Manifestações culturais podem carregar consigo inspirações que representam tempos remotos. Esse retorno às raízes, são passadas de geração em geração pelo inconsciente coletivo. Segundo Emanuel Araújo, essa seria a éxplicação para o estilo de muitos artistas que, sem intenção, mantêm certa característica de raiz em suas criações. Assim acontece nas manifestações populares, como as festas juninas por exemplo; nesses encontros populares, a comunidade, seja por tradição ou religião, confecciona diversos artefatos representativos que conservam as tradições, talves remotas.
Seguindo a linha do inconsciente, algumas manifestações afro-religiosas conservam vivas até hoje - como o Candomblé - a expressão musical e corporal muito fortes. Além disso, essas expressões sairam do inconsciente para enriquecer a cultura popular. Segundo Nei Lopes, a música popular não escapa da afro-descendência e principalmente a origem conguesa e iorubana, sendo que a primeira tem influência direta na música, mais propriamente no samba e a segunda molda a música religiosa afro-brasileira e os estilos dela decorrentes. Outra expressão significativa é o Candombi, do Vale do Ribeira, onde há toda uma característica própria, como por exemplo a confecção de instrumentos musicais, que passam por um processo próprio de aquecimento na fogueira, até atingir a afinação desejada.
Essas expressões que acabam idenficando o ser como agente cultural, com raízes e costumes próprios, correm o risco de serem descaracterizadas pela indústria capitalista. A classe média, que há décadas atrás rejeitava as expressões culturais brasileira, fundida principalmente com o entrelaçamento de diversas culturas, e que buscava referências estrangeiras como forma de buscar uma identidade superior que as "coisas de gentinha", agora busca consumir a cultura popular, que está "vendendo" as festas e manifestações culturais. Por exemplo: os carnavais agora são audiência na TV e programa turístico. Assim acontece com muitas outras manifestações, transformando cultura em exotismo. Nei Lopes afirma que a música afro-descendente está cada vez mais "desafricanizada", tais como grupos de pagode (com nomes aparentemente afirmadores de identidade étnica) que estão desqualificando a música afro-descendente; um "pop" direcionado à mídia.
A "Máfia do Dendê", termo aplicado aos "baianos que gostam de aparecer na mídia", é mais um exemplo de como a cultura é desclassificada visando lucros. Principalmente Caetano Veloso e Gilberto Gil entre outros, segundo Gustavo B. Martins, seriam grandes influentes nas redações dos jornais, propagandas turísticas e na divulgação de festas. Manipulam indiretamente a indústria cultural da Bahia, principalmente em Salvador. A mídia baiana afirma que em Salvador há uma eterna folia, onde as pessoas dobram o turno no Carnaval, festejam o ano todo. No entanto, pelo menos um terço da população vive à margem da sociedade.
A classe média e a elite sempre buscaram importar uma cultura Européia ou Americana. Agora, talves por uma busca de identidade, compra o que empresários rotulam de cultura. Ao mesmo tempo que esse movimento desclassifica as culturas populares, está se voltando a atenção para as comunidades periféricas. Com o avanço das tecnologias audivisuais, ONGs, com o objetivo de levar a arte cinematográfica para as comunidades carentes, estão se tornando cada vez mais numerosas. Uma grande colaboradora desses projetos é Kátia Lund, diretora e produtora do lomga metragem "Cidade de Deus", onde todos os atores eram pessoas comuns das comunidades carentes.
Assim como o cinema está saindo da periferia para mostrar a dura realidade, a música também está ganhando o seu espaço. O samba de fundo de quintal é muito apreciado pela classe média, mesmo sendo um estilo oriundo das comunidades carentes. No caso do "Rap" e do "Funk", estão difundindo-se graças ao barateamento das tecnologias de gravação e abrangem um público cada vez maior. Ambos os estilos denunciam a realidade da periferia, porém, nos últimos anos, presenciamos uma forte popularização do "Funk" carioca para a mídia. Parte dessa produção estimula a sexualidade e abandona as raízes periféricas. Outra parte são os "proibidões", música que faz constante apologia ao crime. Mesmo assim, direta ou indiretamente, essas músicas denunciam a realidade brasileira de violência, tráfico de drogas e exploração sexual, principalmente da mulher brasileira.
Toda essa banalização das expressões culturais visando o mercado da classe média, que agora tenta se "abrasileirar" com as imitações de periferia e cultura de base é não só em épocas de copas, ou então, vende o exotismo para o exterior, onde o mercado turístico lucra muito com isso, passando a imagem, já denunciada por Sérgio Buarque em seu livro "Paraíso". Ao mesmo tempo em que há uma propagação, acontece a desvalorização e consequentemente o extermínio das culturas. O que é extremamente prejudicial para o povo que, sem identidade, fica vunerável à informações alienadoras. A destruição da diversidade cultural só interessa à elite, que quer massificar a população, para poder ter o contrôle do mercado cultural, sem sofrer críticas ou resistência.
Bibliografaia:
Holanda, Sérgio Buarque de
"Visão do Paraíso"
Ed. Brasiliana/SP 1977
Lopes, Nei
"A presença Africana na Música Popular Brasileira"