Em 1935, o Cardeal Leme cria no Rio de Janeiro a Ação Católica, para ampliar a influência da Igreja na sociedade.
A Ação Católica era dirigida por Alceu de Amoroso Lima, seguia o conceito do Papa Pio XI e era favorável ao Integralismo, sendo acompanhado por vários padres, entre os quais Hélder Câmara. Outros intelectuais católicos: Jackson de Figueiredo (atuação a partir de 1918), Gustavo Corção, Alfredo Lage, Murilo Mendes, Pe. Leonel Franca; convertidos ao catolicismo: o positivista Júlio César de Morais Carneiro, Pe. Júlio Maria (redentorista), Joaquim Nabuco, Carlos de Laet, Felício dos Santos, Afosno Celso, além de Alceu Amoroso Lima.
A dissolução da AIB por Getúlio Vargas em 1938 e a derrota do Fascismo na II Guerra Mundial fizeram com que a Ação Católica se afastasse daquela linha ideológica e, com Dom Hélder Câmara, passou a adotar o modismo esquerdista, atrelado a pensadores como Emanuel Mounier, Teillard de Chardin, Lebret e outros.
No início da década de 1960, a Igreja estava ideologicamente dividida, tendo à esquerda Dom Hélder e à direita Dom Jaime de Barros Câmara e Dom Vicente Scherer. A Ação Católica tinha 3 organismos para condução de suas atividades: Juventude Estudantil Católica (JEC) – no meio secundarista, Juventude Operária Católica (JOC) – no meio operário, e Juventude Universitária Católica (JUC) – formado por estudantes de nível superior.
A PUC do Rio de Janeiro, orientada pelo Pe. Henrique Vaz, era o principal reduto esquerdista da JUC, onde despontava o líder Aldo Arantes.
Em Minas Gerais, a Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG reunia os principais agitadores da esquerda católica, como Herbert José de Souza ("Betinho"), José Serra, Vinícius Caldeira Brandt, Henrique Novais e Marcos Arruda.
Em 1961, no XXIV Congresso da UNE, a JUC, aliando-se ao PCB, elege Aldo Arantes para a presidência da entidade. “A AP cresceu com tal velocidade no movimento estudantil que nós, os comunistas, que vínhamos ganhando a presidência da UNE desde 56, a partir de 60 perdemos a AP, com Aldo Arantes, Vinícius Caldeira Brant, José Serra” (Sebastião Nery, in “Os filhos de 64”, Jornal Popular, Belém, PA, 6 Out 1995).
Logo depois, a UNE filiou-se à União Internacional dos Estudantes (UIE), organização de frente do Movimento Comunista Internacional (MCI), culminando na ira dos conservadores da Igreja, que expulsaram Aldo Arantes da JUC.
Os católicos de esquerda, doutrinados para a “revolução brasileira”, abandonaram a Ação Católica e criaram a Ação Popular (AP).
Durante o Governo Goulart, a AP empenha-se nas “reformas de base”, situando-se à esquerda do PCB, o que causa a fuga de seguidores para o exterior após a Contra-revolução de 1964.
A AP continua sua atuação no meio universitário e, nas discussões comunistas de 1965 a 1967, passa a seguir a linha maoísta, com a Revolução Cultural chinesa (que matou 10 milhões de pessoas), apoiando a luta revolucionária. Cuba doou 14 mil dólares para a AP enviar militantes para cursos de guerrilha naquele país. A AP enviou militantes para fazer cursos em Pequim, incluindo Haroldo Lima.
A AP criou o Movimento Contra a Ditadura e pregou o voto nulo para as eleições parlamentares de 15 Nov 1966. A AP enviou representante a Cuba para a IV Conferência Latino-Americana de Estudantes (1966), teve infiltração no setor metalúrgico (ABC e Contagem, MG). No campo, a AP organizou camponeses para cortar arame das propriedades (“picada de arame”) e o abate de gado a tiros; as áreas escolhidas para a agitação foram o Vale do Pindaré (MA), a região Água Branca (AL), Zona da Mata (PE) e Zona Cacaueira (Sul da Bahia).
Em 1966, a AP optou pela luta armada e pelo foquismo, em Congresso realizado no Uruguai, e passou a publicar o jornal “Revolução”.
Em 1968, para evitar outros “rachas”, a AP elaborou o documento “Seis Pontos de Luta Interna”, procurando consenso entre as Correntes 1 e 2. De inspiração maoísta, “o 1º ponto caracterizava o pensamento de Mao como a 3ª etapa da revolução marxista; o 2º ponto descrevia a sociedade brasileira como semicolonial e semifeudal; o 3º definia o caráter da revolução como nacional e democrática; o 4º fazia a opção pela guerra popular como forma de luta; o 5º referia-se aos partidos comunistas, considerando que o PCB se havia ‘contaminado pelo revisionismo’ e que o PC do B era um novo partido e não o continuador do PC fundado em 1922; finalmente o 6º ponto propunha a integração dos militantes à produção (isto é, que deixassem suas profissões e passassem a trabalhar e viver como operários e camponeses), com o objetivo de provocar a transformação ideológica dos que tinham origem pequeno-burguesa” (Del Nero, in “A Grande mentira”, pg. 263).
Após sua I Reunião Ampliada da Direção Nacional, a AP elegeu a China como modelo de revolução, ao mesmo tempo em que se afastou do PC de Cuba, retirando-se da OLAS e propondo que a UNE se afastasse da OCLAE, por considerá-la de “imobilismo e burocratismo”.
Em 1969, um militante da AP participou do seqüestro do Embaixador Americano Charles Burke Elbrick, em apoio ao MR-8. Em 1971, à noite, uma militante da AP atraiu Antônio Lourenço (“Fernando”), também da AP, para uma emboscada; “Fernando” recebeu vários tiros de rifle 44 e de revólver e foi trucidado a porretadas até a morte; o “justiçamento” ocorreu em Pindaré-Mirim (MA) e foi planejado pelo Comitê Seccional de Santa Inês, subordinado ao CR-8 (Coordenador das atividades da organização no Maranhão e no Piauí).
Em abril de 1971, após a II Reunião Ampliada da Direção Nacional, a AP assumia a denominação de Ação Popular Marxista-Leninista do Brasil (APML do B).
Posteriormente, foi aprovada a tese de unificação da AP com o PC do B. Maria José Jaime, membro do PT/DF (dirigente do INESC), foi um dos “militantes” que receberam treinamento na China, em 1969, quando pertencia à AP.
José Serra, Presidente da UNE quando se iniciou a Contra-Revolução de 31 Mar 1964 e Ministro da Saúde no Governo FHC, também pertenceu à AP.