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Contos-->Lenda cibernética -- 16/12/2002 - 14:19 (Vinicius Marinho Medeiros) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Lenda cibernética

Todo o dia era a mesma coisa, não havia exceção. Acordava às quatro da manhã, se dirigia ao altar num canto do quarto, rezava, agradecia e pedia proteção para mais um dia de pescaria. Depois, checava a rede, o resto do equipamento e, rapidamente, preparava a marmita e tomava um café. Esse é o cotidiano de Marcel, um humilde pescador e morador da cidade de Barrerinhas, localizada no interior do Maranhão. É um município bem pequeno, onde a luz elétrica é privilégio de poucos, e a maioria da população vive da pesca ou do turismo, já que Barrerinhas é a porta de entrada para os famosos Lençóis Maranhenses. O rio Preguiça corta toda cidade e serve como principal caminho até o oceano, numa viagem, que de trainera, dura quatro horas.
Marcel divide seu dia em antes e depois do trabalho, sendo que nesse horário se dedica de corpo e alma ao que faz, sendo anzóis, vara de pescar, tainhas, dourados e outros peixes, muitos peixes, seu único vocabulário. Deixa para trás, em casa, sua mulher, Marília, dois filhos homens, José Ribamar e Marcel Filho, e uma pequena menina, Josefa. Às vezes fica uma semana no mar, longe da família e na companhia de Evandro, casado com sua irmã Marcela, e único companheiro nas viagens. Os dois são membros da cooperativa de pescadores de Barrerinhas e dividem uma trainera, com a qual sustentam suas famílias. Evandro é um grande amigo, confidente e companheiro de muitas horas. Admira seu compadre por este ser um bom contador de piadas, bom de papo e estar sempre de bom humor. Haviam crescido juntos, lá mesmo em Barrerinhas, e desde moleques estavam sempre colados. Quando Marcela começou a namorar Evandro, Marcel foi o primeiro a apoiar o casamento dos dois e se tornar padrinho de um dos filhos do casal foi sua recompensa. As duas famílias são obviamente muito próximas e as crianças estão seguindo os mesmos passos, já que são sempre vistas brincando.
Marcel e Evandro já haviam programada mais uma viagem. Dessa vez desceriam todo o rio e iriam pescar em alto mar. Isso não era novidade para nenhum deles, mas na maioria das vezes os dois pegavam os peixes no rio Preguiça mesmo. Deveriam ficar fora por uma semana e nesse tempo só teriam a companhia um do outro. Isso não era problema, já estavam acostumados. Como não poderia deixar de ser, ambos possuem muitas histórias sobre suas aventuras no mar e a cada vez que saiam para uma viagem dessa, uma nova era acrescentada.
Quando chegaram ao local viram que não estavam sozinhos e logo reconheceram as embarcações de muitos amigos. Com certeza, isso era confortador e caso acontecesse algum problema, muitos conhecidos estariam ali para ajudar em qualquer problema. É incrível como esse homens, que compartilham da mesma profissão e disputam os peixes dali, são companheiros. Não há a menor disputa entre eles e esse clima favorável faz com que todos ali trabalhem com afinco. Ao final do dia todos se reuniram para beber e contar algumas histórias. Evandro, com seu bom humor e suas piadas, descontraiu o ambiente. No dia seguinte estavam todos lá de pé e prontos para o trabalho, recolhendo a rede e conferindo o que haviam pescado. O mesmo ritual se repetiu por todo o resto da semana e, ao final da mesma, puderam, enfim, voltar para suas casas.
No caminho de volta fizeram uma rápida parada em Caburé para venderem alguns peixes e encher o tanque do velho Esperança. O barco poderia ser antigo, mas era um grande companheiro e nunca havia decepcionado antes, possuindo, assim, um enorme laço afetivo com seus proprietários. A saudade de casa, de uma cama limpa e quente, e, é claro, de suas famílias, era imensa e o calor de seus parentes era a maior recompensa que poderiam receber. Apesar disso, Evandro não voltava muito feliz. Estava distante, com o pensamento longe dali. Na recepção, uma surpresa a mais. As duas famílias haviam preparado uma grande festa, com direito a muita cerveja, peixe na brasa e um divertido forró.
Enquanto a merecida comemoração acontecia, num canto do quintal da casa, Evandro contava, para poucos amigos, mais uma de suas incríveis histórias. Disse que essa não era lenda de pescador e que realmente havia acontecido. Contou que depois que Marcel se recolheu para dormir, numa das muitas noites de bebedeira e conversa a bordo do Esperança, talvez na primeira, foi checar a rede e dar uma olhada na lua, que estava linda. O mar estava bastante calmo e não havia vento algum. Foi, então, que viu algo brilhando como ouro nas águas, aparentemente preso na sua rede. Parecia ser um bicho, e dos grandes. Talvez do tamanho de um ser humano. Olhou melhor e viu algo em que custou a acreditar. Era uma sereia, disse Evandro, e continuou o papo dizendo que conversou com ela a noite inteira. Seu nome era Amaya e vivia ali pelas redondezas, sempre à procura de alguém para conversar um pouco. Ela subiu no Esperança, pediu um pouco da cachaça e falou que voltava na noite seguinte para encontrar com ele novamente. Fez somente um pedido, que ele não contasse para ninguém sobre o encontro, sob pena de não se verem nunca mais. O pobre pescador se deparou com uma situação que nunca havia vivido, mas, ao mesmo tempo, estava deslumbrado com Amaya e prometeu que cumpriria à risca com o que haviam combinado. Para sua surpresa, Amaya lhe perguntou se tinha e-mail, que ele não tinha a menor idéia do que fosse, ou telefone, para que pudessem se falar depois que ele partisse. Amaya lhe explicou o que era aquela incrível invenção que aproximava e encurtava tremendamente as distâncias e que ele nunca havia ouvido falar antes, de como era prático e eficiente, e, como resposta, o pescador explicou que o único meio de se falarem novamente seria por meio de um orelhão na rua dele que era usado por todos os vizinhos. Os dois voltaram a se encontrar durante todas as outras noite, sempre na mesma hora e às escondidas. Amaya prometeu que ia ligar um dia desses para marcar um novo encontro. O humilde homem estava apaixonado e, sem perceber, havia caído no canto da sereia. No caminho de volta para casa, só pensava no que acontecera e, quando chegou, não resistiu. Aliviado, falou sobre o encontro com Amaya e sobre seu sentimento pela mesma. Todos os presentes caíram na gargalhada, achando que era mais uma de suas piadas, ou que o álcool estivesse afetando sua cabeça. Abalado, Evandro saiu imediatamente da festa e voltou para o barco. Ficou lá por vários dias, sem se comunicar com ninguém. Marcel e Marcela tentaram se aproximar dele, mas foram repelidos sumariamente. O humilde pescador já era considerado o maluco da cidade, mas isso não o abalava. Sabia que aquela experiência não era imaginação e todos os dias, durante a madrugada, ia até o telefone e ali permanecia, aguardando o telefonema que tanto esperava.
Os dias se passaram e a ligação acabou não se concretizando. Desesperado, voltou ao local do encontro anterior, mas, nada, ela não apareceu. À essa altura já não falava com ninguém de sua família e vivia isolado no Esperança. Se arrependeu profundamente de ter contado sobre Amaya e decidiu tomar uma atitude drástica. Iria comprar um computador último modelo, talvez o novo E-Mac.
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