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Artigos-->A MORTE DOS ÍNDIOS GUEGUÊS -- 16/11/2010 - 23:58 (Francisco Miguel de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A MORTE DOS ÍNDIOS GUEGUÊS



Francisco Miguel de Moura



Nesta importante obra, o criterioso historiador Reginaldo Miranda se esmera, em estilo de quase romancista, para resumir o genocídio dos nossos índios, especialmente os da tribo dos Gueguês, numa sequência em que vai apontando os protagonistas e responsáveis, desde os García d’Ávila aos Castelo Branco, especialmente o famigerado João do Rego Castelo Branco. Hediondo foi o massacre de todas as tribos, no território hoje compreendido como Piauí. Essa guerra, na História do Brasil, só tem paralelo com a de Canudos, onde não ficou ninguém dos vencidos para contar a história. O Piauí significativamente não possui sangue indígena, todo ele derramado nessa luta sem trégua até o fim. A desumanidade que guiou o espírito dessa gente colonizadora do Piauí é incalculável. Todos os nossos índios foram mortos, em lutas frente a frente, em emboscadas ou a sangue frio nos aldeamentos, fora os que sucumbiram pelas doenças, sem nenhum tipo de piedade. Sem poupar um lado ou o outro, Reginaldo Miranda vai fundo, para que a verdade seja esclarecida. Para tanto, junta um documento valioso, inédito – “Os Autos da Devassa”, que retratam a desumanidade e a desídia em apurar os fatos e fazer as punições, ao mais alto grau, maior que na maioria das guerras cruentas da história. Apesar da aridez do assunto, como é um excelente escritor, consegue mostrar a realidade da vida do índio e do colonizador e descrever a terra onde os índios viviam, isto é, a natureza virgem do Piauí e cercanias, naquele tão recuado tempo, de forma segura e sensível. Chega-se a perceber, nas páginas iniciais da segunda parte, “Os dominados: breve história dos índios Gueguês”, um certo sabor de “Os Sertões” de Euclides da Cunha.

Apontando minúcias e curiosidades ao estudar as tribos do Piauí, desde suas primeiras obras, no que é um “expert”, a leitura ou a consulta a Reginaldo Miranda torna-se indispensável quando alguém quiser falar ou escrever sobre os índios do Piauí, conhecer e aprender sobre o Piauí a partir das primeiras entradas do português para a conquista do Sertão de Dentro. Em determinados momentos a gente chega a crer que Reginaldo torce pelos índios. E torce mesmo, mas consciente de que os portugueses fizeram seu papel – com exagero, é claro – mas eles vinham para conquistar tudo isto para o rei de Portugal e produzir rendas que lhe seriam enviadas. Somos hoje o que somos, graças àquelas conquistas, diz a certa altura, Reginaldo Miranda, reconhecendo que não se pode estudar a história antiga e julgá-la pela ética do hoje, como não se pode dizer que os índios não tinham razão. Mas não basta ter razão para vencer a guerra, e eles não tinham o principal: armas iguais às dos portugueses.

Dizem os céticos que “lendo a história a gente só aprende que com a história não se aprende nada”. Mas, nós outros, cremos na faculdade do homem de saber distinguir o certo e o errado em determinado tempo e lugar. De qualquer forma, sabemos que a história é sempre violenta, o mais forte vence os mais fracos, embora haja muita perversidade e hediondez. O historiador e o leitor compreendem que o crime contra uma população inteira, quase ao mesmo tempo, não parece igual àquele que, ao perpassar dos dias, sempre acontece porque os homens são, por natureza, um animal violento.

Sendo assim, como é assim, Reginaldo Miranda terá, certamente, nossa leitura, nossa compreensão e nosso aplauso. Como a maioria dos escritores, ele é um coração de bondade e uma inteligência brilhante – as duas bases que transformam o homem num ser consciente. E é essa consciência tão fina e tão profunda que cultiva em todas as suas obras, que levará, cada vez mais, a história do Piauí, para o caminho da verdadeira história.





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