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Contos-->CHEVROLET -- 28/12/2000 - 17:01 (Francisco Lacerda Alencar) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
CHEVROLET
“A Busca do cyber espaço de alguém perdido no tempo”


No ano da Graça do Senhor, 1987, eu era um garoto que sonhava entre árvores de eucaliptos no inverno, nos costumeiros passeios com meu cachorro Antônio, perto da casa onde eu morava, na cidade de Brasília - DF. Uma das minhas diversões, naquelas noites distantes do século 21 e do ambiente virtual da Internet em que agora procuro vestígios de Márion, era invadir o Chevrolet 1980 do meu irmão para ouvir canções de Roberto Carlos. Sempre escondido, é verdade, pois para um garoto cujos amigos ouviam hard rock e arrumavam confusões ao meio dia, seria ridículo ficar ouvindo Roberto Carlos. Eu costumava ouvir Roberto Carlos no carro de meu irmão, sempre acompanhado de uma garrafa de Rum, ou qualquer outra coisa quente, pois para mim, canções de amor, que hoje odeio, e a atmosfera à qual o álcool remete as pessoas, são muito idênticas. Ah, são muito idênticas, meu pai do céu. Ah, meu Jesus amado, como são idênticas.
Foi numa visita de meu irmão a ela que a conheci, para que se instalasse, a partir de então, uma ausência única em minha vida. Eu havia invadido, ao contrário do habitual, o carro de meu irmão, à tarde, desta vez para conferir duas fitas "roubadas" de um amigo. Uma das fitas era do Led Zepplin. A outra do The Cure, na qual tinha uma música cujo refrão repeti para Débora quando ela me disse um não definitivo. Tomei um gole a mais de Rum, (sempre andava acompanhado de uma garrafa portátil), olhei diretamente em seus lindos olhos cor de mel, soltei um sorrizinho irônico e falei : Boys Don t Cry, Baby, com a voz - eu confesso - bastante embargada .
Meu irmão bateu no vidro com expressão grave. Abaixei o volume do som e abri os vidros do carro, já elaborando uma desculpa. Ele, entretanto, não me deu tempo para "as honras do carro". Mandou que me deslocasse para o banco de carona ao lado, ligou o carro, aumentou novamente o volume do som e me levou diante dela, para que eu viesse, definitivamente, a saber um dia que "garotos podem chorar".
Eu nunca fui um desses sujeitos malucos que vivem longe das garotas, olhando-as atrás da porta "Por Crom", como diria Conan; eu nunca fui. Ao contrário, sempre estive perto delas. Sempre as compreendi. Sempre soube por que às vezes, digo, mensalmente, sangram entre as pernas e às vezes sangram no coração. Eu não tinha qualquer motivo para olhar Márion como uma deusa, exceto pelo fato daqueles olhos e da cor daqueles cabelos negros prateados lembrarem o desenho que Marcos fez naquele apartamento, naquele verão de 86, em Fortaleza. Ele desenhou uma garota sensual, de cabelos escuros, sendo sugada pelo sol. Mas a expressão de seu rosto não era de dor ou pavor, mas de puro êxtase por estar sendo arrebatada para o princípio.
Havia algo de estranho naquele olhar. O olhar de Márion. Uma estranha e doce solidão, cheia de completude, acompanhava aquele olhar. Inútil tentar descrevê-la fisicamente. Talvez, seja possível resumir tudo o que ela era aos seus cabelos: negros, prateados... Mas, aquele olhar...
Tal como um rato entra em atmosfera de fascínio diante de uma serpente, eu fiquei ali a admirar, sob intensa palpitação, aquele olhar. Sob intenso fascínio. Alguém que eu nunca mais iria esquecer. Vez ou outra, tentava inutilmente balbuciar algo que não saía, para tentar entrar em assunto, enquanto ela me olhava, a hipnotizar. Era como se o tempo tivesse parado. Só havia o fascínio e nada mais. Nada mais...
Eu não lembro de maneira alguma, até hoje, que movimentos fiz para sair dali; se me levantei rapidamente, se fui levantando vagarosamente, olhos presos em seu olhar, e saí sem dar as costas. Às vezes me pergunto se não saí carregado, levado por escolta ou desacordado. Sei que cheguei em casa e peguei Antônio para passearmos entre os eucaliptos e comecei a ouvir vozes. A sua voz que me dizia, entre sussurros, "Eu não fico aqui. Vou para o infinito".
"Nunca mais, por favor, venha me ver". Apenas eu e Antônio escutávamos sua voz e os diálogos que se seguiam entre nós dois, desde então.
Perguntei-lhe quantos anos tinha. Ela me respondeu que tinha 1.530. Perguntei-lhe de onde vinha. Ela disse-me que isso não poderia responder. "Quando vou poder vê-la novamente?". Sua resposta foi: "Eu vou morar em seu coração. Não se preocupe". Perguntei se não havia nenhum modo de vê-la novamente, mesmo sem tocá-la, pois creio, não conseguiria mesmo fazê-lo. Ela devolveu-me a pergunta indagando se eu tinha computador em casa. "Sim, tenho", respondi. "Então, me procure nos primeiros anos do século 21 na Internet, quando estaremos preparados ", ela respondeu.
No ano da graça do Senhor, 1987, a Internet era apenas notícia vaga nos jornais. Não algo tão virtualmente palpável como é agora. Mas como eu a encontraria? "Existe um código para achar você?” Perguntei, mas não ouvi resposta alguma. Perguntei novamente... sem resposta.
Invado novamente o Chevrolet 1980 de meu irmão para mais alguns goles de Rum e Roberto Carlos nesta noite quente de verão. Passamos o dia, eu e Antônio, a tentar algum contato. A primeira música a invadir meus ouvidos diz: "Querem acabar comigo/ Mas isso eu não vou deixar/ Enquanto eu tiver você aqui...". "E você está aqui? Por favor, responda”, grito mentalmente, tentando novo contato.
"Por que não posso vê-la? Você sabe que há dias eu não durmo, só para sonhar contigo?. Deixe-me vê-la de longe" - Clamei. Mas, novamente sem respostas.
Os dias foram passando, ao mesmo tempo em que as invasões ao Chevrolet se tornavam mais freqüentes e aumentavam os goles de Rum. Foi numa dessas invasões, enquanto ouvia de peito em trava, uma canção cujos versos diziam: “Quando olho em minha volta/ Aonde é que esteja eu sinto a solidão/ Vivo nesse desespero/ E você não vem porque razão/ Minha vida está perdida/ Já nem sei para onde devo caminhar / O meu tempo eu sei é pouco/ E é preciso, amor, te encontrar...Te encontrar”. Então, o contato se deu. Fui autorizado a vê-la de longe, desde que eu não sentisse ciúmes, pois, o trabalho que ela realizava, de vendedora de automóveis, estranhamente fascinante que era, fazia os homens irem além. Outra condição é que eu não me deixasse ver. Concordei, apesar de não ter entendido a razão.
Na manhã seguinte, seguimos, eu e Antônio, para aquela rua onde morava o amor. O mais puro amor entre um garoto do Brasil e uma mulher das estrelas. Postei-me atrás de uma grossa árvore com minha garrafa de Rum, com os restos de rum que havia nela. E me quedei a olhar seu rosto, seus olhos, trejeitos, as mãos que quando gesticulavam, pareciam emitir luminosidade. Mas também os seios, as curvas, a boca. Tudo, meu São Sebastião, desenhado; eu agora sei pelo próprio princípio de tudo. O Pai da luz e do caos. O pai do sol, da música clássica, do Fado e do rock, da vida e da morte.
"Você agora sabe". "Agora você tem que ir embora". "Eu não devo mais cruzar teu caminho". "Você também não deve mais cruzar o meu" ."Não nessa dimensão", "Não nesse tempo", foi o que o contato me dizia. "Deixe-me ficar só mais um pouco" – implorei. "Não, por favor , entenda", sua voz falou de novo em minha mente. "Eu não vou ficar com nada de você?". "Alguns fios de cabelo, quem sabe?, perguntei vulnerável. "Feche os olhos e abra a boca bem devagar ". "Somente um pouco" – ordenou a voz. "Me imagine aí, bem perto de você”. "Vou te deixar meu perfume". "Vai parecer ausência". "Vai depender de você" – ordenou de novo o contato.
Tal qual como fui ordenado, obedeci. Fechei os olhos e abri levemente os lábios. Em instantes pude sentir o calor e a pressão sobre eles. Uma língua quente, embevecida numa saliva doce, de sabor indescritível, invadiu-me pela boca, tomando todo o meu ser. Um calor de aconchego tomou, como de assalto, o meu tórax e desceu pelo púbis; então, eu pude sentir como se parte de mim estivesse indo para alguém, ao mesmo tempo em que parte de alguém parecia se acoplar a mim. Mas, a doce sensação não demoraria muito...
A sensação que tive é que um longo beijo terminara e os lábios dos amantes iam se despregando aos poucos, ao mesmo tempo em que fios prateados de saliva iam se rompendo em câmara lenta. "Ok. Abra os olhos vagarosamente e agora siga" – ordenou o contato. Olhei para Antônio como se acordasse de qualquer coisa e seguimos, os dois, em silêncio. Chegando diante dos eucaliptos, em pleno sol de meio dia, parei e chorei copiosamente, sendo observado pelo amigo Antônio. Talvez Antônio, que se foi num outono de 96, num atropelamento estúpido, nunca tenha entendido por que chorei copiosamente. Para um cachorro é sempre muito difícil entender essas coisas humanas. Para os humanos, lágrimas podem ser coisas eternas que ficam para sempre em suas mentes. Para um cachorro, eu penso que seja diferente; lágrimas podem se perder na chuva, não deixando nenhum vestígio. Mas, talvez eu esteja errado e cachorros sejam tão humanos quanto quaisquer humanos por aí.
O carnaval de 1988, quando eu era apenas um garoto, chegou comigo triste, olhando obsessivamente para o céu, como um caipira olha um boiadeiro tocando sua boiada numa estrada em fim de tarde. O que faz um sujeito triste, cuja mulher amada vai seguir para lugar incógnito, numa tarde de terça-feira de carnaval? Olhar a TV. Se possível, quando você só tem 17 anos e seu pai e sua mãe não estão por perto para os devidos controles, tomando Rum. Era isso que eu fazia naquela terça-feira, algumas horas antes de quarta-feira de cinzas, quando quem é de samba chora; e a Portela e a Mangueira, foram embora da avenida.
Subitamente, entra no ar o "plantão de notícias" da TV e passa a reportar algo inédito. É sobre uma moça que passou em seu Chevrolet 87, modelo 88, a uma velocidade impressionante, diante do posto da Polícia Rodoviária, próximo a uma cidadezinha do interior de Goiás. O policial relata à repórter, com ar ainda ofegante e assustado, sobre a velocidade do carro. Mas, mais que isso, relata que o carro num dado momento de sua velocidade fantástica, desaparece como a se fosse absorvido por uma dimensão invisível na estrada. Como naquele filme, "De Volta Para O Futuro". A repórter chega a rir, mas os outros policiais confirmam a história, deixando a jornalista com ar espantado.
Imediatamente eu me levanto. Não há dúvidas, foi ela. A idéia de seguir para o infinito diante da Polícia Rodoviária era para que se consumasse um testemunho razoavelmente acreditável. Ela se foi. Nunca mais no veríamos. Talvez nos encontrássemos nos primeiros anos do século 21 na Internet, num ambiente virtual, marcado por palpabilidade alguma. Corri para Antônio e o abracei. Fiquei ali por horas, encostado em sua cabeça, a refletir tanto sobre junto a quem e de que forma você encontra o amor, como a esperar novo contato. Ele nunca viria.
Antônio, vez ou outra, lambia as lágrimas que caíam de meus olhos. Era muita dor para um garoto. Edgar Alan Poe disse que a maior dor que um homem pode sentir é a dor da perda da mulher amada. Marina Kostch, uma dessas garotas que comanda sua própria empresa e paga conta em motéis, diz que a maior dor que uma mulher pode sentir, nestes dias modernos de hoje em que as mulheres estão ficando tão frágeis quanto os homens, é a perda do homem amado. Então, eu que não sou nada e nem ninguém, concluo que é a maior dor que qualquer ser humano pode sentir. "Os cachorros também Antônio?" Ele não responderia uma resposta que captei em seu olhar.
Foram dias e dias a imaginar como uma garota, em um Chevrolet 87, modelo 88, conseguiu velocidade e potência o bastante para cruzar o enigma do tempo e do espaço. Também como se decidiu, em seu coração, abandonar o garoto que ama. Eu ficava a me perguntar: Por que às vezes o Universo nos afasta do amor? Por que para alguns o amor é impossível? Por que as pessoas estão sempre "indo embora de mim?", como diria Marina, minha sobrinha de apenas 3 anos. Seria o verdadeiro amor algo que só se pode viver de longe? Em dimensões intocáveis?
Dediquei-me a observar com afinco corridas de Fórmula 1, para tentar descobrir segredos invisíveis da velocidade. Talvez assim, descobrisse para onde ela foi. "Aonde está , meu amor?". O barulho dos motores, ouvidos por mim, através da TV, "me faziam estremecer como um adolescente diante da professora desejada". Tal qual a imagem de uma casa antiga traz a imagem de alguém que se foi para sempre, como um avô, por exemplo, o barulho dos motores traziam para mim a imagem e o perfume de sua voz, seu rosto, sua boca, aquele doce, inesquecível e solitário olhar. Nesse período cheguei a sentir muito ciúmes de Airton Senna, piloto com quem tinha mais afinidade por sermos ambos brasileiros.
Os pilotos de Fórmula 1 sempre me lembraram o futuro e a proximidade com os limites do tempo e do espaço. Se o barulho dos motores soavam em mim como sua doce voz, Airton estava mais próximo dela, por estar mais próximo do barulho de um motor. Por Bacco (eu agora só tomo vinho), eu sentia muito ciúmes. Matava-me o amor, matava-me o ciúme.
Hoje, nestes primeiros anos do século 21 da Graça do Senhor, numa madrugada em que o jornal da tv reporta mais um problema com a estação orbital Mir, da Rússia, talvez um dos trunfos da odisséia soviética e humana no espaço, um "homem feito", de 30 anos, ainda procura respostas.
Como um Hakcer, navego a tentar avistar alguma ilha deserta onde possa encontrá-la, sozinha, a me esperar impaciente como Robson Cruzoé a sonhar com sua Irlanda. Envio alguns sinais, como a investigar e experimentar uma senha que me abra as portas do tempo e possa resgatá-la de lá somente para mim. Quando a conheci, ela tinha 1.530 anos; agora deve estar, pela matemática dos homens da Terra, nestes primeiros anos do século 21 da Graça do Senhor, com mais de 1.543, ou apenas 21, se você julga o tempo de vida de uma pessoa pela a aparência... Mas, o que importa a idade de quem se ama? Por quem se é possível esperar uma eternidade?
Solange é uma garota de apenas 15 anos, mora ao lado e me olha como se me desejasse e me conhecesse há muito tempo. Seria ela, em outro corpo? Outra personalidade? Estaria tentando me reconhecer, agora que sou "homem feito" e tenho duas filhas? Uma delas se chama Márion e herdou de mim parte da beleza que herdei de Márion naquele beijo sem corpo.
Na manhã seguinte àquele beijo, ao escovar os dentes, tomei grande susto. Minha boca, de lábios finos, estava em plena modificação. Meus cabelos, aloirados e cacheados, se enegreciam e se tornavam lisos. Aos poucos, foi meu rosto tomando nova forma. Hoje, por onde passo, é visível o olhar de admiração de mulheres e homens por causa da beleza herdada de Márion. A boca é a mesma boca sensual, carnuda e fascinante dela que, tal qual como a de Brigite Bardot, nos seus tempos áureos de cinema, dispensa batom para expressar perfeição. Uma boca diferentemente unissex, como me diz Luíza, de quem Martha, minha mulher, se morde de ciúmes. Meus cabelos são negros prateados a refletir sob a luz do sol, e às vezes tenho medo de, num dado momento, desaparecer, pois creio que existe algum ponto da Terra ou desta cidade que seja o portal.
A Márion visível, a minha filha, é uma linda e inquieta criança que herdou minha beleza, herdada da Márion ultra dimensional. Um dia eu tentei explicar, ser ela, na verdade, filha de duas mães. Ela balançava a cabecinha como a dizer: "coitado, ele é louco". Mas ela não sabe que também é filha de uma sofisticadíssima transmutação genética. Talvez, leve anos para compreender se, no mundo no qual vai começar a viver sua idade adulta, por volta de 2030, a humanidade ainda não vai saber muito sobre o tempo e o espaço. E também sobre as novas possibilidades de amor que podem surgir para as pessoas no futuro. Um futuro bem próximo. Talvez, estranhamente presente.
A moça com quem converso nesta madrugada, na Internet, diz se chamar Maria Silvia. Eu pergunto onde ela está, que cidade, que mundo. Ela responde que está em lugar algum e me pergunta se posso sentir seu perfume. Meu coração começa se acelerar. Sem pestanejar, (Se pestaneja quando se navega na Internet?) tento enviar algum código. Mas qual ?"Envio Chevrolet 88, te lembra algo?" – pergunto. A resposta: "Eu adoro carros". Tento novamente: "Um garoto, 17 anos". "1987". "Isto te lembra alguma coisa?" – insisto. Resposta: "Minha irmã nasceu nesse ano". Meu coração se acelera mais.
Levanto, passo as mãos pelo rosto em brasa. Volto à máquina e tento uma senha de amor: Versos de uma música dos anos 60, de Wanderléia, que Zizi Possi regravou nos anos 80 – "Foi assim/ Eu vi você passar por mim/ Quando para você eu olhei/ Logo me apaixonei/ Foi assim/ O que eu senti/ Não sei dizer/ Só sei que pude então compreender / Que sem você meu bem/ Não posso mais viver".
Mas foi tudo um sonho. Foi tudo ilusão. A resposta para o sinal? Nenhum. Contato perdido. Eu sei que Márion está em algum lugar do Universo e hoje tem mais de 1.543 anos, ou 21 se você julga o tempo de vida de uma pessoa pela aparência. Mas, o que importa a idade de quem se ama? Eu sei que também devo ser, ou não, o último romântico da Terra. Eu sei, trago um perfume no corpo e gens vindos de um lugar que até hoje não sei... Não sei bem aonde fica.
Eu não sei por quanto tempo ainda vou tentar preencher essa ausência que ninguém percebe. Talvez, eu viva o restante da vida à procura, mas todos vivem à procura de algo que não sabem bem o que é...
Uma vez, tentei roubar um Chevrolet numa noite de lua cheia, numa praia do litoral sul de São Paulo onde estava passando férias. Minha vontade era entrar, na velocidade que ele desse, mar adentro, para ver até onde iria. Tudo isso em razão de minha busca insana por Márion.( Quando , afinal, estaremos preparados? ) ( Ela Fará contato um dia?) Desisti, por avaliar que seu dono não entenderia esse gesto tresloucado, nem tão pouco os policiais da Guarda Costeira. Eles não sabem. Nunca saberão. Nunca entenderão. Mas, eu sei. Para o infinito. Sim, para o infinito – foi isso que ficou marcado em mim , um garoto no ano da Graça do Senhor, 1987.
Para o infinito, você vai de Chevrolet. Mas, seria qualquer um deles ?




O Autor :

Francisco Lacerda Alencar ( Lalo Alencar ) , 38 anos , participou da coletânea “ Os Inéditos” da antiga Cooperativa de Poetas , no ano de 1982 , Brasília, DF. No ano de 1980 , teve o conto , “ A Felicidade é Uma Arma Quente “ publicada pelo Correio Braziliense , em homenagem a John Lennon .
É consultor de marketing e Produtor cultural . Na área de marketing, uma de suas principais campanhas foi a “ Campanha das Grávidas “ ( 1996) , promoção de merchandising em que moças grávidas divulgavam , em supermercados, as vantagens de um frango caipira . A campanha recebeu enorme repercussão da imprensa local e nacional
Em produção cultural foi o criador de “ O Dia das Pulgas “ feira de trocas que acontecia na 110 norte , no ano de 1994 e que , em sua opinião. inspirou o Brasília Mix , a feira alternativa que acontece mensalmente no Gilberto Salomão..
Foi também o criador da festa “ Rock no Poder “ realizada na casa de chá da Praça dos Três Poderes , de frente ao Palácio do Planalto, durante a administração José Sarney . A festa aconteceu 4 vezes e depois foi proibida pela segurança presidencial., fato reportado pela Revista “ Isto É “ .
Dedica – se nas horas vagas a escrever contos e poesias. É filiado ao Sindicato dos Escritores do Distrito Federal.

E-mail : lacerdaalencar @ globo.com.br
Fone : ( 61 ) 487.32.42.


Considerações Sobre Chevrolet e a Garota Màrion

Chevrolet é a tentativa de escrever um conto sobre novas formas de amor que poderão acontecer no século 21 . Mas é também uma metáfora sobre o “ Mito da Mulher Amada “ ou “ do ser amado “ que está presente no inconsciente de cada ser humano . Aquele amor que aconteceu e não aconteceu ao mesmo tempo . Todo mundo tem uma história assim Márion é mais que uma garota propondo um encontro virtual na Internet no limiar do século 21 . Ela é uma garota misteriosa , vinda sabe lá Deus de onde e se vai para lugar igualmente misterioso..
´E também uma tentativa de escrever um conto cibernético onde máquinas podem Ter alma e seres humanos lidarão com elas a partir de emoções e sentimentos .

Quem seria Màrion ? Alguém de uma civilização avançada que vem a terra escolher um garoto cheio de sentimentos para procriar um novo homem aberto a solidariedade ,e a fraternidade ? O que posso afirmar é que Màrion é uma garota moderna . Que faz suas próprias escolhas . Ela diz a seu amado quando e que hora se aproximar dela . Quando ele é necessário Diz que quer encontrá – lo novamente quando eles estiverem preparados , mas para quê ?

O texto não descreve o rosto dela . Sabe –se apenas que é bonita . Mas que tipo de beleza ? Que rosto , de fato, teria ? Como ela se veste ? Usaria baton ? Esta mais para angelical ? Ou a típica garota executiva dos dias atuais ? Teria nariz pequeno e delicado ou o nariz imperfeito e lindo de Umma Truman ? ( É assim mesmo que se escreve? )
Por que o reencontro na Internet e não numa praça de uma cidade qualquer? Num beijo sem corpo , ela realiza transmutação de gens a seu escolhido . Ele fica impregnado dela .No Não ficamos assim quando transamos com a garota que amamos ? Ou quando transamos com muito tesão . aquela coisa de pele?
Chevrolet é também uma tentativa de abordar a “alma” , a essência que existe no automóveis Quem nunca contou segredos a seu carro numa estrada deserta ? Quantas histórias você ouviu falar de carros que emperram quando o seu dono está bêbado , como a protegê –lo . Ou de carros que parecem não gostar de um determinado amigo seu ?

Num automóvel é possível viver experiências fantásticas. Airton Senna revelou Ter visto, em alta velocidade, um ser que ele classificou como Deus . Seria o portal de outra dimensão , como afirma a Física Quântica ? O deus de “ 2001, Uma Odisséia No Espaço “ ? ( O ano em que faremos contato ) Em tese , em altíssima velocidade , pode se cruzar o enigma do tempo e do espaço..

Por fim , é um conto braziliense . Dizem que somos , “cabeça, tronco e rodas “ Somos também uma cidade onde os endereços lembram os endereços na Internet . Ou MSPW .e HIGS Conj. Isso, conj aquilo ( siglas de endereço daqui ) não lembram WWW . Com ?
Tente descrever Màrion. Descubra quem ela é . Tente colocá la no contexto de sua mente , suas expectativas em relação ao amor , as pessoas , ao século 21 , a Internet Saiba isso não é na verdade um conto . É uma história contada numa mesa de bar , entre homens falando de mulheres e amores que não aconteceram em suas vidas É uma história de perdas como muitas que acontecem na vida
. Claro que você deve fazer isso ( tentar descrever Márion) se não tiver vontade de matar o autor por escrever essa coisa que você não entendeu muito bem . Talvez não represente lá grande coisa para você perder tempo com isso. Um beijo .

Do autor.
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