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Cartas-->Carta Aberta aos Sindicatos -- 10/07/2002 - 19:54 (Jayme de Oliveira Filho) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Creio que preciso, antes, me apresentar. Sou um servidor público federal, filiado a um sindicato que – como é da natureza de todos os demais sindicatos – visa a proteção da minha categoria, ou porque não dizer: a minha proteção. É, afinal, preciso ser protegido. Preciso me unir a outros servidores para evitar que meu trabalho seja indevidamente explorado. Preciso me unir a meus colegas para que, juntos, consigamos nos fortalecer; nos impor; ou, em suma, nos proteger!

E o fundamento sindical é esse. União e proteção. Qualquer atributo que exceda esse duo deve ser encarado como bônus, como extra, plus. Aliás, motivados – imagino – pela vontade de oferecer mais aos seus filiados, superar suas expectativas e, naturalmente, atrai-los, os sindicatos têm se transformado em verdadeiras empresas de prestação de serviços. Convênios com clubes, companhias de táxi, telefonia celular, bares, restaurantes, hospitais, dentistas, farmácias, loterias, oficinas, hotéis... Vale tudo. É mesmo um pool grandioso e tentador.

Entretanto, o papel principal do sindicato continua sendo o mesmo. O que as pessoas buscam quando se filiam, também. E a razão desta minha carta não poderia, claro, ser outra. Proteção. Escrevo para reclama-la. Para pedir que jamais seja esquecido o motivo da existência de um sindicato. Para lembra-los que quanto mais trabalhadores abraçarem a causa sindical, mais fortes estaremos. Mais protegidos.

Por favor, me permitam agora falar um pouco sobre o que entendo como proteção. E para tanto, lhes prometo, serei breve. Farei uso apenas de uma palavra: abrigo. Pois sempre que queremos nos proteger, buscamos abrigo. Um teto, quando nos encharcamos sob a tempestade; uma sombra, quando transpiramos sob o sol; um cobertor quando nos contraímos pelo frio; um abrigo.

É assim que vejo os sindicatos. Como abrigos. Como uma enorme embarcação que navega em meio a um oceano furioso: casco, motor e hélices, singrando com vigor águas tortuosas e escuras. Sobre esta embarcação, porém, contrariando os princípios marítimos de ajuda mútua e – vejam só! – proteção, marinheiros armados atiram suas lanças contra os que, sozinhos e à deriva, não sabem para qual direção seguir. Os brados dos marujos são intensos, ecoam sobre as ondas e avisam aos náufragos que não há outra saída: ou sobem a bordo ou serão considerados desertores. Ou abandonam seus botes e nadam em direção ao navio ou suas lanças lhes rasgarão a pele.

Atônitos, alguns se jogam no mar. Entregam-se à sorte das ondas e são resgatados quase que à força pelos marinheiros. Imediatamente após subirem a bordo, lhes são entregues dezenas de lanças que, antes mesmo de usufruírem da segurança da poderosa nau, são obrigados a empenhar contra os que continuam n’água. Infelizes náufragos. Cambaleantes. As lanças os atingem como se a feras. De dentro dos seus botes são açoitados não apenas pelos urros bravios do oceano, mas também pelo fel dos que, acobertados pela coletividade, os abatem.

Contudo, nenhuma personagem envolvida nesta cena surreal possui torneados com exatidão os traços do seu caráter. Muitos dos que se encontram à deriva também atiram lanças contra a nau e seus marinheiros. É uma guerra, e os ânimos se acirram na mesma proporção em que aumenta a distância entre o navio e os náufragos; entre o abrigo e os desabrigados.

É quando abandono a alegoria e volto à realidade. Sindicatos em mobilização perene e necessária, agredindo moralmente aqueles que não aderem às suas causas. Colegas impondo seus valores com tanta avidez que, sem perceber, excedem os limites da razão. Amigos de outrora se acusando e se destratando mutuamente. Trabalhadores que com a mesma inconsciência do gado que caminha ao abatedouro, fazem o que mais querem os seus patrões: mantêm-se afastados.

Sindicatos são abrigos. Precisam estar prontos para acolher as pessoas, e não armados para ameaça-las. É necessário reconhecer que a covardia tão combatida e indesejada pode estar presente até mesmo nos militantes mais exaltados e radicais. É preciso aceita-la. Compreender que, quase sempre, somos movidos por ela. Se o medo de perder o emprego, parte da renda ou até mesmo o status de um cargo, afasta alguns da causa sindical, o pavor de não ser aceito pela maioria, de ser rejeitado ou agredido pelos próprios colegas, atrai outros. Não há como separar os que são movidos pela coragem ou pelo temor. E a quem quer que seja, jamais caberá esse julgamento.

Não nos deixemos iludir, amigos. A fúria oceânica nunca se aplacará. Qualquer embarcação, seja grande ou pequena, está fadada a navegar por águas sempre tortuosas. Se quisermos, portanto, alguma segurança, teremos que nos juntar. Trazer para perto, para dentro do nosso abrigo, todos os que compartilham conosco as agruras da lida diária. Para tanto, ou nos livramos das lanças e abrimos os braços para acolher os que ainda estão distantes, ou nossa própria ira os impedirá de aproximar-se. E caso não tenhamos capacidade de fazer isso por coleguismo ou amizade, que façamos pela causa trabalhista; pela razão e fundamento maior de qualquer sindicato:

União e proteção. – Sempre!
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