Esta marca chamada Romário já não pertence apenas ao mundo do futebol. Tendo deixado o universo das quatro linhas, Romário é hoje um símbolo nacional. É o cozinheiro super competente que só faz os pratos que gosta e não os que você quer. É o melhor mecànico que você conhece, mas que nunca cumpre os prazos que ele mesmo estabelece. É o cabeleireiro de corte preciso e trejeitos afetados demais, é a melhor arrumadeira e também a mais insolente. Romário é uma aberração. Um ser que traz consigo os dois lados de todas as moedas. Mas não como todos nós. Mais. Ele é o ícone máximo do extremismo. Estandarte da união entre o bem e o mal, o certo e o errado, o torto e o reto, o gol e a bola fora.
Suportar os defeitos de um Romário não é algo fácil, assim como também não é, abrir mão de suas virtudes. E é exatamente aí que reside o problema de técnicos, donas de casa, motoristas, empresários, consumidores, homens, e mulheres. Para qual direção olhar? Para a que nos leva ao encontro dos prós, ou para que nos faz sucumbir à s mazelas dos contras? Resolver essa equação é tarefa demasiadamente ingrata, e traz sempre novos problemas e aborrecimentos.
O bom mesmo, nesses casos, é estar de fora. Na torcida. No papel de crítico; de carrasco. No papel do filho desocupado que, sentado à mesa maravilhosamente posta, questiona a mãe sobre as razões que a fazem aturar os chiliques da empregada respondona. E ainda declara: "Porque se fosse comigo..."! Ou, ainda, no papel do funcionário que julga seu chefe como o maior dos incompetentes, por conta dele não ter contratado os serviços do melhor e mais caro técnico em computação do mercado.
Mas se há, para alguns, a possibilidade de passar ao largo desse problema, para o próprio Romário isso é impossível. Ele - infeliz - vive sendo esticado para todos os lados. Suas virtudes o elevam ao céu, enquanto seus defeitos o afogam nas profundezas do inferno. Mas essa não é a maior cruz que carrega. O pior castigo que lhe é imposto deve ser, imagino, o fato de estar constantemente à mercê de alguém que insiste em ofuscar o seu brilho. Ver o seu desejo de sucesso e o próprio talento serem tolhidos por um chefe, um técnico, uma patroa ou um cliente, é um castigo demasiadamente cruel para quem possui tanta destreza.
Pessoalmente, torço muito pelos Romários. É verdade que nem sempre opto por ter um deles ao meu lado, afinal, algumas vezes é muito estressante aturar certos defeitos. Mesmo assim, cinicamente, torço. Gosto de ver o sucesso de quem é capaz. Aprecio a vitória da virtude sobre a mediocridade, da competência sobre a incapacidade, do bom sobre o ruim. E digo mais! Se o Romário for baixinho, artilheiro, matador, jogar bola com o nariz empinado dos argentinos e fizer gols com a camisa amarela do Brasil, aí eu torço mais ainda.
- É isso aí, peixe! |