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Poesias-->Guanabara -- 05/10/2003 - 12:25 (Roberto Ponciano Gomes de Souza Júnior) |
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& 65279.; Baía de Guanabara
Seio do mar, de ti salta a vida em movimentos maravilhosos
Compurscada, teu azul é enegrecido diariamente por nós
Lixo, esgoto, papel, inseticida, fezes, muito cocô em teu espelho
Garrafas pet, latas, sofás, penicos, televisões usadas
Tudo enfeia tuas praias, que outrora foram
Pequenas contas da jóia mais esplêndida.
Parece queremos assassinar-te. Mas tu resistes.
De todos os teus recantos, remansos, ilhotas, locas
A vida flui numa resistência inimaginável.
Vestal do mar, teu vestido de águas límpidas
Sujo hoje de nosso desfrute sem sentido
Ainda guarda pérolas de um brilho único
Dos peixes espadas em acrobacias debaixo da Ponte
De arraias que não querem abandonar seu milenar lar.
Berçário esplêndido, todas as manhãs as aves caçam
E se alimentam de peixes poluídos de metais pesados
Patos nadam em águas que parecem mortas
Mas que pululam de vida numa trágica luta
Da natureza contra um sistema que a quer morta.
Mãe água do carioca, todo dia, silenciosa
Sua mensagem azul clama por socorro.
Teus cantos e encantos que ainda vicejam
Paquetá parada no tempo da Moreninha
Fala de épocas onde uma água cristalina
Via a Cantareira apostar corrida com botos.
A Ilha do Governador ainda virginal
Era abrigo da brava gente do mar
Pescadores que diante da fartura
Num simples mergulho podiam conseguir seu pão de cada dia.
Hoje agonizas.
Tua areia não é mais preta dos aluviões que os rios te ofertam
Deusa mar Tupi Fluminense
Hoje nossos excrementos humanos e da indústria
Saturaram teu húmus e matam os teus seres.
Roubamos o teu ar e tua beleza
Numa insana tentativa de te transformar
Em gigantesco esgoto a céu aberto.
Mas tu resistes, vicejas improvável
E continuas com teu seio alimentando teus peixes e aves.
As gaivotas ainda tiram das tuas águas as cocorocas
O pelicano ainda faz ninho em tuas ilhas.
Como podemos querer sufocar e matar tanta beleza?
Toda esta poesia azul recôndita
Seio feminino do mar que beija o Corcovado
E explode nossas retinas de uma beleza tão ímpar
Que mais parece esculpida por Mestre Valentim
Detalhe por detalhe, afresco barroco eterno a céu aberto.
Música de Noel reverberando por tuas pedras e docas.
Faz parte de nossas almas,
Tua formosura única improvável selvagem
Resistência da maravilha, natureza indômita
Lutando a cada dia pela vida
Tragando o nosso esgoto e recusando morrer.
Dá-nos tua beleza, tua poesia, geometria
Doce azul musicalidade.
E nos pede um futuro
Seio do mar verde sem veneno humano
Que mata pouco a pouco o fruto de tuas águas. |
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