(REPRODUÇÃO PERMITIDA, DESDE QUE CITADOS ESTE AUTOR E O TÍTULO).
Mário Ribeiro Martins*
O advogado goiano Ignácio Xavier da Silva publicou em 1935, pela Gráfica Popular, de Goiás Velho, o livro intitulado “O CRIME DO CORONEL LEITÃO-SEDIÇÃO NA COMARCA DE BOA VISTA DO TOCANTINS, DO ESTADO DE GOIÁS-1892-1895”.
Trata-se de livro raríssimo(Vide LIVROS RAROS em www.mariomartins.com.br), em que o autor para escrevê-lo e estando com 27 anos de idade apenas, teve de ir pessoalmente a Tocantinopolis(antiga Boa Vista) ouvir pessoas, ler e pesquisar documentos.
Focalizou, portanto, uma das figuras mais importantes do Norte de Goiás, o Coronel Leitão(Carlos Gomes Leitão) que dera origem a uma das três revoluções de Boa Vista do Tocantins(Tocantinópolis). Mas quem era o Coronel Leitão?
CARLOS GOMES LEITÃO(Coronel Leitão), de Caxias, Maranhão, 1835. Era neto do chefe político da região Francisco Germano da Silva. Após os estudos primários em sua terra natal, onde também aprendeu a ler e a escrever, nunca mais estudou. Seguiu a carreira do avô, tornando-se político. Durante muitos anos fez política no Maranhão, passando por diferentes cidades do Estado.
Por volta de 1880, quando tinha 45 anos de idade, mudou-se para Boa Vista do Tocantins(Tocantinópolis). Em 1881, quando Leopoldo de Bulhões ganhou para Deputado Geral, sua vitória só se consumou com os votos de Boa Vista do Tocantins e foi creditada aos votos comprados pelo Coronel Leitão que passou a receber apoio de(Bulhões) e do Partido Liberal.
Começou então o Coronel uma campanha para que a cidade de Boa Vista do Tocantins fosse anexada ao Maranhão, por ser muito longe de Goiás Velho, antiga Capital de Goiás. Essa campanha não agradava aos padres. Frei Francisco de Monsavito foi logo a Goiás Velho e trouxe de lá um Jornal, segundo o qual o Coronel Leitão pertencia à Maçonaria. Leu o jornal no púlpito da Igreja e excomungou o Coronel que passou a perder seus companheiros de luta.
Era o início da PRIMEIRA REVOLUÇÃO DE BOA VISTA. Antes, em 1862, seu avô Francisco Germano da Silva que residia em Boa Vista, tinha deposto o Juiz Manuel Cardoso de Miranda, tomando o poder político do Município.
O Coronel Leitão, seu neto, quis fazer a mesma coisa. Em 1890, foi Chefe da Coletoria Estadual. Em 1891, foi eleito Deputado Constituinte, com assento no Rio de Janeiro, após a Proclamação da República(1889).
Quando chegou em Boa Vista do Tocantins, o novo juiz, o pernambucano Dr. Henrique Hermeto Martins tratou logo de dar andamento no processo em que fora vítima a mulher de Cláudio Gouveia, contrariando os interesses do Coronel Leitão que queria se apossar da Fazenda Cordilheira, o que fez, num leilão forçado, pelo preço de 30 cabeças de gado.
Como esse valor ínfimo era um escândalo para a época, o Frei Gil Villanova escreveu um artigo para o Jornal FOLHA DO NORTE, de Porto Nacional, denunciando a compra da Fazenda pelo Coronel.
É que, como se argumentava que Cláudio Gouveia tinha matado a mulher para ficar com a Fazenda e que, sendo CONDENADO pelo Júri Popular, não poderia entrar como herdeiro, mas se fosse ABSOLVIDO, seria o herdeiro natural, o que não era interessante para o Coronel que já tinha comprado a Fazenda, num leilão totalmente irregular.
Com o júri marcado para 29.02.1892 que iria alterar a compra da Fazenda Cordilheira, o Coronel Leitão partiu para expulsar o Juiz da Comarca, mas não conseguiu e o júri foi realizado, com o apoio do cearense Coronel Francisco de Salles Maciel Perna, sendo Cláudio Gouveia ABSOLVIDO e tornando-se, por conseqüência, o herdeiro natural da dita Fazenda, com o leilão anulado.
O Coronel Leitão continuou a juntar homens e armas. Boa Vista do Tocantins tinha na época(1892) menos de mil habitantes. No dia 31.03.1892, o Coronel Leitão tentou mais uma vez tomar a cidade e a luta permaneceu até o dia 01.04.1892.
Nos dias seguintes, o Coronel Leitão que estava escondido na “Barra do Mombuca”, fugiu para Porto Nacional, onde chegou, montado a cavalo, no dia 22.04. De lá seguiu para Goiás Velho, onde chegou em maio de 1892.
Novamente reuniu homens e atacou Boa Vista no dia 13.08.1892, mas foi derrotado. Seus jagunços eram também chamados de MOCÓS. Nos anos seguintes, fez novas tentativas de invadir a cidade, mas sem sucesso. Estava terminada, conforme Palacin, a PRIMEIRA REVOLUÇÃO DE BOA VISTA DO TOCANTINS.
Desiludido, desceu o Rio Tocantins e em 1895, tornou-se o fundador de Itacaiúnas(Bairro do Cabelo Seco) que deu origem a MARABÁ, hoje no Pará.
Em 13.04.1903, atacado pela MALÁRIA e em situação de penúria, terminou por falecer em Marabá, onde foi sepultado, com apenas 68 anos de idade.
Para apurar os fatos, o Presidente do Estado de Goiás, José Ignácio Xavier de Brito, mandou o Desembargador Coriolano Augusto de Loyola, em maio de 1895, fazer o Inquérito, em cujo relatório, feito em Filadélfia, sugeriu que, diante do grande número de criminosos, era mais conveniente que se concedesse uma ANISTIA GERAL.
Sobre o Coronel Leitão, dezenas de livros foram escritos, entre os quais: O CRIME DO CORONEL LEITÃO, de Ignácio Xavier da Silva(1935), A ESFINGE DO GRAJAÚ, de Dunshee de Abranches(1959), O SERTÃO, de Carlota Carvalho(1924), ENTRE SERTANEJOS E INDIOS DO NORTE, de José Maria Audrin(1946).
Apesar de sua importância, não é estudado no DICIONÁRIO HISTÓRICO-BIOGRÁFICO BRASILEIRO(2001), da Fundação Getúlio Vargas e nem é convenientemente referido, em nenhuma das enciclopédias nacionais, Delta, Barsa, Larousse, Mirador, Abril, Koogan/Houaiss, Larousse Cultural, etc.
É verbete do DICIONÁRIO BIOBIBLIOGRÁFICO REGIONAL DO BRASIL, de Mário Ribeiro Martins, via INTERNET, dentro de ENSAIO, no site www.usinadeletras.com.br/exibelotextoautor.php?user=mariorm ou