Usina de Letras
Usina de Letras
90 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62352 )

Cartas ( 21334)

Contos (13268)

Cordel (10451)

Cronicas (22544)

Discursos (3239)

Ensaios - (10412)

Erótico (13576)

Frases (50729)

Humor (20058)

Infantil (5476)

Infanto Juvenil (4795)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140851)

Redação (3316)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6224)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
cronicas-->Feito uma rosa -- 24/02/2001 - 16:44 (Fernanda Duclos Carisio) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
No interior de Alagoas atletas afeitos a esportes radicais se preparam para mais uma manobra ousada, espetacular. É Sexta-feira - penúltimo dia do ano, do século, do milênio. O Jornal Nacional acaba de apresentar uma matéria sobre a seca no Nordeste. Matéria atual. Assunto antigo. Acredito que as imagens eram atuais, mas se fossem de dez anos atrás, ou mais, não seriam diferentes: pessoas, terra, animais, tudo ressequido.
Depois de muitos detalhes e depoimentos a repórter encerra a notícia, informando que o governo federal está informado e que providenciará - no próximo dia 2 - uma MP para que os carros-pipas possam chegar as cidades, que já estão há seis meses esperando pela chuva. Claro que não dá para editar MP no penúltimo dia do ano porque ninguém é de ferro ... Afinal de contas quem já aguentou seis meses, pode muito bem esperar que os que tem água, champagne e caviar comemorem o Reveillon ...
Bem, mais o assunto não era esse. O assunto é a Rosa. Ou melhor, é a matéria seguinte a da seca e que mostra, com lindíssimas vistas aéreas, uma região do interior de Alagoas, um vale onde se espraia um lindíssimo rio, cercado por contrafortes de montanhas. É nesse cenário que os atletas se preparam para um vóo, se não me engano, de asa-delta e que seria acompanhando por um mini-helicóptero. A população local cerca os atletas e a equipe de filmagem. Uma senhora incentiva o rapaz, encantada com a sua coragem ... e com a novidade. Mas, com sempre, os que mais chegam perto, pulam, cercam, perguntam e olham, são as crianças.
O encantamento das crianças é visível em cada centímetro. De pés descalços, sem camisa, prontos, como toda criança estaria se tivesse a mesma chance, a correr na terra e a mergulhar no rio as crianças acompanham cada pequeno detalhe dos preparativos para o vóo.
Quando finalmente a asa-delta levanta vóo, seguida logo após pelo mini-helicóptero, as crianças gritam, correm, riem. O vóo é perigoso já que o vale é estreito e as montanhas estão bem próximas. Mas o cenário é tão lindo que, eu, só agora que estou escrevendo, é que me lembrei que o mote para a matéria era o risco de mais um esporte radical. Como eu, ainda que por outros motivos, as crianças também não se davam conta do risco, apenas da maravilha.
Nem precisava perguntar, mas, afinal de contas, essa é a função repórter, e ele pergunta às crianças se estavam gostando daquela festa.
Os olhares encantados já eram resposta suficiente, mas o microfone exerce mais uma vez a sua atração e logo um dos garotos diz que a festa está linda, outro resume numa frase a magia do que vê: "Bonito feito uma rosa..."
Essa comparação, imediatamente, apagou asa-delta, helipcóptero, paisagem e me fez ouvir de novo a frase "Desenha-me um carneiro". Para os milhares de meninos, pequenos ou grandes, que jamais leram O Pequeno Príncipe, pode parecer maluquice, mas, pelo amor de Deus, de que poema interior essa criança tirou essa comparação? Como não lembrar (pelo menos para mim) do Pequeno Príncipe providenciando uma redoma para a sua rosa e preocupado em correr o mundo para conseguir um carneiro capaz de comer as mudas dos gigantescos Baobás que ameaçavam o seu pequeno asteróide? Como não ver nesses garotos descalços e sem camisa dezenas de Pequenos Príncipes prontos a proteger a rosa daquela experiência fantástica?
Bobagem. Não sei porque o espanto. Afinal de contas, o que era o Pequeno Príncipe se não um garoto carente que se viu cativo de uma rosa? E o que somos todos nós, se não a saudade desse garoto, que um dia já fomos, capaz de se maravilhar e se deixar cativar por uma rosa...

Fernanda Carisio
30/dez/2000.
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui