- Uma barata! - Gritou Marinalva enquanto tratava de encolher os pés para cima da cadeira.
- Barata? Onde? - Perguntou Olavo olhando para o tapete em busca do inseto.
- Ali, ó! Não está vendo? Grande e metida como ela só!
- Metida? A barata? Por que metida?
- Porque fica me olhando com aquela cara de curiosa, onde já se viu! Uma reles barata!
- Como sabe que é uma barata? Vai que não é barata...
- E o que você acha que pode ser? - perguntou Marinalva já assustada com a hipótese - Alguém nos espionando?
- Espionando? Quem? Está maluca? Quem iria treinar uma barata para espionar os outros?
- Pode não ser uma barata de verdade, digo, barata de carne e osso. Quem sabe não é um daqueles trecos que os russos usam...como é mesmo?
- Vodka? Acha que a barata é uma garrafa de vodka disfarçada?
- Vodka não, burro! Um daqueles negócios de espionar, miniaturas robotizadas ou sei-lá-o-quê, desses que têm nos filmes do James Bond.
- E que diabos iriam querer os russos saber da nossa vida?
- Talvez queiram saber como vive uma típica família americana...
- Mas nós não somos americanos, Marinalva, somos brasileiros e pés-rapados; e tem mais: aquilo é uma barata, não passa de uma barata e eu vou provar!
- O que vai fazer? - Perguntou Marinalva apreensiva com a sequência dos fatos.
- Vou dar a ela aquilo que toda barata sonha: uma chinelada.
- Não! E se for programada para explodir quando atacada?
- Ah! Vai explodir sim! Espere só!
Olavo foi, armado de chinelo, em direção à barata, pronto para as vias de fato, quando uma lagartixa ligeira e faminta deu um salto triplo mortal da parede onde estava e engoliu o bicho, desaparecendo, em seguida, por detrás da cortina.
- Viu só! - Disse Olavo à Marinalva, que ainda olhava, incrédula, o fato - Era barata mesmo. Nada de russos, nada de James Bond. Era barata, se não, um barato. Não mais que isso.
- A lagartixa é aliada! É um robó americano programado para destruir as armas russas! Estamos salvos!
- Ai...
- Estamos salvos! Viva a América!
Marinalva repetiu isso por bom tempo, sorria a cada lagartixa que passava pela parede, sentia-se segura com elas.
Olavo acabou vendendo o aparelho de TV, mudaram-se para um apartamento em um prédio enorme, não sem antes enchê-lo de lagartixas e pendurar uma bandeira americana na sala, a pedido da mulher.