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cronicas-->E AGORA? -- 28/10/2002 - 13:40 (Ucho Haddad) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Depois de quatro tentativas, a estrela petista de Luiz Inácio Lula da Silva brilhou. Não se pode deixar de reconhecer que se o brilho apareceu, foi por merecimento e não por piedade.

Lula, ao longo de toda a sua vida política, cresceu e amadureceu na mesma proporção que o país. Tornou-se um camaleão da política, que a cada mudança de pele apresentava uma nova com menos nódoas. Aprendeu com as derrotas que mudanças devem e podem ser realizadas, mas de forma coletiva e com muito jeito. Aquele velho e bom jeito brasileiro. Abandonou a boina e o megafone. Trocou a negra barba castrista por uma nova, argenta e bem aparada. Deixou a velha e surrada camiseta do Solidariedade de lado, sendo acolhido por confortáveis e bem cortados ternos de estadistas.

Mas o seu pensamento mudou, e muito. Ao aceitar a presidência de honra do Partido dos Trabalhadores, Lula conseguiu tempo para analisar o cenário político do país. O candidato petista desatou-se do radicalismo histórico do partido, enxergando um hiato na política brasileira. Quando o PSDB do presidente Fernando Henrique Cardoso mergulhou na onda do neoliberalismo, cometeu o erro de abandonar a filosofia conceitual do partido de fazer uma política de centro-esquerda.
Quando silenciosamente percebeu o erro dos tucanos, Lula deu mostras de uma tremenda evolução política. Deixou claro que tinha apreendido as lições das urnas.

Decidido a trilhar, mais uma vez, o caminho que o levaria ao Planalto Central, Lula recolheu o discurso abandonado pelos tucanos, remodelando a sua aparência e avermelhando, levemente, o seu conteúdo.
Foi no binómio construído pelo seu oportunismo visionário e pelo descontentamento do povo que a campanha petista esteve calcada o tempo todo, convergindo para o sucesso.

Mas quem ganhou?
Lula?

É possível que sim. O maior recado das urnas não foi que a legião de simpatizantes do PT aumentou assustadoramente do dia para a noite. A maioria do povo estava, como ainda está, descontente com o modelo económico ilusionista impingido por um sociólogo arrogante e prepotente, que se inebriou com o poder. Muito mais devastadora do que a vitória de Lula, a derrota de Fernando Henrique Cardoso foi humilhantemente arrasadora.

Se Fernando Henrique Cardoso tivesse recobrado a consciência ao final do seu primeiro mandato, jamais teria manipulado a realidade para se reeleger. O seu discurso pode enganar por parecer democrático, mas suas atitudes são perniciosas e seu comportamento nunca foi neoliberal, mas pincelado por um neonato estilo ditatorial. Fernando Henrique utilizou a miséria e a instabilidade económica, que o seu governo produziu, como cabos eleitorais para se reeleger. Tomado por uma profunda cegueira gerada por sua descomedida vaidade, acabou sendo traído por ambas. A miséria aumentou e a situação económica piorou.

Nesse momento começou a sólida e ferrenha oposição petista capitaneada por Luiz Inácio da Silva, tendo ao fundo a miragem do Palácio do Planalto. Se o povo esqueceu o conteúdo da oposição do PT, enquanto Lula ainda era pedra, certamente Fernando Henrique e toda a sua camarilha não esqueceram, principalmente agora que o inimigo se tornou vidraça. Os discursos que o PT fez no passado servirão como matéria prima na construção da oposição tucana. Quando os políticos do PSDB afirmam que não farão uma oposição irresponsável, sabem o que estão dizendo.

A reunião entre o presidente Fernando Henrique e a cúpula da campanha tucana, na semana passada, não foi para definir estratégias para angariar votos para José Serra. O Palácio do Planalto há muito tem consciência de que Lula seria o próximo presidente do Brasil. A reunião palaciana foi para decidir quais projetos seriam tirados das gavetas, para serem aprovados no Congresso. Muito antes de passar a faixa presidencial, Fernando Henrique irá arrumar problemas para o novo presidente, por mais que o seu discurso mostre o contrário. A primeira estocada de Fernando Henrique em Lula será com o salário-mínimo. Quando o dólar beirava os três reais, Lula disse que o salário-mínimo era uma vergonha e que deveria ser reajustado para o equivalente a cem dólares. Fernando Henrique vai desengavetar o projeto de aumento do salário-mínimo, e por mais desacreditado que esteja, vai conseguir aprová-lo na calada da noite.

Lula poderá se mobilizar para impedir a sua aprovação, uma vez que o orçamento para o próximo ano não permite um centavo de aumento, além dos míseros e vergonhosos cinco por cento propostos pelo atual governo. O presidente-eleito poderá se defender alegando que em seu plano de governo, citado insistentemente na campanha, tem um projeto de mudança do sistema previdenciário brasileiro que irá proporcionar condições para aumentar o salário.

Para mudar o mecanismo da Previdência Social será preciso mudar a Constituição, já que alguns direitos são garantidos por cláusulas pétreas, entre eles os previdenciários. Para promover um reforma constitucional é necessário um plebiscito popular. Tudo isso exige tempo, e será sempre uma incógnita se o povo vai saber esperar.

Se até aqui a campanha petista foi propulsada pelo slogan AGORA É LULA!, a pergunta que fica é inversamente semelhante.

Lula, e agora?
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