Banco ganha 600% mais que o cliente
Bianca Giannini
Rendimento vem do emprego do dinheiro do aplicador na compra de títulos públicos
O ganho dos bancos é o resultado da política econômica atual, que estimula as aplicações em títulos públicos e reduz o volume de dinheiro para o crédito - Rodrigo Indiani,analista financeiro da Austin Asis
O dinheiro investido pelos clientes rende sete vezes mais para os bancos do que para os próprios aplicadores.
A cada R$ 10 mil investidos, o aplicador pessoa física recebe de volta, na melhor das hipóteses, R$ 10.130 em um mês – com rendimento nominal de 1,3% (ganho médio do investimento atualmente). O banco, por sua vez, aplica esse dinheiro em títulos públicos e operações de crédito e, dessa forma, transforma os R$ 10 mil em R$ 12.324. O saldo de R$ 2.194 representa o que o Banco Central chama de spread. É a diferença entre o quanto os bancos pagam de juros aos poupadores e investidores (a chamada taxa de captação) e o prêmio (juro) que cobram dos tomadores de empréstimos e financiamentos.
Descontando as despesas que os bancos têm com administração (pagamento de pessoal, segurança etc.), com os tributos e com a inadimplência, o banco tem um ganho de R$ 920 sobre os R$ 10 mil captados de seu cliente. Enquanto isso, a instituição financeira paga apenas R$ 130, ou sete vezes menos do que lucrou na operação.
Em termos percentuais, dá uma diferença de 600%.
Levantamento do FMI mostra que o spread bancário no Brasil é o mais alto do mundo
Os cálculos, feitos pelo ESTADO DE MINAS, levaram em consideração um spread médio mensal de 45,29%, segundo os últimos dados do Banco Central, nas operações para pessoa física. “Os bancos ganham muito mais com o dinheiro captado do que os próprios investidores. Esse é o resultado da política econômica adotada pelo governo, que estimula as aplicações em títulos públicos e reduz o volume de dinheiro para o crédito”, diz o analista financeiro da Austin Asis, Rodrigo Indiani.
De acordo com o BC, 38,3% da composição total do spread vai para os ganhos líquidos dos bancos. O custo fiscal abocanha 27,7% desse bolo, que também é repartido com as despesas administrativas (17,2%). A inadimplência participa com 16,7% na formação do spread. Os cálculos foram feitos com base nos dados de 17 instituições financeiras.
Levantamento do Fundo Monetário Internacional (FMI) mostra que o spread bancário no Brasil é o mais alto do mundo. Na comparação com outros países latino-americanos, o Paraguai tem o segundo maior spread (34,5%). Na Argentina é de 8,9% e no Chile, de 3,4% No grupo dos países desenvolvidos, o spread não chega a 4%. “O spread é alto no Brasil, por causa do governo. Os bancos têm uma boa margem de ganho, mas não é diferente de outros países. Acontece que o peso estrutural, que inclui custo administrativo e tributos, é muito grande”, explica Alberto Borges Matias, sócio da ABM Consulting e professor da USP. Segundo ele, a política do governo nos últimos 20 anos criou uma situação que favorece os cofres públicos e os bancos, ao mesmo tempo em que reduz os recursos para crédito
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Em relatório encaminhado ao governo federal, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) reclama da pouca disposição dos bancos em reduzir o spread. De acordo com a entidade, os bancos não repassaram integralmente ao tomador do crédito a redução de custos verificada no ano passado. “Entre 2002 e 2003, ocorreram duas mudanças significativas na composição do spread. Enquanto a cunha fiscal manteve-se inalterada (29%) e a inadimplência registrou um pequeno aumento de 16% para 17%, as despesas administrativas caíram de 19% para 14% e a margem liquida aumentou de 36% para 40%.
A queda de cinco pontos percentuais nos custos administrativos não foi repassada ao tomador final de empréstimos, pessoas físicas ou jurídicas. Compensou o aumento da inadimplência e, principalmente, aumentou o lucro dos bancos”, diz o documento da CNI.
O economista da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) Roberto Troster diz que há um engano no debate sobre os spreads bancários. “Os números usados como referência pelo Banco Central são inconsistentes e induzem a uma percepção parcial e distorcida da realidade. Nos cálculos do governo não entra, por exemplo, o peso dos compulsórios. Além disso, as altas taxas de juros são resultado da política monetária do governo”, diz.
http://www.superavit.com.br/noticias.asp?id=29336
O pior de tudo isso é que esse lucro excessivo bancos reflete em prejuízos para a população, que paga muito caro por essa política econômica. É uma das razões de tanta pobreza.