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Contos-->A BANDA QUE NÃO DEU CERTO -- 08/11/2002 - 15:10 (Mauricio Sergio Del Manto) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Dizem que, há cinquenta anos, o Tatuapé, zona leste de São Paulo, era o cenário perfeito para algum conto de Mark Twain: moléques andando descalços pelas ruas de terra, o céu enfeitado de quadrados e pipas, o sino da Igreja do Bom Parto se misturando com o barulho dos poucos carros e bondes que circulavam, fazia qualquer um pensar que Monteiro Lobato passou por ali quando inventou o Jeca Tatu.
A nossa crônica, como toda crônica, começa em um dia comum, mostrando a beleza que o cotidiano traz, para aqueles que apreciam a vida simples. Eis alguns personagens comuns que poderiam estar presentes hoje em nossas vidas:
Peixe. Peixe era o apelido de um garoto que tinha muitas espinhas que mais pareciam escamas e, para piorar a situação, ele tinha profundas olheiras. Quem olhava para ele logo se lembrava de um animal aquatico. No começo chamavam de "Olhar-de-peixe-morto", depois ficou "Peixe-morto" e por fim: "Peixe".
Justino era um o vizinho do Peixe, crente devoto ( o que naquela época era raro, devido à supremacia da Igreja Católica), ia aos cultos de sábado e aprendera a tocar violino com seu pai; de aniversário ganhou um rabecão, instrumento muito parecido com o seu velho violino.
O Pisca era o grande amigo do Peixe, daquele que se pode chamar de irmão. Seu tio havia morrido, deixando de herança um violão todo empenado. Propôs para o Peixe montarem um grupo daquilo que, no futuro, todos iriam chamar de rock; depois também chamou Justino, para terem uma reunião perto do pé de amora que ficava na antiga Rua do Ouro.
Valdemar, amigo do Justino, ficou sabendo daquele evento e, como ouvia muita musica de vanguarda ( seu pai sempre comprava os discos de vinil, que na época era a ultima novidade ), ciente que a banda seria um sucesso, logo, se propôs a tocar algum instrumento, mas o Pisca logo vetou a sua filiação alegando não suportar o cheiro horrivel do menino.
Na hora da reunião, todos estavam presentes. O Peixe levou uma flauta que havia ganhado da sua avó, falou com o Justino para trocarem de instrumento, este por sua vez não concordou, dizia ele que, por ser gordinho, não tinha folego para tocar flauta.
Tudo isso aconteceu próximo ao pé de amora que ficava na frente da casa da Dona Adelaide, a mulher mais fofoqueira do bairro. As más linguas dizem que ela já havia dito para todos da formação da banda e que seu filho iria ficar longe daquele monte de " maloqueiros-barulhentos".
Acontece que o filho da Dona Adelaide era outro capeta em forma de menino. Seu vulgo era Passarinho, porque vivia criando rimas tirando sarro de todos na vizinhança:

" O padeiro Carvalho
Tem problema com a "mulé"
É que quanto ele sai para o trabalho
Quem chega é o José"

E saia correndo...
No outro dia, outra vizinha que era incomodada:

" Não sei o que anda acontecendo
Dona Jertrudez está incomodada
Colocou a culpa no marido
Pelo entupimento da privada "

E saia correndo...
Um dia, Valdemar bateu no Passarinho por causa dessas rima ( o Passarinho tinha feito uma homenagem ao mal cheiro do garoto, que, obviamente não gostou). Passarinho jurou vingança e fez novas rimas...
Depois o pessoal começou a ignora-lo, foi então que o Pisca criou uma rima para o Passarinho:

" Ninguém quer conversar com o Passarinho,
Nem os moleques da sua idade
Vive trepado no pé de amora
Parece sua mãe farejando novidade."

No dia da reunião, lá estava o Passarinho observando tudo de cima do pé de amora.
Observou até quando o Valdemar foi pedir pela ultima vez para poder se juntar ao grupo. O grupo não deixou participar e ainda pediram para que ele ficasse longe, pois o Pisca ( muito fresco ) estava passando mal só de olhar para o pescoço encardido do moleque.
Alguma meninas apareceram, pois tinham sido convidadas pelo Pisca para assistirem ao primeiro ensaio da banda, que nem tinha nome.
Em meio a tanta agitação, Passarinho não se conteve, desceu do pé de amora e soltou uma nova rima:

" O Peixe
E o Pisca
Fizeram combinação
Na frente do meu portão
O Peixe tocava flauta
O Pisca violão
Justino por ser gordinho
[ tocava rabecão
Valdemar por ser porquinho
[ ficou longe da multidão

E saiu correndo...
Acontece que todo mundo saiu correndo, pois Valdemar pegou o violão empenado do Pisca, dizendo que iria dar na cabeça do Passarinho e, no final, ele deu...
Depois da tragédia todos desistiram da banda.
Segundo os sobreviventes, que moravam nas redondezas, essa bandinha iria ser muito boa. Quem sabe poderia ser até melhor que os "Demonios Da Garoa" ou a "Jovem Guarda", ninguém sabe...
Ninguém sabe...


A BANDA QUE NÃO DEU CERTO - É uma crônica de Mauricio S. Del Manto, faz parte do zine MERCURIO Nº1, e fará parte do livro " GAROTOS DA RUA VERE " - Um livro que tem várias crônicas de bairros e cidades do Estado de São Paulo - para ser lançado em setembro de 2003.

MAURICIO SERGIO DEL MANTO é poeta, escritor, estudante de Letras e coordenador do grupo OLH´ARTE.

Contatos :
delmanto@hotmail.com
cult.delmanto@zipmail.com.br
Tel:6452-3071











































































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