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Cronicas-->a gaiola -- 02/06/2001 - 19:16 (ida lehner de almeida ramos) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A G A I O L A

Uma vez, pensando na liberdade, não minha, mas na de todos os seres vivos, perpetrei uma poesia, intitulada "Gaiola de Ouro", inspirando-me para tanto, em várias cantigas populares, que o registro da velha infància me apresentou. Nada de plágio, que abomina minha alma qualquer espécie de cópia, apenas canções de domínio público.
Acontece que, por estes dias, ouvi várias estórias sobre rouxinóis e pintassilgos confinados à triste quadratura de uma gaiola, o que me levou a recordar do velho escrito. Já nas Escrituras o pássaro é louva do em parábola mais que conhecida do Cristo: " Em verdade vos digo que nem Salomão, com toda sua glória, jamais se vestiu como um deles", parábola destinada a enaltecer a figura dos simples de coração, exaltar a humildade da multidão que o ouvia.
Pessoas aculturadas se referem aos entinhos presos, como se fossem criação sua, sua mais legítima propriedade, e demonstram compaixão e carinho com frases como: - "Corri a guardar a gaiola, quando percebi que ia chover", ou, rebatendo qualquer insinuação a respeito do direito à liberdade, que as aves também têm, - "Mas o filhote já nasceu na gaiola, ele não saberia como viver sem o alimento que eu lhe forneço, ou sem o amparo que lhe dou" . Balelas, que estão longe de justificar o ato de relegá-los ao compulsório confinamento.
Não desconheço a irritação que causará esta crónica aos que possuem em seu acervo, além, dos bens móveis e imóveis, dos utensílios, das jóias e outros quejandos, essas pobres criaturinhas que só fazem satisfazer-lhes a vaidade pessoal. Haja vista os campeonatos de rouxinóis e curiós, que, além da supervalorização dos egos, rendem aos participantes verdadeira fortuna em reais. E os canários, então? Verdadeiras peças de arte, sua plumagem aurífera, de tão bela, deixa-nos, às vezes, sem fala. E, em razão disso, são expostos em passarelas diminutas e mal acesas pela fogueira da vaidade de uns e outros.
As ararinhas azuis, a imensa quantidade de asas que cruzam os nossos céus, seja da simples gaivota pescadora, seja das andorinhas, com sua penugem da cor do oceano, que migram antes da chegada do inverno para outras terras distantes, num fenómeno de massa que só pode ter explicação na natureza divina. E o beija-flor?
Qe maior expoente da liberdade poderia eu apresentar, senão esse protótipo de linhas perfeitas, feito ave? Poderia aqui dar uma de ornitóloga, enumerando incontáveis criaturas lindamente aladas.
E, por favor, não aceito polêmica em torno deste assunto, isto é, de sua prisão por nós, criaturas humanas. Simplesmente, sem ter a pecha de ecologista ferrenha, minha vida toda foi ditada em prol da libertação: - não só da raça humana, como a das espécies vivas que circulam por este mundo, por este vasto mundo, como diria o poeta maior Drummond de Andrade, Ressalva se faz necessária para as exceções, é claro.
Cadeias são feitas para abrigar criminosos, os corruptos, os assassinos, os estupradores.
Quem já viu um passarinho que seja, arrolado pela justiça entre a fila imensa dos fora-da-lei? No entanto, a frieza de tantos juizes, sem toga nem capelo, determina a pena máxima de prisão perpétua às pobres avezinhas, que, quando nada são, constituem verdadeiros ornamentos para nossos olhos, que jamais se cansam de admirar a riqueza e o colorido de suas penas.


Ida Lehner de Almeida Ramos

IdaLehner@bol.com.br
Jundiai - SP



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