Dois gatos furtaram um queijo e recorreram ao macaco para que ele se encarregasse da divisão. O macaco cortou o queijo em duas partes, uma maior do que a outra.
Imediatamente os gatos protestaram, mesmo antes de cada um saber qual a sua parte.
O macaco tomou de uma balança, pesou bem cada pedaço, escolheu o maior. Cada gato estendeu a mão, o macaco comeu o maior pedaço.
Novos protestos dos gatos. O macaco justificou-se:- Detesto injustiça. Comi o maior pedaço para que um não leve vantagem sobre o outro.
Os gatos perceberam que o macaco era inflexível na procura da justiça, calaram-se. Ele então tomou a faca, deu novo corte no queijo. Novamente uma parte saiu maior do que a outra.
- Quero a maior! - disse o gato amarelo.
- A maior é pra mim - avançou o gato malhado, mostrando as unhas.
- Comerei também este pedaço porque detestaria contribuir para que um de vocês cometesse injustiça para com o outro - disse o macaco.
Os gatos entreolharam-se. O senso de justiça do macaco lhes era absolutamente perturbador.
O macaco subiu à mesa, numa das mãos empunhando a balança, na outra a lâmina, figurou a deusa da justiça - mais evoluída, porque de olhos desvendados - embasbacou os litigantes com citações eruditas, lembrou Cícero, Justiniano e hodiernos jurisconsultos, exortou os contendores à busca da retidão, da justiça e da probidade, que estudassem Direito, se aplicassem no Latim: - Uni cuique suum - sentenciou e, como juiz bilingüe, bateu o martelo: - A cada qual o que é seu.
Acabou o discurso, desceu da mesa, comeu o que restava do queijo.