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Contos-->O PROFESSOR DE MATEMÁTICA -- 25/01/2003 - 11:19 (Edmar Guedes Corrêa****) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O PROFESSOR DE MATEMÁTICA

A matemática é a matéria a qual maioria dos alunos odeia. Ainda mais os alunos do ensino médio. Muitos passam apuros terríveis para conseguir passar de ano. Há alunos que chegam ao desespero de tentar corromper seus professores para não deixa-los de recuperação. Outros vão além.
Algumas alunas, quando o professor é bonito e atraente, fazem o possível e o impossível para despertar no mestre algo mais que a relação professor-aluno. Não raras vezes elas o presenteiam, tentam se mostrar atraentes e despertar a fraqueza masculina de seus mestres. As alunas são mestras nesses jogos. Na maioria dos casos, a empreitada não leva a nada, pois os professores são espertos o suficiente para perceberem esse jogo. E além do mais, não arriscariam sua reputação, anos de estudos e carreira por causa de um aluno. Todavia, existem aquelas alunas insistentes, expertas o bastante para saber atingir o ponto fraco de seu mestre.
Carla era uma dessas alunas. Filha de uma família abastarda, criada com toda a liberdade e quase sem regras. Usava de todas as artimanhas para alcançar seus objetivos, fossem quais fossem. Cursava o primeiro ano do ensino médio. Era uma jovem de 16 anos, cabelos negros e longos, rosto fino e olhar penetrante. De braços longos e seios fartos, jovem alta e muito bela. Possuía uma bela voz e tinha grande desenvoltura para falar. Não por acaso que despertava a cobiça de todos os homens de sua classe e de tantas outras. Vivia rodeada de rapazes tentando conseguir um beijo ou um convite para um passeio. Outros a cobiçavam a distância, na incapacidade de competir com colegas mais bonitos e atraentes. Ao mesmo tempo em que cultivava uma extensa lista de pretendentes, cultivava outra tão extensa quanto a primeira de inimizades. Colegas a invejavam; outras a acusavam de roubar seus namorados; outras a achavam despudorada e tudo o mais. Ela por sua vez não se importava essas ninharias. O que gostava mesmo era estar rodeada de pretendentes. Isso sim era importante.
Ótima aluna em português graças à influência dos pais. Vinha do seio de uma família onde falar bem e corretamente não era um luxo, mas uma obrigação. Na estante do pai podia-se encontrar todos os clássicos, desde Homero a Umberto Eco e Hobsbawn. Via-se uma grande quantidade de obras de Nietzsche, Thomas Mann e dos fisiocratas. Esse ambiente a ajudou no português, mas não na matemática. Por isso chegou a ficar para recuperação em duas séries seguidas. Agora as dificuldades pareciam maior.
Os professores dessas duas últimas disciplinas eram duas senhoras velhas professoras da escola. Uma lecionava há quase vinte anos e a segunda mais tempo ainda. Não havia muito que fazer com essas duas matérias a não ser tentar estudar o suficiente para passar de ano.
Quanto à matemática -- o tormento da jovem Carla --, esta era ministrada por um professor de meia idade. Era um solteirão tímido e todo atrapalhado. Cabelos grisalhos, sempre cortados e muitos bem penteados ao meio, olhos negros e boca pequena. Possuía uma voz delicada e de tom quase sempre baixo. Os alunos do fundo tinham dificuldade em ouvi-lo falar. Vestia sempre camisas de manga comprida, inclusive durante o verão, e calça social. Estava sempre com o mesmo cinto e o mesmo sapato preto, muito bem lustrado. Em seu braço esquerdo via-se um relógio de ouro e uma grossa pulseira também de ouro.
Lecionava naquela escola pela primeira vez, desde que se mudara do interior de São Paulo para o litoral. Não era de muitas amizades e na medida do possível mantinha-se afastado inclusive dos colegas de profissão. Raramente falava de sua vida particular e poucos sabiam alguma coisa dele. Para muitos, era uma pessoa introvertida e estranha que preferia ficar sentado na sala dos professores a ler a trocar idéias com os colegas. Alguns viam nisso uma antipatia, outros quase não se davam conta da presença dele. E assim, ele procurava fazer sua parte: ensinar matemática àqueles alunos desinteressados e pouco aplicados.
Durante os quase sete anos que lecionara, passara por situações inusitadas e embaraçosas. Situações que o fizera perder o rebolado; todavia, com muito jeitinho, conseguira se esquivar e levar suas aulas adiante. Durante esses anos, recebera desde bilhetinhos de alunas se dizendo apaixonadas até convites para um encontro as sós em algum lugar discreto. Era um homem solitário, mas não se deixava levar pela jovialidade e frescor de suas alunas. Rechaçava todas as propostas. O que não evitava comentários maliciosos de alguns alunos.
Por isso não se surpreendeu quando descobriu que Carla, a aluna que sentava lá no fundo e agora mudara de lugar em suas aulas, vindo para frente, a soltar-lhe sorrisos logo nas primeiras semanas de aula. De início, fez de conta que não percebera nada. Agia com a maior naturalidade. Às vezes, enrubescia, mas disfarçava virando-se para o quadro negro.
Pouco antes do fim do segundo bimestre a classe já havia notado o interesse da aluna pelo professor. Algumas amigas mais íntimas debochavam dela por ter tanto rapaz bonito correndo atrás dela e ela correndo atrás de um professor desajeitado que não estava nem aí para ela. Ela não se importava com tais comentários e dizia que até o fim do ano ele cairia em seus encantos.
De fato, pouco a pouco, ela ia ficando mais ousada. Nos dias em que havia aula dele, ela usava uma roupa mais decotada, de forma que seus seios se tornassem mais sobressalentes, e vestia uma saia mais curta e justa, expondo as curvas de seu corpo. Isso, ao invés de despertar o interesse do professor, deixava os rapazes quase loucos. Tanto é que ouvia piadinhas e era devorada por olhares cobiçosos durante quase todo o tempo.
Como suas estratégias não surtiam ou pareciam não surtir efeito, ela inventava novas. Tinha plena certeza de conquistar o professor, conseguir realizar seus desejos e passar de ano. Não se dava por vencida. E o tempo parecia estar ao seu favor. Ainda teria mais um semestre pela frente.
-- Tenho certeza que ele vai sentir falta de mim nessas férias – comentou ela, no último dia de aula do primeiro semestre. No fundo ela estava dizendo isso pensando nela mesma.
E as férias vieram e se foram. Agosto chegou e ela voltou à aula mais decidida ainda a conquistar o professor.
Nas primeiras semanas usou as mesmas estratégias que usara no primeiro semestre anterior. Isso, porém, parecia não corresponder a seus anseios. Descobriu que ele fazia aniversário no último dia de agosto e comprou um presente. Ao final da aula, fez toda a classe cantar parabéns. Ao cumprimenta-lo, entregou-lhe o presente e escorregou-lhe um discreto beijo no canto dos lábios. Ele enrubesceu e ela viu o quanto aquele beijo o afetara.
Ele só foi abrir o presente em casa. Era um pingente de ouro em formato de livro. Ficou admirado com o bom gosto da aluna. No fundo da caixinha onde se encontrava o pingente havia um bilhete.

Deo,
Não consigo parar de pensar em ti um minuto se quer.
Você está em todos os meus sonhos
E meu corpo arde quando eu te vejo.
Sua apaixonada,
Carla.

Ele leu o bilhete e ficou deitado em sua cama tentando formar mentalmente a imagem daquela aluna. E a imagem que veio a sua mente foi a de uma mulher bela, atraente, encantadora. Imagina-la tão sedutora fez com que um sorriso meio sem querer escapasse de seus lábios. Logo em seguida, porém, ele caiu em si e viu que havia uma barreira instransponível entre os dois. Pegou o bilhete, rasgou em diversos pedaços e o atirou ao cesto de lixo.
Seu verdadeiro nome era Deocleciano, mas era mais conhecido com Deo. Nem ele mesmo gostava do seu nome. Preferia que o chamassem pela forma abreviada. Além de mais simples, era mais elegante.
No dia seguinte ficou na dúvida se usava ou não o broche. Ficou temeroso de usa-lo e dar esperança a aluna; todavia, também ficou com medo de não usa-lo e demonstrar deselegância. Por fim acabou usando.
O que temia acabou acontecendo. O broche em sua camisa branca listrada foi como uma resposta positiva para aquela jovem menina. Em seu amor cego, em sua cabeça de adolescente ele correspondera ao seu amor.
Certo dia, Carla saiu da escola e ficou aguardando a saída do professor. Sabia os horários em que ele saía todos os dias. Sabia que ele não demorava muito na sala dos professores após o término de suas aulas. E sabia também que ele atravessava a rua e tomava o ônibus para casa.
Do ponto de ônibus, onde o aguardava, ela o viu surgir apressado, com sua maleta marrom debaixo do braço. Ele parou no meio-fio, olhou para os lados e atravessou a rua. Parecia assustado, contudo esse era o seu jeito.
-- Oi, professor! – intepelou Carla, como se o encontrasse por acaso. – Está indo para casa?
-- Estou! – confirmou surpreso.
-- Você nem imagina o quanto fico feliz em encontra-lo aqui. Você é o melhor professor que tive até hoje.
-- Qual nada!
-- É sim. Você tem namorada? – inquiriu ela, de forma ousada.
-- Não! – respondeu instintivamente. Suas faces afoguearam e ele ficou desconsertado.
-- Eu sabia! Você parece tímido demais para arrumar uma namorada.
Uma nova onda de rubor subiu às faces dele. Pequenas gotículas começaram a se formar em sua teste. Por sorte o seu ônibus apareceu e ele pôde se livrar daquela aluna impertinente.
-- Meu ônibus! – exclamou ele, acenando. – Até amanhã! – E entrou no ônibus.
-- Que merda! – xingou ela. “Mas se ele pensa que vai escapar de mim, está muito enganado. Ainda vou fazer ele comer na palma da minha mão”.
Dias depois, Carla traçou um plano para quebrar a resistência do professor e o pôs em prática. Por mais difícil que aquele homem fosse, não resistiria a essa investida, concluiu ela. “Aposto que a partir de agora, quem não vai conseguir me tirar de sua cabeça vai ser ele”.
O seu plano era bem simples. Já o flagrara mais de uma vez a fitar discretamente em suas belas pernas. Se suas pernas o atraíam, era só mostrar-lhe discretamente o que havia no meio delas. Era só usar uma mini-saia bem curtinha sem calcinha.
Teria somente que tomar cuidado para não ser flagrada por algum espertinho sem calcinha. Mas isso não era problema para ela, já havia pensando em tudo: iria ao banheiro no intervalo entre a aula de português e a dele. Quando voltasse, provavelmente ele estaria sentado à mesa fazendo a chamada; então se desculparia pelo atraso, sentaria na primeira fileira e discretamente ficaria meneando as pernas para chamar-lhe a atenção. Ao perceber os olhares dele, afastaria suas coxas e deixaria que ele contemplasse seus mistérios. Certamente ele ficaria admirado. Seria tomado por um rubor, mas em compensação não resistiria aos seus encantos.
E assim fez.
Após passar uma lista de equações, Dio sentou-se em sua mesa para corrigir provas de outra série. Em dado momento, seus olhos escorregaram para o lado e fixaram-se em um par de pernas a se abrir e fechar. Elas balançavam de forma lenta e suave, feito numa dança invisível. Foi um olhar discreto, quase imperceptível; exceto para o dono daquelas pernas.
Descuidadamente, elas foram se afastando uma da outra. Era uma manhã clara e ensolarada. Pouco a pouco a luz foi penetrando naquela abertura. Carla, por sua vez, recostou-se à cadeira e deixou-se escorregar. Suas pernas avançaram para frente, e então Dio pôde ver com clareza o que ela lhe queria mostrar.
Seus olhos quase que pularam das órbitas. Nunca vira algo tão encantador. E mais uma vez outro forte rubor tomou conta de suas faces. Desconsertado, desviou por alguns instantes o olhar. Tentou concentrar-se na correção das provas, mas não foi possível. Aquela tentação estava ali atormentando a sua vida, querendo estragar sua carreira e seu futuro. Tentou não desviar mais o olhar naquela direção, contudo, foi incapaz. Aquela tentação estava ali, pedindo para que ele continuasse a contemplar. Era um homem recatado, mas havia algo além de suas forças. Era um homem, mas era principalmente, um homem fraco, sem forças; um homem sem aquela energia poderosa que diferenciam os homens. Era um homem comum, corruptível, dotado de dúvidas e inércia. Por isso, seus olhos não tiveram forças e escorregaram novamente naquela direção. E então ele viu um sorriso esdrúxulo, desconhecido e ardente. E ele retribuiu de forma recatada aquele sorriso.
Naquele curto espaço de tempo estava se configurando a sua perdição. Mas por sorte ou por obra do destino, a inspetora de alunos entrou na sala para avisa-lo que o estavam chamando ao telefone. Levou um grande susto. Levantou prontamente, quase derrubando a mesa e suas coisas.
Carla também se assustou. Ajeitou-se com rapidez à cadeira e cruzou as pernas amaldiçoando a inspetora em pensamentos.
Ele se desculpou e saiu para atender ao telefone. Informaram-lhe do hospital que sua mãe sofrera um acidente de carro e estava internada.
Voltou à sala de aula, comunicou aos alunos que não poderia continuar a aula e despediu-se olhando de esguelha para uma das alunas da primeira fila.
Durante os três duas seguintes que passou no hospital ao lado da mãe, não foi capaz de tirar aquela cena de seus pensamentos. A imagem o atormentou por todos aqueles dias, mais do que a presença da mãe enferma. Era como se algo o corroesse por dentro, e quanto mais ele tentava se livrar dela, mais se sentia impregnado. E aquela imagem ia provocando reações em seu corpo. E ele tentava lutar desesperadamente contra elas. Além disso, sabia que se voltasse à escola, estaria com sua carreira encerrada. Fora salvo da primeira vez, mas não teria segunda chance. Estava com um enorme problema em suas mãos e não fazia a menor idéia de como supera-lo.
Sabia de suas limitações e suas fraquezas. Sabia que era um homem fraco, sem forças para encarar o problema de frente. Se voltasse a encontrar Carla, ela usaria seu encanto e poder de sedução para subjuga-lo. E ele cairia em seus encantos. Depois de muito ponderar no fim de semana seguinte, tomou uma resolução. Decidiu fazer aquilo que todos os homens fracos e impotentes fazem, fugiu do problema. Pediu um mês de licença e, com a desculpa de ficar junto à mãe, voltou para sua terra natal.

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