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Cronicas-->LÁ OU AQUI? -- 25/10/2002 - 15:36 (Ucho Haddad) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
As urnas mostraram no primeiro turno das eleições um indiscutível desejo de mudança do povo brasileiro. A pouco mais de quarenta e oito horas do segundo turno, quando o povo irá ratificar seu tão pujante desejo, o Brasil vive um momento de certezas incertas.

Imaginar que Lula, isoladamente, representa muito mais um perigo do que uma efetiva mudança é querer corromper a própria consciência com a idéia do continuísmo. Mesmo assim, não se pode furtar o direito democrático do cidadão da livre escolha. Idéias e ideais devem ser respeitados por todos, mas só mesmo quem se locupletou com o desgoverno promovido pelo presidente Fernando Henrique Cardoso pode querer perpetuar reticências imundas e corrosivas.

Lula, muito longe dos bancos de escola e dos louros de qualquer diploma, é um homem do povo - é fato que está muito bem repaginado - sabedor das mazelas do submundo da miséria e da mediocridade. Se conseguir cumprir metade das promessas de campanha, Lula irá se perpetuar de forma digna na história desse país, passando ao largo da possibilidade de se transformar na versão tupiniquim de Lech Walessa.

Para dar cumprimento às metas do seu programa de governo, Luiz Inácio Lula da Silva será obrigado, da mesma forma que foi para chegar até aqui, a fazer alianças duvidosas e concessões espúrias. Lula abandonou o discurso oposicionista que tanto sucesso fez nas portas das fábricas do ABC paulista, adotando um comportamento de estadista que acabou gerando dúvidas muito mais pela própria mudança do que pelo radicalismo de outrora.

Mas Lula, pelos números das pesquisas ou pela necessidade de mudança, é o próximo Presidente da República. Será referendado nas urnas por uma votação respeitável com mais de sessenta milhões de votos, o que lhe confere autoridade para promover mudanças, desde que sejam em prol daqueles que desde sempre o acompanharam, os vilipendiados trabalhadores brasileiros. Para tal, Lula irá precisar de uma tal de governabilidade.

Mas afinal o que é governabilidade?
Diversos dicionários da língua portuguesa apontam governabilidade como sendo a qualidade de governável.

Fugindo da exatidão do universo gramatical, e por mais que se queira, a tão propalada governabilidade não terá tanta qualidade como pregam os dicionários, e muito menos como esperam os brasileiros. Para consegui-la, Lula será obrigado a rebocar um sem fim de figuras perniciosas que até bem pouco tempo prestavam desserviços ao país. Diante da possibilidade de continuarem mamando nos úberes da nação, os rebocados revestir-se-ão com pele de cordeiro conservando a alma leporina.

Pensar que Lula e sua bancada parlamentar irão persuadir seus pares apenas com ideologia e discurso, na busca de um modelo flexível de governar, é uma abissal ilusão. Como qualquer outro candidato, Lula tem compromissos de campanha. Compromissos esses que permitiram uma campanha milionária e estrategicamente eficiente. Poucas seriam as pessoas que desembarcariam em uma campanha presidencial, abrindo cofres e carteiras, apenas pelo dever cívico e por uma gota de patriotismo. Nem mesmo algumas hostes petistas pensam assim, quando na verdade deveriam.

Por mais laureada que possa vir a ser a equipe ministerial, ponteada pela possível excelência de seus integrantes, Lula terá que negociar com velhacos da política brasileira, colocados na garupa de sua campanha para que pudesse colocar o pé na rampa do Palácio do Planalto. Mesmo tendo feito do diálogo a mais eficaz ferramenta de sua vida, Lula não terá como escapar. Caminhará, inevitavelmente, para o loteamento do poder, pois do contrário jamais saberá o que é governabilidade.


Mas não será apenas com os velhos inimigos, que repentinamente se tornaram amigos, que Lula terá problemas. Facções fundamentalistas da esquerda brasileira já começaram, antecipadamente, a colocar as mangas de fora. José Pedro Stédile, a cabeça pensante do Movimento dos Sem Terra, já deixou claro que se Lula não promover mudanças, de nada terá adiantado ter alcançado a presidência. Por mais radical que pareça, como na realidade sempre foi, Stédile cultua a coerência sendo fiel aos seus ideais. Ao mesmo tempo em que o Presidente da República não poderá abrir as portas do palácio para que os integrantes do MST armem as suas barracas nos macios e felpudos tapetes palacianos, não poderá virar as costas.

Nesse caso, Lula está entre a cruz e a espada da traição. Se abandonar o MST estará traindo um apoio fiel e contínuo, desautorizando uma causa que sempre apoiou. Se recebê-lo de braços abertos e portas escancaradas estará, assim, traindo o democrático retumbar das urnas. No contraponto do idealismo socialista, Lula vem digerindo, há muito, a ambição capitalista de diversos setores da sociedade. Antes de assumir, começou a rifar os postos mais cobiçados da diplomacia brasileira, retribuindo apoios repentinos e atendendo a pedidos de forasteiros desqualificados.

Esperar uma mudança imediata seria um claro sinal de precipitação e de desconhecimento da atual situação do país. Há quase quarenta anos que o Brasil encontra-se engessado. Quiçá ensaiou alguns passos na enfermaria do caos, enquanto trocava de gesso. Quando muito ingeriu alguns analgésicos populistas, que pela nocividade provocou uma úlcera na dignidade do povo.

A Luiz Inácio da Silva deverá ser concedido tempo, acompanhado de paciência e compreensão vigilantes por parte não só dos seus eleitores, mas de todos os brasileiros. Esperar mudanças repentinas é o mesmo que calçar os sapatos trocados e acreditar que irá acertar o caminho. Mudar um país é promover mudanças que atendam aos anseios e às necessidades dos excluídos, em detrimento do descontentamento de algumas minorias.

Mesmo que o slogan da atual campanha petista seja Agora é Lula, ficou o estigma da campanha anterior do Lula lá. E como lá ele já está, mesmo que alguns não admitam, de ora em diante o saudoso e necessário sindicalista barbudo é o Excelentíssimo Senhor Presidente da República Federativa do Brasil, Luiz Inácio da Silva. O velho Lula!

Mas o que nos resta se agora o Lula está lá?

Torcer, aqui, para que tudo dê certo lá.
Esperar que, mesmo lá, Lula jamais esqueça de nóis aqui.

Muito juízo e boa sorte Excelência!
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