SENHOR DO TEMPO
Maria Hilda de J. Alão.
Podes apagar tudo que quiseres
Dessa minha vida sem rumo
Com um apagador de aço,
Ó senhor do tempo que passa.
Borra na tela d’alma as imagens,
Tira-me da pele a sensação
De boca mordendo de leve
Bocados da minha carne...
Leva para longe o cheiro
Dos cabelos do meu homem
Ao acordar com fome
De beijos da minha boca.
Joga no refluxo das águas
Palavras que foram ditas
Entre os lençóis e almofadas
No auge da nossa orgia...
Enterra em cova funda
As lembranças das rusgas
E das dores profundas
Geradas pelo ciúme.
Turva meus olhos, cega-os.
Que eu não veja mais beleza
Nas flores, na natureza,
Nem no sol se pondo à tardinha.
Mas, por favor, deixa-me gravado,
Em cada cantinho da memória
O rosto feliz, sorridente,
Daquele que foi minha vida.
03/02/05.
|