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Poesias-->FLAGRANTES DE ALEGRIA -- 28/02/2005 - 15:02 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
WLADIMIR OLIVIER





















FLAGRANTES DE ALEGRIA





(POEMAS)











ESPÍRITOS DIVERSOS



























Edição da CASA DO MÉDIUM



Rua Cinco de Julho, 1184

Indaiatuba — SP

















































Saiba, Irmão, que estes versos

provieram da espiritualidade!













ÍNDICE





1. Flagrantes de alegria ......................

2. Procedimento ...............................

3. Alvorecer da consciência ...................

4. Conselhos de sofredor ......................

5. Lengalenga poética .........................

6. Desafio dos versos .........................

7. Queixas ....................................

8. Para almas compreensivas ...................

9. Versejar por versejar ......................

10. Os bons companheiros .......................

11. Leia com amor ..............................

12. Força de vontade ...........................

13. Trégua da dor ..............................

14. Equilibra-te ...............................

15. Em busca da modéstia .......................

16. Ato de contrição ...........................

17. Arrependido ................................

18. O dever nos versos .........................

19. Carnaval ...................................

20. Riso forçado ...............................

21. Diretrizes .................................

22. Fragilidades e superação ...................

23. Celeuma ....................................

24. Voz de um jovem ............................

25. Um velho moço ..............................

26. Simples recomendações ......................

27. Saiba direcionar a crítica .................

28. De peito aberto ............................

29. Muito obrigado .............................

30. No limiar da dor ...........................

31. Com o médium abatido .......................

32. Auto-análise ...............................

33. Criteriosamente ............................

34. O exemplo de Jesus .........................

35. Versos rudes ...............................

36. Faça melhor que eu .........................















1



FLAGRANTES DE ALEGRIA









Se chover na minha horta,

Irei ficar satisfeito:

Quem bater à minha porta,

Receberei desse jeito.



Quiseram que minha voz

Voltasse a ser bem ouvida.

Doutra feita foi atroz,

Quando lhe dei minha vida.



Subi o morro depressa:

Foi assim que despenquei.

Quando o ardor no peito cessa,

Essa tristeza é de lei.



Chorei lágrimas sentidas,

Tracei os rumos da história.

Com as lições bem sabidas,

Poderei cantar vitória.



Corri por seca e por meca,

À procura dessa glória.

Pulei que nem perereca

Para me livrar da escória.



Fui ajudado por quem

Outrora dei pontapés.

Preciso fazer o bem:

P’ra cada mal mais de dez.



Vim fazer esta poesia,

Descarrego desse encosto,

Mas não vou entrar em fria,

Pois faço com muito gosto.



Chego a sentir a esperança

De que o bem logo se alcança,

Com amor no coração.

Por isso, vou bem ligeiro,

Galo arisco no poleiro,

Desenvolvendo a escansão.



O tempo logo perpassa

P’ra quem tem bastante graça

E a traduz em belas rimas.

Se sofrer ao fazer versos,

São sentimentos perversos,

Incongruência de climas.



Atiro, às vezes, no escuro,

Mas p’ra valer, isto eu juro,

Querendo que dê bem certo.

O meu amigo escrevente

Parece até que pressente

Que desejo ser esperto...



Entretanto, um bom sexteto

Exige não seja preto

O sentimento da rima.

As cores do arco-baleno

Vão dar o tom mais sereno

À bonança deste clima.



O seu ar preocupado

Repercute deste lado:

Eu fico de orelha em pé.

Ao buscar o dicionário,

Desejo ser milionário:

Nas palavras boto fé.



Mas não fiquei satisfeito,

Já que não pude dar jeito

À rima daquele arco.

Noutro dia, voltarei

P’ra seguir da terra a lei:

Hoje o verso é só um marco.



Falaremos do futuro,

Estando por trás do muro

Que circunda o cemitério.

Dessa forma é muito fácil

Ser ainda bem mais grácil,

Com assunto mais que sério.



Falaremos sem nuanças

Das nossas pobres andanças

Pela Terra, sem destino.

Sopitaremos tristezas,

Salpicaremos belezas,

Cantaremos doce hino.



As mais nobres harmonias

Caberão nestas poesias,

Que a vida é bem de raiz.

Em nome de Jesus Cristo,

Cada sofrer é benquisto,

Pela sua diretriz.



Quem carrega sua cruz

Acrescenta muita luz

E esplendor em sua aura.

Em nome do Salvador,

Esparjamos muito amor,

No processo que se instaura.



Acredito que terei,

Junto à gente desta grei,

Satisfações e sorrisos.

Sendo assim, vou dando o fora,

Por saber que já é hora:

Ninguém sofre em paraísos.



Quero dizer o meu nome,

Que já teve até renome

Durante um encarne meu.

Não foi nada grandioso,

Mas até que foi gostoso

Ser o Zequinha de Abreu.



Não se espante o caro irmão,

Se não trouxe uma canção

Que reviva os velhos temas.

É que, nas plagas daqui,

Os tico-ticos daí

Espalham outros problemas.



Mas sobrou o velho dom

De julgar que seja bom

Tudo o que dê alegria.

Volto um pouco jururu,

Pois viver só de sagu

É borregar n’água fria.



Vou partir que esta saudade

Aos pouquinhos já me invade,

Deixando minh’alma triste.

São flagrantes de alegria

Que coloquei em poesia,

Pois o Zeca aqui existe.















2



PROCEDIMENTO











Na hora da despedida,

Saí contente da vida,

Agradecendo ao Senhor,

Pelos bens e pelos males,

Pois, das lágrimas nos vales,

Compreendi o que é o amor.



Vaguei um tanto no Umbral,

Resgatando cada mal,

Pelas dores conscienciais,

Mas surti para esta luz,

Trazendo impresso na cruz:

Fazer o mal, nunca mais!



Aprendi minha lição,

Que trago agora ao irmão

Que me lê com interesse.

Se ficar bastante atento,

Perceberá, num momento,

Se o seu mal será bem esse.



Visite algum cemitério,

Mas mantenha o cenho sério,

Perante as artes da morte,

Pois o sofrimento alheio

Só nos parece mais feio,

Se tivermos melhor sorte.



Procure ler nos escritos

Dos sentimentos os gritos,

Nas agruras dessa dor.

Imagine o pobre irmão

Depositando no chão

Os frutos do seu amor.



Conte os passos para fora:

Serão tantos quanto chora

Quem no Senhor não quis crer.

Mas não tema o compromisso

De prestar um bom serviço,

Orando além do dever.



Procure, após, um abrigo,

Podendo contar comigo

Para o que der e vier.

Chore mágoas bem sentidas,

Mas saiba que são vertidas

Até quando Deus quiser.



— Misericórdia, Senhor! —

Rezará com muito ardor,

Solicitando o perdão,

Prometendo, com desvelo,

Nunca mais comprometê-lo,

Por falsear a missão.



Sentirá um forte abalo.

Correrei para ajudá-lo,

Estendendo a minha mão.

Falaremos do infinito,

Calaremos nosso grito

Nos imos do coração.



Poremos fé no futuro,

Derrubaremos o muro,

Falaremos do porvir.

Egoísmo revelado,

As ânsias postas de lado,

Voltaremos a sorrir.



Correremos alguns riscos

(Quando chove, há coriscos,

Mas, no final, há fartura).

Superaremos problemas,

Traçando justos esquemas,

Buscando o bem que mais dura.



Eu quero agora sentir

Se o compadre Wladimir

Vestiu a tal carapuça.

Pelo jeito, quer reler

Para dar seu parecer,

Pois a verdade ele fuça.



Está certo, companheiro,

Não queira ser o primeiro,

Quando um fantasma o convida.

Fique logo prevenido,

Aguçando o seu ouvido,

E analise a sua vida.



Veja o bem que praticou,

Sinta o que mais lhe sobrou

Das virtudes evangélicas.

Aplique com energia

— Como sei que bem faria —,

As regras das artes bélicas.



Disciplina, sobretudo.

E muito engenho no estudo

Das normas do Espiritismo.

Com atenção permanente,

P’ra poder lutar de frente

Contra as forças do ocultismo.



Dar a Kardec um bom crédito,

Que leu de Deus o seu édito,

Pelas leis universais.

Julgando a dor de Jesus,

Escreva na sua cruz:

Errar tanto, nunca mais!



Você quer que escreva um nome,

Mas não vai ter o renome

Do Zeca que aqui esteve.

Trata-se só do João,

Que prestigiou seu irmão,

Pelo amor que ele lhe teve.















3



ALVORECER DA CONSCIÊNCIA











Correndo grandes perigos,

Vim visitar os amigos,

Desde as trevas mais profundas.

É que a luz hoje me cega,

Como quem sai desta adega,

Tendo levado umas tundas.



Aceitei o compromisso

De vir prestar o serviço

Do testemunho perverso.

Se brilhar o sentimento,

Se trabalhar a contento,

Vão ouvir este meu verso.



Estou muito enferrujado:

Não pratiquei deste lado,

Não me saem logo as idéias.

Por isso, peço paciência,

Que os tratos desta ciência

Vão causar-me dispnéias.



Fui um fraco nessa vida,

Dando aos vícios tal guarida

Que inda estou tonto deveras.

Mas é tanta a disciplina

Que o povo daqui me ensina

Que são poucas as esperas.



Pretendo deitar saber,

Tendo pouco que dizer

Para ser original.

Se não fosse este escrevente,

Seria pobre indigente,

Peteca nas mãos do mal.



E o povo destas esferas

Não aceita tais paqueras

Com o médium que me serve.;

Quer que vá direto ao ponto,

Não aceitando o desconto

Dum pouquinho desta verve.



Não quero ser nada injusto,

Porque seria outro o custo,

Se me desse por inteiro.

É que a turma do agasalho

Sabe bem que o seu trabalho

É manter-me prisioneiro.



Veja como ardo de fome,

Que esta crise me consome,

Que o verso é um favo de mel.

Se me deixarem sozinho,

Não farei qualquer carinho:

Beberei todo o tonel.



Dei as dicas do meu crime:

Quem é bom jamais se exime

De prestar um bom serviço.

Diante deste equilíbrio,

Hão de pensar ser ludíbrio

Ou falsidade o meu viço.



Realmente, tenho fé

Em saber como é que é

Esta tal felicidade.

Estudando com vigor,

Quero sentir o valor,

A força da caridade.



Vou parar para pensar

Se estou indo devagar,

No sentido figurado.

É que sinto a propensão

De sustar esta escansão

Por estar amargurado.



É que senti o desejo

De estalar um terno beijo

Nas faces dos meus amigos,

Agradecendo, feliz,

A tão nobre diretriz

Que me livrou dos perigos.



Antes de ir, devo agora

Demonstrar que inda vigora

A lei do agradecimento.

É que Jesus me deu força,

Que é justo que o povo torça

P’ra dar certo este momento.



Pai do Céu, eu mais preciso

Que se acerte o meu juízo

Nas palavras deste adeus.

É que eu fui feliz no grupo,

Sem receber um apupo.;

Vivas, sim — graças a Deus!



Pergunta o nosso escrevente

Como é que o pobre sente

As delícias desta hora.

Pois vou dizer-lhe com gosto

Que, deixando o nobre posto,

Meu coração muito chora.



Fazer versos neste clima,

Não falseando uma rima,

Será prática perfeita.

Esquecimento das dores,

Pela mão dos benfeitores,

É sentir minh’alma eleita.



Todos querem dar apoio,

Separar trigo do joio,

Na hora desta missão.

Mas cabe ao irmão leitor

Aceitar que houve amor

Neste rude coração.



Entendi. Neste momento,

Surgiu, no meu pensamento,

Que me encontro mergulhado

Nas águas tristes do orgulho,

Poluída pelo entulho

Do egoísmo malfadado.



Se eu falar menos de mim,

Saberei que ser ruim

É grossa perversidade.

Nada tinha p’ra dizer,

Mas busquei o bem-querer

De toda a comunidade.



Veja que esta crise choca

Quem tem vezos de minhoca,

Mas se pôs em pleno dia,

Querendo dar de bacana,

Para saber quem se irmana,

Nas ondas desta harmonia.



Sinto que se cansa o médium,

Mas prossegue — que remédio! —

Neste trem desgovernado,

Que corre por sobre trilho

Que permite um estribilho

Próprio para um bom recado.



Falso princípio de trégua,

Aplico bem esta régua

Para medir a espessura

Das forças que se diluem,

Nas águas que se poluem

Com restos de sepultura.



Deram-me a tal liberdade

P’ra mostrar a qualidade

Dos versos que eu mal faria.

Dei logo co’os burros n’água,

Acrescentando mais mágoa

À tristeza da poesia.



Atividade que cessa,

O despertar vem depressa:

Chamo o médium mais um pouco.

Saiba agora o meu amigo

Que pode contar comigo,

Se precisar de algum louco...



Não pretende ele encerrar,

Deixando um papo no ar,

Sem sentido p’ra cachorro.

Quer que seja bem sincero,

Fazendo ver que eu espero

Deste grupo um bom socorro.



A arte de versejar

Pode ir mais devagar,

Segundo um ponto de vista

Que julga mais importante

A formação do estudante

Que deseja ser artista.



Neste caso, eu me retiro,

Pois estudar eu prefiro,

Para volver mais elétrico,

Que os temas que hoje eu verso

Mostram quanto sou perverso,

Neste penar mais que tétrico.



Meus gracejos são só troça,

Indícios que o bem se esboça

No alvorecer da consciência.

Aos mestres, clamo, com gosto,

Que, ao deixar este meu posto,

Faço valer a obediência.



Uma palavra ao leitor

Deixo aqui, com muito amor,

Neste final de poesia:

Leve o fardo até o fim.;

Se o fizer pensando em mim,

Há de ter só alegria...















4



CONSELHOS DE SOFREDOR











Antegozando o desfecho,

Vou compondo o meu entrecho,

Com toda a satisfação.

Não tenho medo do escuro,

Mas voltar p’ra lá — eu juro —,

Só por força de missão.



Tenho tido bom cuidado

Em trazer tudo acertado

Pelas regras superiores.

Cumpro os deveres na hora,

Faço tudo sem demora:

Tenho medo de outras dores.



Mas o temor é lorota

Que a coragem logo brota:

Basta rezar uma prece.

Sentimento aliviado,

Do Senhor abençoado,

É a fé que sempre cresce.



Recomendo aos bons amigos

Que se evitem os perigos

Dos desafios egoístas.

Em paz, ao levar a vida,

O progresso nos convida

Para sermos altruístas.



Mas nem tudo está perdido,

Mesmo quando resolvido

Pela forma mais cruel.

É que Deus, em sua bênção,

Quer que os filhos todos vençam:

É sopa a cair no mel.



Sentir a vida pregressa

É saber que, bem depressa,

Os nós vão chegando ao pente.

A memória é coisa boa,

Sabendo que o tempo voa,

Tendo mais tempo na frente.



Tal pensamento, no etéreo,

Parece ser muito sério,

Ao contrário dos mortais,

Que querem tudo gozar,

Renegando o devagar,

Sempre desejando mais.



O organismo então baqueia,

A doença é muito feia,

Põe a pessoa de cama.

É convite ao pensamento,

Diante do passamento,

Que seus direitos reclama.



Nunca é tarde p’ro arrepio,

Até quando existe um fio

De esperança de curar,

Não o corpo e, sim, a alma,

Se se pensar com mais calma

Na doutrina basilar.



Quem chega aqui de repente,

Muitas vezes, não se sente

Com vontade de entender

Que tudo o que fez na vida

Não lhe indicou a saída

Pelas portas do morrer.



Pensa estar bem vivo ainda,

Pois tal sensação não finda,

Se a matéria for primeira.

Aí, vai ter o trabalho

De rever o ponto falho,

Mesmo até caso não queira.



Se tiver alguns amigos

A remover os perigos

De desastre consciencial,

Dar-se-á por mui feliz,

Escapando, por um triz,

De pagar logo o seu mal.



Caso a luta seja intensa

Para firmar bem a crença

Da situação do existir,

Há de receber apoio,

Engajado num comboio

Que p’ra Terra vai seguir.



É num centro de socorro

Que dirá: — Agora eu morro,

Se souber que já morri!

A situação é precária,

Embora pareça hilária

Para esta turma daqui.



Mediunidade evangélica,

Nesta ação psicodélica,

É norma dos benfeitores.

Tinha medo de fantasma,

Mas percebe que não pasma:

São outras daqui as cores.



Compreenderá que morreu

E dirá que o mundo seu

Há de ter outra feição.

Mas vão dando-lhe o remédio,

Demonstrando pelo médium

Qual será a salvação.



Se tiver amor no peito,

Mesmo pouco, leva jeito

Para os serviços da turma.

Se estiver comprometido

Com o mal, vai ser contido:

É preferível que durma.



Enfim, são muitas as formas,

Variadíssimas as normas

De atender o sofredor.

Em caso de desespero,

Se odiar em exagero,

Cai no mundo inferior.



Aí, vai sofrer horrores,

Bem longe dos benfeitores,

Até chegar a entender

Que tudo o que fez na vida

Não lhe indicou a saída

Pelas portas do morrer.



Eis o recado que temos

Para os instantes supremos

Do meditar sobre a vida.

Faça uma breve oração,

Peça a Deus o seu perdão,

Sinta que a morte o convida.



Sempre há tempo para o bem,

Quando o corpo um sopro tem

De esperança de socorro,

Pois quem veio um pouco antes

Quer ouvir dos semelhantes:

— Não me importo, se hoje eu morro!



Vai começar a sessão,

No pontinho em que este irmão

Chegou para o seu recado.

Tendo escrito todo o entrecho,

Chego agora ao bom desfecho,

Que já foi antegozado...















5



LENGALENGA POÉTICA











Palmilhando com amor

As estradas de Jesus,

O homem tem mais valor,

O mundo terá mais luz.



Se quisermos compreender

As razões para o trabalho,

Abramos mão do poder,

Sendo simples espantalho.



Para os atletas da fé

Que se zangam muito à toa,

Vamos mostrar como é

Que o bem noss’alma coroa.



Quem quiser ter coração

Cheio de felicidade,

Vá dedicando ao irmão

O melhor da caridade.



Se tivermos um segredo

Para não dizer ao Pai,

É bom não ficar com medo,

Que o fato mais sobressai.



Regalias na matéria

É compromisso dobrado:

Quanto mais a coisa é séria,

Mais é ficar preocupado.



Serenamente, eu procuro

Ir fazendo os versos meus.;

Se algum se der muito puro,

Irei dar graças a Deus.



As ações mais deletérias

Hão de ser pagas com juros:

Ninguém irá gozar férias

Passeando nos escuros.



Releia a primeira estrofe

Para voltar a sorrir.;

Não deixe que a mente mofe

Aguardando o devenir.



Com Jesus no coração,

As coisas sempre dão certo:

É que a tudo dá perdão

Quem age de peito aberto.



As contas são todas pagas,

Basta esperar o momento:

No final, todas as sagas

Terminam no pensamento.



O bem com o bem se paga.;

O mal se paga com bem.;

Quando o rio a várzea alaga,

As plantas crescem também.



Este é o princípio da vida,

Fácil de reconhecer:

A natureza convida

Que se cumpra o bom dever.



Faço versos de improviso,

Mas as idéias vêm antes.;

Querendo ter mais juízo,

Incentivo os semelhantes.



Mas trabalho com denodo

Nas quadrinhas com sentido:

Uma só demonstra o todo,

Se o tempo não for perdido.



Tenho a moral aguçada,

O que me traz preocupado:

É melhor pensar em nada,

Sem deixar nada de lado.



Às vezes, falo por gestos

Para as pessoas da roda.

Os textos serão honestos,

Se seguirem a tal moda.



Ponho em xeque este escrevente

Com rimas mui complicadas,

Mas percebo que ele sente

As coisas melhor paradas.



Um problema perigoso

É dar trela ao pensamento

De que sempre é mais gostoso

Quando o verso sai mais lento.



É que o caro amigo aí

Pensa que é ele quem faz

O verso que vem daqui,

Neste ambiente de paz.



Sacudimos a cabeça,

Em sinal de negativa.;

Antes que você se esqueça,

Pense em nossa tratativa.



Eis o gesto revelado,

Como eu disse mais acima.;

Mas, se eu ficasse calado,

Dar-me-ia ele a rima?



Vou responder bem que sim,

Que ele chega sempre junto.

— Isso é bom ou é ruim?

Depende de cada assunto.



Para ser original,

Tenho de ditar depressa,

Parecendo bem normal

A linha que sai impressa.



Falar da própria poesia

É vezo do pessoal:

É pouca a sabedoria.;

É um bom punhado de cal...



Mas serve de treinamento,

Pois nem tudo está perdido.

Se causei um sofrimento,

Sofri mais — mas eu duvido...



Fazer graça também corre

Pelas tendências da turma.

Mas, depois de cada porre,

É natural que se durma.



Os louros desta vitória

Vão coroar nossa glória

Nesta paisagem do etéreo.

Cá, se houvesse academia,

Os que fazem tal poesia

Iam para o cemitério.



Neste jogo de palavras,

Impróprio para estas lavras,

Quis falar dos imortais,

Mas fui dar co’os burros n’água,

Aumentando a minha mágoa,

Pois desejo muito mais.



Engrenei uma segunda,

O meu verso já abunda,

As palavras jorram soltas.

Mas são chorrilhos de asneiras:

Vou voltar para as primeiras,

Que foram mais desenvoltas.



Engrenei a quinta marcha.

Nesta altura, ou vai ou racha:

É veloz a disparada.

Abalroei minha vida.;

A viagem foi perdida.;

Quis ser grande, hoje sou nada...



A turma se desconsola:

O meu carro mais se atola

Nestas confusões que faço.

Mas percebo, finalmente,

Que a tendência desta mente

É correr p’ro seu regaço.



Nas tristes horas do dia,

Não sou capaz de poesia,

Pois choro as falhas de outrora.

Mas vibro, com muito orgulho,

Quando dou o meu mergulho

Nos versos que dito agora.



Não é sempre que o esquecer

Demonstra que o meu poder

Se exerce sobre o sentir:

Ao fazer a melodia,

Tenho ainda a alma fria,

Prevendo um mau devenir.



As coisas de antigamente

Se postam na minha frente,

Sejam boas, sejam más.

Se ruins eu sofro mais.

As reações são iguais,

Se o pensamento é de paz.



Quero dar o tônus certo

Que ser bamba é ser esperto,

Com justiça e com verdade.

Não queira iludir ninguém

Demonstrando querer bem:

Enganar não há quem há-de.



Eis aí que já revelo

As ânsias daquele anelo

Que quis esconder do Pai.

Aos poucos, mostrei a alma,

Sem perder a minha calma,

Que a verdade sobressai.



O bom exemplo que dei

Se conforma com a lei,

Que nada fica escondido.

Revelei a todo o povo

Que não quero ser de novo

Acusado de bandido.



Comecei tão devagar,

Mas atravessei o mar

Nas tormentas destes versos.

Peço a Deus que, finalmente,

Me permita que eu intente

Deixá-los menos perversos.



Exulta o meu pobre amigo,

Pensando, com seu umbigo,

Que esta tarde está bem ganha.

Mal sabe ele que o dia

Foi perdido p’ra poesia,

Que esta mente é bem tacanha.



Já demonstrei que a tendência

É de pedir-lhes clemência,

Pelo disfarce dos temas.

Quero-me regenerado,

Porém, não ponho de lado

O principal dos problemas.



Acenam que está na hora

De partir, sem mais demora,

Que a lengalenga acabou.

Sinto que tenha de ser

Tão fraquinho este poder

Que representa o que sou.



Peço perdão ao amigo,

Agradeço-lhe o abrigo

E o calor deste agasalho.

E vou rogar ao Senhor

Que demonstre o seu amor,

Dando-nos bem mais trabalho.



Ao terminar o poema,

Não quero que seja extrema

Qualquer idéia de mim:

Pensem só que estou passando,

Com o meu lenço acenando,

Pois não sou bom nem ruim.















6



DESAFIO DOS VERSOS











A turminha aqui presente

Vem dizer que muito sente

Não ter nada p’ra ditar,

Que aceitou o desafio

Apenas porque tem brio.;

Em seguida vai parar.



Insiste o nosso escrevente,

Diz que tem o sangue quente,

Que parar é desatino.;

Quer que seja aproveitado

O tempo que nos é dado

Para cumprir o destino.



Sabemos que a luta agora

Há de ser o bota-fora,

Que os versos se vão fazendo.

O entusiasmo inda mais cresce,

Se o rimar não aborrece,

Revelando-se estupendo.



Preparamos uns poetas

P’ra disparar suas setas,

Em algum momento certo.;

Erramos em nossas contas,

Não estando as rimas prontas,

Neste momento tão perto.



Improvisar é preciso

Mas deixamos nosso aviso

P’ra que se saiba quem somos.

Sendo assim, nosso escrevente

Vai confiar mais na gente,

Pelos versos que dispomos.



Quem quiser vir conferir

Não agora, no porvir,

Será bem-vindo, na certa.

Traga o coração bem cheio

De coragem, sem receio

De deixar a porta aberta.



Teremos muito prazer

Por tê-los de receber,

Porque tal é o nosso fim.

Dando vazão a este verso,

Cremos seja incontroverso

Que a turma não é ruim.



Se algum temor os impede,

Se a teimosia não cede,

Se julgarem algo falso,

Vão ter tempo p’ra pensar,

Pois tudo vem devagar,

P’ra quem desce o cadafalso...



A tal figura é canhestra,

Mas é como a chave mestra

Do pensamento na vida:

É que a morte é bem supremo,

Embora esteja no extremo

Do suportar dessa lida.



Bem dissemos que seria

Dificílima a poesia

Nesta tarde de improviso.

Se o nosso amigo na Terra

Sentir que o verso se encerra,

Mostre que tem muito siso.



Faça a prece e vá embora.

Faça-o já, sem mais demora,

Antes que tudo desande.;

Peça a Deus, com humildade,

Manter-lhe a mediunidade:

Nossa fé é muito grande.



Senhor Deus, lá do infinito

Ouve o povo mais aflito,

Pois nossa dor é bem pouca.;

Sabe que fazer tal verso

Reúne o povo disperso,

Posto a voz esteja rouca.



Queridíssimo Jesus,

Recebe quem se conduz

Pelas normas do evangelho.;

Se alguém aqui deste povo

Se conduzir mal de novo,

É que o pensamento é velho.



Melhorar é renovar

As virtudes do pensar

Pelas leis e mandamentos.;

Ficar parado na esquina,

Vendo passar a Doutrina,

É causa de grãos tormentos.



Queiram, pois, nossos leitores

Perceber que as tantas dores

Que os sacrifícios conduzem

São apenas medos tolos,

Que os bens nós devemos pô-los

Nalguns versos que reluzem.



Vamos terminar por ora,

Que o mal aqui só vigora

Quando é demais nosso zelo.;

Os excessos prejudicam,

As pobres rimas claudicam,

Nem precisamos dizê-lo.















7



QUEIXAS











Minhas queixas deste dia

Hão de caber na poesia,

Por não me sentir falido.

Não quero apressar o moço,

Mas preciso desse endosso,

Para me fazer querido.



Tenho a pele muito escura,

Como qualquer criatura

Destinada ao rude Umbral.

Aura branca e mui faceira

É sinal que a brincadeira

Já terminou com o mal.



As asas servem de ganho

Das alturas, mas estranho

As vertigens acrofóbicas.

É que corro sobre a terra,

Sentindo que a mente erra

Pelas pressões anaeróbicas.



Sinto muito, caro amigo:

Não vá brigar mais comigo

Pela imperfeição da rima.

Quem veio para queixar-se

Precisa dessa catarse,

Pelo pessoal que o estima.



Não sei dizer não ao tema.

É por isso que o problema

Se põe diante de mim.

Mas vem logo a solução,

Pois trago, em meu coração,

Algo que a ele dá fim.



É a fé nos protetores,

Que não suportam as dores

Dos pupilos mais queridos.

São socorristas perfeitos,

Que desejam ver eleitos

Até mesmo os desabridos.



Ansiedade é velho tema

Que afronta também o lema

Do conhece-te a ti mesmo,

Pois é tão grande o absurdo

Que, ao pensar, até me aturdo

Por escrever tão a esmo.



Vim aqui para queixar-me,

Mas provoquei o desarme

Das suspeitas do rapaz.

Fiz a coisa tão perfeita

Que, ao saber a porta estreita,

Ninguém pôde sentir paz.



Os anos de desafio

Foram p’ra testar se o brio

Mexia com minha alma,

Mas pus-me de sobreaviso,

Pensando ter muito siso,

Se me mantivesse em calma.



A solução era essa,

Se não fosse tanta a pressa

De subir ao Paraíso.

Percebi que a desventura

Era crer que a criatura

Estava em pleno juízo.



Mas disfarçava o meu vício,

Tendo medo do cilício

Que me conteria a sanha.

Pensava que a liberdade

Era fruto da bondade,

Que a peleja estava ganha.



Quem é bom mais vive preso,

Pois sente forte desprezo

Pelas falácias da mente.

Ao cumprir todas as leis,

Sejam serviçais ou reis,

Sempre mais amor se sente.



Quem ama o Pai no infinito

Contém logo qualquer grito

Que demonstre imperfeição.

Ao se conter de verdade,

Mostra que a tal liberdade

É mui falsa aspiração.



Se o Senhor nos agarrasse,

Haveria quem folgasse

De se ver livre no mundo?

Tal liberdade é falácia

Ou é mera contumácia

De quem não pensa profundo.



As dores que agora sinto,

— Eu bem sei — é porque minto,

Ao mostrar sabedoria.

Quem conhece de verdade

Fala com mais propriedade

E compõe melhor poesia.



Ao final, me queixo agora

De ser mui longa a demora

De aprender todas as leis,

Pois só sabê-las de cor

Talvez seja até pior:

Quem é bom é porque fez.



Liberdade na poesia

Não quer dizer que faria

Algum verso pernicioso.

É que nem todas as rimas

Permitem-nos obras-primas

Nem provocam nobre gozo.



Eis que o escrevente se queixa

E prosseguir não me deixa

Neste ritmo perverso.

Quer que os mestres desta escola

Façam ver-me que decola

Para o espaço este meu verso.



Mas, tendo medo de altura,

A poesia já não dura:

Vou interromper aqui,

Pensando em agradecer

A quem cumpre seu dever

Traduzindo o que eu senti.



Ao Deus—Pai, lá no infinito,

Faço o verso mais bonito,

Pois meu pranto jorra forte.

Tantas as imperfeições

Afligindo os corações

Que esta prece é minha sorte.















8



PARA ALMAS COMPREENSIVAS











Com amor no coração,

O homem é mais feliz.

Se nos der a sua mão,

Há de ser bem de raiz.



Quem sair p’ro desespero,

Na dura luta da vida,

Vai sofrer um exagero,

Sem terminar sua lida.



Angústias postas de lado,

Beneplácito de Deus,

É a paz para o soldado,

Do sofrimento o adeus.



Não queira vestir batina

Nas hostes do Espiritismo:

É na pia de batismo

Que se perde a sã Doutrina.



Sendo a fé raciocinada,

As crianças são de amar:

Se alguma for batizada,

Só do sal não vai gostar.



As pessoas do convívio

É que são supersticiosas.

Se sentirem bom alívio,

Vão julgar-se vitoriosas.



Já não temos ilusões

Nestes conselhos que damos:

Benfeitor com pretensões

Só produz uns maus reclamos.



Por isso, meu caro amigo,

Fuja agora do perigo

Da tentação ao convite.

Deixe o mau pagar seu preço,

Pois é bem certo o endereço:

Não é possível que evite.



Se quiser seguir conselhos,

Há de ler os Evangelhos,

Onde tudo está descrito.

Se não for muito teimoso,

Sentirá bem doce o gozo,

Ao tornar-se mais bonito.



As rosas do meu jardim

Só sorriem para mim,

Se lhes dou boa acolhida.

Da mesma forma a bondade

Vai firmar a caridade,

Que é isso que quer a vida.



Se eu tivesse mais sossego,

Firmaria um bom apego,

Iria curtir o eterno.

Do jeito que desafino,

Nas ânsias do desatino,

Não vou sair deste inferno.



As luzes que tenho agora

Apagar-se-ão na hora

De voltar para o mistério.

Peço, então, aos circunstantes

Que me guardem uns instantes,

Pois seu trabalho é bem sério.



Ao apelar para Deus,

Não pense nos ódios seus,

Mas na luz que o ilumina.

Assim Jesus irá ver,

Por força do seu dever,

Que já cumpre a sua sina.



Qualquer prece é bem-vinda,

Qualquer alma será linda,

Se fizer o bem possível.

É que o esforço permanente

De tornar feliz a gente

Torna o amor inesquecível.



Atenuar os horrores

A quem sente muitas dores

Produz bens imarcescíveis.

Não se sinta atropelado

Por cumprir um triste fado:

Os lucros serão visíveis.



Tenho lido as experiências

De algumas tristes falências,

Até mesmo nestes versos.

É que tenho a alma escura,

Como toda criatura

Que só fez atos perversos.



Venho agora à luz do dia,

Revelando na poesia

A formosura da rima,

Mas estou envergonhado

Por estar sendo ajudado

Por esta gente de cima.



Quisera poder ouvir

Do escrevente Wladimir

Que também tenho talento.

Mas o mais que diz a mim

É que espera logo o fim,

Que o meu passo é que está lento.



Ajudou-me ele a brincar,

Quem sabe p’ra melhorar

O bom humor desta gente,

Pois ouvir um sofredor

É penar a mesma dor,

Nas lembranças que se sente.



Gostaria de dizer

Ser mui grande o bem-querer

Que estou sentindo por todos.

Mas hão de saber, decerto,

Que não trago o peito aberto,

Atolado nestes lodos.



Qualquer coisa que diria,

Nesta forma de poesia,

Provocaria suspeita,

Pois, das trevas deste Umbral,

Só há de surtir o mal,

Sendo a rima a mais perfeita.



Portanto, caro amiguinho,

Leia os versos com carinho,

Rezando uma prece linda,

Que eu preciso de socorro,

Senão despenco do morro,

Indo bem mais fundo ainda.



Os sentimentos são tantos,

São tantos os desencantos,

Que a virtude fica ao longe.

Mas, se houver boa vontade,

Impedir não há quem há-de

Que alguma fé me lisonje.



Desta forma, eu já termino,

Exaltando, neste hino,

O amor que aqui encontrei,

Não só do nobre escrevente,

Mas de toda a boa gente

Que me fez sentir ser rei.



Só me faz falta a coragem

De encerrar esta mensagem

Agradecendo ao Senhor.

É que tenho o impedimento

De labutar no tormento

De me saber sem amor.



Agradeço, comovido

— Deste jeito, eu não duvido

De que vou obter sucesso —,

Dizendo tão simplesmente:

— Obrigado, minha gente.;

Compreensão é o que lhes peço.



Desejo ser bem honesto,

P’ra demonstrar que não presto,

Mas pretendo melhorar.

Se o juramento valesse,

Sei que seria bem esse

O final que iria dar.















9



VERSEJAR POR VERSEJAR











Não se aborreça o amigo,

Se enfrentar algum perigo

Nesta volta da poesia.

Tome fôlego na entrada,

Neste início de jornada,

Que terá grande alegria.



Entrementes, vamos indo

A tornar muito mais lindo

O nosso verso mais sério.

Se tivermos mais coragem,

Vamos pôr nesta mensagem

Um pouquinho do mistério.



Antes que o cansaço venha,

Vamos pedir que mantenha

Sua atenção bem desperta,

Que o resultado de tudo

Vai mostrar, no conteúdo,

Nossa mente mais aberta.



Ao sair pela tangente,

O pessoal daqui sente

Que o verso não foi bem feito.

Ao enfrentar o perigo,

Saindo do nosso abrigo,

A escansão toma mais jeito.



Quem quiser que só repare

Que o comboio sai da gare

Dos mesmos versos perversos,

Correndo no mesmo trilho

Do mais fácil estribilho,

Mesmo com temas diversos.



A arte de versejar

Quer que se vá devagar,

Na contagem deste metro.

E que se prepare a rima

Envolta sempre no clima,

Sem mudar nada do espetro.



Mas tenho medo que um dia,

Ao trazer minha poesia,

Encontre tudo mudado:

As rimas cheias de engulhos,

As escansões com entulhos,

O conteúdo baldado.



Aí é que se vai ver

Ser difícil o dever

P’ra quem desleixou o estudo,

Pois falar sobre Kardec,

Sem fazer salamaleque,

Exige amor, sobretudo.



Quem requer só bem-querer,

Pensando que tem poder

Porque leu os Evangelhos,

Vai ver que o Mestre Jesus

Carregou a sua cruz

Pelo poder de alguns velhos.



Ao seguir os bons ensinos,

Havemos de cantar hinos

Agradecendo o Senhor.;

Mas, depois de muita luta,

Provando que se é batuta,

No pensamento e no amor.



Sem fazer estardalhaço,

Amarrei forte o cadarço,

Sendo simples p’ra chuchu.

Mas pedi algum esforço

Que este texto eu quase torço:

Carniça para urubu.



Nossa turma se contorce:

Pede que o verso não force,

Que eu não queira a perfeição.

Por isso venho de novo,

Para a alegria do povo,

Trazendo esta rima em -ão.



Agindo tão simplesmente,

Espero que muito aumente

O sorriso dos leitores,

Mesmo correndo alguns riscos

De ter de aturar confiscos

Nestes versos inferiores.



Quer o médium que melhore,

Para que a turma não chore,

Neste deserto de idéias.

Fazer versos sem sentido

Vai pô-lo comprometido:

É não ver mel nas colméias.



Vamos, então, caprichar,

Que o perigo, neste mar,

Está em sermos mui tolo.

Ao nos lembrar que a Doutrina

O bom pensamento ensina,

Será melhor recompô-lo.



Eis que ajuda este escrevente,

Ao perceber que esta gente

Só propõe versos estúrdios.

Elevando a mente a Deus,

Suplica que os versos meus

Não sejam estapafúrdios.



Os bons leitores entendam

Que desejamos que rendam

Estas tardes de poesia.

Mesmo que sejamos triste,

Não nos venham, dedo em riste,

Falar de patifaria.



Enquanto estou por aqui,

Esqueço que já senti

Os horrores infernais.

Se ninguém ler estes versos,

Já que são mais que perversos,

Eu me lembrarei dos ais.



O risco que corro agora

É de safar-me por ora,

Deixando os ais registrados.

Mas, por força do dever,

Sempre deverei reler:

Os ais serão redobrados.



Irei ter de desculpar-me,

Pois provoquei tal alarme

Nos corações dos leitores.

Acreditem, meus amigos,

Que são muitos os perigos

De sentir tremendas dores.



Tendo chegado ao meu fim,

Que se condoam de mim

Pela fraqueza em que estou.

Rezem uma bela prece,

Pois este amigo agradece:

Quem não leu já perdoou.















10



OS BONS COMPANHEIROS











Quem caminha com o Pai

Sabe sempre aonde vai,

Não se perde na jornada.

Integra o grande comboio,

Come o trigo, queima o joio,

Não teme enfrentar mais nada.



Quem caminha com Jesus,

Nas ondas de sua luz,

Está sempre sorridente.

Estende a mão ao que sofre,

Traz sempre aberto o seu cofre,

Dá amparo a toda a gente.



Quem caminha com Kardec

Não pede que o pranto seque,

Ao aliviar a dor:

Compreende bem sua mente,

Dando valor ao que sente,

Agradecendo ao Senhor.



Quem vai com os benfeitores

Enche seu peito de amores,

Tem o pensamento sério.

Tudo faz com alegria,

Sabendo como seria

Doutro lado do mistério.



Quem lavou o coração

Nas águas do Rio Jordão,

Ao receber o batismo,

Nunca mais fará tolice,

Pois saberá o que disse

A turma do Cristianismo.



Quem conhece a própria alma

Age sempre com mais calma,

Tem o pensamento justo.

Ao sentir algum tormento,

Vai refletir um momento:

Tudo resolve sem custo.



Queridíssimo leitor,

Seja você como for,

Siga conosco na vida.

Traga o Pai e o bom Jesus,

De Kardec tenha a luz,

Esse seu fardo divida.



Recebemos com agrado

Esse acréscimo do fado

Que portamos com vigor.

Não é que sejamos forte:

É que também sofreu corte

O peso da nossa dor.



Vamos encerrar agora,

Pois já passamos da hora,

Nesta tarde de poesia.

Apertemo-nos as mãos,

Com os sentimentos sãos,

Como Jesus o faria.















11



LEIA COM AMOR











Nossa principal tarefa,

Já que ninguém aqui blefa,

É dar ânimo ao leitor.

Alguns vêm muito amiúde

Dizer que a maior virtude

É cultivar bom amor.



Outros trazem sofrimentos

Para indicar que os tormentos

Afetam qualquer irmão.

Fazem versos muito à-toa,

Sabendo que uma alma boa

Irá ler no coração.



Mas a grande maioria

Procura dar à poesia

Um tom muito pessoal,

Para demonstrar que o efeito

Acontece desse jeito,

Caso haja bem ou mal.



Acertar a pontaria

Vai causar muita alegria

À turma que se concentra.

Com rima, às vezes, precária,

Veste a pobre indumentária

E pela escansão adentra.



Teremos muito prazer

Em revelar que o dever

Fica sempre muito aquém.

É que a vontade é tamanha

De subir esta montanha

Que o desejo vai além.



Assim, muitos destes versos

Têm destinos bem perversos,

Nas gavetas e nos cestos.

Ficam cheios de poeiras,

Depois ardem nas fogueiras:

Não têm valor os tais textos.



Nós mesmos, com muito medo,

Cá chegamos logo cedo,

Para dar nosso recado.

Elegemos como tema

Este sentido problema

Da turminha deste lado.



Se alguém ler a fraca rima,

Vai despertar nossa estima,

Se tiver algum agrado.

Qualquer espanto seria

Sinal de patifaria:

É melhor ficar calado.



Reconhecendo a fraqueza,

Pois dizemos, com franqueza,

Que buscamos amparar,

Ore comovida prece,

Que o sentimento mais cresce,

Vindo, embora, devagar.



Eis a luta que travamos,

Para colher de altos ramos

As doces uvas da glória.

Alguns bagos que desprendem

São sabores que nos rendem.

O mais segue a velha história.



Não é fato que alcançamos

Trazer mais perto os tais ramos

Dos leitores generosos?

Se somos disto capazes,

Que se dirá desses ases

Que buscam do bem os gozos?!



Amparados por Jesus,

Disseminamos a luz

Das virtudes evangélicas,

Tendo firme o pensamento

De causar um sentimento

De repulsa às artes bélicas.



Se recebidos em paz,

Cada qual será capaz

De rimar um pobre verso.

Assim aja o nobre irmão,

Não dizendo jamais não,

Nem um sim mui controverso.



Animada pelos mestres,

Aqui, perante os terrestres,

Esta turminha se pôs.

Fez um esforço tremendo,

Mas tudo acabou valendo,

Nas estrofes que compôs.



Ao ler alguns nobres versos,

Os corações são imersos

Em tristezas de impotência.

Ao reler as nossas rimas,

Vemos que são outros climas,

Nesta rude turbulência.



Cremos que os nossos amigos

Entenderam os perigos

Que se enfrentam no desterro.

Façam força p’ra subir:

Sempre existe um bom porvir,

Quando se evita o tal erro.



Valha-nos o belo dia.

Em suores de poesia,

Trabalhamos com afinco.

Resguardamo-nos das dores

De mostrar que os sofredores

Fazem dos versos um brinco.



Ao Senhor vamos pedir

Que proteja o Wladimir

Destes assédios do mal,

Para que possa ele, um dia,

Vir trazer sua poesia,

Com vigor mais natural.



Não há fugir do futuro.

Na lei, não existe furo:

É só toma-lá-dá-cá.

Mesmo em tom de brincadeira,

Não vai passar na peneira

Quem não souber o que há.



Iremos agradecer,

Pois foi grande este prazer

De nos sentir amparado.

Quem pensou que fomos nós

Quem desfez os fortes nós

Não se sinta embaraçado.



Agradeça logo a Deus,

Ao receber nosso adeus,

Que o sofrimento termina.

Saiba que este bom tormento

É próprio do sentimento

Sob o amparo da Doutrina.



Não vá pensar que Kardec

Não esteve nunca em xeque,

Ao receber as mensagens.

Mas teve discernimento

De fazer levar o vento

As que portavam bobagens.



Faça o mesmo logo agora:

Leia tudo e jogue fora

O que sentir malicioso.

Mas guarde, sendo gentil,

O que não for muito vil

Dando-nos um grande gozo.



Nesta última escansão,

Vou pedir-lhe o seu perdão

Para as rimas sem compasso,

Vá riscando as que estão fracas.;

As doentes, ponha em macas.;

Aproveite bem o espaço.















12



FORÇA DE VONTADE











Quando vim para o infinito,

Julguei tudo bem bonito,

Que os males foram mui poucos.;

Mas sofri depois bastante,

Pois notei, em meu semblante,

Trejeitos próprios dos loucos.



O contraste, sendo grande,

Faz com que a mente desande,

Em quimeras e suplícios.

Avaliei o passado:

Não tinha posto de lado

Os maus hábitos e os vícios.



Por que tive a impressão

De ver como as coisas são

Quando tudo é mais perfeito?

Precisava comparar

As dores do meu penar

Com o gozo de um eleito.



Eu perdera a minha vida.

Não havia outra saída:

Tinha de enfrentar as dores.

Só depois de muita luta

Compreendi que a força bruta

Não afeta os contendores.



Chorei muito, amargamente.

É na crise que se sente

As tolices que se fez.

Na verdade, aquela mágoa

Era dar co’os burros n’água,

Era errar mais uma vez.



Aos poucos, fui entendendo

Que o pranto era mais horrendo

Sempre que pensava em mim,

Via agora o semelhante

Cada vez menos distante:

Minha aflição tinha fim.



Era pouco o que eu podia:

Faltava sabedoria.;

Era forte ainda o medo.

Mas os males eram tantos,

No rumor triste dos prantos,

Que disse à dor: — Já não cedo!



No começo, foram rudes,

Pois as minhas atitudes

Causavam receio imenso.

Mas a vontade era tanta

Que a feição ficou mais santa

E o meu fulgor menos denso.



Sei agora que o lugar

Era uma espécie de lar

Dos suicidas contritos.

Gente que feriu pessoas

— Tendo almas até boas —,

Em momentos muito aflitos.



Quando percebi que tudo

Dependeria do estudo

Das causas sentimentais,

Arregacei minhas mangas,

Joguei fora minhas zangas,

Não fiz mais ouvir meus ais.



Conversei com muita gente,

Tudo fiz tranqüilamente,

Querendo compor a paz.

Nem sempre fui infeliz:

Houve até alguém que quis

Ver em mim um ser capaz.



Enxuguei prantos sentidos,

Sem cansar os meus ouvidos,

Com os queixumes alheios.

Lembrei-me até de Jesus

Que, pendurado na cruz,

Ouviu doídos receios.



Um dia, fui resgatado.

Sem pedir, fui contemplado,

Até com certa surpresa.

Vi melhorar muita gente,

Pois tinha sempre na frente

A chama do bem acesa.



Aqui cheguei, recebido

Por alguém muito sabido,

Que me explicou direitinho

Que era hora, finalmente,

De saber que a minha mente

Podia dar bom carinho.



Internaram-me no hospício

P’ra me libertar do vício

Que trouxera doutra esfera.

Foi então que percebi

Que tudo passara ali,

Que a loucura tudo gera.



Recuperei a saúde.

Fiz sempre o melhor que pude,

Ajudando os meus amigos.

Com a fórmula do Umbral,

Consegui impor-me ao mal,

Fugindo-lhe dos perigos.



Hoje curso esta Escolinha,

Querendo que seja minha,

Com amor no coração.

Procuro dar aos colegas

A mesma atenção que, às cegas,

Sonhava na escuridão.



Penso que tenham gostado,

Pois fui agora apontado

Para vir dizer, em versos,

A história que registrei,

Sem dizer onde é que errei,

Naqueles dias perversos.



Preferi mostrar que a sina

Depende de pequenina

Decisão de esquecimento,

Confiando mais em Deus,

Entendendo os males meus,

Sufocando o sofrimento.



Penso ter bem demonstrado

Que ninguém é injustiçado

Junto ao direito divino.

Basta só bem compreender

Que existe um outro poder

A reger nosso destino.



Vou agora terminar,

Dizendo que o verde mar

Contém muitas maravilhas.

Mas é preciso cuidado,

P’ra não morrer afogado,

Nos ardis das armadilhas.















13



TRÉGUA DA DOR











Conviver com a maldade

Só dependerá de força.

Segurar não há quem há-de,

Caso a velhice contorça.



A todos vem a doença:

Na carne, é esse o destino.

Mas ninguém não há que vença,

Se praticar desatino.



A morte é fonte segura

De pensamento sadio,

Pois requer da criatura

Que a tudo enfrente com brio.



Homem aprende a lição,

Seja por bem ou por mal.

Se por bem, no coração.;

Ou vai pastar lá no Umbral.



Essa é a força do destino.

Ninguém vai fugir ao fado:

Hoje é um infante-menino.;

Amanhã, grande e barbado.



Hoje é homem encarnado.;

Amanhã vaga no etéreo.

Se for bom, cá deste lado,

Vai decifrar o mistério.



Se agir com sabedoria,

Com amor, sem desalento,

Irá ter muita alegria,

A partir do passamento.



Se quiserem entender

O sofrimento da esfera,

Pensem que seu bem-querer

Nenhuma dor aqui gera.



Sobre ser bem misteriosa,

A morte nos traz também

A angústia do ser que goza,

Sem pensar em mais ninguém.



Atrevimento é virtude

Na decisão de prever

O que nos causa inquietude,

Se não se cumpre o dever.



As quadras que se acumulam

Brotam espontaneamente.

As idéias cá pululam:

Solte o breque, siga em frente.



Quem quiser compreender

Os intentos desta gente

Consiga sentir prazer,

Fazendo um verso somente.



Esquecidos da vergonha

Dos erros das escansões,

Nossa turma aqui mais sonha

Em conquistar corações.



Um versinho mais simpático

Desfaz as premunições:

Quem estava sorumbático

Vai esquecendo os senões.



As rimas que se repetem

Não assustam o escrevente,

Que quer que os mestres não vetem,

Mesmo quando medo sente.



Às vezes, os bons leitores

Vão sentir-se magoados,

Se esquecermos as tais dores

Que os trazem tão maltratados.



O pranto nos banha a face,

Quando os amigos se enervam.

Um só que a paz estimasse,

Que os preceitos se observam.



A quadra mais complicada

Também foi mui demorada

E terminou sem sentido,

Por isso, pense bastante:

No átimo dum instante,

Tudo estará resolvido.



Quando se age contente,

Não há mal que não se enfrente,

Com Jesus no coração.

É como Kardec ensina,

Nos albores da Doutrina:

Caridade é salvação.



Cumpramos o compromisso,

Executando o serviço

Que nos reservou a sorte.

Ao partir para outro espaço,

Não vamos sentir cansaço,

Nem vamos notar a morte.



Ao chegar no outro mundo,

Nosso amor será profundo,

Dando o tônus da bondade.

A paz terá sido forte,

A caridade, o bom norte,

Levando à felicidade.



Aí, o nosso estribilho

Há de conter muito brilho,

Seja bem simples o verso.

É que o sentido da vida

Vai demonstrar que esta lida

Nada retém de perverso.



Queremos dar leve toque,

P’ra que não haja remoque

Aos versos que sejam duros.

Se viver nos dá trabalho,

Vamos quebrar este galho,

Deixando de cobrar juros.



Nas asperezas da lida,

O bom verso nos convida

A que ajamos com mais calma.

Que o nosso amigo leitor

Nos ajude a bem compor

Poema que fale à alma.



Não há muito que fazer:

Basta sentir mais prazer

Co’a leitura desta rima,

Esquecendo ter ouvido

Este som tão repetido,

Aumentando a sua estima.



Vejam que a felicidade

Vai residir na bondade

Que rejeita toda força.

A dor até que é bem-vinda,

Mesmo que a velhice ainda

Em doenças nos contorça.



Eis que o exemplo de Jesus

Distribui eterna luz

Para toda a humanidade.

Quem deseja mais gozar

Saiba que é mui devagar

Que se estende a caridade.



Kardec, em seu sacrifício,

Ergueu soberbo edifício

De lógica espiritista.

Cabe agora ao povo todo

Erguer-se de dentro ao lodo,

Para firmar tal conquista.



Bom amigo, nos perdoe,

Caso ainda o verso doe,

Os tímpanos ofendendo.

Mas não queira ouvir as rimas

Que se fazem lá, nos climas

Do Umbral de penar horrendo.



Humor negro é melodia

Da mais perfeita harmonia

Quando se está bem na vida.

O poema mais sublime

Não encontra quem estime,

Quando a dor promove a lida.



Pedirei ao escrevente

Que também reze p’ra gente,

Ao se encerrar a poesia,

Agradecendo ao Senhor

Por tanto nos dar amor,

Muito mais a cada dia.



Diz o amigo que este verso,

Em bom sentimento imerso,

É na verdade uma prece.

Deus, então, nos abençoe.;

O bom leitor nos perdoe,

Antes que a dor recomece.















14



EQUILIBRA-TE











Na terra dos faraós,

Estivemos todos nós,

Em algum tempo anterior.

Mas perdemos a lembrança,

Que a memória não alcança,

Se tivermos mais valor.



Esta vida nos convida

A manter acesa a lida,

Sob a luz dos evangelhos,

Tenha sido o de Jesus,

Ou outro que se conduz

Por sentimentos mais velhos.



A humanidade consome

Quem faça extenso renome,

Exaurindo-o de vez,

Inda mais, se o pensamento

De se livrar do tormento

Seja tudo o que ele fez.



Valha-nos a confissão

De que já dissemos não

Às palavras de tais mestres.

Por isso, avultam as dores,

Nestes mundos inferiores,

Por estas plagas terrestres.



Aos poucos, os sentimentos

Vão firmando os pensamentos

Nas áreas das atitudes.

Os vícios são desbastados,

Apurando-se os cuidados,

Elegendo-se as virtudes.



Bom amigo, desde cedo,

Afugenta o triste medo

Das mensagens do outro mundo.

Escreve logo na testa

Que é preciso estar em festa,

Se teu amar for profundo.



Desfaze o cenho cerrado,

A tristeza, põe de lado,

Abre, feliz, teu sorriso,

Pois não é de outra maneira

Que se dá a brincadeira,

Nas terras do Paraíso.



Ao cumprir o teu destino,

Abandona o desatino

Do chorar desesperado.

As dores são muito fortes?...

Sabe que existem coortes

Que desejam o teu fado.



As caravelas de antanho

Só aspiravam ver ganho

O horizonte promissor.

Espírito de aventura

Põe contente a criatura

Que não se importa co’a dor.



Voltar ao campo terreno,

Deixando o regaço ameno

Dos protetores celestes,

É viver o compromisso

De prestar um bom serviço,

Sejam quais forem as vestes.



Se tu fores bem formoso,

Hás de sentir forte gozo

Nas primícias dessa vida.;

Porém, sabe que os fulgores

São prenúncios dessas dores

Com que todo o mundo lida.



Mas não deixes que a vaidade

Que o teu coração invade

Te domine por completo.;

Põe fim a tal sentimento,

Faze forte o pensamento,

Mantém teu coração quieto.



Pensa que Jesus foi belo,

Cabelos de caramelo,

Olhos claros, mui profundos.;

Pele trigueira, voz doce,

E ainda que assim não fosse,

Quem mais puro nestes mundos?!



Concerta os teus modos bruscos,

Não faças como os etruscos

Que raptaram as sabinas.

Se quiseres bem viver,

Cumpre alegre o teu dever,

Aceita com gosto as sinas.



Neste mundo de ilusões,

É certo que os corações

Sofrem tropeços cruéis.;

É que todas as pessoas,

Sejam péssimas ou boas,

Desempenham seus papéis.



Evita comprometer-te,

Nem que seja um simples flerte,

Com as maldades da vida.;

Faze tudo muito certo,

Mantém o teu peito aberto:

Com Jesus vem a saída.



Os homens de antigamente

Tinham sempre bem presente

Que a morte chegava cedo.

Hoje em dia, isso mudou,

Muita coisa se alterou:

Só o velho é que tem medo.



Se tu fores moço ainda,

Faze tua vida linda,

Agindo com perfeição.

Põe mais tento no segredo

Que o tempero fica azedo,

Se abusares do limão.



Equilíbrio é exigência,

Como do santo a paciência

É virtude essencial.

Não sejas muito fogoso,

Nem penses que seja um gozo

Mesclar o bem com o mal.



Faze sempre a coisa certa,

Com o erro a culpa aperta

Os pruridos da consciência.

Angustiar-te e sofrer:

Sabemos que vais dizer

Que vives tal conseqüência.



Pode ser que, hoje em dia,

Tu consegues alforria

Das peripécias maldosas.;

Mas o tempo há de passar,

Aos pouquinhos vão chegar

As horas mais perigosas.



Fugir da dor ninguém vai,

Por pungente seja o ai

Da lamentação da alma.

Aí, todo o sofrimento

Não cabe num só lamento,

E o pranto não mais se acalma.



Arrepender-te é de lei

(Não digas que eu não falei),

O quanto antes, melhor.

Segue as normas da Doutrina.;

Se quiseres a sabina,

Para ti, tanto pior.



Aguarda que chegue o dia

De fazeres a poesia

Como dever escolar.

Não precipites a rima,

Pois a mente se sublima,

Quando se vai devagar.



Eis a última lição

Que nos sai do coração,

Em plena felicidade.

Tudo fizemos com gosto.;

Vamos deixar este posto,

Já co’um tico de saudade.



Agora, p’ra terminar,

Vamos pedir p’ra este lar

As bênçãos do bom Jesus.

Queira Deus que toda a gente

Tenha o coração valente,

P’ra carregar sua cruz.















15



EM BUSCA DA MODÉSTIA











Estando de folga, um dia,

Faça um pouco de poesia,

Não tenha medo da rima.

Talvez um bom exercício,

Venha a tornar-se algum vício,

Mas desses que a gente estima.



Desabrochando os seus versos,

Sem que sejam mui perversos,

Vá pondo neles virtudes.

Mostre em paz a sua alma,

Pois é como leva a palma

Quem sublima as atitudes.



Aos poucos, o bom costume

Talvez cause algum ciúme

A quem não quer trabalhar.

Se for este bem seu caso,

Pense não ser por acaso

Que estamos a poetar.



Muitos dias demoramos

A buscar frutos nos ramos,

Dando muitas cabeçadas.

Finalmente, conseguimos,

Com alegria nos imos,

Ver as coisas bem paradas.



Hoje em dia, um bom poema

Já não nos causa dilema:

Os assuntos vêm mui fáceis.

Palavras nas escansões

Abrem rimas em botões,

Flores de formatos gráceis.



Mas a pressa é inimiga,

Quando a trova mais periga,

Dando rumos imprevistos.

O espírito mais gagueja,

Pois a perfeição deseja

Compor aos irmãos benquistos.



É que nem tudo é perfeito

Aqui dentro deste peito,

Que deseja ser pequeno,

Embora tenha de ser

Rigoroso no dever,

Como foi o Nazareno.



Jesus serve como prova

De que a feição desta trova

Não vem isenta de falhas.

É que, mui prudentemente,

Nada escreveu para a gente:

Foram orais as batalhas.



No tempo das Escrituras,

Eram poucas as leituras,

Para as quais só os doutores

É que tinham permissão,

No templo de Salomão

Ou nas casas dos senhores.



Agora, em qualquer favela,

Mesmo à luz de pobre vela,

Qualquer um vai decifrar

Os sagrados Evangelhos,

Ou os Testamentos Velhos:

É luz espetacular.



Por isso é que o bom Kardec,

Abrindo os textos em leque,

Acreditou nas escolas.

Muitos livros escrevendo,

Quis ver o povo crescendo,

Não mais aceitando esmolas.



— Cada qual será mais rico.;

É como os bens justifico,

Nos cofres do Pai do Céu.

Pensando como Jesus,

Clareou, com muita luz,

As mentes em escarcéu.



Hoje em dia, sofre o povo,

Mas eis-nos aqui, de novo,

A trazer-lhe a melodia.

Com certeza o nosso brilho

Sempre estará no estribilho

Do amor que nos desafia.



Foi por isso que pedimos

Para que, em versos opimos,

Nosso amigo cante as loas,

Exaltando o Mestre amigo,

A Kardec dando abrigo,

Em estrofes muito boas.



Servem de modelo as nossas,

Dês que não provoquem troças

Pelas críticas dos sábios.

É que tudo, humildemente,

Vamos pondo aos pés da gente,

Não selando os nossos lábios.



Com o coração na mão,

Apelamos para o irmão,

Que releve os bravos erros.

Um voto de confiança,

Queremos ver se se alcança,

Depois de longos desterros.



Categorizado o autor,

Esperamos que o leitor

Releve as falhas mais grossas.

Jesus perdoou os crimes,

Em gestos mais que sublimes.;

Perdoe você nossas bossas.



Da mesma forma, algum dia,

Ao fazer sua poesia,

Vai divulgar com tremores.

Sentindo alguns calafrios,

Vai necessitar de brios,

Para enfrentar os suores.



Ao fazer tais versos chochos,

Vamos provocar muxoxos

De total condescendência.

Visamos estimular

Quem queira vir poetar,

Sem medo desta ciência.



Não falamos desta arte,

Pois não queremos dar parte

De fazer uma obra-prima.

Contentamo-nos com pouco,

Embora julguemos louco

Quem gostar da nossa rima.



Ao demonstrar a atitude

Que julgamos ser virtude,

Perante a visão alheia,

Oramos, como num templo,

Seguindo este bom exemplo

Da perfeita coisa feia.



Diz nosso amigo: — Duvido

Que não esteja envolvido

Tal autor com a vaidade.

Talvez assim é que seja,

Mas consigo o autor deseja

Exprimir toda a verdade.



Já vai longe o nosso andor,

Neste dia em que o calor

Extenua o escrevente.

Vamos aqui terminar,

Cedendo o nosso lugar

A quem queira vir co’a gente.



Uma palavra de fé,

Para mostrar como é

Este nosso coração,

Que exultará, se uma flor

Lhe for dada, com amor

Cultivado pelo irmão.



Bastará pobre quadrinha,

Água apenas com farinha,

Sovada com emoção.

No calor do forno d’alma,

Assada com muita calma,

Vai ser um amor de pão.















16



ATO DE CONTRIÇÃO











Atribulados pelo encontro nesta vida

Dos inimigos que fizemos, certo dia,

Desativamos a maldade que pedia

Que revidássemos a dor imerecida.



Assim julgávamos, enquanto o bem crescia,

Que, evoluídos, os comparsas, sem saída,

Nos propiciavam bons motivos para a lida,

Em benefício dessa gente que sorria.



Fomos ganhando, nessas lutas meritórias,

Tendo levado certas tundas deprimentes,

Pois não podemos contar papos de vitórias,



Quando o resgate proporciona aos descontentes

Uns arremedos de conquistas dessas glórias

Que vituperam os confrades cá presentes.







Essa primeira, que bem fácil redigimos,

Vai ser também a que fizemos com paixão,

Que era preciso vir rasgar o coração,

Momento álgido do amor que compartimos.



Não diga, pois, ó caro amigo, aquele não

Que conhecemos nos refolhos destes imos,

Pois com Jesus no coração é que seguimos,

Tendo sofrido com a dura incompreensão.



Não basta amar, se seu amor ficar calado:

Todos queremos os afetos carinhosos,

Reconhecendo o bom valor sempre exaltado.



No Paraíso, sentiremos, ufanosos,

Toda virtude desse pranto derramado,

Felicidade de eternais e fortes gozos.







Foi bom tirarmos este dia p’ra escrever,

Esquecimento das torturas das feridas,

Exame sério dos problemas de umas vidas

Em que ficou sem cumprimento o bom dever.



Com tal exemplo, pretendemos revolvidas

Muitas querelas que se apóiam no poder

E que suspendem muito tempo o bem-querer,

Inutilmente para as dores mais sofridas.



Se perdoar é pressuposto dos melhores,

Nossos amigos devem ser condescendentes

Com estes versos bem perversos, dos piores.



Mas esquecer-se dos autores deficientes

Já não vai ser muito difícil, se maiores

Forem os males que sofrerem essas gentes.







Com muito tato, os benfeitores vêm dizer

Que a nossa rima multiplica os sofrimentos,

Que esta batida não esconde os desalentos

Que põem os homens nos mistérios, sem saber.



É preferível pôr nos versos pensamentos

Estruturados pelas normas do dever,

Pois as tais dores não demonstram bem-querer,

Enquanto visam tão-somente envolvimentos.



Ao se fecharem muitas portas, há quem fique

Mui perturbado, sem saber o que pensar.

Boa saída é revelar que se tem pique,



Para compor este soneto devagar,

Para dar tempo que o amigo verifique

Que os seus tormentos, muito cedo, vão findar.







Ó bom Jesus, tende piedade e socorrei

Este rapaz que pena muito co’o calor,

Especialmente quando sente sem valor

O sacrifício de cumprir da fé a lei.



Ele transpira pelos poros seu amor:

Bela figura que demonstra quanto errei

Quando, apartado do redil da minha grei,

Mais desejei um bom soneto vir compor.



Imaginava que o escrevente só seria

Um transmissor inerme e fútil da poesia,

Desativado, incompetente, presunçoso.



Peço-lhe agora, humildemente, que perdoe

O desastrado que só quer ver quando soe

A hora marcada de sair: o maior gozo.







Vamos correr p’ra terminar a nossa lida,

Pois não queremos cá voltar co’as mesmas dores.

Agradecemos muito a ajuda dos mentores,

E o bom espaço em que o escrevente nos deu vida.



A Jesus Cristo, prometemos mais amores,

Que o sofrimento a refletir sempre convida.

A Deus do Céu, a nossa prece comovida

Pelos irmãos que não resgatam os penhores.



Exortaremos, em seguida, à virtude

Aqueles tantos que suspeitam do improviso,

Sem perceberem que se perdem na inquietude.



Basta quererem, p’ra entender o nosso aviso,

Pois é bem outra a realidade da atitude

Que levará o povo todo ao Paraíso.















17



ARREPENDIDO











Os cânticos que temos para o dia

São tópicos da vida que levamos,

São luzes resplendendo lá nos ramos

Das árvores do amor, em má poesia.;



Quimeras desses sonhos que sonhamos,

Na ânsia de alcançar sabedoria.;

Presença de um irmão que não faria

Um ato de bondade, sem seus amos.



Assim, se conseguirmos a vitória

De termos um soneto completado,

Vai ser para nós todos grande glória,



Que o tema, dedo a dedo solfejado,

Revela um pouco só da nossa história:

Desprezos de um artista desprezado.







Se agora, em liberdade, temos medo

De ver que alguém nos chora a contragosto,

Por termos assumido este bom posto,

Em hora antecipada, muito cedo,



Também sofremos dores de desgosto,

Que o gosto destas rimas é azedo,

Fazendo do poema um arremedo,

Que vinca de mais rugas nosso rosto.



Poesia, espelho d’alma que retrata,

Perfeito, o desalinho do escritor,

Nas linhas imperfeitas desta ata,



Valei-me, que me resta algum ardor,

Pois sofro, se bem perto da cascata

Me sufoca a tristeza do calor.







As letras que se põem ao meu serviço

Parecem criar vida, cá no etéreo:

— Decifra-me ou devoro-te, Mistério,

Que o máximo que dou não passa disso.



Deixei meu corpanzil no cemitério,

Que os vermes transformaram em chouriço.

Ali fiquei, coió, sem compromisso,

Pois nada, em minha vida, fiz de sério.



Versos obrei perversos, desafogo,

Tédio da geração dos pervertidos,

Que ao Pai jamais lançou um simples rogo.



Hoje, venho dizer: — Tempos perdidos,

Em que me travesti de demagogo,

Jamais outros serão tão mal vividos!







Aos poucos me revelo exatamente

Conforme à opinião que eu mesmo faço.

É certo que com muito estardalhaço,

Pois tenho de manter-me aqui presente.



A crítica ferina aperta o laço,

Deixando o coração também consciente

Das lutas que terei, daqui p’ra frente,

Pois quero ver se apresso este meu passo.



Promessas de uma vida redentora

São fáceis de fazer, nestas mensagens,

Bastando um pouco d’arte criadora.;



Mas temo que pretendo só vantagens,

Que a pílula que tomo não se doura:

Resquícios das mais velhas molecagens.







Romeus e Julietas fazem falta,

Tertúlias que se perdem nos abismos

Do verso mergulhado em preciosismos,

Que caiba, continente, nesta pauta.



Rejeito dos meus pobres egoísmos,

A rima que acomodo quase salta,

Buscando inspiração em Musa alta,

Mui perversa ao falar de espiritismos.



E retruco a quem queira elogiar-me

Que é fácil promover o meu desarme,

Nas dores da vaidade literária.



Sutis, os pensamentos correm soltos,

Mas são pelas mortalhas logo envoltos:

Poemas de uma empresa funerária.







Parti trazendo versos em má rima,

Sofríveis, perturbados, sem vigor,

Julgando que seria um benfeitor,

Que o povo manteria a sua estima.



Escravo que apanhava do feitor,

Liberto agora, viu-se em outro clima:

Alguns evoluídos, mais acima.;

Outros, curtindo ainda a mesma dor.



Lembravam-se de mim nas orações,

Mas tinham mais rancor os inferiores:

Chorava por lhes ver as aflições.;



Chorava ao receber dos benfeitores

O apoio das formosas vibrações,

Que o negro era a mais clara dessas cores.







Queria dar de mim melhor idéia,

Dizendo o nome todo de batismo,

E mais o sobrenome da colméia,

Que toda, como eu, caiu no abismo.



Vaguei, como quem parte em odisséia,

Sem ter onde esconder meu egoísmo,

Querendo ver, na arte, panacéia,

P’ros males que causei, sem cristianismo.



Cheguei a compreender o meu destino,

Corri de ceca a meca, em desespero,

Busquei cantar ao Pai um doce hino,



Porém, o que mais fiz foi exagero

De luxos, nesta fase em desatino,

Não sabendo ser simples com esmero.







Mentores, companheiros e o escrevente

Se põem de orelha em pé, desconfiados

De que vá colocá-los com cuidados,

Porquanto hoje brinquei mui facilmente.



É que as palavras são como criados

Que tudo fazem p’ra servir a gente,

Desde que as respeitemos, civilmente,

No estudo dos matizes procurados.



Assim, eu posso até orar contrito,

Nos termos mais formosos, em respeito

Ao sentimento deste povo aflito,



Embora saiba bem que, neste peito,

Se esconde um coração que emite um grito

Que clama por perdão, de qualquer jeito.















18



O DEVER NOS VERSOS











No bom capricho com que trago este meu verso,

Encontrarão um pouco mais de meu amor.

Se mais não posso é porque tenho, incontroverso,

A mente curta e esta memória sem valor.



Mas faço tudo p’ra reger a boa escrita,

Que este meu médium muito atento é exigente.;

Se nalgum metro eu titubeio, é quem grita,

Levando logo a desafio, que é como sente.



É perigoso duvidar destas mensagens,

Principalmente se se der co’os burros n’água,

Na tentativa de mostrar as desvantagens,

Causando apenas aos amigos muita mágoa.



Aí, alguém há de dizer que são mentiras

Estas promessas de ajudar, nos casos tristes.;

Porém, estamos tão afeitos a tais iras,

Que, de primeira, retornamos, com uns chistes.



Não há, porém, quem fale sério e com amor,

Doce esperança de encontrar antigo afeto,

Desilusões, em vez de bem, causam rancor

E põem bem longe o protetor que age correto.



Se cá estivesse um desafeto impenitente,

Demonstraria como é tal desafio:

Em vez de pôr o pessoal bem ao corrente,

Aí faria, ao contrário, um elogio.



O povo todo, mais contente co’a poesia,

Iria crer em que o que faz está perfeito

E, dessa forma, o bom progresso não teria,

Marcando passo, nesta vida contrafeito.



Mas se vier alguém de pulso que oblitere,

Julgando certo aporrinhar os malfeitores,

Um elogio de sua boca não espere,

Antes compreenda que terá maiores dores.



O bom amigo que entender nossa mensagem

Vai melhorar sua conduta, se tiver

Disposição para enfrentar, sem vadiagem,

Tudo de mau que a seu destino lhe aprouver.



— Quais são as novas? — A pergunta é de rigor.

— Terão traquejo p’ra informar com precisão?

O mais que temos é vontade e muito ardor,

Grande desejo de nos dar de coração.



Além do mais, eis alguns versos não perversos

Com que alcançamos demonstrar nossa afeição.;

Se estão, embora, em falhas grossas, muito imersos,

Ao menos vão mostrando ao povo esta emoção.



Cumprir dever é, nesta vida, imprescindível,

Pois cá viemos por julgarmos conveniente,

Mais do que isso, imaginamos perfectível

A nossa alma submetida inteiramente.



Ajamos, pois, com invulgar satisfação,

Pensando bem em cada dia de serviço,

Tudo fazendo p’ra ajudar o nosso irmão,

Que não é outro nosso antigo compromisso.



Passo final na caminhada desta tarde,

Só vou propor que todos juntos entoemos

A mesma prece, pelo bom, pelo covarde,

Pois nosso Mestre sabe bem quanto sofremos.



Caro Jesus, fazei de nós bons servidores,

Pois cada um sabe dizer p’ra que é que veio.;

Por serem tantas, entretanto, as nossas dores,

Dai de barato que tenhamos titubeio.



Não esqueçais que somos mais do que imperfeitos,

Nestas palavras que compõem a nossa rima.;

Fazei de conta de que estais entre os eleitos

E dedicai-nos um pouquinho dessa estima.



Se este pedido for um pouco desabrido,

Se a nossa fala até contenha impropriedade,

Não permitais que nos percamos sem sentido,

Mas concedei que demonstremos a verdade.



Velho refrão há de ajudar-nos nesta altura,

Porque sabemos que corremos grão perigo,

Mas a verdade, quando a diz a criatura,

Vai evitar o sofrimento do castigo.



Nós só queríamos mostrar que o bom amigo

Conhece bem a brincadeira que revela

Que estamos prontos a dizer: — Conte comigo,

Caso a bondade seja tudo a que se anela.



Vamos parar com estas rimas dentro em pouco,

Que o nosso amigo aqui presente está cansado

De repetir o mesmo tom, agora rouco,

Quase ficando co’o dedinho amarfanhado.



Agradecemos, em conjunto, a sua lide,

Mesmo sabendo que bem pouco aproveitamos,

Pois pendem cachos saborosos dessa vide,

Mas somos nós muito pequenos p’ra tais ramos.



Falando sério, esta será a derradeira,

Pois tudo aqui há de fazer-se bem bonito,

Que os seixos grossos ficam presos na peneira,

Que o nosso verso só nos põe bastante aflito.















19



CARNAVAL











No rastro dos eventos consagrados

Pela estultice humana às diversões,

Os homens põem à mostra as ilusões,

Durante o Carnaval de tristes fados.



Querendo deixar tensos corações

Alegres, na folia desregrados,

Para amainar das dores os recados,

Se deixam arrastar sem contenções.



Mas todos temem justas represálias,

Que sabem que o destino há de cobrar,

Pois ao plantarem cardos querem dálias.



Prezemos quem sorri em doce arfar,

Felicidade simples das Ismálias

Que têm no céu as almas, não no mar.







Embotam sentimentos mais sutis,

Para o grosseiro gozo dos sentidos,

Que a tudo mais se prestam, resolvidos

A terem sempre mais prazeres vis.



Antigamente, o povo dava ouvidos

Aos padres, sem chamá-los imbecis,

Ao porem suas cinzas nas cerviz,

Para lembrar os velhos textos lidos.



Agora, o mau comércio se aproveita

Do luxo espúrio desses quatro dias,

Insaciável, tendo tudo à espreita.



Fora possível crer nestes fantasmas

Que põem as mangas fora nas poesias,

Seriam de terror as caras pasmas.







Queremos só lembrar aos mais espertos

Que a vida lhes prepara outras surpresas,

Caso não ponham tento nas empresas

Que tão às cegas regem como certos.



Os vícios se disfarçam nas belezas

Dos ricos trajos, em brilhar refertos,

Dispondo os corações bem mais abertos

P’ra receberem, fúteis, vãs defesas.



Se todo o contingente de dinheiro

Que vai p’ros bolsos dúbios dos farsantes

Pudesse ser doado a verdadeiro



Benfeitor dos que penam tiritantes,

Por certo iria pôr um paradeiro

À fome que atormenta os semelhantes.







Não quero despedir-me sem dizer

Que vim trazer um testemunho pleno,

Embora não pareça estar sereno,

Pois quis dar fim tão brusco ao tal prazer.



É que senti na pele não ameno

O resultado bruto do poder,

Pois tudo, certo dia, fiz valer,

Querendo dar ao bem só leve aceno.



Se alguém puder livrar da fantasia

De ter na vida tudo de sobejo,

Irei sentir enfim doce alegria



Dum carnaval em que o maior desejo

É ver, nesta avenida de folia,

Jesus a comandar o bom cortejo.















20



RISO FORÇADO











Nenhuma falha, nesta nossa faina,

Vai impedir que o bom amigo tenha

De todos nós a razoável senha

Que os entreveros d’alma logo amaina.



Sem perder tempo, tão cedinho venha,

Tendo dormido um pouco, em boa paina,

Como faria plácido sotaina,

Nós lhe damos um tema em que se embrenha.



Porém, nem tudo é paz nos versos nossos,

Que a rima faz tremer por pouco uso,

Pois nossa fruta tem alguns caroços.



Aí, nos vem dizer: — Eu os acuso

De fazerem sofrer com estes troços,

Os quais põem o leitor muito confuso.







Assim, vamos levando a propedêutica,

Tornando a vida boa p’ra chuchu,

Restolho de carniça que urubu

Rejeita, em raciocínios de hermenêutica.



Quiséramos tão-só não comer cru,

Engenhos desta arte farmacêutica,

A transformar, por dom de terapêutica,

Em remédio a peçonha de urutu.



Ao demorar o verso, por perverso,

A gente fica triste toda a vida,

Que o mais que nós queremos do universo,



Após duro trabalho, é que esta lida

Resulte em riso franco, incontroverso,

Segredos a que o tempo nos convida.







Falando francamente, como acima,

Propomos que os leitores façam versos

Que, em nobres sentimentos, vão imersos,

A provocar-lhes n’alma doce estima.



Sabemos que os seus males são diversos,

Que triste talvez saia a sua rima:

Viajem, vão curtir um novo clima,

Que as dores e os problemas são dispersos.



Voando pelas asas de estribilhos,

As cores do horizonte são mais puras

E a luz da noite ganha muitos brilhos.;



Vão ser felizes mais as criaturas,

Ao adotar poemas como filhos:

Feridas são fechadas com suturas.







Sabemos que estes temas são banais,

Que a vida tem problemas muito sérios:

Se falamos empós os cemitérios,

Assim de nós espera o povo mais.



Mas como dar idéia dos mistérios,

Se o mais que se ouvirão são nossos ais,

Resultado dos dramas que, imorais,

Terminam sendo lúgubres, funéreos?!...



Por isso é que pedimos aos amigos

Que, em versos bem rimados, façam preces,

Por mor de oferecerem dons antigos,



Em foguetório alegre de quermesses:

Felicidade longe dos perigos

Destas vaidades fúteis, sem as messes.







O bom amigo aqui mais nos convida

A terminar o dia de improviso,

Mas só diz isso por não ter juízo,

Querendo dar a nós outra saída.



Então, escreva aí um bom aviso,

Que é tudo o que trouxemos dessa vida:

Lutar, com heroísmo, a dura lida

E tudo compreender com muito siso.



Jesus nos trouxe as luzes do evangelho,

Kardec decifrou de Deus as leis,

Mas resta ainda parte dos mistérios.



Não deixe p’ra depois, só por ser velho,

O estudo da Doutrina e o amor às greis,

Que o homem não se extingue em cemitérios.















21



DIRETRIZES











Não somos mais que trinta na poesia,

Buscando compreender este universo,

Cumprindo o bom dever, incontroverso,

Sabendo que qualquer melhor faria.



Contudo, seja o tema até perverso,

Sentimos, lá no fundo, só alegria:

É que, quando alcançamos harmonia,

Podemos transformar em belo verso.



O fato que preocupa nossa gente

Decorre de não termos que dizer:

Problemas de um pensar inconseqüente.



Aí, o nosso mestre tem poder

De pôr um fim ao ritmo que sente

Oco, vazio, inútil, sem prazer.







É claro que falamos de cadeira,

Solertes nesta briga de fandango,

Ativos ao dançar passos de tango,

Alegres ao fazer a brincadeira.



Por que jamais gostar do nosso rango,

Se feito com carinho, nesta feira

Em que, para curtir, basta que queira,

Jamais dizendo: — Agora é que me zango.



É leve a troça e fácil a postura

Que se requer de quem gostar da rima,

Pois é de Deus o dom da criatura.



Assim, p’ra conseguir do povo a estima,

Chegue-se a nós, trazendo alma mui pura:

Divirta-se à vontade no bom clima.







Simplicidade é nosso objetivo,

Em rimas fáceis, sem qualquer apuro,

Sem repetir as falhas deste furo,

Pois se pretende o verso muito vivo.



Contudo, nestes treinos, demos duro

P’ra desfazer costume paliativo,

Consistente em julgar mais criativo

Tornar o bom leitor muito inseguro.



Palavras são o toque de grandeza

Que faz a alma humana mais perfeita,

Conquanto o belo só não vá à mesa.



Agora o nosso mestre ri e aceita

A confissão implícita — beleza! —,

Mas temos de aviar nossa receita...







O bom leitor nos há de compreender,

Por sermos muito verdes na Doutrina,

Que só quem sabe explica e nos ensina

Que quem se aplica e sofre há de aprender.



Se rude versejar é nossa sina,

Momento de chorar e de prazer,

Obremos com esmero o tal dever,

Pois o que o tempo dá logo arruína.



A arte quer fazer algo de eterno

E luta p’ra compor com perfeição,

Tornando este existir fogo do inferno.



Aí, vem um poeta-coração,

Mostrando, num só verso muito terno,

Que o bem está ali, à nossa mão...







Kardec foi um mestre rigoroso

Que fez do espiritismo uma ciência,

Mostrando toda causa e conseqüência,

Ao termos o sofrer e o nobre gozo.



Hoje, estudamos fácil a consciência,

Nada quedando nela misterioso,

Mas temos de fazê-lo criterioso,

Para localizar a insuficiência.



Se pelo amor a vida só se explica,

Kardec deu-nos dele as diretrizes,

Que a regra nos demonstra e exemplifica:



A caridade nutre nas raízes

A perfeição, que cresce e frutifica,

Tornando-nos mais puros e felizes.







Querida, eu aqui venho convidá-la

A pôr um pouco mais de ardor à vida:

Não tendo companheiro, dê guarida

Aos órfãos pequeninos que a dor rala.



Se a morte não lhes deu qualquer saída

— Perfume que se sente é flor que exala —,

Atenda a este ser que ora lhe fala

E esqueça esse sofrer que a traz ferida.



Falência dos sentidos e das preces,

Privar-se, tendo força, é morte certa,

É ver apodrecer todas as messes.



Viver Jesus é pôr a porta aberta,

Deixando entrar em luz, como em quermesses,

O bem, a paz, o amor, n’alma referta.















22



FRAGILIDADES E SUPERAÇÃO











A dor, sem compromissos de resgate,

É negra condição d’alma não pura.

Talvez se ajeite até a criatura,

Sem provocar, no mundo, disparate.;



Contudo, cá no etéreo, a eterna jura

De renegar amor o mau abate:

A cada ser que der um xeque-mate,

Mais triste vai ficando e insegura.



Por isso, caro amigo, ponha à mesa

Algo que saiba amargo ao paladar,

De comprovado efeito p’ra saúde.



E coma, experimentando-lhe a aspereza,

Provando os bocadinhos devagar:

Quiçá descubra a fonte da virtude.







Nem tudo o que se faz, nesta hora santa,

Contém bom estribilho e rima certa:

Se a turma se esmerar a ver se acerta,

Talvez refugue o verso sacripanta.



Contudo, se este gênero acoberta

Um tosco raciocínio, como manta,

Um bom exame dá com o que encanta,

Mostrando-nos a rua a porta aberta.



Toda consciência importa que se tenha,

Pois, ao julgar-se, a turma não perdoa

E na fogueira mais coloca lenha.



Quando o rimar apenas cá ressoa,

Como cascata a despencar da penha,

Sem paz e sem amor: é verso à-toa.







Por querer ajudar-nos, o escrevente

Põe-se mui temeroso a cada verso.

Talvez isso nos cause, pelo inverso,

Cansativo trabalho, lá na frente.



Se em cada vibração ficar imerso,

Vai ter o povo todo mais contente,

Pois vai chegar ao fim, rapidamente,

Sem que deixe ficar ninguém disperso.



Ao terminar o dia, irá reler,

Bem devagar e sério, cada trecho,

Como se fora seu o tal dever,



Pensando a cada falha: — Agora eu mexo,

Pois devo dar ao verso o bom poder...

Mas se perde nas cismas desse entrecho.







Jesus nos quis um dia auxiliar,

Peregrinando à Terra em compaixão,

Mas não contava que estes homens são,

No entendimento, muito devagar.



Parábolas falou, de coração,

Que punha como pedra basilar,

Às quais nós deveríamos somar

Toda a experiência, isenta de emoção.



Ao invés disso, a turba se enfurece

E quer que o Mestre acabe co’o inimigo,

Pedindo a Deus o mal, em negra prece.



Como mostrar a todos o perigo?

— Queimando o joio logo após a messe,

Fazendo o pão dos grãos do melhor trigo.















23



CELEUMA











Jesus veio dizer à humanidade

Que a morte, p’ro destino, é só brinquedo,

Pois quem ama de fato não tem medo

De receber o afeto da verdade.



Ninguém é tão perfeito desde cedo,

Por isso vai e vem, por caridade

Daquele que nos deu a propriedade

De descobrir da vida seu segredo.



“Sois deuses”, disse o Mestre e não “humanos”,

Palavras que nos põem perante o Pai,

Depois de resolvermos os enganos.



Quem é que hoje mais se sobressai,

Sem promover aos homens muitos danos?

Quem diz ao coração bondoso: — Vai!







Queremos deixar nítida a impressão

De estarmos prestes a dizer que amamos

Quem venha a recolher, de nossos ramos,

Os doces frutos da meditação.



Caso algum tema pelo qual lutamos

Ponha em celeuma a alma desse irmão,

Saiba que temos um processo bom

De eliminar, no ato, tais reclamos.



É que aceitamos logo, de bom grado,

O pensamento de que a vida muda,

Definindo o caminho, em qualquer lado,



Mas saiba o meu amigo que essa ajuda

Não há de ser de graça, pois fadado

Estará a viver o zen de Buda.







Disse o mestre a seu pupilo

Que fosse colher pitangas,

Mas não disse bem aquilo

P’ra lhe provocar as zangas.



Se mandasse colher mangas,

No fundo daquele asilo,

Era certo que só cangas

Poderiam derruí-lo.



Rajadas das uvas passas

Eram como rude espinho,

Nas mentes, pelas devassas.



Entendimento é carinho,

Não sangue das pobres caças:

Jesus é a luz do caminho.







É fácil propor mistérios

Livres de decifração:

Se os temas forem bem sérios,

Provocam meditação.



Os enigmas não são

As chaves dos cemitérios.

Caso haja solução,

Cantemos nossos saltérios.



Mas tudo o que se pretende

É dar à vida sentido,

Que até a morte se entende,



Quando tudo está perdido.

Melhor é quando se acende

A luz dum Kardec lido.







Atividade perdida

É a pobreza desta vida,

Na parte espiritual.

É preciso ter conforto,

Para que, depois de morto,

Pensemos no nosso mal.



Hoje em dia, é permanente

O sentimento que mente

À consciência da pessoa.

Ao decifrar o mistério,

Logo após o cemitério,

O cara se sente à-toa.



Vamos, pois, compreender

Onde fica o bom dever,

Nas horas doces da vida,

Fazendo tudo perfeito,

Para poder ser eleito,

Tendo noss’alma escolhida.



Compromissos co’a verdade

São pontos que a caridade

Resolve todos de vez.

Caso o coração fracasse,

Todo temor ultrapasse,

Vale mais o bem que fez.



Sabemos bem que o escrevente

Tem amor por sua gente

E prossegue destemido.;

Mas saiba que o bom menino

Que cantou o longo hino

Também se sentiu perdido.



Veio aqui dizer que o bem

Mostra o coração que tem

As virtudes de Jesus.;

Mas fala com tal modéstia

Que uma falha só na réstia

Vai parecer-lhe uma cruz.



Sendo assim, mui comovido,

Agradece ser servido

Por pena tão generosa,

Esperando que p’ra frente

Venha cá uma outra gente

Munida de melhor glosa.



Jesus, José e Maria

Hão de encerrar este dia,

Com suas bênçãos de amor,

Dando o Pai benevolência,

Neste exame da consciência,

Que se sabe sem valor.



Humildade em exagero

Pode causar desespero:

Vou parando por aqui.

Nas esquinas desta vida,

Com toda gente se lida,

Pois foi assim que senti.



Despeço-me mui contente,

Porque sei não ser freqüente

Os momentos prazerosos

Em que, voltando a esta terra,

Nosso pensamento erra

Nas delícias destes gozos.



Agradeço a quem se sente

Feliz com a própria mente,

Dando apoio a este meu verso,

Embora tenha consciência,

Entendendo a ambivalência,

De ser o rimar perverso.















24



VOZ DE UM JOVEM











Ao virmos cá trabalhar,

Abençoamos o lar

Que nos recebe festivo.

Para todos, com carinho,

Erguemos taça de vinho,

Neste sentimento vivo.



Mas nem tudo é perfeição

No grupo que tem à mão

Tão formoso empreendimento:

As coisas vão devagar,

Pois é fácil desviar

Do melhor o pensamento.



Em dia de carnaval,

Sabe-se não ser normal

O pensamento do povo:

Há tanta idéia de engano

Que parece ser insano

Ter de começar de novo.



Corremos de ceca em meca

P’ra ver como a gente peca,

Nos festejos populares.

Encontramos coisas boas,

Mas são poucas as pessoas

Que preservam os seus lares.



A carne vale afinal,

Como se valesse o mal

Que a cinza fosse apagar.;

Mas a idéia religiosa

Não passa de triste glosa:

Querem mesmo se esbaldar.



Desejam ter liberdade,

Mas não dão com igualdade

Para os ricaços e os pobres.;

Fazem tudo diferente,

Demonstrando, infelizmente,

Que não se assustam com dobres.



A bebida corre solta,

A comida vem envolta

Nas auras dos animais.

A volúpia entre os sexos

Exige gozos complexos:

Todos querem sempre mais.



Aproveitar cada dia

É o que o povo gostaria,

Se suportasse a saúde.

Mas, como o tempo é bem pouco,

Há quem fique quase louco

Ao retornar à virtude.



As lembranças desse tríduo

Vão dar a cada indivíduo

Alguma satisfação:

Vão sentir-se tão felizes,

Mantendo tais diretrizes

Até o próximo verão.



Encasquetam na cabeça

Que tal vida favoreça

A noção de plenitude:

A folgança de um só dia

Vai dar-lhes mais alegria

Que o vigor da juventude.



Mas poucos são burros xucros.;

Quase todos visam lucros,

Quaisquer sejam os seus meios:

O comércio, abrindo as portas,

A safadeza, as comportas.;

Os vícios são os mais feios.



Muitos saem daí doentes.

Casos são muito freqüentes

Em que vidas são perdidas.

As estradas, isto é sério,

Acabam em cemitério

Das almas arrependidas.



A cada ano que passa,

Fica maior a desgraça

Da virulência fatal:

Vendo a porta sendo aberta,

A AIDS é sempre certa

E não tem cura o tal mal.



Não vão pensar que haja praga,

Que esta gente quer a paga

Das dores que já sofreu.;

Mas a verdade é só uma:

Quem morre assim não se apruma.;

Cai na escuridão do breu.



Seria bom evitar

Que tivesse seu lugar

O prazer desavisado.

Vamos moderar a festa

Que o forte compasso desta

Repercute deste lado.



Vão pensar que somos velhos,

Que lemos nos Evangelhos

Os cuidados que trazemos.;

Mas é bem outra a verdade:

Era pouca a nossa idade,

Ao quebrarmos nossos remos.



Ao perceber que falhamos,

Vendo sem frutos os ramos

Da árvore da promessa,

Demos um tapa na testa:

Só por causa de uma festa,

Retornamos bem depressa.



Quem avisa amigo é!

É melhor botar mais fé

Nas palavras desta gente:

Moderação é virtude

Que nos preserva a saúde,

P’ra melhorar nossa mente.



Oramos com nostalgia,

Pois nos lembramos do dia

Em que perdemos a vida.

Nosso corpo era perfeito:

Um deus nos teria eleito

P’ra executar sua lida.



Cumprimos nossa missão

De vir dizer ao irmão

Que é bem melhor pensar antes.

Vamos orar, com Jesus,

O seu pai-nosso de luz,

Com amor aos semelhantes.















25



UM VELHO MOÇO











O jovem que está presente

Vem dizer que muito sente

Ter bem pouco p’ra ensinar.;

Mas aprendeu bem depressa

Que nossa briga é bem essa,

Quando penou devagar.



As virtudes que hoje eu trago

Me dão sentimento vago

Das ações rudimentares.;

Como, pois, mostrar ao povo

Que, com o bem, me comovo

Se me afogo nestes mares?...



Preciso de compreensão,

Pois mantenho esta ilusão

De que o meu verso não falha.;

Só depois de alguns instantes

É que percebo que antes

Há que ser dura a batalha.



Quem ler estes poucos versos

Não saberá quão perversos

Foram os dias de treinos,

Com os cestos sempre cheios

De rascunhos muito feios,

Que as musas fecham seus reinos.



Quanto à parte do improviso,

Vou deixando o meu aviso

Que vem tudo em catadupa:

É que este bom escrevente

Promove, freqüentemente,

Bons passeios na garupa.



Mas não gosta do que escreve,

Embora seja bem leve

A referência que faço.

Sente que o povo que lê,

Seja lá quem for você,

Percebe seu embaraço.



Vou nas ondas desta turma,

Que, antes que o povo durma,

Fala dos versos que faz.;

Este assunto é tão freqüente

Que já não há quem agüente

Ler de novo, estando em paz.



Os caminhos desta vida

A meditar nos convida

A respeito dos deveres:

Se vimos cá poetar,

Qual o tema que vai dar

Para incluir nos haveres?



Sendo assim, antes que doa,

Não fique pensando à toa

Nas obrigações do dia.;

Vá fazendo, sem tropeços,

Que tudo tem seus começos,

Como também tem poesia.



Há que entender que o trabalho

Não é simples quebra-galho

Do tempo que não se apressa.;

Se você pensar que a vida

A meditar nos convida,

Vai ver que o tempo não cessa.



Trouxe aqui filosofia,

Quando nada disso via,

Enquanto vivo flanava.;

É que o pobre, em olho alheio,

Vê um cisco muito feio,

Sem perceber sua trava.



Queridíssimos amigos,

Fujam sempre dos perigos

Das coisas disparatadas.;

Equilíbrio, sobretudo,

Na forma e no conteúdo,

P’ra não haver pasquinadas.



À crítica me submeto,

Pois, num simples poemeto,

Quis cultivar um jardim,

Mas os lírios não cresceram,

Os girassóis feneceram:

O terreno era ruim.



Faço versos sem capricho.;

A bem dizer, é um lixo

A rima que se repete.

Mesmo assim, a gente boa

Nada vê que seja à-toa

E até me joga confete.



É preciso ter coragem,

P’ra perceber a mensagem

Que se esconde em cada rima.

Vamos passar a borracha

(Quem relaxa mais escacha):

Sinta apenas forte estima.



Faço versos de brinquedo,

Mas é sempre muito a medo

De que me vejam perverso.;

É que a turma da Escolinha

Deseja manter a linha,

Até mesmo em simples verso.



Exige-se disciplina

Do rapaz e da menina,

Mesmo quando fala forte

O sentimento-saudade,

Que a prantear persuade,

Pois veio mui cedo a morte.



Demonstro minha estrutura

Duma velha alma insegura,

Em feições de rapazote.;

Por isso, parecem gráceis

Certas rimas muito fáceis,

Na textura deste mote.



Hoje, eu queria saber

Como foi o meu viver

Em encarnes anteriores.

É que a tal da juventude

Não combina co’a atitude

Da reflexão das dores.



Fizeram-me pensar nisto,

Ao me lembrarem que o Cristo

Só viveu trinta e três anos.

Mas, por certo, em outras vidas,

Viu abertas as feridas

Doutros tantos desenganos.



Acabou ficando sério

Este meditar do etéreo,

No crepúsculo do dia.

Talvez seja permanente

O rimar em que se avente

Que vale a sabedoria.



Este moço-velho agora

Vem dizer que muito chora

Ter retornado vazio.;

Mas promete mais vigor,

Estudando com amor

A formulação do brio.



Como sempre, no final,

Em prece se quer que o mal

Seja esquecido de vez.;

Por isso, qualquer leitura

Vai tornar-se bem mais pura,

Se nada melhor se fez.



Não se veja atrevimento

Demonstrar o sentimento

De total felicidade.

É que este povo me ampara

E no verso não repara,

Só buscando o que lhe agrade.



Exauri-me, inteiramente,

Já não dá p’ra ir em frente,

Vou segurar este andor:

Há perigo de que o santo,

Por estar tremendo tanto,

Se arrebente de estupor.



Querido amigo escrevente,

Ponha p’ra fora o que sente

A respeito da poesia,

Mas faça tudo com gosto,

Pois precisamos do posto,

Para nossa mordomia.



Ao retornar para a filha

(Veja só que maravilha!),

Outros quatro lá estarão.

Mas como com tudo eu brinco,

Posso dizer que são cinco:

Um em fim de gestação.















26



SIMPLES RECOMENDAÇÕES











As coisas simples da vida

Causam-nos satisfação.;

O meditar nos convida

A entender essa lição.



Quem desejar progredir

Há de fazer tudo bem:

Não irá longe o porvir

De receber nota cem.



Os mistérios que nos prendem

Junto às teses religiosas,

Na verdade, muito rendem,

Na formulação das glosas.



Mas o puro sentimento

De ao Senhor se reunir

Põe as palavras ao vento:

A verdade é o existir.



Falando bem francamente,

Colocando tudo claro,

O melhor p’ra toda a gente

É deixar de ser avaro.;



Avaro nos sentimentos,

Avaro nas obras pias,

Avaro nos pensamentos,

Nesta hora de poesias.



Fazemos força que o verso

Seja certo e fidedigno.

Ninguém quer ser só perverso:

É melhor ser mais benigno.



Amar ao Cristo—Jesus

É um dos alvos maiores.;

É retribuir a luz,

Como fazem os melhores.



Amar ao Pai, lá no Céu,

— De todas a maior lei —,

Não aceita qualquer véu.

Diga sempre: — Isso eu sei!



Mas há um amor que vem antes

Que nos obriga ao dever:

É o respeito aos semelhantes,

Como ao nosso próprio ser.



Também amar aos parentes,

Aos amigos e instrutores,

É espargir as sementes.

Cultivemos essas flores.



Vão sobrar os inimigos,

Seres perversos p’ra nós,

Mas fujamos dos perigos

De causar-lhes dor atroz.



Olvidemos malquerenças,

Em qualquer um destes planos:

O ajuste das diferenças

Só provoca desenganos.



Dentre as normas de Jesus,

Inclui-se amar aos perversos.

Mesmo sofrendo na cruz,

Não quis na dor ver imersos.



Se Jesus pediu perdão,

Pela terrível ignorância,

Vamos lembrar que esse irmão

Também tem sua importância.



É quem nos traz as virtudes

Da paciência e compreensão.

Se nos causar inquietudes,

Vai-nos longe a perfeição.



Esse ódio há de ficar

Em nosso negro passado.

Quem quiser ir devagar

Odeie feito danado.



Há certas regras de ouro

P’ra melhorar nossa lida:

Rejeitemos o tesouro

A que a carne dá guarida.



Vamos plantar as sementes

Das virtudes evangélicas,

Esquecendo as conseqüentes

Destas paragens mais bélicas.



O homem julga que a força

Lhe promove a distinção.;

No etéreo, não há quem torça

Por tão sofrível razão.



Vamos pensar em que a fome

Seja rude provação.;

Mas nem todo ser que come

Desmerece a salvação.



Os sofrimentos que temos

De superar nesta vida

Não são terríveis, supremos:

Para todos há saída.



Se a consciência nos perturba

Pelas maldades de um dia,

Não pensemos pela turba,

Mas com mais sabedoria.



Se quisermos ser eleitos,

Vamos ter de trabalhar.

Todo dia existem pleitos:

Reservemos nosso altar.



Oremos pela cartilha

Deste Cristianismo vivo.;

Quem a segue compartilha

De um saber definitivo.















27



SAIBA DIRECIONAR A CRÍTICA











Nas asas doces do amor,

Busquemos a perfeição,

Mas saibamos onde pôr,

Com honras, o nosso irmão.



A vida é grave problema,

Se não houver equilíbrio:

A virtude mais extrema

Sofrerá com o ludíbrio.



Exijamos da vontade

Que assuma todos os atos,

Não com cilícios de abade,

Sem quaisquer espalhafatos.



Seja a liberdade plena,

Em função dos atos puros,

Que a consciência se asserena,

Mantendo-nos mais seguros.



Quem quiser brigar com Deus,

Por causa das suas leis,

Vai ter de dizer adeus

Às regalias das greis.



Vão dizer que lá no Inferno

As pessoas são queridas?

Mas qual regimento interno

As mantêm no amor unidas?



No Umbral, cada um por si,

Que o sofrimento é por todos.

Eu sei porque lá vivi,

Tendo penado em tais lodos.



Pode ser até que existam

Organizações formadas,

Mas eu peço: — Não insistam,

Que as coisas são malparadas!



Neste local em que estamos,

Há muito mais harmonia:

O bom fruto destes ramos

A qualquer agradaria.



É que todos, como um,

Criança, jovem e velho,

Têm uma herança comum:

Compartilhar o evangelho.



Ao pensarmos nas esferas

Em que a luz esplende mais,

Evitemos as quimeras,

Ajamos como imortais.



— Isso é quase inexeqüível,

Que a carne nos pesa tanto!

Para o Pai nada é impossível:

Enxuguemos nosso pranto.



Valei-nos, caro escrevente,

Que a nossa voz emudece:

Concentre-se fortemente,

Fazendo uma bela prece.



Sabemos ser o cansaço

Sobrecarga perigosa,

Que o calor, no seu espaço,

Vai impedir nossa glosa.



Parecem ser de brinquedo

Os versos postos em gomos,

Mas, se cá viesse cedo,

Veria como os compomos.



De manhã, tudo é alegria,

Ao fazermos a poesia,

Que a tarefa nos agrada.;

De tarde, a história difere:

É um cantar de miserere.;

O ditado é uma parada...



Claro que temos vontade

De mostrar que nos invade

A sensação dos perversos.;

Só por isso é que dizemos:

— Falta força nesses remos.;

São pobres os nossos versos.



Ao transferir essa pena

Ao médium, que se apequena,

Por ver a descompostura,

Nosso pranto corre solto,

Più de più de più de molto.;

Mas quem vai dizer que jura?...



Estamos dando u’a mão,

P’ra receber seu perdão,

Que o tempo se desperdiça,

Mas corre, p’ra demonstrar

Que aqui, dentro deste lar,

É que o nosso amor mais viça.



Esta poesia é bem pobre,

Mas não há alguém que cobre

Um resultado melhor.

Pelo menos nesta turma,

É proibido que durma

Quem só faz verso pior.



A aspiração desta gente

Não se mede pela mente

Dos artistas superiores:

Cada qual faz o que pode,

Como é natural no bode

Exalar fortes odores.



Qual vai ser nossa lição,

Se toda a satisfação

Se resume em brincadeiras?

É que achamos divertido

Fazer pensar: — Eu duvido:

Asnos não fazendo asneiras...



Pois aí é que se enganam,

Que destas frases promanam

Alguns tópicos de luz,

Pois a verdade é só uma:

Queremos ver quem assuma

O peso da nossa cruz.



Criticar pobres poetas,

Pelas lições incompletas,

É pairar longe da glória.

Como querer ser perfeito,

Se o irmão não for eleito,

Triste rejeito da escória?...



Vamos lembrar outros versos

Que também estão imersos

Nos valores evangélicos:

Aquelas quadrinhas primas

Com que se abriram as rimas,

Com sinais psicodélicos.



Perguntamos se este irmão

Reside em seu coração,

Pagando o aluguel com paz,

Se no momento comparte

Do sofrimento da arte

Que ao nosso povo compraz.



Demos uma grande volta,

Estimulamos revolta,

Carregamos nos obuses,

Mas o mais que conseguimos

Foi demonstrar por que rimos:

É que acendemos as luzes.;



As luzes do entendimento

Da razão deste tormento,

Que nos traz em marcha forte,

Desde o fatídico dia

Em que rimos da poesia

De quem teve melhor sorte.



O mestre nos deu trabalho,

Mas forneceu o agasalho

De uma pena sem temor,

Que o caro amigo que escreve

Tem o pulso doce e leve,

Por fazê-lo com amor.



Se fomos do seu agrado,

Não ponha a folha de lado,

Releia verso por verso.;

Vai parecer tudo novo,

Que o trabalho deste povo

Vai ter um valor diverso.



A arte desta poesia

É mostrar que não diria

Nada claro e cristalino.

Mandar o leitor pensar

Vem em último lugar,

Quando o sol está a pino.



Com a cabeça mais quente,

O pensar não há que agüente

Os frescores mais etéreos.;

Ao firmar os pés no chão,

Discipline o coração,

Torne estes versos mais sérios.



Resta só pedir a Deus

Que abençoe os versos meus,

Na hora desta leitura,

Que assim terei a certeza

De a chama manter-se acesa,

Na alma da criatura.















28



DE PEITO ABERTO











Velho amigo e companheiro,

Percorri o mundo inteiro

A buscar felicidade.

Encontrei-a aqui bem perto,

Quando pus o peito aberto,

Eliminando a maldade.



Era um velho compromisso

De prestar um bom serviço

A criatura da roda.;

Mas refugava a bondade,

Pois achava a caridade

Falácia que nos engoda.



Por isso, corri o mundo,

Franzindo o cenho iracundo,

A fugir do tal trabalho.

Mas vou contar um segredo:

É que tinha muito medo

Do esforço daquele malho.



E por não ter mais sossego,

Fui pedir um descarrego

Das dores conscienciais.

Queria voltar à vida,

Mas tinha de ver cumprida

A lei, p’ra não sofrer mais.



Procurei o tal sujeito,

Contei-lhe o que tinha feito

E deixei-o mui surpreso:

Pensei que tinha rancor,

Mas não se lembrou da dor.

Só o amor estava aceso.



Intrigou-me tal perdão,

Pois a boa vibração

Não me servira de nada:

Fora eu que me envolvera,

Como se envolve de cera

A corda p’ra ser queimada.



Eis aí, meu caro amigo,

O que aconteceu comigo,

Que dei com os burros n’água.

Hoje estou bem mais contente:

Pude vir dizer à gente

Que pouco restou da mágoa.



Quanto tempo foi perdido,

Só porque não dei ouvido

Aos conselhos da consciência.

Pois o pior disso tudo

É que fizera um escudo

Do rancor e da paciência.



Mas a prática difere.

Quem duvidar disso espere

Para ver como é que é.

Sem escudar, já é broca.;

Escudando, é à matroca

Que navega a nossa fé.



Por isso é que é bom fazer

Direitinho o tal dever,

Sem vergonha da verdade.

Se cada corda tem nó,

Busque trabalhar sem dó,

Por conquistar a bondade.



Não vim dar de farofeiro.

Este é sentir verdadeiro,

Fruto dum remorso brabo.

Despertar para a verdade

É propor que se apiade,

Sem sombra de menoscabo.



Foi bem curta esta mensagem,

Que exigiu certa coragem

Pelos versos de improviso.;

É que nem todas as rimas

Combinaram com os climas

Da natureza do aviso.



Quem sabe o meu bom leitor

Não se lembre do rancor

E me tenha perdoado.

Esse é um desejo que eu quis

Expressar, p’ra ver feliz

Quem foi tanto maltratado.



Vou suspender o meu verso,

Pois me sinto mais perverso

A cada rima que faço.

E vou pedir ao Senhor

Para regar com amor

Este último pedaço.



Pede-me o escrevente agora

Que não vá tão logo embora,

Pois o ditado está bom.

Sinto muito, companheiro,

Se eu ficar o dia inteiro,

Vai ouvir o mesmo som.



Careço de inspiração,

Pois não sou artista, não:

Estou só quebrando o galho.

Mas prometo que, outro dia,

Vou trazer melhor poesia.;

Não mais esta de espantalho.



Deseja até que eu conserve

Esta pontinha de verve

Que torna leve a poesia.

Agradeço comovido,

Porém, tal graça eu duvido

Que resulte em serventia.



Conversar com o escrevente

Leva-me um pouco p’ra frente,

Nos versos que agora faço.

O evangelho quedou fora,

Sei, porém, que a gente adora

Ver ocupado este espaço.



Se passou o treinamento,

Vou dizer que eu mais lamento

A despedida forçada.

Vim falar de mim somente,

Mas foi pouco, infelizmente,

Um tiquinho, um quase nada.



Solucionado o problema

Da falta de um sério tema,

Voltarei, pode aguardar.

Vou pedir para o meu guia

O bem da sabedoria,

Para pôr neste lugar.



Já desejam que eu termine,

Que os meus versos examine

E que agradeça ao Senhor.

Se tudo foi mui chinfrim,

Pelo menos para mim,

Prestou-se um grande favor.



Senhor, o meu tempo finda.

Fazei, pois, que seja linda

A rima que vou compor.;

Se eu não soube poetar,

Que faça o verso acabar

Na graça do vosso amor.















29



MUITO OBRIGADO











Antes que a tarde termine,

Irei dar o meu recado.

Meu convite não decline:

Estarei muito obrigado.



Vamo-nos, pois, entender,

Para que tudo dê certo:

Cada qual com seu dever,

Com o coração aberto.



A pior parte é a minha,

Pois caminho bem adiante.;

Mas o que faz a turminha

É também muito importante.



O nosso escrevente, então,

Trabalha de fazer gosto:

Empresta-nos ele a mão,

Para honra deste posto.



Nosso guia olha por tudo,

Severo supervisor:

Vê a forma e o conteúdo.

É o evangelizador.



Vêm do alto as vibrações

Que amparam todo o trabalho:

Elas põem nos corações

A sensação do agasalho.



É como se o bom Jesus,

Em seu trono de esplendor,

Enviasse sua luz,

Sua paz e seu amor.



Se completar a poesia,

Segundo a melhor doutrina,

Que outra coisa quereria

Pedir para minha sina?!



Ao Senhor, lá no infinito,

Peço para abençoar

Este grupo tão bonito

Que se juntou neste lar.



Faço versos tão benditos

Que nem pareço ser eu.;

Aos companheiros aflitos,

A consolação se deu.



Nesta hora tão feliz,

As dores são esquecidas:

Quanto é doce a diretriz

Do amor para nossas vidas!



Vamos esquecer o mal,

Um momentinho que seja,

E considerar normal

Esta tarde benfazeja.



Concentrados nas virtudes,

Vamos só fazer o bem,

Esquecendo as inquietudes

Que das dúvidas provêm.;



Elevar os pensamentos,

E ter a melhor vontade,

Para calar os lamentos,

Com base na caridade.



A esperança é bem supremo,

Em qualquer fase da vida:

Quando o perigo é extremo,

Vai mostrar-nos a saída.



Conturbações geram vícios

Difíceis de debelar.;

Não existem artifícios:

Será preciso enfrentar.



Se é doce a contemplação,

A vida ativa promete

Emprestar-nos forte mão

No dever que nos compete.



P’ra regozijo da alma,

Está próximo o final.

Todo o povo teve calma:

Nada saiu muito mal.



Se se afobar o escrevente,

Pedindo p’ra prosseguir,

Em coro diz toda a gente:

— Mais paciência, Wladimir!



Queremos só demonstrar

Que este trabalho compensa.

Se fosse em todo lugar,

Como aumentaria a crença!



A tristeza que consome

O povo que passa fome

Não dá tema p’ra poesia:

Um tal discurso poético

Daria tom mais patético.

Mau sinal p’ra rebeldia.



Existe quem tenha jeito

De expelir de dentro ao peito

Um grito de desespero

Que não ofenda os amigos,

Pois, diante dos perigos,

Nem toda dor é exagero.



Porém, o mais que acontece

É que, ao invés duma prece,

Reclama-se de injustiça,

Aumentando-se o rancor,

Quando se pretende impor

A dura regra da liça.



Se tivermos mais paciência,

Ao recompor a consciência,

Poder-nos-emos julgar.

A lei da causa e do efeito

É que vai mostrar direito

Se tudo está no lugar.



Se o amigo se sente assim,

Nessa situação ruim

De expiação e de dor,

Busque fazer simples versos,

Mas que não sejam perversos,

Por Jesus, nosso Senhor.



Quem sabe você componha,

Pondo de lado a vergonha,

Uns versinhos como os meus.

Os das quadras, esclareço,

Que teve por endereço

Agradecer ao bom Deus.



Queira o médium suspender

Esta espécie de poder

Que exercita sobre nós:

É tão grande a gentileza

De aceitar-nos nesta mesa

Que não se cala esta voz.



Vou enaltecer Kardec,

Que nos abriu este leque

De linda mediunidade,

Permitindo a todo o povo

Que se apresente de novo,

Se tiver necessidade.



Mas também será preciso

Enfatizar o juízo

Para a mensagem dar certo:

Tudo o que gerar excesso

Pode dar em retrocesso.;

Há que se ser mais esperto.



Com isto, vamos levando,

O velame todo pando,

O poema mar adentro.;

Mas a hora é de parar,

Nada mais há p’ra lucrar:

Vamos baixar noutro centro.



Obrigado ao caro amigo

Pela doçura do abrigo,

Pelo desafio supimpa.

O que mais me estimulou

Foi que você confiou

Que minh’alma estava limpa.



Continue sempre assim,

Até bem perto do fim,

Para a doce recompensa

De gozar grande alegria,

Por ter vencido a porfia,

Em banhos de benquerença.



Se venci meu compromisso?

Se dei conta do serviço?

Que penso do verso meu?

A luta foi generosa,

Pois lavrei a minha glosa

E o povo correspondeu.



Uma hora e quinze após,

Faço calar minha voz,

Neste murmurar sagrado,

Dizendo de coração,

Um a um, a cada irmão,

Meu melhor muito obrigado!















30



NO LIMIAR DA DOR











Nós não temos compromissos,

A não ser com os serviços

De assistir aos sofredores.

Nem por isso, bons amigos,

Nós não corremos perigos:

São muitos os malfeitores.



Hoje mesmo, tive um caso,

Pois cheguei fora do prazo

E me vi ali sozinho.

Precisei rogar a Deus

Que se alertassem os meus

E arrepiassem caminho.



Bem em tempo eles chegaram

E dali me resgataram.;

Foi uma sorte tremenda.

É que, naquele buraco,

Gente do balacobaco

Põe-nos na mente uma venda.



Porém, o fato importante

É demonstrar que, no instante

Em que roguei, me atenderam.

Quando me percebi só,

Não mais pude sentir dó,

Pois foi com que se ofenderam.



Na pele, abriu-se ferida,

Disfarçada desde a vida

Por cataplasmas de fé.;

E por tratamento sério

Dos tempos do cemitério,

Por um amor que deu pé.



Ao regressar ao abrigo,

Percebi o grão perigo

Da turbação da consciência.

Como foi bom o exercício

De me prevenir do vício

Da falta de previdência!



O fato, porém, curioso

É que fui muito fogoso

Na arremetida que fiz:

Sabia estar atrasado

Mas não quis deixar de lado

Desta turma a diretriz.



Vocês se lembram que acima

Coloquei, em boa rima,

Compromisso com serviço?

Dando atenção a um pupilo,

Por merecer um estrilo,

Acabei eu sendo omisso.



Onde está a perfeição?

Onde os dons do coração?

Onde a pureza da alma?

Não será aí que os seres

Têm de cumprir seus deveres,

Com paciência e com calma?



São as perguntas que faço,

Nesta hora em que o embaraço

Me faz perder a postura.

Em todo caso, a poesia

É um balde de água fria,

P’ra arrefecer a fervura.



Vim contar um episódio,

Nem de amor e nem de ódio,

Nem tampouco original,

Mas p’ra mostrar que, no etéreo,

Se você ficar aéreo,

Vai cair nas mãos do mal.



As minhas pobres feridas,

As quais pensava esquecidas,

Já começam a doer.

Essa é, porém, outra história,

Sem valor e sem vanglória,

Que eu não desejo escrever.



Os mestres me dão carinho

E vão mostrando o caminho

Para a recuperação.

Um deles está presente

Na harmonia que se sente

Nesta versificação.



Aliás, um bom irmão,

Para ver se fica são

Quem passa por tal aperto,

Dá de fazer brincadeira:

Destrambelha uma caveira,

Rogando que dê conserto.



Peço-lhes que me perdoem

Se estas rimas não lhes soem,

Como cantares do etéreo:

Fui tudo o que consegui

Do atropelo em que fugi

Daquele risco mais sério.



Fizeram questão os mestres,

Para mostrar aos terrestres,

Que eu viesse como estava:

Destrambelhado e instável,

Mas bastante permeável

Às noções que utilizava.



Vou dizer-me vencedor?

Só quando vencer a dor

Que me relembrou a morte.

Vou firmar um compromisso:

O de prestar um serviço

Em que tenha melhor sorte.



A partir de agora, o grupo

Pode soltar seu apupo,

Pois penso ter terminado.

Estou contente de novo,

Pois percebo que este povo

Quedou quase admirado.



Qual será do tema o efeito,

No coração contrafeito

De quem se julga perdido?

Fiz de tudo p’ra intrigar,

Com os frutos de um pomar

Cujo sumo é bem ardido.



Talvez tenha despertado

Para as dores deste lado,

Que se sentem como aí.

Mas não queiram conhecer

As refregas do dever,

Como aquelas que sofri.



Vou pedir ao bom Jesus

Que, em resplendores de luz,

Abençoe a toda a gente.;

Que não permita jamais

Nem os choros, nem os ais

De um sofrer inconseqüente.;



Que cada pranto vertido

Possa ter contribuído

P’ra melhoria de alguém.;

Que o choro mudado em riso

Seja sempre bom aviso

De que crescemos no bem.



Ao poetar cá na Terra,

Todos pensam que se encerra

Na glória a imortalidade.;

Logo após o cemitério,

Decifrado o tal mistério,

Vemos ser outra a verdade.



O valor desta poesia

Eu jamais compreenderia,

Se me mostrassem na vida.

É que as palavras de agora

Saem fáceis, sem demora,

Simplicidade da lida.



Na Terra, só lantejoulas.;

No Etéreo, vim de ceroulas:

Rima pobre num bom verso.

É que, dentre as qualidades,

A de perder as vaidades

Mostra quem não é perverso.



Se me derem muita corda,

Começo roendo a borda

E vou pastar no recheio.

Reconheço que este clima

Está preparando a rima

P’ra terminar o recreio.



Como última lição,

Rezem de bom coração

Um pai-nosso, com amor,

Rogando p’ra toda a gente

Um desempenho excelente,

Quando o verso for compor.















31



COM O MÉDIUM ABATIDO











Eu vim compor uns versinhos,

Para mostrar os caminhos

Que nos trazem para cá.

São ruelas tortuosas

E alamedas olorosas:

De tudo um pouquinho há.



Um companheiro mais lesto

Chega logo, se lhe empresto

Minha motoca de fluidos.

Põe-se, então, a versejar,

Querendo presto acabar,

Mas são muitos seus descuidos.



Outro chega devagar,

Estando a resfolegar

Pelo esforço sobre-humano.

Quer o verso mui perfeito,

Mas em tudo acha defeito.

Que terrível desengano!



Há quem venha com gloríolas,

A espoucarem tais varíolas,

Em surtos descomunais.

E tropeçam no começo,

Os pés métricos no gesso,

Só se ouvem os seus ais.



Chegam tímidas moçoilas,

Mas, por serem rudes zoilas,

Julgam-se fracas de idéias.

Alguns versos lhes saem bons,

Se se julgarem os sons,

Mas onde o mel das colméias?...



Este aqui chegou mansinho

E falou do desalinho

Dos companheiros que falham,

Não por falta dum assunto,

Mas porque, com mau defunto,

Ótimas velas não calham.



Falece-me a inspiração,

Que está triste o coração

De quem escreve por mim.

Vim dar o tom da comédia,

Mas topei com a tragédia

De par de mortes ruim.



Consolar vai ser preciso

A quem não teve juízo

E pôs fim à própria vida.

Mas como chegar-lhe perto,

Se atingiu, com tiro certo,

A pessoa mais querida?



Eu não sei ajuizar

A respeito do lugar

Em que se encontram os dois.

Vamos orar uma prece,

Que é tudo que se oferece:

Recompor virá depois.



Eis a luta que enfrentamos,

Quando a dor descai dos ramos,

No luto do companheiro.

Deseja colaborar,

Mas se põe a divagar:

Cá não fica por inteiro.



Porém, cumpre o compromisso

De nos prestar o serviço,

Apanhando estes ditados.

Quer concentrar-se de todo,

Quer que o verso venha a rodo,

Quer as leis e os resultados.



A julgar-se pela rima,

Vai utilizando a lima,

Desgastando o nosso estilo.

Quase nada já nos sobra,

Mas o pobre até se cobra,

Por não se esquecer daquilo.



Talvez queira ver no verso

Um conselho incontroverso

Que lhe dê tranqüilidade,

Mas nada de xeque-mate,

Que seria disparate

Ou falta de caridade.



Afogar-se no trabalho

Talvez seja um bom atalho

P’ra desfazer a lembrança.

Mas pensar mais positivo

Vai tornar muito mais vivo

O sentimento-esperança.



Ao rezar de coração,

Confiando no perdão

De Jesus, nosso Senhor,

Iremos dar prova certa

De que a porta está aberta

P’ra receber seu amor.



Ao fazer esta poesia,

Neste triste fim de dia,

Pranteio a dor do colega.

Se lhe falei de esperança,

É que o coração não cansa,

Quando o afeto não se nega.



Vamos pensar no futuro,

Se o nosso dia foi duro,

Que a verdade sobressai.;

Sabendo que há justiça,

Ninguém vai fugir da liça.

Graças lhe damos, bom Pai!



Desculpe-nos o escrevente

Com a insistência desta gente,

Nestes versos tão sem jeito.

Mas não tínhamos saída:

Se falhássemos na lida,

Era falta de respeito.



Vamos pôr no mar o barco,

Que este dia foi um marco,

Na contingência da morte.

Se os nossos atos são tortos,

Socorrer-nos-ão nos portos:

Sempre há quem nos conforte.



Se o remo se desempena,

A sorte não é pequena:

É alegre o desafogo.

Se se quebrar a madeira,

Acendamos a fogueira,

Pois também nos serve o fogo...















32



AUTO-ANÁLISE











Como é boa esta acolhida!

Faz pensar em que, na vida,

A amizade é bem supremo.

Agradeçamos ao Pai,

Pois aqui está quem vai

Colocar força no remo.



Sabemos que é bem difícil

Tornar este verso físsil,

Para a transmissão do etéreo.;

Mas passamos som a som,

Pois tem o médium o dom

De tornar o ato sério.



Quando brincamos deveras,

Ficam longas as esperas,

Pois tais rimas não se encaixam.;

Ao falar com propriedade,

O médium se persuade

E as freqüências não se abaixam.



O tema que ora trazemos

É o melhor que hoje temos,

Dentre todos os rascunhos.

Portanto, fique conosco,

Ajudando em cada enrosco,

Pois não regemos os punhos.



A amostragem foi perfeita,

Já que o médium nos aceita,

Apoiando-nos com gosto:

Os verbos que desejamos

De pesados quebram ramos,

Mas o texto sai composto.



O sexteto logo acima,

Tendo em vista sua rima,

Ficou um tanto forçado.

Demonstrou-se, no trabalho,

Que o médium nos quebra o galho:

Eis aqui o resultado.



Sugerimos as idéias,

Como abelhas nas colméias,

E dispomos certas rimas.

Os metros se distribuem,

Quando todos contribuem,

Na formação destes climas.



A constância das palavras

Dá às nossas pobres lavras

Os recursos costumeiros.

Por isso é que nossos versos

Nós chamamos de perversos,

Sempre iguais, desde os primeiros.



Este estilo ajuda o povo

A passar tudo de novo,

Só com poucos atropelos.

Poetar fica bem fácil.;

Caso a rima seja grácil,

Quem vai tirar nossos pêlos?...



Seresteiros do improviso,

Este aqui é paraíso

De pura satisfação!

Anotamos tal assunto:

O médium chegando junto,

É o repente da escansão.



Decore, pois, este estilo:

Ao se ver como pupilo,

Fará versos de roldão.

Mas, para evitar problemas,

Faça um rol de nobres temas,

Que os mestres aprovarão.



Mas só dos versos não fale,

P’ra que o tema não se iguale

Com os muitos desta turma.

A repetição nos cansa:

Mude o ritmo da dança,

Evite que o leitor durma.



Este aqui é um tour de force:

Nossa mente se contorce

Na feitura do estribilho.

Há que ser mui generoso

Para se sentir formoso

Este simples trocadilho.



É por isso que dizemos

Que pomos força nos remos,

Para o barco deslanchar,

Pois é na sonoridade

Que concentrar-se bem há-de

A excelência do rimar.



Didaticamente agora,

Esta lição se deplora,

Pois o ensino está capenga.

O mestre faz muita força,

Mas o mal — quem há que torça,

A fugir da lengalenga?...



Desocupados-poetas,

Principiantes-estetas,

Exercício em disciplina:

Comecemos bem aos poucos,

P’ra que os médicos e os loucos

Se componham co’a Doutrina.



Os ruídos da poesia

São testes p’ra melodia

Que se firma em nossa mente.

Indo assim bem devagar,

Quando menos se esperar,

O verso estará presente.



— Que desperdício de forma! —

É o que o médium nos informa

Que vai dizer o leitor.

Paciência, se tal serviço

Só perfaz o compromisso

De aprender este labor.



As outras turmas, no entanto,

Em versos de mais encanto

Já mostraram os caminhos

Que vão seguir as pessoas,

Para cantarem, em loas,

De Jesus os bons carinhos.



Seremos nós diferentes

Ou somos apenas entes

Carentes de orientação?

Contingência do trabalho,

Queremos que o forte ralho

Seja ouvido e dado não.



Muitos trazem vozes rudes,

A conclamar p’ras virtudes,

A lembrar a imperfeição.

Outros querem, simplesmente,

Que a atitude dessa gente

Se concentre no perdão.



Quanto a nós, sempre estaremos

A puxar os nossos remos,

Levando o barco p’ra frente,

Agradecendo ao Senhor

Seja o ventinho que for,

P’ra irmos mais levemente.



Cada qual faça o que possa,

Sem medo de levar coça

Dos Espíritos de Luz:

Quanto mais alto estiverem,

Mais quererão que prosperem

Os ensinos de Jesus.



Classifique o nosso esforço,

Coloque a gente no corço

Que se encaminha p’ra Deus.

Este exercício é dos tais

Que provocam nossos ais:

Barrabás entre os judeus.



Depois releia o poema

E descubra qual o tema

Que ficou meio escondido.

Discuta com os parceiros,

Dê uns tiros bem certeiros,

Não pense em tempo perdido.



Resolvido o tal mistério,

Há de se ver que é bem sério

O estudo qual o propomos:

Nos galhos brotam as flores,

Carícias de belas cores,

Só depois surgem os pomos.



Ao final, a boa prece

Vai mostrar que se oferece

Um prêmio para os amigos.

Todos vão sentir que o Alto

Não requer que se dê salto:

Esse é pregão dos antigos.



Junte agora a sua voz

À prece que todos nós

Recitamos a Jesus:

— Mestre, dai-nos vossa bênção,

P’ra que vossos filhos vençam,

Neste caminhar de luz.















33



CRITERIOSAMENTE











Quem quiser fazer poesia

Deve vir com bonomia,

Bem disposto e muito alegre,

Para dizer aos terrenos

Uns conselhos bem amenos,

P’ra que no clima se integre.



Esta turma é bem folgada,

Mas não deixa passar nada

Que possa prejudicar.

Preste, pois, muita atenção

No tônus do coração,

Que não pode disparar.



Faça versos de improviso

Mas que tenham muito siso

Dentro do tema estudado.

É que o médium, muitas vezes,

Julga as rimas bem soezes

E deixa você de lado.



Mas não leve nosso aviso

Ao ponto do prejuízo

Para a comunicação:

Se você der um jeitinho

De mostrar que tem carinho,

Sai-lhe fácil a escansão.



Será que este próprio verso

Terá destino perverso,

Ou fluirá normalmente?

Não depende só de nós

Fazer ouvir nossa voz,

Mas também deste escrevente.



Que pensará o leitor?

Que seja a rima o que for

Não foi feita cá no etéreo?

Ou dirá tão simplesmente

Que tudo o que o médium sente

Se transmite do mistério?



Precisa ter confiança

Em que o verso bem se alcança,

Com tranqüilidade e calma.

Quanto menor a folia,

Mais perfeita a melodia,

A demonstrar nossa alma.



Recados para os colegas

Que aguardam por tais refregas

Diante do povo humano?

Pelo Senhor, Jesus Cristo,

E os encarnados com isto:

Não vão entrar pelo cano?



O que fazemos responde

Aos que perguntam por onde

Vão os pensamentos nossos.

A preocupação de agora

Estará fora de hora,

Quando os corpos forem ossos.



Assim, não se perde vaza:

Sem sair de sua casa,

O leitor fica sabendo

Que o progresso que se espera

Para o tempo desta esfera

Exige esforço tremendo.



Fica sabendo também

Que os temores que hoje tem

Perduram nestas paragens.

Por isso é que os nossos mestres

Fazem versos p’ros terrestres,

Com variegadas mensagens.



O alunado segue apenas

Os conselhos das amenas

Recomendações p’ros versos.

Fazem força, puxam remos,

Dão de si os bens supremos:

Em angústias vão imersos.



Ao chegar o belo dia

De vir ditar a poesia,

Sentem ânsias e gorgulhos.

Aos poucos, porém, a glosa

Mostra um mundo cor-de-rosa,

Nestes suaves mergulhos.



Aí, a doce harmonia

Se confunde co’a alegria

De ver os versos na tela.

Um coração generoso

Vai sentir bem forte o gozo,

Mesmo não sendo tão bela.



Esse é o meu caso, afinal,

Que este verso é bem banal

Mas me dá satisfação.;

Sai até com sacrifício,

Com cacoete e com vício,

Mas vem cheio de emoção.



E vou deixar na lembrança

Que é preciso confiança,

P’ra alcançar tal resultado.

Vou dizer, com muito gosto,

Que me instalei neste posto

E não fui posto de lado.



Agora virou brinquedo,

Pois perdi o forte medo

De enfrentar este trabalho.

O que faça nesta hora

Só vai mostrar que melhora

Quem aqui chegou paspalho.



Quis justificar meu tema,

P’ra evitar que o povo tema

A hora de poetar.;

Mas devo dizer que, em suma,

Não há fórmula nenhuma,

A não ser ir devagar.



É que a turma toda ajuda,

Sem necessitar de arruda

Para afastar os fantasmas.

Se o compromisso for forte,

Não existe azar ou sorte:

Só transfusão destes plasmas.



Quis muito simples os versos,

Por isso os erros dispersos

Na imprecisão das palavras.

É uma questão de bom gosto

Não promover rude encosto

Dos companheiros nas lavras.



Ao final, não há quem fuja

De lavar a roupa suja,

Nos quintais desta Escolinha.

É que a próxima parada

Exige a roupa engomada:

Ninguém vai sair da linha.



As virtudes são o toque

P’ra que não sofra remoque

A perfeição do poema.

Mas isso não é p’ra nós,

Que temos rouquenha a voz

E nos perdemos no tema.



O que fica disto tudo?

Nosso esforço, sobretudo,

Para completar a estrofe.

Nada mais que se aproveite,

Que esta vaca não dá leite,

Nem o verso é mais que bofe.



Demos vozes aos leitores

E pintamos com tais cores

A opinião mais geral.

Mas o médium, generoso,

Achou tudo aqui gostoso,

Belo, bom e coisa e tal...



Senhor, olhai pelos rudes

Que não têm sutis virtudes,

Nesta expressão dialética,

Querendo alcançar vitórias,

Nas rimas contraditórias,

De noss’arte não poética!



A simplicidade manda,

Com diretriz formidanda,

Que se respeite o leitor.

Por isso, encerro o poema,

Sem resolver o problema,

Mas em paz e com amor.















34



O EXEMPLO DE JESUS











Ao recebermos a luz

Da bondade de Jesus,

Em plena felicidade,

Agradeçamos ao Pai,

Que a partir de então se vai

Exercer a caridade.



Para se chegar ao ponto,

Há que se dar o desconto

Dos percalços doutras eras:

Antes de sermos eleitos,

Já fomos muito imperfeitos,

Já rosnamos como feras.



Eis a luta grandiosa

Que pelas dores se dosa,

Um pouco de cada vez.

Serão tantos os perigos

Como são os bons abrigos,

A cada bem que se fez.



Não há que se envergonhar

De ter vindo devagar:

O amor é definitivo.

O sentimento de agora

Não se perde, só melhora.;

Fica sempre bem mais vivo.



De resto, quem é que pode,

A menos que nos engode,

Dizer-se sempre perfeito?

Quem quer crescer nos amores

Há de superar as dores:

Nunca existiu outro jeito.



Jesus, o exemplo divino,

Demonstrou, em seu ensino,

Que as ações são p’ra valer:

— Vende tudo e dá aos pobres,

Não te apegues a esses cobres,

Se com Deus queres viver...



Eis o batismo da dor:

Desprender-se do valor

Que nos impôs a matéria.

Em tempos de sofrimento,

É bom ter no pensamento

Que existe coisa mais séria.



A carne se degenera,

Pois é próprio desta esfera

Extinguir a criação.

A alma, no entanto, segue.;

Então, é bom que carregue

O instinto da perfeição.



Hão de pensar que esta gente,

Um pouquinho ao menos, mente,

Ao exigir tal virtude,

Que os pastores de outra seita

Dizem que Deus bem aceita

Quem obrou sem inquietude.



Deus aceita a todo o mundo

Que tenha sido fecundo,

Que tenha cumprido a lei,

Dentre todas a mais grave,

A fidelíssima chave,

A de amar a Deus e à grei.



Não há, pois, que errar o rumo:

Para ir-se ao supra-sumo,

Há que ser bom ao extremo,

E conhecer o universo,

Em felicidade imerso,

Sabendo o peso do remo.



Ao dar o primeiro passo,

Adentrando o novo espaço,

Humildade e cortesia.

Quem reconhece os seus erros

Aproveitou os desterros:

Nada mais se requeria.



Examinando a consciência,

Percebe-se a equivalência

Entre o progresso e a dor.

Se não se encontrar revolta,

Toda presilha se solta,

Seja a entidade quem for.



Eis indício muito claro

De que o Pai não é avaro

Em suas bênçãos e graças.

Como filhos quer a todos,

Só não permite os engodos

Do que se rói pelas traças.



Muito mais eu vim dizer,

Mas não quero só entreter

Quem no tédio leva a vida.

Ponha-se logo na luta,

Que é preciso força bruta,

P’ra levá-la de vencida.



Como é belo o nosso verso!

Eis sentimento perverso,

Se ficarmos só com isto.

Se fosse esse amor poesia,

Jesus, em paz, nos diria.;

Mas não co’a força do Cristo.



O amor transcende esta glosa.

Por mais seja vigorosa,

São apenas simples lavras.

Na alma, em letras de fogo,

Fique gravado este rogo,

Que se perde nas palavras.



Dai-nos, Deus, a vossa graça

Dessa pureza sem jaça

Para subirmos a vós,

Levando conosco a gente

Que o vosso amor também sente,

Conquanto lhe cale a voz.















35



VERSOS RUDES











Querido amigo escrevente,

Esperamos que apresente

Boa vontade no achego,

Que o povo desta poesia

Nada aqui produziria,

Se não houvesse sossego.



Na terra do desperdício,

Tudo gera triste vício,

Rancor, desordem e guerra:

O povo aprende a malícia.;

Bandido vira polícia.;

E o progresso mais emperra.



Não pensem que o nosso verso

Em sonhos virá imerso,

De fulgores colossais:

Só falamos desses crimes

Para que sejam sublimes

Os humanos ideais.



O contraste é vigoroso,

Se, das rimas neste gozo,

Caímos na realidade.

É que a vida que campeia

Nos mostra que será feia

A procura da verdade.



Ao lembrarmos Jesus Cristo,

Que sofreu também com isto,

Vamos sentir compaixão,

Que, ao invés de sua luz,

Se dependuram na cruz

Os que não se salvarão.



Inútil tal sofrimento,

Quando gera só lamento,

Tristeza, ódio e rancor.

Ao fazerem suas contas,

As pessoas ficam tontas,

Sem se poderem compor.



Vão dizer que houve progresso,

Não sendo bom o sucesso

Nestas camadas terrenas.

Só expiação e dor

Não terão qualquer valor,

Não sendo as lutas serenas.



Atrasos no pensamento

Retardam os julgamentos,

No exame consciencial.

Quem embrutece a cabeça

É provável que se esqueça

Da natureza do mal.



Que responsabilidade

Tem quem não se persuade

De que o social é importante!

Egoísmo concentrado

Vai deixá-lo ali de lado:

É a Lei que nos garante.



Espiritismo é agora,

Quando se ri ou se chora,

Na pobreza ou na riqueza.

Misericórdia divina

Não considera essa sina,

Mas o que se põe à mesa.



Nesse mundo de injustiça,

De que adianta muita missa,

Se os irmãos não se socorrem?!

Os valores que se prezam

São direitos que se lesam,

E são muitos os que morrem.



Como crescer na miséria?

Como fazer coisa séria,

Com o cérebro embotado?

Hoje, a doença e o vício.;

Depois, no escuro, o bulício:

Ninguém sai regenerado.



O círculo, então, se fecha:

Não existe qualquer brecha,

No setor material.

Encarnar se torna inútil:

Para coração tão fútil,

É melhor ser animal.



No báratro, a acusação.

Quem terá ali razão,

Se ninguém for perdoado?

A dor, então, não melhora.;

O socorro mais demora:

Quem é bom ficou de lado.



Ao voltarem para a Terra,

Continua a mesma guerra,

Com os papéis invertidos:

Na miséria e sem poder,

Quem não cumpriu seu dever,

Sob o jugo dos feridos.



O que se diz da vingança

É que nunca mais se cansa,

Sofra, embora, o vingador.

Esse pobre nunca sabe

Que perdoar também cabe,

Que é sublime ter amor.



Peço perdão ao amigo.

Não queira brigar comigo,

Pela rudeza dos versos.

Enfrentei a triste sina

De pôr de lado a Doutrina,

Para pregar aos perversos.



Às vezes, a indisciplina

Pela dor também ensina,

Lamentavelmente, embora.

Com os vendilhões do templo,

Jesus Cristo deu o exemplo

Que até hoje inda vigora.



Tinha razão o poeta

Que disse ser incompleta

A poesia da miséria.

Bem melhor que, em pobre glosa,

Teria ralhado em prosa,

Co’argumentação mais séria.



É que estive muito triste,

Quando vi que o povo insiste

Em cometer tanto crime.

Aí, pensei nesta rima,

Como disse mais acima,

A ver se alguém se redime.



Senhor, perdoa o que peca,

Que essa raiva jamais seca,

Que é rio que torna oceano.

Põe de lado o sofredor

Cujo único valor

É saber que houve engano.



Dá ao socorrista ativo

Um sentimento mui vivo

De esperança no porvir.

Retempera esta poesia,

Pondo fé em que a alegria

Decorre do evoluir.















36



FAÇA MELHOR QUE EU











A rotina destes dias

Faz florescer as poesias,

Num crescendo formidando.

Não perca, pois, este impulso:

Nunca há de ser avulso

Quem estiver recitando.



As obras não são extensas,

Mas representam as crenças

Dos alunos da Escolinha,

Misto de estudo e vivência

Que, sem muita competência,

Dia a dia o povo alinha.



Há quem fale de si mesmo,

Porém, não caminha a esmo,

Que os maiores nos amparam,

Sempre atentos para os versos,

Que não querem ver perversos,

Pelos quais muito lutaram.



É importante que se diga,

Até mesmo à moda antiga,

Que a poesia disciplina:

Obriga a pensar na alma,

Dá aos seres bem mais calma

E faz valer a Doutrina.



Eis a razão por que o povo,

Vira-e-mexe, vem de novo

Propor alto desafio,

Pedindo que a turma toda,

A obstar que a alma açoda,

Em versos demonstre brio.



Não faça disso repente,

Mas hábito permanente,

Compondo bem devagar.

A cada versinho seu,

É bom passo que se deu,

É barco que singra o mar.



Esta arte é muito antiga,

Mas hoje em dia periga,

Que a leitura se perdeu:

Todo o povo vê tevê,

Todo, sim, mas não você,

Que vai dizer que nos leu.



Brincadeiras calham bem,

Mas não vamos deixar sem

Os ensinos costumeiros:

De repente, alguém que goste,

Leve de vencida e arroste,

Vai chamar-nos só de arteiros.



O grupo, em nossa oficina,

Preveniu-se co’a vacina

Dos poemas inconsúteis.

Quem faz versos só por gosto

Não assoma a este posto:

Todos hão de ser bem úteis.



Quem deseja utilidade

Nem sempre se persuade

De que o belo fique fora.

Aí, complica-se a rima

Que, para ser mais opima,

Torce e retorce e demora.



Faça versos como eu,

P’ra esta Musa seja ateu,

Pois tudo sai de carreira.

Camões se mexe na cova

Toda vez que alguém desova

Um verso sem estribeira.



Não ligue para o caolho

Nem p’ra aqueloutro zarolho,

O das estrelas que falam,

A menos que tenham feito

Algum verso mais perfeito

Em que a Doutrina não calam.



Eu sei bem que já fizeram

E que testemunhos deram

Destas rimas espiríticas,

Trazendo mais formosura,

Em doutrina toda pura,

Acima de quaisquer críticas.



Se eu tiver desrespeitado

Os colegas deste lado,

Perdoem vocês aí.

Quanto a mim, posso dizer,

Com o máximo prazer,

Que foi amor que senti.



Fazer versos mais bonitos,

Ampliando aos infinitos

Os seus reflexos de luz,

Vai passar pela doutrina

Que Kardec nos ensina,

Com todo o amor de Jesus.



Não pense que seja um templo,

Mas apenas rude exemplo

Estas estrofes marotas.

Flanando pela poesia,

Qualquer um melhor faria,

Não com estas rimas rotas.



É um estímulo que dou,

Num verso que não soou

Segundo a lição dos mestres,

Pois, com esta pena torta,

A rima sai natimorta,

Imprópria até p’ros terrestres.



Faça, pois, melhor que eu

E não dê de zebedeu,

Rezando com devoção.

No começo não é fácil,

Mas a rima fica grácil,

Se a fizer de coração.



Esta é a última partida

Desta turma reunida,

Que os versos também têm fim.

Só temos de agradecer

A quem cumpriu seu dever,

Sem achar nada ruim.



Nossos votos voam alto,

P’ra evitarmos sobressalto

Do nosso bom companheiro.

Outra gente aqui virá

Que, por certo, empreenderá

Trabalho bem mais faceiro .



Agradecer a Jesus

É retribuir à luz

Que nos mostrou o caminho,

E nos fez amar o mundo

Com sentimento profundo,

Dando ao Pai todo o carinho.

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