Houve quem dissesse que um dia a importância das divindades cristãs seria a mesma das gregas e romanas. Mas o que eles não previam é que um dia os próprios cristãos chegariam a equiparar seus escritos mais sagrados aos contos de fadas.
"O dia chegará em que a geração mística de Jesus pelo espírito santo no útero de uma virgem será comparado à geração de Minerva no cérebro de Júpiter".
Dário de Paiva.
Acertou Dario de Paiva, porque, embora ainda uma grande maioria da população do mundo creia nisso como verdade, já temos muitas evidências de que um mito não é mais verdade do que o outro.
Todavia, até os próprios cristãos já chegam a equiparar os textos que sempre tiveram como os mais sagrados às estórias infantis para conciliar a existência de seu deus com a realidade cientificamente conhecida hoje.
"Segundo o teólogo Antônio Manzatto, da Faculdade de Teologia Nossa Senhora Assunção, em São Paulo, a maneira de compreender as narrativas bíblicas mudou. "Essa mudança vem do estudo sobre a própria origem da Bíblia e do conhecimento maior da história e da arqueologia", afirma. Assim, o bloco de capítulos de 1 a 11 do Gênesis, que faz parte do Antigo Testamento e inclui a criação, o Paraíso, o pecado original, Caim e Abel, o dilúvio e a Torre de Babel, hoje é visto por estudiosos como um conjunto de histórias míticas. "São relatos que refletem a cultura dos povos do Oriente Médio que escreveram a Bíblia, uma maneira de eles se referirem à criação, à situação do homem, às transformações pelas quais o mundo passou. Isso não significa que os acontecimentos tenham se dado da maneira como foram relatados", diz Manzatto. "As narrativas do Gênesis não têm preocupação historiográfica."
Para o teólogo, o relato mítico na Bíblia é uma forma de gravar-se mais facilmente a afirmação de fé de que Deus é o Criador e de que o homem é criatura divina. "Funciona um pouco como aquelas histórias de antigamente, que têm como objetivo ensinar as crianças a adotarem determinados comportamentos na sociedade. Conta-se a história de Chapeuzinho Vermelho não para que as crianças acreditem no Lobo Mau, mas, sim, para que elas aprendam a verdade fundamental que a história quer transmitir, que é a confiança nos mais velhos, diz ele.
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"Se o ser humano descende do primata, como diz o darwinismo, ainda assim, a partir de certo ponto ele deixa de ser primata e passa a ser humano. Por que não enxergar nessa transformação um ato de criação de Deus?", afirma Manzato" (Revista das Religiões, julho/2004, págs. 53 e 54).
O que força alguns cristãos a chegar a esse tipo de explicação é o fato de até o papa, a autoridade máxima da igreja, já admitir a realidade biológica descoberta por Charles Dawin: "O próprio papa João Paulo II afirmou, em 1996, que "novas evidências levam ao reconhecimento de que a teoria de Darwin é mais do que uma hipótese" (Idem, pág. 53).
Aí agora vemos, não um ateu, mas um teólogo cristão admitindo que a natureza da chamada "palavra de Deus" equivale à da "história de Chapeuzinho Vermelho", bem como outros contos infantis.
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