99330>Lemos... Lemos... Lemos à esquerda e à direita, afadigámo-nos à procura da novidade, intencionando conciliar gosto literário e motivos dilectos, quando de repente chegamos à conclusão que algo de muito mais nos falta ainda conhecer e absorver.
No meu caso, nunca tinha lido ou ouvido falar de Elfriede Jelinek. Desta considerada romancista, poetisa e dramaturga austríaca, em Portugal e até ao momento, apenas foram editadas três obras: "Lust", "A pianista" e "Novíssimas histórias com tempo e lugar", literatura que só os especialiatas bem informados dominam.
Da laureada Nobel em 2004, após rápida e muito sucinta pesquisa que efectuei, consta tratar-se de uma escritora bastante incómoda para a literatura austríaca.
No curto comunicado que o porta-voz da Real Academia Sueca distribuiu aos orgãos de informação, refere-se: "O fluxo de vozes e contra-vozes, as entusiasmantes capacidades linguísticas de uma autora que descreve o absurdo dos clichés nas sociedades e a sua subjugação ao poder, merecem destaque".
A critica social é elemento constante na obra da primeira austríaca - décima mulher nobilitada - distinguida com o mais inportante galardão literário do mundo.
Lutadora acérrima pela condição feminina, Jelinek tende a esmiuçar a problemática da submissão e das relações difíceis com os poderes, construindo uma obra sob o signo da contorvérsia, sobretudo e essencialmente em seu próprio país.
Tida por personalidade escandalosa, António Sousa Ribeiro, professor da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, sustenta que Elfried Jelinek "é uma figura de escândalo nos círculos sociais conservadores".
Os motivos advêm da forte intervenção política e social que tornou a autora um dos alvos preferenciais da extrema-direita austríaca. Com o acesso ao poder de Jörg Haider, várias das suas peças foram proíbidas em teatros públicos, desiderato que acentuou o afastamento de Jelinek em relação à sua pátria, pelo que actualmente a escritora vive entre Munique e Viena.
Embora se pretenda defini-la como autora dramática, Jelinek nega o rótulo e replica:"Não sei nada de teatro. Escrevo contra ele, aliás. Não imagino nada mais absurdo do que colocar personagens vivas num cenário".
A designação da nobilitada surpreendeu até os seus colaboradores mais próximos. Sequer constava da lista onde os favoritos eram Joyce Carol Oates, Inger Christensen, Álvaro Pombo, Margaret Atwood e Hugo Claus.
Os detractores de Jelinek acusam-na de pornográfica porque a característica explícita de sua escrita suscita polemizantes divisões no meio literário.
Elfriede Engelmayer, docente austríaca da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, manifestou desprezo pela "linguagem fecal e obscena" da laureada, considerando-a reveladora de "falta de humanidade" e de "frieza de gelo".
Elfriede Jelinek nasceu em Murzzuschlag, na região austríaca de Estíria, há 57 anos. O seu primeiro livro "Die klaverspielerin", foi publicado em 1975. Nos anos sequentes começou-se a investir na versatilidade de sua obra. através de peças de teatro, tradução, argumentos cinematográficos e radiofónicos.
Vamos pois ler Elfriede Jelinek.
Torre da Guia = Portus Calle |