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Artigos-->A palavra mais antiquada da língua é... -- 10/01/2002 - 12:50 (Gregorio K.Barata (Jornalista Espanhol)) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Antes de mais nada, foi com grande prazer que fui informado que Paulo Vieira, grande amigo e tradutor meu no Brasil, estava divulgando alguns de meus trabalhos neste site. Agradeço Rodrigo Seixas, que, neste mesmo site, rendeu palavras honrosas a este pobre escritor.



Mas o que me obrigou a escrever este texto foi um artigo neste site, do senhor Domingos Oliveira Medeiros, denominado “Aos amantes do sexo e da ironia gratuita”, que abaixo reproduzo, em letras maiúsculas:





"AOS AMANTES DO SEXO E DA IRONIA GRATUITA



ALGUÉM JÁ DISSE, ALHURES, QUE TODO O IRÔNICO É, NO FUNDO, UM AGRESSIVO, QUE NÃO SE ATREVE A MANIFESTAR ABERTAMENTE A SUA CRÍTICA E, POR ISSO, RECORRE À MÁSCARA DO FALSO HUMORISMO. HÁ PESSOAS QUE SÓ USAM O PENSAMENTO PARA PROPORCIONAR RESPOSTAS SUPERFICIAIS AOS INSTINTOS E DESEJOS MAIS EGOÍSTAS E INSIGNIFICANTES, QUE EM NADA APROVEITAM NA DIREÇÃO DO VERDADEIRO SENTIDO DA VIDA. UM HOMEM ASSIM, NA VERDADE, ESTÁ MAIS PARA UM ANIMAL SELVAGEM, UM BICHO, OU UM LIXO, QUE CIRCULA, COME, BEBE, DORME, E SE ENTREGA DE FORMA DOENTIA AO SEXO PELO SEXO, UM PEDAÇO DE CARNE, MÚSCULOS E VÍSCERAS, ONDE ELE FUÇA, DESFRUTA, ENJOA, SE ILUDE, TRABALHA, BRIGA, SE ROTULA COMO LIVRE PENSADOR, SE DEPRIME, QUANDO NÃO SE DROGA, VAI AO PSIQUIATRA, MUDA DE SEXO PARA TROCAR DE PRAZER, ENVELHECE, FICA BROCHA E MORRE. É DE DOER O CORAÇÃO! É DE DAR PENA!



DOMINGOS OLIVEIRA MEDEIROS"





Apesar de nunca ter me rebaixado a um bate-boca do tipo, acho que esse exercício será interessante para demonstrar aos principiantes como um escritor falacioso é desmascarado e como a cultura brasileira é interessante. O autor inicia afirmando que alguém disse, “alhures”, que todo irônico é um mero agressivo, que não manifesta abertamente a sua crítica. Não sei de onde o autor tirou isso. Quem é que disse, “alhures”, isso? Primeiro, que o nosso autor não sabe (talvez isso seja coisa de sua cabeça), e usou isso para dar um respaldo (ingênuo!) à sua tese. Segundo, que é ele mesmo quem não diz abertamente meu nome em sua crítica. Apesar de estar acostumado, por ter tomado tantos golpes do cacetete do ditador Franco, creio que censura e repressão são coisas negativas.



Prezado senhor Medeiros. O maior nome de sua literatura, Machado de Assis, era um mestre da ironia (será que o senhor percebe isso nos textos dele, ou será que o senhor nem os leu?); então, o senhor vai me dizer que Machado é ruim por isso? Posso ser ruim e Machado de Assis ser bom, mas uma generalização do tipo “todo irônico é ruim” ou “todo irônico é bom” seria algo incabível. “É de dar pena!” Foi Manuel Bandeira, em seu Itinerário de Pasárgada, quem disse, na remota década de 1950, que “alhures” é uma das palavras mais antiquadas da língua portuguesa. Este é o senhor, prezado Medeiros, o antiquado pretenso-literato, rebuscado e falacioso. Em 2001, minha crônica “Chaplin reencarna engrenagem” foi eleita a melhor do ano pela ABCS aqui da Espanha (Associação dos Bacharéis em Ciências Sociais), mas o senhor não conseguiu enxergar nenhuma crítica mais profunda, não é? Realmente, “é de dar pena!”





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