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Artigos-->COMO SURGEM OS CASTIGOS E MILAGRES -- 02/12/2006 - 08:48 (JOÃO DE FREITAS) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Quem nunca ouviu falar dos grandes milagres divinos do passado? A travessia do povo de Israel pelo Mar Vermelho; Daniel na cova dos leões; Ananias, Misael e Azarias na fornalha de Nabucodonozor; ressurreição de Jesus e de um grande número de pessoas no dia de sua morte, que, inclusive, entraram em Jerusalém; três horas de escuridão após a morte de Jesus; a invulnerabilidade de João, que foi lançado dentro de um tacho de azeite e saiu ileso; etc. O curioso é que essas coisas nunca chegam ao conhecimento de ninguém que não pertença ao grupo religioso que as registra. Mas, para a maioria dos religiosos não há dúvida de que tudo seja verdade.



Entre outros povos, muitos prodígios são conhecidos também: Buda ressuscitou mortos, e alguns deuses de outros povos asiáticos também fizeram o mesmo; não foi exclusividade de Jesus. E muito se fala de milagres de santos cristãos.



Eis abaixo algumas da estórias que conhecemos:



"O CAVALEIRO SEM FÉ

Um cavaleiro de Cuiabá, passando por Aparecida, ao se dirigir para Minas Gerais, viu a fé dos romeiros e começou a zombar, dizendo, que aquela fé era uma bobagem. Quis provar o que dizia, entrando a cavalo na igreja. Não conseguiu. A pata de seu cavalo se prendeu na pedra da escadaria da igreja (Basílica Velha), e o cavaleiro arrependido, entrou na igreja como devoto.



A MENINA CEGA

Mãe e filha caminhavam às margens do rio Paraíba, quando surpreendentemente a filha cega de nascença comenta surpresa com a mãe : "Mãe como é linda esta igreja" (Basílica Velha).



MENINO NO RIO

O Pai e o filho foram pescar, durante a pescaria a correnteza estava muito forte e por um descuido o menino caiu no rio e não sabia nadar, a correnteza o arrastava cada vez mais rápido e o pai desesperado pede a Nossa Senhora Aparecida para salvar o menino. De repente o corpo do menino para de ser arrastado, enquanto a forte correnteza continua e o pai salva o menino.



O CAÇADOR

Um caçador estava voltado de sua caçada já sem munição, de repente ele se deparou com uma enorme onça. Ele se viu encurralado e a onça estava prestes a atacar, então o caçador pede desesperado a Nossa Senhora Aparecida por sua vida, a onça vira e vai embora"

(http://www.culturabrasil.org/aparecida.htm).



O HOMEM QUE ATIROU NA CRUZ

Na infância, eu ouvia também sobre um homem que encontrou a esposa rezando aos pés de uma cruz e deu tiro na cruz; então, da cruz saiu uma lasca que penetrou em seu peito, matando-o.



Fato mais recente:



O CHUTE NA SANTA

"Chute na santa foi um episódio ocorrido em 12 de outubro de 1995, dia de Nossa Senhora de Aparecida, que é considerada pelos católicos como a padroeira do Brasil, em que Sérgio Von Helder, bispo da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), deu repetidos golpes com os pés em uma estátua da padroeira, comprada por ele mesmo, enquanto afirmava que a imagem era apenas uma estátua de barro.

O evento foi originalmente transmitido durante a madrugada, em um programa de televisão da Rede Record de televisão, de propriedade da própria Igreja Universal. As imagens gravadas em vídeo causaram forte repercussão no país. Mesmo tendo saído dos meios de comunicação há tempos, este episódio deixou lembrança em uma geração de brasileiros" (Wikipédia).



Pouco tempo depois, já começou a aparecer milagre e castigo:



Circularam boatos na internet que Sérgio Von Helder ficou doente e estava em tratamento nos EUA com risco de ter a perna amputada. Certo dia, procurou por uma enfermeira morena que estivera cuidando dele e foi informado de que não havia nenhuma enfermeira morena naquele hospital. Então, ele entendeu o prodígio e se converteu ao Catolicismo.



"A história lembra aqueles milagres que muita gente diz que presenciou, mas que ninguém consegue provar. Sérgio Von Helder, o pastor da Igreja Universal que em 1995 chutou uma imagem de Nossa Senhora Aparecida, no dia da padroeira, teria se convertido ao catolicismo. O boato começou na internet, chegou a dois jornais do interior de São Paulo, foi publicado em uma respeitada revista católica, a Pergunte e Responderemos, editada pelo insuspeito dom Estêvão Bettencourt, monge do Mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro, e acabou no Programa do Ratinho, no SBT. Também congestionou as linhas telefônicas e lotou caixas de e-mails das emissoras de tevê católicas do País. Mas o milagre virou mico. Von Helder trabalha no escritório da Universal, em Nova York, seguindo ordens de Edir Macedo, o patrono da Universal. Tanto que a mando do chefe, ele teria intermediado as aquisições de um canal de tevê em Atlanta e de uma emissora de rádio em Nova York." (Istoé, Edição 1802, 21/04/2004).



Se o fato tivesse acontecido na Idade Média, tal pastor teria sido assassinado a mando da Igreja, e, com certeza, encontraríamos hoje registro de que tivesse caído um raio na cabeça dele, ou que sua perna tivesse secado imediatamente após o chute. E, provavelmente, quando nenhum de nós estivermos mais por aqui, daqui a alguns séculos, o boato do caso acima até possa aparecer em algum livro, como muitos milagres e castigos semelhante que hoje são tidos como verdadeiros. É um pouco mais difícil ele tornar um milagre tão poderoso como os do passado, porque os registros da revista Istoé não vão se perder facilmente. Porém, certamente, muitos darão mais crédito à versão do castigo do que a informação da revista.



Há também um outro tipo de milagre. Uma mulher disse para minha filha que presenciou um aleijado abandonar a muleta e sair andando após a oração do pastor. Todavia, por coincidência, dias depois, ela estava em outra cidade e viu o mesmo aleijado ser curado novamente pelo mesmo pastor.



No que toca aos prodígios do passado, que não mostram qualquer correspondência com os dados históricos externos, há detalhes que só passam despercebidos aos que pertencem aos círculos religiosos a eles relacionados:



Israel – Segundo Israel Finkelstein, diretor do Instituto de Arqueologia de Israel, a primeira menção egípcia a Israel fala de um povo da região de Canaã, nunca de um povo que tivesse vivido no Egito. Ademais, uma multidão tão grande quanto a Bíblia informa terem sido os israelitas do Êxodo, vivendo quarenta anos no deserto, deixaria vestígios que não escapariam das busca dos arqueólogos, os quais jamais encontraram qualquer indício dessa peregrinação.



Ressurreição - Se os evangelhos afirmassem apenas que Jesus ressuscitou, até se poderia argumentar que só os cristãos teriam visto mesmo. Todavia, dizer que um grande número de pessoas ressuscitaram no momento da morte de Jesus e entraram na cidade de Jerusalém (Mateus, 27: 52, 53), sem haver nenhum tumulto por parte das pessoas que os conhecessem, já é algo estranho demais ao bom senso. Observe-se que nenhum historiador, da época sequer comentou ao menos que os cristãos tivessem dito que tal fato tão estranho tenha ocorrido; o que indica que isso deve ser boato surgido muito tempo depois da morte dele. Só muitos anos depois da data tida como da morte de Jesus é que alguns escritores começaram a se referir aos religiosos que diziam que seu líder ressuscitara dentre os mortos. Escritores como Filon de Alexandria, um judeu que nasceu antes da data dada como do nascimento de Jesus e morreu bem depois dele, jamais escreveu uma palavra referindo-se a Jesus, embora, segundo alguns estudiosos, muito das idéias cristãs possam ter tido origem nas idéias de Filon.



As três horas de escuridão – Essa é a estória mais inverossímil. Naquela época, já se registravam todos os eclipses visíveis. Se, por qualquer razão, houvesse qualquer ofuscamento anormal da luz solar, todos os povos do continente iriam fazer algum registro. Pode-se dizer que uma pessoa ressuscita e ninguém vê; que um aleijado é curado e isso não chegue ao conhecimento dos historiadores; que um tal João tenha sido lançado dentro do um tacho de azeite e saído de lá sem se queimar, e os romanos não tenham nunca comentado o ocorrido; mas ocorrer três horas e escuridão do meio-dia às quinze horas e ninguém mais perceber além de um grupinho religioso foge a toda lógica.



Sêneca (4 a.C. – 65 d.C.) — Um dos mais famosos autores romanos sobre ética, filosofia e moral e um cientista que registrou eclipses e terremotos. As cartas que teria trocado com Paulo se revelaram uma fraude, mais tarde.



Plínio, o velho (23 d.C. – 79 d.C.) — História natural. Escreveu 37 livros sobre eventos como terremotos, eclipses e tratamentos médicos” (Lee Salisbury, Jesus: o incômodo silêncio da História).



Impossível seria ocorrer tal evento estranho e nenhum desses dois romanos registrar. Entretanto, algumas décadas depois, as pessoas desinformadas começaram a acreditar que isso ocorrera e posteriormente até os mais cultos creram.



A realidade que podemos atestar é esta: O pastor Sérgio Von Helder, ao chutar a imagem da santa, só correu o risco de machucar o pé ou de ser atacado por um católico. E com certeza, se você der um tiro em uma cruz e sair um pedaço dela, ele não irá em sua direção, mas sairá para a direita ou para a esquerda. E, se tentar entrar a cavalo em qualquer igreja, só correrá o risco de ser agredido por algum devoto violento. Porém, se acha que alguma divindade virá impedi-lo, estará temendo à toa.



Já está comprovado que quando você acredita na ajuda de uma divindade, ou numa simpatia, ou em qualquer outra coisa, você se recupera melhor de uma enfermidade. E esse milagre pode vir até de comprimidos de farinha que as pessoas tomam pensando serem bons medicamentos. Mas o que vai muito além disso, ou é um acaso mal interpretado, ou é algum fato tão verídico quanto a doença e conversão de Sérgio Von Helder.



Os grandes milagres sempre ocorreram em tempo bem remoto, ou em lugares bem distantes de nós. Nunca os vemos, mas somos informados de que outros viram. Tampouco são vistos por outros além dos religiosos, como é o caso das três horas de escuridão e das ressurreições. Isso prova que são lendas como a doença do pastor que chutou a santa.



Veja também A INCONSISTÊNCIA DOS CHAMADOS CASTIGOS DIVINOS







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