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Contos-->O diploma -- 15/05/2000 - 15:51 (Manoel Carlos Pinheiro) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Sempre foi muito estudioso. Um aluno especial. Participante, disciplinado, questionador. Um pouco impaciente, é verdade. Irritava-se, mais do que gostaria, com a burrice explícita que tomava conta dos colegas. Mas jamais teve conflitos maiores com quem quer que fosse.

E, pouco a pouco, foi se tornando um estudioso, classificado por todos como intelectual. Mas gostava das coisas comuns, coisas das quais intelectual não gosta. Futebol, festas, etc. Fluminense doente. Perto dele, Cartola era Flamengo, Gérson é Vasco e Chico Buarque é Botafogo.

Virou artista. Sem frescura, mas um tanto esquisito para os padrões dominantes. Marxista, cercado de místicos por todos os lados. Franco e direto, entre tantos bajuladores. Comprometido com a aplicação prática de seus princípios, sem patrulhar os carreiristas de plantão.

Pelo talento e pela disciplina férrea, alcançou sucesso profissional. Mas não se sentia bem se não estivesse estudando alguma coisa. Não apenas lendo, isto sempre e muito mais. Cursos extras e regulares. Para cursar filosofia, estudou grego e alemão. Tinha que ler os filósofos no original.

Três graduações, quatro mestrados e cursando o doutorado. Parecia estudante profissional. Os amigos sempre reclamaram que ele adorava um diploma. Na verdade ninguém jamais viu algum pendurado pelas paredes de sua casa. Nem mesmo os prêmios e troféus conquistados em concursos e exposições. Apenas os incluía no curriculum-vitae, fazendo-o parecer uma tese.

Sempre graduações e mestrados, mas não doutorados. Eram todos em áreas diferentes. Complementares, costuma dizer. Doutorado só quando sentir que há um arcabouço teórico, algo a ser realmente construído e produzido, inovador.

Sofria a cada defesa de tese, mas nunca como na do doutorado. Reescreveu-a quatro vezes, sempre dizendo: tá uma merda! Mediocridade e confusão! Rasgava todo o trabalho impresso, deletava os arquivos e reformatava o HD para não sobrarem vestígios. Na quinta vez, sentiu que encontrara o rumo. Desde o início falava aos amigos: não posso conversar muito, pois agora a tese sai, a melhor que já concebi, a minha obra prima. A defesa foi uma apoteose!

Por tudo isto, até os amigos mais gozadores, respeitaram o seu carinho pelo grau obtido e, até mesmo, pelo famoso "canudo". Só a burocracia, misturada aos movimentos de greve, não respeitou tanto carinho. Nove meses, três semanas e cinco dias. Exatamente o tempo entre a requisição e a emissão do diploma. Pensou em chamar os amigos para receber o diploma, fazer a comemoração de praxe. E, pela primeira vez, botaria o certificado na parede. Emoldurado, é claro.

Precisava copiar e enviar para alguns lugares. Aproveitou para scanneá-lo. E começou a fazer algumas cópias. De início muito chinfrins, mas depois, uma beleza. Impressora de excelente qualidade, só diferiam do original por não serem em papel moeda. Cada uma delas sendo colocada de um lado e as ruins de outro.

Guardou as cópias necessárias, rasgou aquelas que estavam ruins e pronto. Decidiu sair para autenticá-las e comprar a moldura. Mas, e o original? Voltou para casa e procurou no scanner, nada! Entre os documentos, nada! Nas gavetas, nada! Em lugar algum...

Após quarenta e cinco minutos parado, tentando lembrar onde colocara o tão querido diploma, ocorreu-lhe uma idéia maluca. Será que foi para o lixo? E lá na cesta de papel estava o original, picado em dezessete pedacinhos!

Manoel Carlos Pinheiro
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