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Artigos-->The brazilian way of life -- 07/04/2003 - 02:00 (Fernando Jasper) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
The Brazilian Way of Life





Como diz o inglês Alex Bellos, autor de Futebol: O Brasil em campo, seu livro não é somente um documento futebolístico, é um documento sobre o estilo brasileiro de viver. Correspondente no Rio de Janeiro dos jornais britânicos The Guardian e The Observer desde 1998, ele deixa isso bem claro já no título – no original, Futebol: The Brazilian Way of Life, publicado em maio de 2002 na Inglaterra.





Por lá, o livro é um sucesso. No ano passado, foi considerado um dos cinco melhores sobre esporte do Reino Unido e apareceu entre os mais vendidos da ilha, ocupando o topo da lista de obras cujo tema é o Brasil.





Por aqui, onde foi traduzido há pouco tempo, não tem a mesma repercussão. Primeiro, porque já é raro brasileiro ler alguma coisa. Segundo, porque, ao contrário do que acontece na Inglaterra e em outros países europeus, a literatura sobre futebol não costuma ser levada a sério no Brasil, apesar do interessante crescimento no número e na qualidade das obras publicadas nos últimos anos.





Apesar disso, Futebol... é um livro atraente. Principalmente por apresentar uma visão externa das extravagâncias do futebol brasileiro a quem já estava cansado do senso comum tão difundido por reportagens no melhor estilo Regis Rösing. Por vezes, o autor acaba caindo no óbvio, mas de tal maneira que a queda soa como a comprovação de que o esporte é encarado de uma maneira muito peculiar no Brasil e essa relação é, sim, vista com olhos bem atentos por quem não mora aqui.





Repórter curioso e incansável, Bellos não escreveu um daqueles maçantes tratados sociológicos sobre a influência do futebol na vida dos brasileiros. O que fez foi mostrar essa impressionante influência através de inúmeras entrevistas com os especialistas de sempre – treinadores, jogadores famosos, torcedores e historiadores – e com personagens escondidos nos mais diversos lugares, desde Pelotas, no Rio Grande do Sul, até as Ilhas Faroe, entre a Noruega e a Islândia, passando por Manaus, capital escondida no meio da selva amazônica.





Após um ano de pesquisa, Bellos acabou produzindo um delicioso livro-reportagem, recheado de histórias sobre o que os brasileiros são capazes de fazer com uma bola de futebol – ou qualquer coisa que lembre uma. Muitas dessas histórias já são conhecidas daqueles que acompanham o futebol no Brasil, mas ganham no livro um tratamento mais cuidadoso e aprofundado, já que são originalmente direcionadas aos leitores ingleses, que até hoje tentam entender por que o esporte que eles criaram é tão querido por aqui.





Com um texto fluente e agradável, muitas vezes escrito em primeira pessoa, Bellos conta as origens do futebol no país, desvenda os motivos da persistente e amarga lembrança da derrota para o Uruguai na Copa de 50 e mostra por que, em terras brasileiras, acredita-se fortemente na influência da religiosidade e da superstição nos resultados das partidas.





O autor também compara as diferenças no tratamento dispensado a Pelé e a Garrincha no país, contando um pouco da às vezes alegre e muitas vezes trágica história do Mané. Fala da importância das mulheres no regulamento do Campeonato de Peladas do Amazonas – o “Peladão”, que luta para ser reconhecido como o maior campeonato de futebol do planeta – e na vida de jogadores e treinadores do Brasil, seja usando craques menos esclarecidos para alcançarem fama e riqueza, seja denunciando “Luxemburgos” para depois aparecerem nuas em revistas masculinas – alguém lembra de Renata Alves?





Como sua pesquisa começou em meados do ano 2000, Bellos conheceu uma das maiores crises da história do futebol brasileiro, que tinha uma seleção recém-eliminada dos Jogos Olímpicos e uma confederação sob investigação parlamentar. Pôde, assim, investigar as estranhas ligações entre dirigentes de futebol e a política nacional, o que rende ao leitor algumas das melhores páginas do livro. Estão nele um extenso perfil do então poderoso Eurico Miranda e algumas histórias dos bastidores das CPIs do futebol na Câmara e no Senado.





O “olhar externo” não evita que, em sua tentativa de associar o gosto pelo futebol ao próprio estilo de vida nacional, o autor escorregue em algumas generalizações. Quando fala de Zaguinha, aquele cidadão que cansou de ser mostrado no Esporte Espetacular fazendo embaixadinhas, Bellos diz que “o fato de valorizar nada além do divertimento e da habilidade com a bola o torna a personificação da paixão nacional”.





Quando explica porque o despretensioso Mané Garrincha é mais amado que o profissional da bola Pelé, o argumento é de que “o Brasil não é um país de vencedores. É um país de gente que gosta de se divertir”. E para mostrar por que, na década de 70, alguns cariocas inventaram o “autobol” – uma espécie de futebol disputado por automóveis –, Bellos diz que o novo esporte “se adequava a características brasileiras como espírito de brincadeira, direção imprudente e destruição gratuita”.





Mas isso não tira o brilho do livro. No geral, as conclusões do autor são bastante pertinentes e, concordando ou não com elas, Futebol: O Brasil em campo é leitura recomendadíssima a quem realmente gosta do esporte. Aos outros, eis uma boa oportunidade para finalmente aprender a gostar.





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