Em sua área de atuação, a unidade então chamada de 1º BEF, ficou conhecida nacionalmente durante o infame episódio do Rio Traíra, em 26 de fevereiro de 1991, quando um de seus destacamentos foi atacado por quarenta elementos das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, matando três soldados brasileiros e ferindo outros nove.
A ação provocou uma reação imediata e sem precedentes por parte das Forças Armadas brasileiras, que empreenderam uma verdadeira caçada dentro do território colombiano e que só acabou quando todas as armas roubadas foram recapturadas e os guerrilheiros que participaram do ataque foram mortos.
A ação na selva atrás das linhas colombianas foi realizada por elementos das Forças Especiais, que inclusive, tinham planejado a explosão de um vilarejo onde os guerrilheiros moravam com suas famílias. Pouco antes de executar o plano, os militares brasileiros, que estavam descaracterizados, receberam de Brasília a ordem de abortar a missão.
O recado foi dado e desde então as FARC perceberam que não poderiam mais realizar este tipo de ação em território brasileiro sem pagar um preço alto. O próprio Exército da Colômbia foi avisado de que se não cuidasse deste que era problema interno seu, o Brasil violaria a fronteira quantas vezes mais fosse necessário para responder às agressões de forças irregulares estrangeiras dentro de seu território.
Obs.: BEF significa Batalhão Especial de Fronteira. Esse episódio do Rio Traíra, até hoje não consegui entender o que realmente houve. Jornais da época afirmaram que a operação do Exército nas selvas colombianas apenas caçou/matou alguns garimpeiros, não terroristas das FARC. Quem sabe, um dia esta história se esclareça, quando algum integrante das Forças Especiais abrir o bico (F. Maier).
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Mensagem recebida do coronel Fregapani - quinta-feira, 25 de junho de 2009 11:05:22
Prez. camarada (no sentido militar do termo).
Envio-lhe um pequeno trecho do livro Segredos da Espionagem, comentando sobre o Traira. É uma nota de rodapé do capítulo "As operações mais conhecidas. Não é um julgamento definitivo. Abrs. GF
A dúvida do caso “Traíra”
Vejamos os elementos conhecidos: Um destacamento do Exército Brasileiro sediado à margem direita do rio Traíra, na fronteira com a Colômbia, foi surpreendido por traiçoeiro ataque. Os atacantes, aos gritos, anunciaram ser das Forças Armadas Revolucionárias Colombianas (FARC), organização notoriamente ligada ao narcotráfico, afirmando que vinham vingar prisões e maus tratos feitos a seus compatriotas. Deste ataque resultaram três mortes entre os brasileiros, além de ferimentos no comandante do destacamento. Morreram também os dois garimpeiros colombianos que haviam sido presos pelo destacamento em nosso território.
O que necessitamos saber para podermos agir: quem foi, e o porquê.
Em uma primeira análise o caso parece claro; algum abuso teria sido cometido e a FARC teria vindo vingar. Entretanto existem dados dissonantes que conduzem a outra suspeita
Teoricamente a FARC faria qualquer coisa para evitar a hostilidade do Exército Brasileiro. Qualquer revolucionário sabe que muitas vezes terá que se homiziar no outro lado da fronteira, e o que pode resultar de uma perseguição movida com raiva. Mesmo assim, algum grupo poderia ter agido, inclusive contra a orientação de seus superiores, mas nesse caso, até o guerrilheiro mais medíocre teria conduzido os sobreviventes alguns quilômetros mata a dentro, os eliminado e ocultado os cadáveres. Nós teríamos demorado a descobrir o que aconteceu, se é que descobríssemos. Caso, num momento de fúria, quisessem deixar claro que era uma vingança da FARC teriam feito o corte da “gravata vermelha”. Esse bárbaro ato, cortar a garganta e puxar a língua pelo talho tem sido a assinatura da FARC em suas operações. Não o fizeram. Por que teriam deixado de faze-lo, se queriam caracterizada a ação como sua? Estaria outra organização querendo aparentar que seria a FARC? Por que?
Um dado a ser analisado: Tivemos três mortos durante o ataque, o sentinela e outros dois soldados que naturalmente resistiram apesar da surpresa. Isto soma cerca de dez por cento do efetivo. Na ação foram também mortos os dois colombianos presos, ou seja cem por cento dos “conterrâneos” que pretensamente eles teriam vindo libertar (ou vingar). Um deles, gravemente ferido mas ainda vivo, foi interrogado por um dos agressores, que perguntou-lhe se havia sido maltratado pelos brasileiros. Respondeu “no” e morreu.
Pode-se levantar a hipótese que teria sido eliminação proposital para que eles não pudessem reconhecer que os agressores não eram colombianos. Como? – Assim como nós brasileiros sabemos distinguir pelo sotaque se um indivíduo falando português é um nacional ou ultramarino de Portugal ou Angola, os colombianos também saberiam, pelo sotaque, se os agressores seriam seus paisanos ou oriundos de outras terras, tipo Porto Rico, México etc. Nós não saberíamos distinguir mas eles certamente sim. Pode até ser que a morte do colombiano ferido tenha sido propositadamente apressada. Claro, isto é somente uma indução. Nada garante ser a verdade.
Vejamos a quem interessaria essa operação; à FARC certamente não, embora isto não a elimine da lista dos suspeitos. Certamente um atrito da guerrilha colombiana com o nosso exército interessaria tanto ao governo legal da Colômbia como aos órgãos anti-drogas dos Estados Unidos. Isso pode coloca-los sob suspeição, mas não prova nada.
Ainda outro dado paradoxal: alguns dias depois, nossas tropas surpreenderam garimpeiros colombianos com algumas das armas retiradas do nosso posto de fronteira atacado. Teriam sido eles os atacantes? – É difícil, pois não ousariam andar tranqüilamente com elas nas proximidades da nossa tropa. É possível que as tenham recebido de presente, até como uma manobra de desinformação.
Houve, entre nós, um general que propôs (e até anunciou) uma intervenção no garimpo colombiano nas proximidades. Isto seria de um primarismo absoluto pois um vasculhamento anunciado não acharia nenhum guerrilheiro, se houvesse algum já teria se evadido.
Afinal, o que teria havido? Qual a verdade? Talvez nunca possamos ter certeza. Temos elementos para desconfiar ter sido uma operação da CIA a pedido do DEA, mas isso não passa de uma desconfiança. Na verdade a desconfiança se originou de um livro de Tom Clancy – “Perigo Real e Imediato”, onde o autor antecipou a operação que fariam na caça a Pablo Escobar.
Havendo algum fundamento na desconfiança, faltaria a compreensão da finalidade duma operação dessas. Uma explicação possível seria provocar uma reação do Brasil. Se houvesse alguma intervenção em território colombiano, por pequena que fosse, o País não mais teria força moral para se opor a uma ingerência norte-americana na América do Sul.
É difícil acreditar que possa haver maquiavelismo desse tipo entre nações amigas mas os analistas são pagos para desconfiar.
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From: p.rocha@...
To: ttacitus@hotmail.com
Subject: Re: O episódio do Rio Traíra
Date: Thu, 25 Jun 2009 15:00:56 -0300
Meu caro Felix
A observação deste Cel Fregapani é completamente absurda e me confirma que ele alimenta um forte sentimento anti-americano.
Diz ele que "Temos elementos para desconfiar ter sido uma operação da CIA a pedido do DEA,"
E mais adiante acrescenta: "Certamente um atrito da guerrilha colombiana com o nosso exército interessaria tanto ao governo legal da Colômbia como aos órgãos anti-drogas dos Estados Unidos."
Eu já esperava esta manifestação da parte dele, porque, segundo constato no que ele escreve, se trata de um anti-americano fanático. Porque este tipo de gente é, em realidade, comunista enrustido. Do que as FAs estão cheias.
E ao vê-lo defender esta posição insensata, mais me convenço de que o meu julgamento está certo.
No caso em tela, a versão idiota, defendida por ele, eu posso contradizer por conhecimento de causa, porque meu filho, que é médico, e havia sido convocado para o serviço militar obrigatório (acabou seguindo carreira e hoje é major) se encontrava servindo exatamente naquela região, a seu pedido e por escolha, pois achava que esta seria uma aventura que em outra ocasião seria impossível.
Não teve nada de americanos metidos naquele caso. Coisa que só pode sair da cabeça de comunista enrustido, na sua ação de propaganda disfarçada.
Pelo que meu filho me diz, certamente eram colombianos, provavelmente membros das FARC, devido ao armamento que carregavam. Garimpeiros não usam armas potentes, de fogo pesado.
De: ojbr (ojbr@wnet.com.br)
Enviada: quinta-feira, 25 de junho de 2009 19:03:44
Para: Félix Maier (ttacitus@hotmail.com)
Prezado Félix,
Muito embora tenha em alta conta o Fregapani, creio que desta feita o anti-americanismo dele extrapolou os fatos. A grande verdade é que ele nos apresentou suposições. De certo: haviam 2 colombianos presos no Dst; 2 dos nossos homens foram mortos e 9 feridos; o pessoal das Op Esp liquidou quem foi encontrado com o nosso armamento e munição, não interessa se guerrilheiros ou não, recuperando tudo; as FARC nunca mais fizeram algo semelhante. A verdade, só a saberemos quando alguém falar alguma coisa.
Abraços,
Barros
Resposta:
Caros Pedro Paulo e Osmar Ribeiro,
O Cel Fregapani não é nenhum "melancia", apenas um nacionalista exacerbado, que vê em quase tudo na América Latina a ingerência americana. Ocorre que os esquerdistas se aproveitam dos nossos militares "nacionalistas" (que também viram o dedo de Tio Sam na explosão da Base de Lançamento de Alcântara, onde quase duas dúzias de cientistas brasileiros perderam a vida) para meter ainda mais o sarrafo nos Estados Unidos. Anos atrás, tive uma "flame war" (guerrilha eletrônica) com um desses "nacionalisteiros", como pode ser conferido no endereço http://www.usinadeletras.com.br/exibelotexto.php?cod=6932&cat=Ensaios&vinda=S. Os "nacionalisteiros" e os socialistas tem uma ideologia convergente, que incensa o Leviatã estatal, para os quais, quase tudo deve ser nacionalizado, especialmente as riquezas naturais. A Vale está aí para contrariar essa miopia política, já que nunca empregou tanta gente, depois de privatizada, nem pagou tanto imposto, além de acabar com um enorme cabide de empregos. Aliás, a Vale está implantando um projeto de fabricação de biodiesel, para uso próprio, não precisando depender de outras formas de energia para tocar seus negócios no Brasil. O mesmo vale para a telefonia, que só passou a ser de Primeiro Mundo no Brasil depois das privatizações. Antes, uma linha fixa, num subúrbio carioca, p. ex., custava o equivalente a R$ 8.000,00, aumentando para R$ 15.000,00 na Barra da Tijuca e na Ilha do Governador. Hoje, as linhas são gratuitas, paga-se apenas pelo uso do serviço. E há quem chore, ainda hoje, a venda da Embratel...
A respeito de Alcântara, vale lembrar que ela foi chamada de "Guantánamo" tupiniquim - Cfr. http://www.usinadeletras.com.br/exibelotexto.php?cod=24971&cat=Cartas&vinda=S. Infelizmente, até um herói da FEB, o Brig. Rui Moreira Lima, andou escrevendo asnices sobre o antigo projeto de aluguel de Alcântara aos ianques durante o governo FHC, que nos renderia US$ 30 milhões anuais.
Se alguém ainda tinha dúvidas de que a Petrossauro deve ser privatizada, provavelmente não tenha mais depois de tomar conhecimento das últimas maracutaias realizadas na estatal - que a CPI nada irá apurar, por ser comandada pelos petralhas -, além dos salários fabulosos dos "Xeiques da Petrobras" - Cfr. http://portal.pps.org.br/portal/showData/152686 e http://www.ofir4news.com.br/2009/06/25/mao-santa-pede-investigacao-na-petrobras-e-denuncia-altos-salarios-de-executivos/. Hoje, a Petrossauro não passa de um gigantesco cabide de empregos e de um antro de corrupção permanente. Somente os nacionalisteiros e os socialistas defendem o polvo petrolífero estatal.