!!!!!!!!!!!!!!) de reajuste. Ah, tivesse o Fernando II cumprido a promessa de dez por cento quando precisávamos de próximo de oitenta!
Em primeiro de novembro de 2001, fiz a comparação dos últimos sete anos com os sete anos das vacas magras do Egito e chamei a atenção para o fato de que as intenções do nosso faraó seriam oito anos. Mas era difícil imaginar que as vacas fosse continuar a devorar os restos por muito mais tempo.
Veja a escalada que teremos que enfrentar com 4% (quatro por cento):
A mensalidade escolar da minha filha, que já havia sofrido vários reajustes, na passagem do ano saltou de R$350,00 para R$399,00;
O salário mínimo, que era R$60,00 (sessenta URVs equivaliam nominalmente a R$60,00). O pagamento da empregada doméstica acompanha todos os reajustes.
Notícias de economia UAI, 04/02/2003:
“Conta de Luz tem reajuste recorde de até 29,35%.
Anatel define até esta terça-feira reajuste para celulares”
E dizem que a inflação foi contida.
05/02/2003:
“BH registra a maior inflação dos últimos oito anos”
06/02/2003
“Impostos - Carga tributária chega a 36,4% do PIB
O brasileiro nunca pagou tantos impostos. Em 2002, a carga tributária no País cresceu pelo sexto ano seguido e bateu novo recorde, chegando a 36,45% do Produto Interno Bruto (PIB). Em 2001 os tributos representaram 35,48% do PIB. No total, a arrecadação de impostos somou R$ 476,57 bilhões em 2002, aumento de R$ 72,82 bilhões sobre o volume arrecadado no ano anterior.”
A frase “o brasileiro nunca pagou tantos impostos” é repetida cada ano que passa.
08/02/2003:
Mais aumento - Celular sobe até 26% a partir de sábado
Lá em cima, tudo legal: “AUMENTO DE SENADORES CUSTARÁ R$ 11,6 MI AOS CONTRIBUINTES. Sem alarde, os senadores iniciaram o ano parlamentar com uma nova regalia: a de dispor, mensalmente, de R$12 mil para custear despesas consideradas como "do exercício da função" nos Estados.” Deram a si próprios cinqüenta e quatro por cento de reajuste. E eles não tiveram os vencimentos congelados no governo FHC!
13/02/2003
“Custo de vida - Gasolina, álcool e gás mais caros
Preços serão reajustados no próximo domingo, devido a mudança na base de cálculo do ICMS. Para piorar o quadro, especialistas afirmam que, nos próximos dias, Petrobras vai anunciar mais aumento nas refinarias, alegando que os valores estão defasados .”
Nosso vencimentos, não?
18/02/2003
“Choque no bolso - Cemig ganha a chance de subir preço em 37%
Tempo de crise - Gasolina subiu 9,5% nos últimos 15 dias.
Os aumentos nos preços do combustível esperados para o domingo passado não vieram. Em compensação, desde o início do mês, o litro de gasolina em Belo Horizonte subiu R$ 0,20, segundo pesquisa divulgada ontem pelo site Mercado Mineiro. Trata-se de uma alta de 9,5%. O litro do álcool também disparou, avançando 16%”.
19/02/2003
“BC ELEVA JUROS PARA 26,5%
O Copom decidiu hoje elevar a taxa básica de juros da economia brasileira de 25,5% para 26,5% ao ano. Também foi definido o aumento do recolhimento compulsório sobre depósitos a vista de 45% para 60%.”
Mas não pense que é só isso. Se você ficar devendo para um banco, você vai pagar essa taxa anual em menos de três meses.
20/02/2003
“Comitê de Política Monetária, após cinco horas de reunião, decide elevar a taxa Selic de 25,5% para 26,5% ao ano. É o maior patamar desde maio de 1999. Aumento pode anular todo o esforço fiscal do governo, que cortou R$ 14 bilhões do Orçamento deste ano”.
Vale a pena repetir uma notícia boa (para os expeculadores financeiros).
“Indústria - Caem emprego e renda
A indústria nacional empregou menos e pagou menores salários no ano passado. Pesquisa divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que o nível de emprego caiu 0,9% em relação a 2001 e a folha de pagamento diminuiu 2,4%. Os piores índices foram os do Sudeste, puxados por São Paulo e Rio de Janeiro, onde um maior número de vagas na indústria foi fechado.”
E alguns ainda dizem que as coisas melhoraram!
“Balanço - Supermercados faturam mais com alta do câmbio.
O faturamento dos supermercados mineiros cresceu 11,47% em janeiro deste ano, em comparação com o mesmo período de 2002. O cálculo é da Associação Mineira de Supermercados (Amis) e desconta a inflação dos últimos 12 meses medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que ficou em 14,47%. O ganho do setor ocorreu por dois motivos: a base de comparação fraca de 2002 e as altas acima da inflação registradas nos preços dos produtos mais afetados pelas oscilações cambiais, como açúcar, óleo e trigo.”
“Faça o que eu digo - Consumidor paga a conta dos juros altos
Aumento da Selic vai elevar em 0,82% a taxa média cobrada nos empréstimos a pessoas físicas, segundo cálculos da Associação de Executivos de Finanças. Mercado espera novas tabelas hoje.”
Nós também somos consumidores.
21/02/2003
“Tempo de crise - Vem aí outra onda de aumentos
Diretor da Petrobras diz a analistas estrangeiros que estatal mexerá no preço dos combustíveis o mais rápido possível. Ao mesmo tempo, dirigente do Ministério da Saúde avisa que 260 medicamentos serão liberados hoje do congelamento”.
É preciso muito pensamento positivo para não perder também a imunidade orgânica.
“O ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, disse ontem que o governo vai trabalhar pela redução das tarifas para manter a inflação sob controle. O País não está suportando a escalada de aumentos das tarifas públicas, disse o ministro. O Brasil vai ter de equacionar a pressão das tarifas dos setores públicos que foram privatizados e que estão em colapso.”
E, dizia-se que, privatizando, a competição traria preços menores!. Você acreditou?
25/02/2003
“Nova onda - Indústria prepara mais reajustes
Valor da moeda norte-americana, que permanece no patamar acima de R$ 3,50, já leva alguns segmentos a rever para cima seus preços. As tabelas que ainda vigoram em várias empresas têm como parâmetro para o dólar a cotação de R$ 3,20”
“JUROS COBRADOS POR BANCOS DÃO NOVO SALTO
A taxa média de juros cobrada do consumidor subiu de 51% ao ano em dezembro de 2002 para 54% ao ano em janeiro. Segundo o Banco Central, essa alta é resultado da perspectiva de depreciação cambial no curto prazo, que elevou as taxas de empréstimos pós-fixados referenciados em dólar.”
Parece Olimpíada!
27/02/2003:
“Taxas de juros são as maiores desde 1.999”
“GOVERNO PREPARA MAIS UM REAJUSTE PARA GASOLINA E DIESEL
Mesmo sem qualquer confirmação da Petrobrás, revendedores esperam nova alta dos combustíveis dentro de 10 dias. Causa continua sendo a defasagem”.
Como crescem determinadas coisas por aqui! Acho que só a nossa remuneração está fora do eixo.
28/02/2003:
”TARIFA DE ÁGUA MAIS CARA AMANHÃ
A Copasa anuncia um aumento de 29,8% nas tarifas de água em Minas Gerais. A partir deste sábado, as residências onde o consumo é de até 10 mil litros, a tarifa mínima passa de R$ 7,38 para R$ 9,58”.
Até parece que o servidor público não paga escola, não precisa de empregado doméstico, não gasta combustível, não precisa de energia elétrica, não toma água, não telefona..., enfim nem come!
Estão querendo que deixemos mesmo de fazer tudo isso. Ainda acho que somos humanos e trabalhamos como os demais.
Quem antes sentia as nossas perdas está por cima agora, vê as necessidades dos banqueiros, o direito do FMI, etc.
Parece lógico que todos os setores que tiveram grandes aumentos nesse tempo tiveram maiores lucros, pagaram muito mais tributo, e conseqüentemente o Estado arrecadou muito mais. O número de servidores tem diminuído, e o Estado, com tudo que arrecada a mais, não tem dinheiro para dar pelo menos uma metade do que deveria dar! Até pouco tempo, o Lula achava possível um reajuste total.
Como iremos prestar bons serviços com a redução constante do número de servidores – dos vencimentos nem se fala mais – em contrapartida com o aumento da demanda do serviço?