"A resposta tradicional a essa pergunta é simples: o papa é o sucessor direto do apóstolo Pedro, recebeu de Jesus em pessoa a incumbência de comandar sua igreja, em Roma. João Paulo II tem a mesma tarefa que já foi de São Pedro. Mas o estudo de documentos antigos mostra que, no início, a Igreja não era Centralizada como hoje. Havia comunidades cristãs em várias cidades, cada uma com seu bispo, e cada bispo cuidava dos assuntos locais. O de Roma não estava acima dos outros. Pedro "estava longe de ser um monarca espiritual, ou mesmo um governante único", escreveu o teólogo alemão Hans Küng, em A Igreja Católica. Não havia um papa – e por muitos séculos foi assim.
Os cristãos estavam espalhados pelo Império Romano, em condições de pobreza, enfrentando perseguições cruéis. Essa situação mudou radicalmente graças a uma visão. Foi em 312: uma cruz apareceu no céu para o imperador Constantino, dias antes de uma batalha decisiva, que ele acabou vencendo. Em 313 os cristãos receberam liberdade de religião, em 315 o castigo da crucificação foi abolido, em 321 o domingo virou oficialmente feriado. Em 337, Constantino morreu. Seu filho Teodósio começou a perseguir as outras religiões. O cristianismo, nascido entre pobres numa periferia rural, virava de repente a religião do Estado.
No século 5, o Império Romano caiu. A Europa caiu nas mãos dos bárbaros, incultos e analfabetos, e aí sobrou um só vestígio do esplendor imperial: o bispo de Roma, já então chamado de papa. Ele era para o povo um resto de ordem e autoridade numa época tomada pelo caos. Naquele mundo, só o clero sabia ler – e os bispos, além de autoridade religiosa, começaram a acumular o poder civil. Começava a Idade Média.
No século 12, o papa tornou-se o homem mais poderoso do Ocidente – ele tinha terra e ouro, resolvia disputas entre nobres, abençoava reis para que sua autoridade fosse reconhecida. Nessa época, a Igreja e a religião estavam no centro da vida. O Cristianismo não era para ser lembrado só no apuro ou na missa de domingo – era uma presença constante, guiando cada ação de pessoas ou de governos. O papa era coroado como um rei e sua autoridade agora se aplicava sobre toda a Igreja. É claro que tanto poder atraiu aventureiros e o trono papal foi ocupado por homens que podiam ser tudo, menos santos. No final da Idade Média, ladrões, assassinos e depravados viraram papas." (Superinteressante, março/2005, págs. 38-40).
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