Menos de uma semana depois que a agência Standard & Poor’s (S&P) elevou a classificação do Brasil como investimento seguro e abriu uma temporada de discursos e bravatas em louvor a este país das maravilhas, os poucos que chamaram a atenção para o fato de que nem tudo era festa tiveram suas análises confirmadas pela Moody’s, a segunda das três grandes agências internacionais de rating (a outra é a Fitch). Mais severa do que a S&P, a Moody’s negou, conforme relatório parcialmente conhecido ontem, o grau de investimento ao Brasil. Para a Moody’s, o país ainda sofre com o peso da dívida interna de curto prazo e está devendo reformas importantes que se arrastam há anos.
A agência reconhece os avanços que o Brasil tem feito ao reduzir sua vulnerabilidade externa e ao acumular reservas cambiais graças ao crescimento das exportações nos últimos anos. Mas, segundo a Moody’s, o principal obstáculo à concessão de grau de investimento ao Brasil está no peso da dívida pública, com índices que ultrapassam as normas da agência para ir além da nota atual que é Ba1. Essa posição é imediatamente abaixo do nível de investimento seguro nos critérios da agência. A Moody’s alerta para o perfil da dívida brasileira, segundo ela, com muita concentração no prazo de 12 meses. Em seu relatório, apontou outros impedimentos estruturais da economia brasileira, como os gastos previdenciários que, em sua análise, continuam na base da expansão das despesas primárias do governo.
A Moody’s, é bom que se diga, não está descobrindo nada de novo. Não é de hoje que analistas não comprometidos com o aplauso obrigatório e permanente ao governo têm avisado que o país está perdendo a boa fase da economia e do prestígio popular do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para fazer as reformas estruturais. Pelo contrário, o governo tem mantido expansão de 10% ao ano do gasto público, em que pese a obtenção de superávits primários. Lula evitou o desgaste das reformas tributária e previdenciária, esvaziando todas as iniciativas, inclusive as que foram lançadas por seu próprio governo. Foi assim com o Fórum Nacional da Previdência Social e com mais de um projeto de reforma tributária, todos abortados para não perturbar a crescente aceitação popular da figura do presidente. A decisão da Moody’s não deve, contudo, ser entendida como uma contestação à classificação dada pela S&P. É, na verdade, uma diferença de critérios que, queiramos ou não, precisa ser levada em conta. Talvez tenha vindo em boa hora. Afinal, o próprio Lula tem usado a palavra sensatez para sugerir comemorações menos efusivas. A decisão da Moody’s é, de fato, um importante aviso de que estamos indo bem, mas ainda estamos apenas no meio do caminho. Vale a pena seguir em frente com o controle da inflação, com o juízo cambial e, principalmente, com o aprofundamento do rigor fiscal, pois temos que reduzir o endividamento. O tempo ainda não é de bonança.