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Poesias-->SÓ SEXTILHAS -- 02/03/2005 - 06:52 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
WLADIMIR OLIVIER

















SÓ SEXTILHAS





PELOS ESPÍRITOS



PEDRO,

CARLOS

E

MARIA.









Charmant Esprit qui me console!

Frère béni, doux et pieux,

Qu’avec toi mon âme s’envole,

Qu’elle s’envole vers les cieux!

Oui, je t’aime, ange tutelaire.;

Avec bonheur je prends ta main.;

Je te suis, douce étoile.; éclaire

Le ciel où nous serons demain.



(Um espírita ao seu Espírito familiar. In Allan Kardec. Revista Espírita. Jornal de Estudos Psicológicos. Trad. de Júlio Abreu Filho. [s. ed.], São Paulo, EDICEL [s.d.] — Terceiro ano, novembro de 1860, p. 359.)





Sedutor Espírito que me consola!

Irmão bendito, doce e piedoso,

Contigo minh’alma se evola

Pois que se evole para os céus!

Sim, eu te amo, anjo tutelar.;

Com felicidade eu pego tua mão.;

Eu te sigo, doce estrela.; aclara

O céu onde estaremos amanhã.



(Tradução literal pelo médium.)



















Edição da CASA DO MÉDIUM



Rua Cinco de Julho, 1184

Indaiatuba — SP





ÍNDICE



PEDRO



1. Misturando as tintas ......................................

2. Em forma de parábola ......................................

3. Um pouco de história ......................................

4. Sob o poder da palavra ....................................

5. A aparência sob suspeita ..................................

6. Quase feliz ...............................................

7. Movimento de alma a favor .................................

8. O sentido da resignação ...................................

9. Sempre é tempo de começar .................................

10. No atropelo da morte ......................................

11. Do bom e do melhor ........................................

12. Pensando nos semelhantes ..................................

13. Compreendendo a reencarnação ..............................

14. A interpretação é toda tua ................................

15. Eu componho.; tu executas ..................................

16. Mundo de expiação e provas ................................

17. Sem medo de compor ........................................

18. Um de cada vez ............................................

19. Meditando sobre o tempo ...................................

20. Alegre com moderação ......................................

21. A luta se justifica .......................................

22. Por ti e por mim ..........................................

23. O mal maior ...............................................

24. Final feliz ...............................................





CARLOS



1. Como vai você, caro amigo? ................................

2. Reflexões poéticas ........................................

3. Desejando ser feliz .......................................

4. Não sejam os versos apenas sons ...........................

5. O que se aprende se aplica ................................

6. Resposta a uma injustiça ..................................

7. Vontade e criação .........................................

8. Em branco e preto .........................................

9. Orientação por tabela .....................................

10. Enfastiado? ...............................................

11. Abrindo o jogo ............................................

12. Para cumprir tabela .......................................

13. Quero redimir-me ..........................................

14. Tornando a rima leve ......................................

15. Poesia e vida .............................................

16. Sob tristes impressões ....................................

17. No capricho ...............................................

18. Meditem sobre isto ........................................

19. São contentamento .........................................

20. Fruindo sem comprometimento ...............................

21. A cada passo, uma pegada ..................................

22. Comentário imprescindível .................................

23. Reflexões natalinas .......................................

24. Carlos se retira ..........................................





MARIA



1. Meu nome é Maria ..........................................

2. A natureza moral dos versos ...............................

3. A provocação ..............................................

4. Lições além da vida .......................................

5. Confissões de um coração de mãe ...........................

6. Dando explicações .........................................

7. Reviravolta final .........................................

8. Com algum discernimento ...................................

9. Preparando os espíritos ...................................

10. Vencendo o primeiro obstáculo .............................

11. Dominando as circunstâncias ...............................

12. Cada um dá o que tem ......................................

13. Continuação pura e simples ................................

14. Indo ao ponto nevrálgico ..................................

15. Breve inventário ..........................................

16. Sinceramente alegre .......................................

17. Assunto obrigatório .......................................

18. Aperfeiçoando o desempenho ................................

19. Eu, pecadora, me confesso .................................

20. Promessa de vida ..........................................

21. Batismo de amor ...........................................

22. Inventário ................................................

23. Obrigado, amigo! ..........................................

24. Saudosa despedida .........................................









PEDRO













1. Misturando as tintas



Ensinam-me na escola a compor versos

Mas todos que lhes mostro são perversos,

Que as regras são inúmeras, sutis.

Na Terra, nunca estive em tal seção,

Que a prosa me atraía o coração,

Achando os sentimentos tão-só vis.



Castigam-me meus mestres mais por isso?

Jamais, pois assumi tal compromisso

De desfazer o imbróglio do desprezo.

Se venho, com lisura, demonstrar

O quanto o meu modelo é exemplar,

Preciso dar de mim, sem contrapeso.



São duas as sextilhas logo acima

Mas são o suficiente, em justa rima,

Para trazer ao povo o meu motivo.

Agora vou pedir inspiração

Ou mais, porque preciso da demão

Do professor que ajuda, estando vivo.



P’ra isso acontecer de forma boa,

Eu vou querer que escute, a ver se soa

Harmoniosa a trova no conjunto.;

Mas peço que não trave a brincadeira,

Por mais que seriedade a mim requeira,

Pensando que não passo dum defunto.



A estrofe aí de cima me sugere

Que devo desfilar o miserere,

Pelas loucuras todas lá da vida.

Senhor, este que escreve tão-somente

Aspira a tornar pública a semente

Que aqui plantou, após tremenda lida.



Falar das cabeçadas lá da Terra

Assunto muito pobre o verso encerra,

Que a gente quer sentir a evolução.

Assim, cada pecado compromete

Bem mais, quando a atitude se repete,

Que é como não farei no meu refrão.



As aulas me divertem, educando,

Porquanto macambúzio já não ando,

A suspirar, arrependido e tolo.

Agora, eu já trabalho livremente

E busco dar auxílio a toda a gente:

É regra deste verso, ao vir propô-lo.



Se repetir nos traz monotonia,

Que a novidade é gancho p’ra poesia,

A prece agradecida é de rigor.

Assim, a cada dia, uma palavra

Virá para adornar a minha lavra:

Jesus, pedi ao Pai bênçãos de amor!







2. Em forma de parábola



Fogoso, este poeta vem dizer

Que tem de aqui cumprir o bom dever,

Embora não compreenda quase nada.

Se o verso que produzo tem um fim,

Preciso que o leitor faça de mim

A idéia mais precisa, equilibrada.



Não sou, no fim do túnel, a esperança

De que o saber na rima já se alcança,

Pois a pílula o metro sempre doira.

O fato de compor arrevesado,

Conforme nesta estrofe eu abrocado,

Não é sinal de luz imorredoira.



O que vem sucedendo é, simplesmente,

O meu desejo imenso e conseqüente

De tudo declarar segundo o mestre,

Pois o saber não pode ser simplório,

Que as leis me pedem prenhe relatório,

Como a ciência trata o ser terrestre.



Analisando bem o meu assunto,

Não deves preocupar o teu bestunto

Em encontrar primores racionais.

As coisas se complicam por si só:

Se o homem, quando morre, vira pó,

O seu saber irá crescer bem mais.



Juntando este prazer de vir compor

Ao tema que coloco ao teu dispor,

O resultado anima e me deslumbra.

Porém, se tu te encontras sem caminho,

Pensando que o poeta é pobrezinho,

Acende a luz e sai já da penumbra.



A gente quer que tudo esteja à mão,

Sem suspeitar que os outros crescerão,

Por terem devotado a vida à luz.;

Mas, antes de fazer só caridade,

A sua inteligência o mal invade,

Para entender melhor a sua cruz.



Não foi Jesus quem disse que os melhores

Iriam perceber os pormenores

De seu ensino em forma misteriosa?

Não criticou também a sua gente,

Que tudo perguntava ingenuamente,

Jamais dando resposta à sua glosa?



O mesmo irá sentir o meu amigo

Ao prosseguir na trova aqui comigo,

Embora seja menos problemática.

Mas, ao fazer as contas deste ensino,

Jamais irás dizer que discrimino

Quem nunca se afinou co’a matemática.



Senhor, aceita o forte sentimento

De simpatia e amor, pois me contento

Em vir ditar uns versos com sentido.

Se longe da beleza paira a rima,

Salpica pela trova a tua estima,

Dizendo ao meu leitor que não duvido.







3. Um pouco de história



Tão logo aqui cheguei, fui recebido

Por muitos dos amigos e confrades.

Não fora muito bom e tais verdades

Não eram p’ra ocultar, mas eu duvido

Que alguém mantinha ódio contra mim,

Por mais que para o gajo fui ruim.



Por isso, temeroso, os meus abraços

Se deram entre lágrimas de dor:

Pedi a cada um para dispor

De complacência para os rudes laços,

Que a vida fora breve, sem que desse

Para colher bons frutos dessa messe.



Não encontrei, porém, alguns sujeitos

Que me informaram a vagar no Umbral,

Porquanto era de todo natural

Não serem escolhidos nem eleitos,

Se tudo o que fizeram pela vida

Os sofrimentos d’alma convalida.



Assim, bem percebi que os que encontrei

Estavam num degrau mais adiantado.

Por isso é que p’ra mim foi de bom grado

Que recebi do mestre a boa lei

De que o resgate deverá partir

De quem conhece mais seu devenir.



Pensei ser devedor de toda a gente

E logo percebi que merecia

O mesmo sentimento de alegria

Aquele que, no escuro, descontente,

Pensava o desafeto vingativo,

Conforme o mau costume quando vivo.



Parti, com meus colegas, para as Trevas,

Em busca de algum ser não conformado,

Que as preces fazem bem, se o seu estado

Condiz com emoções menos malevas,

Seguindo por caminho tão estranho

Que os males não descrevo, pois me acanho.



Precisa que haja um Dante neste ponto

E o meu poema é simples como a prosa.

Por isso, a informação aqui se dosa,

Que o meu leitor protejo e dou desconto

Às dores que, tremendas, lhe traria,

Se tal fosse a intenção desta poesia.



Mais quero despertar quem tanto almeja

Vingar-se dos imigos lá da Terra.;

Portanto, o meu poema só descerra

A nobre, estimulante e sã peleja

Que deve combater quem não tem medo

De receber as dádivas mais cedo.



Estendo o lenitivo desta norma

Até p’ra quem perdoa e não se ofende

Co’as travessuras tolas de duende

Que quem lhe deve as custas não transforma,

Porque não pede ao Pai nem a Jesus

Que traga à escuridão alguma luz.







4. Sob o poder da palavra



Naturalmente, a vida sempre ensina

A distinguir os males pela dor.;

Também nos faz saber, por dons do amor,

Qual sorte nos aguarda, peregrina,

No mundo dos espíritos, após

A morte vir colher a todos nós.



Precisa que haja vista muito atenta,

Para livrar-se o gajo das quimeras,

Pois pairam muitos seres como feras,

Na região umbrática cruenta,

Que não se deram conta da importância

De sofrear da liberdade a ânsia.



Se existe algum rigor e disciplina,

Se estuda a sorte aquele que mais sofre,

Vai transformar o coração num cofre,

Para guardar as teses da doutrina

Que o Espiritismo trouxe para a luz,

Seguindo o ensinamento de Jesus.



Não tenho novidades p’ra contar:

Os versos servem só de testemunho.

Se tu desprezas tudo, eu me acabrunho,

Sem ver razão p’ra freqüentar teu lar.

Mas deixo esperançoso as minhas rimas,

Pois sei que me compreendes, que me estimas.



É muito humana a minha informação,

Que reproduz somente os teus valores,

Pois o meu mestre disse: — P’ra te pores

De bem com o leitor, não digas não.;

Mas mostra os benefícios de ser puro

Àquele que repete: Eu juro, eu juro...



E cita, caro amigo, os livros todos

Da lavra de Kardec, e bem do início,

Estimulando assim, sem artifício,

Que sejam ditos só uns bons apodos,

Alegres, feiticeiros, sem maldade.;

E crê que o teu leitor se persuade.



Por isso é que a leitura que hoje trago

É leve e prazenteira, quanto é útil,

Pois não traria aqui um tema inútil,

Querendo auxiliar, causando estrago.

Se pobre o meu compor a ti parece,

Alegra-me a lição e ganho a prece.



Quem tem discernimento para a crítica

Não deve elogiar-me facilmente.

O resultado é dúbio? Que me agüente,

Que minha idéia é firme e não política,

Pois dou na ferradura e outra no prego,

Que é como esta encomenda agora entrego.



Para pôr fim à trova deste dia,

Preciso já rogar por luz ao Pai,

Que o texto, certamente, agora vai

Mofar na prateleira, todavia,

Me resta uma esperança capital:

Que não se veja a rima como um mal.







5. A aparência sob suspeita



Por bem, eu consegui chegar aqui

E sem saltar um único conselho,

Pois p’ro meu mestre o mal do destrambelho

Está no relatar como vivi,

Sem demonstrar as causas destas dores,

Que é como pensam todos os mentores.



Obedecer é norma da Escolinha,

Porquanto o aluno prima ao repetir

Que, apenas com amor, nosso porvir

Será dos mais felizes. — Adivinha,

Ó tu que queres sempre ser glorioso,

Qual há de ser do vate o nobre gozo.



Eu digo, se tu pensas diferente,

Que a forma não é tudo para a glosa,

Que existe uma razão mais poderosa

Também p’ro conteúdo que se sente

Transposto para o verso, em claros sons,

Se tens do solfejar os altos dons.



Por isso é que é difícil ter sucesso

Na descrição simplista dos problemas:

Ao transformar os vícios nestes temas,

Ao bom leitor, com calma, eu sempre peço

Que não ponha na letra, oficialmente,

O pensamento puro desta gente.



Se digo ao meu amigo: — Tenho medo! —,

Não é p’ra interpretar minha poesia,

Querendo nela ver se eu não daria

Co’a língua nos meus dentes muito cedo,

Errando nos conceitos das virtudes,

Dizendo para ti: — Quero que estudes...



Existe quem com trena vem medir

Os decassílabos, conforme as normas,

E esquece que se dão às mesmas formas

Os temas mais diversos p’ra iludir

Quem venha, ingenuamente e sem cuidado,

Deixando os tais conselhos já de lado.



Se queres, bom amigo, ser feliz,

Procura, atende, ajuda, amarga e sofre:

Talvez tenhas de abrir o próprio cofre.;

Talvez tenhas de ouvir, como juiz,

O coração que acusa e que renega

O resultado injusto da refrega.



Mas, sempre que buscares ser perfeito

No bem que praticares, com Jesus,

Evita esta vergonha que seduz

Aquele que não mostra ter mais jeito,

Fazendo de propósito esta rima,

Apropriada p’ra que a luz se exprima.



Eu peço que Jesus também perdoe

Quem teve esta ousadia de rimar

Sem pôr qualquer sentido no lugar

Que tanto amor sustém, caso ressoe

Em forma de oração a nossa voz,

Medida e conteúdo só dos prós.







6. Quase feliz



Tranqüilo, sossegado, o coração

Me bate cá no peito, nesta hora

Em que posso dizer que o bem vigora

Nas almas que me ajudam no refrão,

Que existe muita paz e muito amor,

Nos braços de Jesus, nosso Senhor.



O quanto de atropelo dessa vida,

Que trouxe cá p’ro etéreo, apalermado,

Acaba de ser posto ali de lado,

Que a luz dessas virtudes me convida

A meditar nos feitos beneméritos

Que resultaram claros nos inquéritos.



Os passos que nós damos mais seguros

Aqui também darás, está bem certo,

Ó tu que nos envias do deserto

Que representa a carne aos morituros

O apelo p’ra que a peça que escrevemos

Contenha, nos informes, dons supremos.



Quiséramos tornar os versos claros

A ponto de fazer-vos bem mais sábios,

Mas tudo o que disserem nossos lábios

Não pode provocar quaisquer enfaros,

Que a messe que colhermos na existência

Reverterá em próvida ciência.



Assim, toda cautela é de rigor

No trato destes temas sibilinos,

Que os homens não compreendem que haja hinos

No extremo desta esfera exterior

E menos nos aceitam, se mostramos

Que pendem frutos doces destes ramos.



Lembramos de Kardec a receber

O galho da videira por sinal

Da rútila união transcendental,

Desenho que um bom médium com poder

Passou ao Mestre amigo e compreensivo,

Que nunca duvidou desse motivo.



Pedimos, por prudência e perspicácia

No tratamento lúcido das rimas:

Precisa que haja amor nas obras-primas,

Embora se compreenda alguma audácia.

Por isso é que devemos ser honestos

E superar, se houver, rudes doestos.



No foco destes versos, tua sina

A dar a nós o prisma da cesura,

Que é certo ser do Pai a criatura,

Conforme a lei que o Cristo nos ensina.

Não malhes contra nós mau sentimento.;

Procura perdoar o nosso intento.



Pedimos a Jesus que nos ajude

Nos versos que queremos sejam puros,

Mas, se os julgares só perversos, duros,

Aplica, em prol de nós, tua virtude,

Orando compungido a melhor prece,

Que o bem do amor é fruto dessa messe.







7. Movimento de alma a favor



Não vim p’ra perturbar o nobre amigo

Que segue nesta estrada pedregosa,

A ler os meus poemas quase em prosa,

Brigando algumas vezes já comigo,

Que o fruto do plantio amadurece,

Embora seja simples nossa messe.



Fazer o bem a cada irmão na estrada

Não deve ser difícil, quando a glosa

Se entende e seu teor sempre se dosa

Pelas virtudes áureas que arrecada

No estudo da doutrina, sério e justo,

Sem dar ao bom leitor sequer um susto.



Se devo partilhar este momento,

Obrando p’ra que a rima seja pura,

Não posso permitir a sinecura

Do gajo que me lê mui desatento

E peço, nesta forma literária,

Não seja a tua fé muito precária.



No etéreo, existem almas menos boas

Que atingem certo nível de instrução.

Pretendem demonstrar que o coração

Também sabe entoar algumas loas

Que trazem aos mortais contentamento,

Conforme, nesta trova, eu documento.



É pena que nem sempre é manifesta

A luta pela aura mais feliz:

Não deverás julgar que ninguém quis

Trazer o melhor verso para a festa

Das luzes da doutrina de Kardec,

Porque se encontra semi-aberto o leque.



Porém, quando a tristeza se avizinha,

Sugiro que retornes e nos leias,

Conforme as operárias, nas colmeias,

Repetem sua lide comezinha,

E faças a promessa de aceitar

Alguns dos nossos versos no teu lar.



Aí, irás pensar: — Quanto trabalho

Apenas na ilusão que possa ter

Sucesso na leitura e bem-querer

Algum leitor perdido, algum paspalho

Que renegou um dia esta leitura,

Porque pensou nos bens da sinecura.



Com a consciência lúcida, sagaz,

Ninguém irá dizer que perco a vez,

Que o verso que aqui dito tão burguês

Não pode despertar do amor a paz,

Que existe tal miséria pelo mundo

Que não vai alegrar-se um só segundo.



É certo o pensamento pelo irmão

Que sofre e se contorce na miséria,

Mas o meu verso é coisa muito séria,

A despertar a luz — sofreguidão

De quem participou como ser vivo

E agora vem dizer que está cativo.;



Cativo de Jesus, de sua bênção,

Que eu peço a todos nós, embora pobres.

Caso tu não me entendas, não me cobres,

Que eu rogo aos meus amigos se convençam

Que a prece, que se eleva muito pura,

Também irá dotar-te de candura.







8. O sentido da resignação



Nem tudo o que se diz nos versos meus

Passou pela cabeça dos leitores.;

Também não sei dizer quais são as dores

Que o mundo quer se mostre para Deus,

Que existe um compromisso com meu mestre

De seleção, no campo extraterrestre.



Assim também, resisto a vir compor

A demonstrar quais sejam as virtudes

Que elevam os perfeitos, p’ra que mudes

O proceder, na esfera inferior,

Sabendo quanto a luta é natural

E como o teu crescer anula o mal.



São teses que preciso referir,

Para que tu não penses ser mui fácil

Trazer composição de forma grácil,

A dar idéia falsa do porvir,

Como se a morte fosse tão gloriosa

Que produzisse apenas bela glosa.



As emoções fenecem mesmo aqui,

Que a glória não perdura porque a rima

Exige outros preceitos, como acima

Selecionei os temas que vivi:

A evolução produz o desafio

Que deve encher o ser de novo brio.



É bom, portanto, que o leitor ilustre

Aceite o verso humilde e se envaideça

De tê-lo já de cor e de cabeça,

A desejar um outro em que se frustre

A idéia do perfeito nestas trovas,

Porque sei que a mesmice tu reprovas.



Mas temos de passar por certas fases,

Para chegar mais longe no caminho:

Eu mesmo, sendo um vate, não me aninho

Nos louros da conquista, caso atrases

O teu progresso, nesta luta humana,

Na qual o superar da dor irmana.



Se meditares um pouquinho só

Naquilo que te digo nestas linhas,

Eu acho que, mui breve, te avizinhas

De refletir nas causas de teu dó,

Ao pôr de lado a vida de conforto,

Mesmo aceitando estar um dia morto.



Existem coisas que se obrigam tanto

Que não podemos vir com panos quentes.;

E mui pior será, caso alimentes

A falsidade de um pensar sem pranto:

O que devemos de firmar na alma

É que o futuro exige a fé que acalma.



Por isso é bom pedir, em cada prece,

Que seja a nossa ação esclarecida,

Para darmos sentido certo à vida,

Pois a felicidade se engrandece

Quando, por suportarmos nossa cruz,

Com muito amor, louvamos a Jesus.







9. Sempre é tempo de começar



Não posso esclarecer a quem duvida

Das falas cá do etéreo nestes versos

Se existem uns sermões no mal imersos,

Porquanto o vir provar não dá saída.;

Apenas acrescenta um compromisso

Aos temas doutrinários do serviço.



Aos poucos, a leitura compromete

O pensamento numa área nobre,

Terraço de esplendor, sem que se dobre

O espírito a pintar, folgado, o sete.

Então, alguns gracejos se permitem,

Caso com os ensinos não conflitem.



O bom humor da turma transparece

Apenas p’ra mostrar nossa alegria,

Que a dor dos sofrimentos não traria

Nenhum prazer a quem aí padece.

Se Jesus Cristo fosse consultado,

Talvez deixasse a cruz deitada ao lado.



Não é que as entidades se aborreçam:

Os homens é que sofrem pelo mundo.

Não posso vir dizer que me confundo,

Pedindo que as virtudes não se esqueçam.

Um pouco de juízo em cada qual

E logo indagarão: — Cadê o mal?!...



Por isso é que devemos sofrear

Os ímpetos que clamam contra a dor.

É certo que o sofrer não tem valor,

Se o gajo não aceita o seu lugar:

Os homens e os espíritos estimem

A sorte, caso peçam que hoje rimem.



Alguns hão de penar em cada linha,

Querendo copiar versos alheios.;

Alguns, tal como eu, fazem rodeios,

Pensando que o sentir os espezinha,

Querendo demonstrar uma ciência

Que só se ajusta ao bem com paciência.



É natural que tu também recuses

A tal tarefa espúria ao teu poder,

Porém, se te resolves a ceder,

Não vendo nestas trovas grossas cruzes,

Quem sabe aqui estarás, um belo dia,

Ditando, com prazer, tua poesia.



Começa, caro irmão, um sério estudo,

Apetrechando-te de rimas ricas,

Não tanto quanto à forma.; vê se aplicas

O teu discernimento ao conteúdo

E faze dessa vida o teu exemplo,

Guardando o coração em lindo templo.



Depois, pede a Jesus a melhor bênção,

Que a multidão vai ler e vai seguir

O ensino que ministras ao porvir,

Mesmo que os teus irmãos não se convençam

Que tu sofreste horrores ao compor,

Pois tal castigo é justo e tem valor.







10. No atropelo da morte



Se a dor de alguma perda mui te oprime

O coração, pois sofres tal desdita,

Pensa na cruz do Cristo e já medita

Que o tempo há de tornar o amor sublime:

Que as lágrimas de agora se depuram

No bem que as orações nos asseguram.



Se tens algum amigo sofredor,

Agita o sentimento em seu favor,

Abraça-o também e chora junto,

Que a dor que se reparte, em hora triste,

Demonstra que um destino mútuo existe,

Para que um dia versem outro assunto.



— Misericórdia, Pai! — hás de clamar,

Nas ânsias da tristeza do teu lar,

Por falta de algum ente mui querido.

Mas, tendo fé nos dons da sorte justa,

Verás que a vida é curta e que não custa

O tempo de encontrar quem foi perdido.



Não temos um conforto sem a prece,

Que a humanidade sempre nos parece

Em busca de esperança e lenitivo.

Por isso é que Jesus sofreu também:

Para mostrar que a dor se põe além

Dessa vontade simples do ser vivo.



É fácil vir compor uns pobres versos,

Enquanto os nossos entes vão dispersos

Mas sem curtir as dores mais agudas.

A hora mais premente da desgraça

Apaga da memória o bem sem jaça

E tu podes chorar, sem que te iludas.



Por isso é tão freqüente o desespero

Que o tempo desfará, sem exagero,

Apenas pelas novas esperanças

Que crescem nos anseios, finalmente,

De que se nutre o amor de toda a gente

E para o qual bem sei que sempre avanças.



O mundo que nos serve de morada

Não pode prometer na morte o nada,

Que a vida é só princípio e nunca fim.

Partir todos partimos: ninguém falha.;

Apenas o sofrer nos atrapalha.

Mas para quem partiu não é assim.



Se fez o bem na Terra a todo o povo,

Ao regressar p’ra cá, vai ver de novo

A turma que ajudou sem condição.

Se jovem ou bem velho é indiferente:

Precisa que haja amor tão simplesmente,

Para que o gajo ganhe a salvação.



Perdão, Jesus, se vim tão deprimido!

Aceita a minha prece sem sentido,

Porque não pus mais fé nos versos meus.

Mas dá a quem me lê sofrendo ainda

A doce compreensão que a vida finda

Segundo as leis do amor que vem de Deus.







11. Do bom e do melhor



É sábio todo aquele que pergunta,

Sem aceitar resposta incompreensível.

A informação do etéreo tem bom nível,

Se, ao conteúdo claro, o bem se junta,

Para explicar os tópicos da lei,

Dizendo, sem temor: — Isso não sei!



— Então, o que responde ao mal se atreve,

Por sugerir que o tema sem resposta

Assim há de ficar, porquanto arrosta

Quem traz para a poesia sempre leve

O seu conceito de pureza e fé,

P’ra não dizer de fato como é?



É claro que a poesia é simplesmente

Um bom lugar p’ro sentimento humano.;

E, quando venho te dizer que explano,

Com certa propriedade, a toda a gente,

Incluo na proposta que compreendas

O ponto da jornada e das fazendas.



Uma resposta simples não provoca

A reação comum nos indivíduos.

Aqueles nestes temas mais assíduos

Recebem bem melhor e sem fofoca

A informação veraz de quem não sabe

E fica a imaginar o que lhe cabe.



Se o texto fica curto além da conta,

Acostumado o bom leitor co’a rima,

Não queiras tu também negar estima

Apenas por chegar quem só te aponta

As falhas e os remendos de teus erros,

Lembrando aos imortais os seus enterros.



É certo que o poeta se abespinha,

Se alguém vem deduzir que o mal espalha.

Quem é que sempre é bom, que nunca falha,

Nem mesmo ao redigir sem entrelinha,

Apenas afirmando as tais verdades

Que tu conheces bem, sem que te enfades?



Aos poucos se compreende porque vim

Atormentar o meu leitor co’a trova,

Que a lei do verso não conhece prova

Que não provoque dor, perto do fim,

Pois a consciência deve ser ferida,

Se queres alcançar vencer na vida.



O que pode restar dum verso tosco

Que luta por fazer-se mui fluente?

A prece que se escreve, finalmente,

Ao perceber o gajo o seu enrosco,

Pois carregar a cruz não é vantagem,

Se não restar do texto uma mensagem.



Senhor, aceita a nossa despedida,

Enaltecendo o amor em cada verso,

Porquanto o sentimento vai imerso

Nas auras multicores desta lida.;

Abençoa quem honra o compromisso

E põe sobre o poeta o teu feitiço.







12. Pensando nos semelhantes



Entende, caro irmão, que esta poesia

Não vem p’ro desperdício do teu dia

Nem quer este que escreve o teu louvor.

A peça é p’ra que penses firmemente

Se existe algum motivo interferente

A te impedir de dar-me o teu amor.



Se julgas que meu papo é só balela,

Que a vida é bem melhor se, dentro dela,

Houver apenas gozo com prazer,

Que a dor que aqui desfilo é só imagem,

Que a morte há de pôr fim à tal viagem,

Coloca-te de frente ao teu poder.



A mente, por estranho que pareça,

Produz uma sentença na cabeça

De cada ser humano, aí na Terra.

No etéreo, o pensamento é diferente,

Porquanto ocorre sempre a muita gente

O tema que a verdade e o bem encerra.



É essa a diretriz das religiões,

Que buscam reunir as multidões

Debaixo de doutrina sem igual.

Se todas divulgassem só o bem,

Tornando todo o povo igual também,

A vida iria ser mais natural.



Mas a doutrina espírita revela

Que existem diferenças e cancela

A idéia da pureza universal.

O que se pede ao povo é que trabalhe,

O que não é somente vil detalhe,

Porquanto, um dia, há de acabar o mal.



No esforço p’ra crescer, cada indivíduo

Tem de mostrar na lide ser assíduo,

P’ra merecer estar entre os melhores.

A luta é tão ardente nesta esfera

Que muita gente simplesmente espera

Colher o que plantou, nos arredores...



Mas isso não é bom para o progresso:

Precisa que o plantio nos dê acesso

Ao centro do pomar, do paraíso.

A tal proibição de certo fruto

Está só na colheita do produto:

É livre o coração — eis meu aviso.



Assim é que redijo a minha trova,

Que eu quero que se mostre a melhor prova

De tudo quanto falo nos poemas.

De que me adianta vir com tanta lábia,

Se a rima, por modéstia, não for sábia,

Deixando de versar os ricos temas?!...



Cristo Jesus virá p’ra abençoar

O meu irmão que vela no seu lar,

Imaginando as teses verdadeiras.;

E a mim dará mais força, paz e luz,

P’ra transmitir os versos que compus,

Caso, com muito amor, tu lhe requeiras.







13. Compreendendo a reencarnação



Na noite do que outrora foi a vida,

Que a luz se faz agora para mim,

Estive muito perto do meu fim,

Pensando ser a alma uma saída

De quem se aferra à carne tão-somente,

Sem dar qualquer sentido ao ser presente.



Depois que adormeci para tal plano,

Bem pude apreciar o meu engano,

Correndo livremente pelo etéreo.

Sofri nas mãos perversas dos imigos

Dos tempos nebulosos mais antigos,

Até chegar a ser um cara sério.



Queria retornar à vida ainda,

Trazendo alguma sorte bem mais linda,

P’ra resgatar os males que causei.

Mas, cá no Umbral, a dúvida não cresce,

Se ao Pai o gajo eleva a melhor prece,

Ao se inclinar ao jugo desta lei.



Por isso, muita gente cá não volta,

Porque das emoções o mal se solta,

Ao soerguer a alma que se inteira

De quais virtudes deve emoldurar

Os dons bem mais felizes do lugar,

Ficando nesta esfera prazenteira.



Assim, se evoluir, o gajo torna

Com a missão sagrada que se orna

Da superior função do amor fraterno.

Vem p’ra ajudar a vida dos aflitos,

Amenizando as dores, sem atritos,

Que a paz se dá, enfim, no que era inferno.



Por isso, eu acredito que tu deves

Refletir bem mais nos fatos leves

Que trazem mui feliz a tua mente.

Não desperdices tempo com bobagens.;

Recebe, com amor, minhas mensagens

E busca progredir nesse ambiente.



Mas, se tu vens co’a mente perturbada,

Lendo e relendo, sem que entendas nada,

Suspeita que se trata de teu carma.

Mantém teu compromisso co’a virtude.;

Não julgues que o prazer o mal ilude

E sacrifica o gozo que desarma.



Provoca a reação do teu pendor,

Para testar quais bens são de valor,

Que sigas vendo sempre o que é mais certo.

Se tens discernimento na doutrina,

Sabendo o que Jesus ao povo ensina,

A minha voz não prega no deserto.



Desejo agradecer tua firmeza,

Pedindo que Jesus proteja a mesa

Em que recebes o meu verso rude.;

E a ti também, ó meu leitor querido,

Eu trago o meu abraço comovido,

Rogando ao Pai que envie quem te ajude.







14. A interpretação é toda tua



Não tenho a pretensão de vir dar aulas

Nem de prender os temas nestas jaulas

De tons e semitons que o verso encerra.

É livre esta poesia e assim vai ser,

Para que tu mantenhas o poder

De exercitar o arbítrio, aí na Terra.



Também devo informar não ser poesia,

Se o gajo narra em versos o seu dia:

É prosa, simplesmente, e mais seu metro.

P’ra que o poema tenha rendimento,

Precisa que haja a luz do sentimento,

Que apenas co’a razão bens não perpetro.



O exemplo do que digo é o próprio verso

Que não divaga a esmo no Universo,

Tão-só preocupado com a rima.

Os termos que disponho com mais arte

Nem sempre têm os meios de mostrar-te

Que a forma e o conteúdo o bem sublima.



São parcos os recursos quando o tema

Transcende o sentimento e logo emblema

A tal lição que venho ministrar.

Aí são cerebrais os resultados,

Quando os leitores ficam tão calados,

Querendo cada página exemplar.



Do mesmo modo, a vida pede provas

De que precisas dar às minhas trovas

Real sentido, no frigir dos ovos.

É que a comida é farta e apetitosa,

Pedindo um vinho bom, que assim se goza

Todo o equilíbrio amigo destes povos.



Mas o mistério exige que a doutrina

Não seja tão hermética e defina

As diretrizes todas do progresso.

Aqui nós simplesmente estimulamos

Que os frutos pendam doces nos teus ramos,

A forma e o conteúdo do sucesso.



Se vens com teu escudo levantado,

É bom que o ponhas logo aí de lado,

Pois a convocação ao bem que faço

Não dá p’ra confundir o teu bestunto,

Que é fácil de encontrar o meu assunto

Nas obras de Kardec, em breve espaço.



Não sei se dei de mim de forma clara,

Mostrando que o valor que se depara,

Nos versos que compus, vão mais além

Destas sextilhas nobres pela estima

Que quero demonstrar-te, em cada rima,

Como não vou queixar-me a ti também.



Jesus, eu quero pôr nos estribilhos

A dor e toda a luta, sem rebrilhos

Do gênio que desfila na avenida,

Num festival de estrelas coruscantes.;

Porém, não quero versos mas quadrantes

Nos quais ao raciocínio a fé convida.







15. Eu componho.; tu executas



— Perfeito! — hás de exclamar perante a rima,

Depois de meditares sobre o tema.

Existe um titubeio no poema?

O mais é puro enfeite e desanima,

Que a dor que se dispõe sem formosura

Não chega a emocionar.; e o bem não dura.



Mas quando a trova toda se esmiúça

E não se encontra um único senão,

Os anjos lá no céu receberão

Os cânticos da fé que amor aguça

E, em dobres de alegria, os sinos soam,

Que as almas criam asas e revoam.



É como a nossa turma se entretém,

Depois de solfejar algumas notas.

Mas tu que ao compromisso te devotas

De examinar as trovas cá do além,

Às vezes nem percebes que é feliz

Aquele que não falha, por um triz...



Uma cantiga só, uma ciranda

Que faça a criançada folgazar,

Em vez desta tertúlia em mau lugar,

Pode trazer a ti os sons da banda

Que empolgam o teu gesto e dão mais glória

Que todo o sofrimento desta história.



Aqui, cada palavra tem seu peso

Mas muitas nem se atrevem a compor

O texto que aparenta um bom vigor,

Com medo de que tragas o mau vezo

De achar que o mensageiro é mui perverso,

Dispondo com malícia cada verso.



Mas como vou dizer-te que não presto,

Falando de Jesus e da doutrina?

Se a rima que freqüento pouco ensina,

Talvez exista além alguém honesto

Que possa examinar os versos feios

Em que se registraram meus anseios.



Do mesmo modo, a vida que tu levas

Não deve ser pautada pelos vícios:

Se queres receber só benefícios,

Afasta alguém dos males dessas trevas.;

Ajuda o nosso irmão que te suplica

Que a rima dessa lida seja rica.



Se, pobre como eu, que te quer bem,

Estimas a poesia combalida,

Estende estes conceitos, dando à vida

A forma mais alegre, que contém

Os dons do amor, da luz e da virtude

E faze que o destino teu se mude.



Essencialmente, roga a Jesus Cristo

Que dê ao mundo todo essa alegria,

Fazendo com que forma da poesia

Não seja mais custosa do que isto:

Que cada irmão aceite e faça jus

Às bênçãos do Senhor, perdão e luz.







16. Mundo de expiação e provas



— Jesus seja por todos os mortais! —

Constantemente, rogo em minha prece.;

E já meu coração se compadece

Dos sofrimentos tristes dos iguais,

Que a dor que se reparte e ao bem se ajusta

Reflete na poesia onde se incrusta.



Antigamente, tinha muito medo

De vir dispor em versos as idéias.

Pensava como um lobo: as alcatéias

Exigem que os seus filhos, desde cedo,

Aprendam as lições pelos mais velhos,

Que é como aqui declamo os Evangelhos.



Agora, o responsável pela escrita

Não é somente o autor, mas quem o lê

Orienta o nobre assunto, no á-bê-cê,

Pois tenho de mostrar que o gajo dita,

Pensando em demonstrar a todo o povo

Que nada existe sob o Sol de novo.



A forma é que interessa, simplesmente,

Que o texto se equilibra pelo tema:

Se vem mui complicado este poema,

Não haverá, na Terra, quem agüente,

Pois dissecar não cabe a sã doutrina

Que Allan Kardec agora nos ensina.



Por isso é que me importa contemplar

O riso mais aberto da alegria.

Sem vezo para o enfeite da poesia,

Coloco este elefante no bazar

E deixo que ali quebre os utensílios

Que o bom do verso é vir com meus auxílios.



Para quem leu as trovas anteriores,

Parece que mudei aqui de rumo.;

Mas, sobre o sentimento, é que me aprumo,

Conforme aprovação dos bons mentores,

Pois faço o meu trabalho no capricho,

Sabendo que dirão que tudo é lixo.



Mas tu deves seguir o teu caminho,

Segundo o coração te requerer:

A caravana passa e tem poder

De pôr atrás os cães em desalinho.

Caso a consciência acuse um certo mal,

Procura a justa causa natural.



Se for possível dar um tom mais forte

Ao texto que te induz a melhorar,

Por certo adentrarei teu nobre lar,

Medindo os riscos p’ra te dar a sorte

De compreenderes todas as noções,

Sem que te inquietes ante os maus sermões.



Sede, Jesus, por todos meus irmãos,

Pois vos respeitam dor e sacrifícios.;

Aliviai dos maus os tristes vícios

E dai aos que trabalham vossas mãos.

Que a bênção do Senhor, harmoniosa,

Nos cubra deste amor que o vate glosa.







17. Sem medo de compor



Perpassa em minha mente antigo crime

E ponho-me a criar comparação,

Sabendo que os leitores pensarão

Que logo irei dizer que a dor redime,

Conforme esta poesia vem tristonha,

No aguardo de causar-me atroz vergonha.



Mas tudo quanto digo — está provado —

Não tem muita importância, se não sonho

Em demonstrar que o mal foi tão medonho,

Pois superior virtude é que arrecado

Dos textos que se dão à luz do mundo,

Por meio dum trovar muito fecundo.



Quem vem trazer mais fé, mais esperança,

Não pode desdizer pela palavra

Disposta sem rigor, em cada lavra,

Senão o benefício não se alcança

De iluminar a mente que acompanha

A luta que se trava, sem patranha.



Conduz a caridade o gajo à vida

Noutras esferas puras, mais além.

Por isso, em minhas rimas, se contém

A informação segura que convida

A todos que me lêem a serem bons,

Enaltecendo o amor, em nobres sons.



Não fiquem, por favor, nos arredores

Das trovas que se furtam a exaltar

O dom dessa virtude popular

Que inibe a voz fanhosa dos piores.;

Mas tentem ter amor às entrelinhas,

Que as rimas são perversas, vis, mesquinhas.



O mesmo é o que acontece quando o gajo

Não tem um só momento de sossego,

Às vezes, por sentir um forte apego

Aos pensamentos fúteis que encorajo,

Sem dar nenhum valor ao conteúdo

Que a forma esconde e deixa o vate mudo.



Pois a miséria é jugo permanente,

Enquanto a compreensão não se estimula.

A fome é triste e causa a rima chula,

Que ofende a quem não dá ouvido à gente.

Mas, se disser o vate que é melhor,

Alguém vai suspeitar que o sei de cor.



É claro que, uma vez, já reclamei

De estar sendo ferido em meu desejo.

Agora, essa injustiça não mais vejo,

Porque conheço os termos dessa lei:

O sofrimento é coisa do passado

E não repito mais o triste fado.



Por isso é que agradeço ao Pai a dor

Que me levou a ponderar, mui sério,

Que, para conseguir meu refrigério,

Devia abrir em leque o meu amor

A todos que me deram seu apoio,

Para salvar o trigo e não o joio.



Jesus, aceita a prece do poeta,

Por pobre quanto seja esta poesia.

Tivesse inspiração, outra faria

De forma mais perfeita, mais direta,

Rogando pelas bênçãos do Senhor

Aos bons irmãos que leram meu louvor.







18. Um de cada vez



Nostálgico poema me estremece,

A ponto de elevar aos céus tal prece,

Pedindo, com Jesus, clemência ao Pai.

Se tenho de beber até as borras,

Preciso mais de ti, que me socorras,

Senão o verso meu, hostil, não sai.



E tu quem és que tens a face oculta,

Que não respondes mais minha consulta

E te recolhes nos refolhos d’alma?

Se és minha consciência temerosa,

Irás aparecer na minha glosa,

Porquanto, em teu respeito, a dor se acalma.



Assim, o meu poema se constrói,

Por muito que me julguem grande herói

Nas penas mais sofridas do passado.

Bem sei que o meu futuro é grandioso

Mas, no presente, é trágico este gozo,

Pois não refiz a trama do meu fado.



Devo pedir perdão a tanta gente

Que imaginei a forma mais urgente,

Ao resumir, na rima, os sentimentos.

O mestre não me deu seu alvará,

Dizendo que o problema, como está,

Não hei de contornar tantos tormentos.



De batelada o povo não se furta

Nem pode já tornar a pena curta,

Malícia doutros tempos cá na Terra.

A cada qual eu devo desculpar-me,

Até providenciar haja o desarme

De quem para a vingança mais se aferra.



A prece em que prometo melhoria

Há de caber inteira na poesia,

Mas o que eu faço é muito pessoal.

Se recomendo paz aos desafetos,

Não posso conceber sejam completos

Os tais conselhos próprios para o mal.



A sugestão que resta em cada verso

É que do Pai o amor pelo Universo

Se espraia em bênçãos de poder supremo.

Mas é preciso, sim, que cada qual

Progrida no sentido da moral,

Sabendo ver, na trova, que me algemo.



A liberdade é dom que se conquista,

Se a tal pessoa prima por benquista

De toda a gente, sem qualquer censura.

Recuperado o amor, como criança

Há de seguir com Deus, que o gajo avança

Ao ter a alma limpa, sã e pura.



Mas nem por isso a gente perde a prece,

Senão Jesus diria falsa a messe

Deste plantio de fé e de esperança.

Cristo Jesus, envia a todo o povo

A luz que irá mostrar o bem de novo,

Quando a felicidade, enfim, se alcança!







19. Meditando sobre o tempo



Não tenho tanto assunto, embora queira

Mostrar ao meu leitor que vivo ainda.

Na terra, esta doutrina é muito linda.;

No etéreo, a mesma tese é corriqueira,

Que os mundos mais perfeitos se oferecem,

A cativar as almas dos que crescem.



Fazer o bem é sempre condição

P’ra merecer o gajo evoluir,

Sabendo, desde logo, que o porvir

Se deixa iluminar desta emoção

De se saber melhor porque trabalha,

Sem joeirar o campo da batalha.



Às vezes, ao rimar uns simples versos,

Parece muito fútil o colega.

É que o leitor não sabe em qual refrega

Se depurou o vício, pois diversos

São os caminhos que percorre a dor,

P’ra conduzir ao patamar do amor.



Se tens consciência justa do perigo

Do desperdício atroz de tua vida,

Aceita este versinho, que convida

A meditar nas leis junto comigo.;

E põe de lado a dúvida que trazes,

Pois hás de ter na mão todos os ases.



Não penses muito apenas no futuro,

Porque depende do que tens agora.

O teu dever é sério e não demora

A vida a se esgotar. Eu te conjuro

A conhecer o sofrimento rude

De quem não segue as regras da virtude.



Se me disseres que o teu carma é triste,

Porque te falta a mão, o pé e a luz,

Vou te falar como falou Jesus,

Quando propôs que o povo, dedo em riste,

Fosse capaz de ver que os infelizes

Tiveram meios de evitar deslizes.



Não vale concluir, numa existência,

Que tudo é mau, é feio, é miserável.

É bom julgar que seja mais provável

Que os males venham pela providência

Que por ti mesmo, outrora, decidiste,

Antes que para a vida tu partiste.



O Espiritismo trata destes temas:

O meu empenho, então, é de somenos.

Mas, se julgares bons estes acenos

Para fugir das dores mais extremas,

Faze que o próximo te dê valor,

Porque caprichas quando vais compor.



Cristo Jesus anima os versos meus

Com o sorriso franco da pureza

E faze com que o gajo junto à mesa

Cresça em amor, ao ver que vem de Deus

Este poeta, cujo tempo acerta,

Para enfeixar a estrofe mais esperta.







20. Alegre com moderação



Não venhas trabalhar sem ter prazer:

Se o verso que transmito não te agrada.;

Se ousas me dizer que quase nada

Te faz arrepiar, por não valer

O teu esforço perto desta mesa,

Então diga o porquê de tal franqueza.



Bem sei que o compromisso da impressão

É luta que atravessa o teu caminho.;

Mas deves compreender que é de mansinho

Que os textos junto ao povo se darão,

À luz do pensamento de que existe

Algum valor maior, quando se insiste.



Se trago o meu desejo de vitória,

Porque perder não vejo nada bem,

Conduzo o meu leitor e a ti também,

Meu caro médium, pela minha história.;

E peço a Jesus Cristo que me ampare,

P’ra que o meu povo todo o mal encare.



É certo ser difícil meu intento

De pôr mais calmo o gajo que me lê,

Quando a impressão de simples á-bê-cê

É o que te fica deste texto lento.;

Mas que fazer se o meu cantar se esvai,

Antes de te propor a prece ao Pai?!...



Assim tudo acontece pela vida,

Se a gente pensa apenas no sucesso

E nada faz para ajudar no ingresso

Ao mundo de Kardec, em luz fruída,

Daqueles que o tormento incapacita,

Porque não têm prazer pela desdita.



Voltei ao primo tema lá de cima,

Que é triste quando o amigo desfalece.;

Mas como vir dizer alegre a prece,

Se tudo é rude, é pobre em minha rima?

Então, vou dar-te um empurrão sensível,

Para elevar um pouco mais o nível.



Não é verdade que este amigo vate

Descreve, com rigor, o disparate,

Negando ser possível, neste verso,

O justo desempenho de quem prima

Em dar bem mais valor à simples rima,

Deixando em brumas o ideal imerso?



Não é visível todo aquele amor

E não preciso dele no exterior,

Porque não tenho que prestar tais contas.

Mas, como vim mostrar que tu te obrigas

À caridade, sempre que perigas,

Não posso te acusar de que me afrontas.



Se estás pensando agora no que disse

Este poeta insosso, em breve trova,

Faze com teu pendor a rima nova

Com que enaltecerás, sem fanfarrice,

A vida que o Senhor te deu de graça,

Pedindo muita luz, que a dor já passa.







21. A luta se justifica



Sustento que a poesia não demove

Quem queira refutar a inspiração,

Dizendo que esta trova espera em vão

Que o texto o nosso afeto bem comprove,

Por mais que o meu empenho se sublime,

Na produção do belo, em bom regime.



Elejo o melhor tema e dou de graça

A fórmula do amor que junta o povo.

Conquanto o gajo queira algo bem novo,

Vai repetir o texto sem trapaça

Que, antigamente, o prelo deu a lume

E não apenas por gentil costume.



O que acontece aqui é que a pessoa

Exige que a poesia seja boa,

No conteúdo doutrinário e tal...

Apenas o rimar termo com termo

Vai conduzir o coração ao ermo,

Na crença de que tudo atice o mal.



Por isso é bom falar dos bens celestes,

Dos anjos que desfraldam belas vestes,

Para atrair as lágrimas felizes

Daqueles que compreendem que, na vida,

A recompensa chega e nos convida

A partilhar os dons das diretrizes.



Quem sem grandeza fere as cordas toscas,

Desafinando os tons, em cores foscas,

No quadro incompatível do imperfeito,

Vai ser logo acusado, sem defesa

Que possa oferecer junto a esta mesa,

Dum modo como eu mesmo não aceito.



Mas tenho de compor porque me obrigo

A vir correr um risco, sem abrigo,

Que a chuva cai a cântaros e afoga

As dúvidas que trago ao meu leitor,

Pois é tão fraca a trova e inferior

Que tu hás de chamá-la, assim, de droga...



— Por que tanto desprezo pelo verso?

Será que tudo existe assim perverso,

No coração da gente que te escreve,

Sem uma só menção aos benefícios

De quem já sufocou os tristes vícios,

Não sendo já capaz de um texto leve?



Não posso prometer mas vou cumprir,

Em cada verso meu, o tal porvir,

Pois é chegada a hora das ações.

Se a tal virtude falha e compromete,

De que me serve a glória do confete

Que vem p’ra enaltecer os corações?!...



As vezes em que dito um texto triste

Ocorrem bem freqüentes, como viste,

Ó caro companheiro que me lês.

Por isso, vou pedir que Jesus Cristo

Perdoe quem comigo (agora insisto)

Está sempre de acordo nos porquês...







22. Por ti e por mim



Roteiro obrigatório da poesia,

Eu devo estimular o teu amor,

Fazendo com que vejas que o compor

O povo todo em armas manteria,

Para atacar os males que os teus vícios

Iriam transformar em desperdícios.



Se sofres muito a lamentar a vida,

Não vais sentir crescer o teu valor.

Para que serve o bem superior,

Se tu não vês que o dom se consolida

No entendimento puro dessa lei

Que obriga o gajo a vir dizer: — Errei — ?...



Cada coisinha à-toa que acontece

Exige um pensamento refletido,

Pois tudo sempre tem o seu sentido

Na lei de causa e efeito, pois a messe

Apenas se consegue após plantio.;

E o galardão se dá a quem tem brio.



Não posso oferecer as soluções

Que tu desejarias conseguir

Para teres certeza do porvir,

Soltando, antes do tempo, os teus rojões,

Pois festejar a glória de estar bem

Há de passar da vida um pouco além.



Um mundo inferior não traz ao gajo

Apenas alegrias, sem trabalho.

O esforço que se faz eu amealho

E ponho em versos sempre, pois reajo

De acordo com as leis universais,

No aguardo de aprender um pouco mais.



Também o meu amigo que presumo

Esteja muito atento ao verso meu

Irá compor a trova, pois valeu

Esta leitura para o seu consumo

Das teses que este vate hoje descreve

De modo mui sutil, conquanto leve.



— E como reagir de forma plena

P’ra conquistar a paz que se promete

A quantos não aceitem vil confete,

Mas fazem seu melhor conforme a pena

Que têm para cumprir, neste envoltório

De natural princípio transitório?!...



Erguendo a Jesus Cristo a tua prece,

Agradecendo a dor que se oferece

Para provar que tens tuas virtudes,

Pois, se carregas cruz de muito peso,

Suportarás saber que tens o vezo

De provocar alheias inquietudes.



Senhor, faze de mim um cireneu,

Poeta que auxilia o companheiro.;

E aceita este pedido, pois requeiro

Alívio ao sofrimento que se ergueu

Como barreira triste e sem valor

Ao pobre que não crê no teu amor.







23. O mal maior



Não quero oferecer nada de mau

Que possa provocar o teu revide.

Caso o leitor do meu candor duvide,

É justo que se espere desça o pau

No meu bestunto pobre, cuja rima

Não causa entusiasmo nem anima.



É tão grosseiro o verso e rude a trova

Que duvidar permite do poeta.

Se fosse mais perfeita e mais completa,

Iria o vate ressurgir da prova,

Qual fênix que das cinzas alça vôo,

Depois de ser tostada — e eu enjôo...



— Por que não faço um verso mais piedoso,

Reconhecendo as falhas que pratico

Naturalmente, pois, se o mal indico,

Caminho na poesia sem um gozo,

Preocupado, sim, com os meus erros,

Não vendo tanta gente em seus desterros?



É certo que o egoísmo, quando ecoa,

Demonstra ao coração um mal desperto,

Podendo o gajo prevenir, esperto,

A hora do suplício que magoa,

Ainda mais se o verso condiciona

O pensamento triste e desabona...



Ao vir falar de mim, é justo cales

O teu desejo grande de sorrir,

Pois tudo quanto sonhes no porvir

Irás lembrar as dores destes males,

Ainda mais porque te peço faças

As tuas trovas com maiores graças.



É permanente este registro agora,

Por assentar no cérebro o meu vício.

Se tudo o que escrevesse em benefício

Das leis do amor, que junto aos bons vigora,

Não acusasse os crimes e os autores,

Iria serenar os meus leitores.



Mas devo perturbar quem vive em paz,

Caso não fique atento à dor alheia.;

E tenho de dizer a quem receia

Expor-se ao mundo torpe, vil, falaz,

Que os seus pedidos não vão ter respostas,

Enquanto tu, colega, te desgostas.



Sempre a verdade traz um compromisso

Que rejeitar não pode um só da turma.

No etéreo, a luta impede que se durma,

Enquanto o gajo não desfaz o enguiço.

Se tu não tens o coração tranqüilo,

Apela para a prece, em teu asilo:



— Senhor, faze de mim um servo atento

À causa do meu próximo e me inspira,

Para que o meu trabalho se transfira

Completamente, até lhe dar alento

Longe de mim, pois devo vir de novo

P’ra partilhar da condição do povo.







24. Final feliz



Querido Companheiro, vou-me embora,

Pois disse tudo quanto pretendia.

Não sei se consideras ser poesia

Os textos que compus, se o verso gora,

Mas foi um bom trabalho de pesquisa,

Com instrução e amor como divisa.



Nem sempre se alinhou a melhor rima.;

Nem sempre o pensamento foi bonito.;

Às vezes, o leitor quedou aflito.;

Às vezes, muito poucas, se sublima

O desespero d’alma aberta à dor,

Que é raro, neste caso, um bom compor.



Não posso, aqui, porém, fazer juízo

Das trovas, pois tu julgas diferente:

O meu saber se prende, infelizmente,

Às rudes conferências que preciso

Ouvir e decorar, pois sou mui pobre

Das tais virtudes que te deixam nobre.



Pedir perdão não vou, pois bem já sei

Que tens o coração bondoso, Amigo.

Por isso, se caminhas mais comigo,

Irás cumprir os tópicos da lei,

Rogando a Jesus Cristo doce bênção,

Que os vates cá do além os males vençam.



Não quero prometer algo impossível.

É fácil, entretanto, imaginar

Que o gajo que vier, em meu lugar,

Irá pôr os seus versos noutro nível,

Mais perto dos produtos superiores

Que exigem desta esfera os bons leitores.



Apenas vou dizer que a tal modéstia

Que sempre demonstrei, em cada verso,

Encerra um pouco deste universo,

Embora suas luzes, simples réstia,

Também tenham surgido em cada canto,

Fruto da dor que o rosto lava em pranto.



Se foi alegre um verso aqui e ali,

Por certo ri de mim, de meus problemas,

Que as soluções que dei, por muito extremas,

Se punham tão distantes que senti

Os ecos destes sons, simples revérbero,

Às portas infernais que guarda Cérbero.



Com tais rimas tronchudas do estribilho

Com que a sextilha acima se encerrou,

Eu posso vir dizer que dei meu show,

Que pouco mais agüento sem teu brilho,

Porquanto espero em ânsias que me leias,

P’ra descobrir que queres mesmo as feias.



— Perdão, meu Pai, por tempo tão mal gasto!

Espero que bem poucos tenham vindo

Até este final, mas tu, tão lindo,

Irás providenciar melhor repasto

Ao caro irmão que teve tal coragem

De vir comigo em toda esta viagem.



Assim é que eu clamava, com razão,

Que o verso que compus, não fora em vão,

Ao menos p’ra saudar o meu leitor.

Jesus, pede por nós a Deus a bênção

A quantos sofredores se convençam

De teu carinho, graça, paz e amor...















CARLOS



















1. Como vai você, caro amigo?



Não posso convencer o meu leitor

De que tudo o que faço é superior,

Se deixo por escrito cada rima.

Por isso, vou pedir tão simplesmente

Que o gajo que me lê a dor agüente

E limpe o coração, que o bem se estima.



Atesto, com meu verso, que esse bem

Virá, quando estiver você também

No aguardo de ditar sua poesia,

Que é tudo quanto posso vir dizer,

Enquanto me for dado este poder

De relatar a vida em harmonia.



Não quero aborrecê-lo com mumunha,

Porquanto irá dizer: — Eu não supunha

Que fosse a rima ardil p’ra me enganar.

É que o controle exato da engrenagem

Afeta (e como afeta!) esta mensagem:

Forma e contexto sempre no lugar.



P’ra começar com calma, é que me atrevo

A dar a mim a obrigação do enlevo,

Embora saiba muito bem que a luz

Se esparge na doutrina, desde cedo,

Não tendo Allan Kardec um só segredo,

Na cópia dos ensinos de Jesus.



O método é bem simples: é com prece

Que o bem do amor a vida favorece

E põe meu coração ao seu dispor.

Cative este poeta e faça tudo

Para entender a forma e o conteúdo,

Obrando com desvelo superior.



Quando eu descanso das mais rudes lides,

Passo a compor os versos dos revides,

No entendimento justo do castigo,

Que a hora é muito boa e já medito

O quanto este meu tempo foi bendito,

Ainda mais se está você comigo.



O pensamento basta p’ra chamar

Qualquer autor, para surtir no lar,

Quando se lê a trova que compôs.

Espero em Deus que muita gente ainda

Venha a julgar a rima rica e linda,

Sem desejar jamais ser meu algoz.



Peço perdão ao povo que me lê,

Dizendo ser tão fácil o á-bê-cê,

Pois bem melhor um texto aqui faria.

Eu acredito nisso mas, tristonho,

Devo afirmar que, sempre que componho,

Preciso suspeitar dessa poesia.



O sentimento que se põe no verso

É tão profundo, natural, diverso,

Que as luzes destas rimas se afiguram

Apenas lampiões em meio às trevas,

Onde gritando estão do mal as levas

Dos infelizes que na dor perduram.



Eu peço a Jesus Cristo que me ponha,

Na inteligência, rima assim risonha,

Conforme a descrevi na estrofe acima,

Porque na escuridão se sofre mais

E as luzes que entrevi são naturais,

Aquelas que este amor goza e sublima.

Carlos.







2. Reflexões poéticas



Roteiro que componho para o verso

Não traz o compromisso do perfeito,

Mas toda sugestão ao bem aceito,

Que o verso e não o autor é que é perverso.

Por isso, vou mudar a minha rima,

Dispondo doutra forma a nobre estima.



Sextilhas são o meio mais comum

De dar ao povo que me lê notícia

De quanto aqui se passa sem malícia,

Que agora, por vergonha, sou mais um

Que não me atrevo a vir pedir consolo,

Que o verso sai sozinho ao vir dispô-lo.



É tanta esta escansão e pouco o mérito

Que a gente até parece duvidar

Que tudo se organiza no lugar,

Que não se deverá abrir inquérito,

Pois condenado estou assim, de cara,

Se o meu leitor com tramas se depara.



Eu recomendo sempre ao meu amigo

Que busque recordar, sem vil temor

De oferecer ao coração mais dor,

Se alguma vez já se encontrou comigo,

Nas ondas desta frase cadenciada

Por um processo tal que muito agrada.



Por certo, é com freqüência que você

Se põe de prontidão contra o meu metro.;

Mas não tenho na mão o rico cetro

Dos príncipes poetas, como vê,

E dou de mim bem mais do que disponho,

Para fazer um verso assim medonho.



Mas tudo vem mui rápido e carente

E passo dessa forma ao meu compadre.;

Pois não pretendo ouvir um cão que ladre,

Que a caravana segue lentamente,

Pondo de lado os prismas da virtude,

Que para tal chegar urge que mude.



Não é mui respeitável o sistema,

Se o gajo não compreende que meu verso

Abrange muito além deste universo,

E tudo quer que o cérebro retrema,

Na aspiração de ver que Deus se mostra,

Se o sentimento, enfim, em dor, se prostra.



O Pai ama a seus filhos se, contentes,

Sorriem mais felizes, mais perfeitos,

Sem lágrimas sentidas, quando, eleitos,

Percebem que o Senhor, sendo tementes,

Aprova a sua luta contra os vícios,

Favorecendo dons e benefícios.



Estimo, plenamente, que esta trova

Atinja a condição que dela exige

O meu leitor querido, que transige

E não quer ver se o texto se renova,

Mas simplesmente aguarda as diretrizes,

P’ra fomentar o amor desde as raízes.



É como eu vejo a prece que termina

A derradeira parte da poesia,

Pois seriedade é dom que sempre alia

O sentimento justo que carmina

O rosto que se inflama de calor,

Ao vir pedir as bênçãos ao Senhor.







3. Desejando ser feliz



Estou muito à vontade p’ra escrever,

Pois sei que o meu leitor tem o dever

De restaurar o tema que me traz,

Ao cotejar co’a vida que mantém

Imersa na virtude, vendo o bem,

A caridade, o amor, a luz e a paz.



A lista desses dons não sei dizer

Se pode o bom amigo compreender

Que deve perseguir a cada hora.

Mas posso enaltecer o bem maior

Das bênçãos de Jesus, que sei de cor,

Em seu padrão que nutre e que melhora.



Não posso, todavia, oferecer

A solução de tudo, que o poder

Está em suas mãos, meu nobre amigo.

O uso da palavra não penhora

Mas o meu tema é dom que já vigora,

Enquanto o coração bater comigo.



Não sei se fui bem claro na poesia

Mas outra apresentar eu poderia

Que o tempo que disponho é infinito.

Você é que tem prazos p’ra cumprir,

Pois logo o seu destino, o devenir,

Assume a tal velhice e alteia o grito.



Caso a mistura das palavras ponha,

Em sua mente, o risco da peçonha,

Porquanto estou a recitar sem luz,

Faça uma prece e entoe um belo hino,

Pedindo ao Pai um rumo, que amofino

E levo eu mesmo o peso desta cruz.



Os gajos cá do etéreo se habituam

A ver se os seus desejos continuam

A produzir uns focos de respeito.

Então, vêm declarar que estão perdidos,

Nas mãos de criminosos e bandidos,

Conforme eu mesmo assumo, contrafeito.



Pensar na evolução alheia é bom

P’ra demonstrar ao povo um nobre dom,

Porém, não vale apenas cogitar:

Preciso que haja sangue em suas veias,

Para espantar da mente as coisas feias

E pôr os pensamentos no lugar.



O coração que bate junto ao meu

Não pode reclamar que o cireneu

Aliviou a carga de Jesus.;

E o cara que declama uns rudes versos

Não dá u’a mãozinha, pois dispersos

Se encontram os irmãos que o bem conduz.



Penso que esclareci completamente

O assunto que me trouxe mui descrente

De que meu verso iria ter um fim.

Se o pensamento treme já na base,

Se nada está perfeito nesta fase,

Um dia vão orar também por mim.



Eu antecipo, então, a sua prece

E peço a Jesus Cristo que esta messe

Dos versos que plantei tragam proveito

Ao meu gentil leitor, o qual se atreve

A me dizer que a trova está mais leve,

Porque bem compreendeu que a dor aceito.







4. Não sejam os versos apenas sons



Castigo cada verso que apresento:

Se o resultado é pobre, mais me animo,

Porque bem sei que tenho o seu arrimo,

Para que a folha não me leve o vento,

Que o bem que despertarem simples rimas

Vai ter o mérito das obras-primas.



Também você, meu caro irmão, reflita

Que o seu trabalho erige um monumento,

Se se evitar com ele um sofrimento

De qualquer um que tenha a alma aflita:

O benefício serve sem censura,

Se a busca que promove é de uma cura.



Qualquer que seja, então, o seu valor,

O dom de amar destaca o compromisso

De se fazer melhor e com mais viço

Cada pequeno afã, caso inferior

Se sinta o bom amigo na expressão

Com que dá reconforto ao seu irmão.



É claro que, se o verso for mais belo,

Terá repercussão e vai ser lido

Por muita gente mais, mas eu duvido

Que seja por prazer de um som singelo,

Que o povo gosta mesmo é de poder

Sentir, dentro do peito, bem-querer.



Por isso é que me animo e distribuo

Tantos sorrisos pela trova minha,

Não pela graça, pois o dom não tinha,

Enquanto vivo e como continuo.

Mas eu sorrio, sim, e vejo, alegre,

Que surte efeito o som, sem que se integre.



Modéstia à parte, vou considerar

Que tenho propensão para a poesia.

Por certo, muita gente aqui faria

Algo muito melhor, em meu lugar,

Com o seu pensamento alinhavado,

No bom sentido e a favor do fado.



Mas coube a mim dispor, junto a esta mesa,

As tais lições que já aprendi no etéreo,

Pois muito pouco herdei do cemitério

Das ilusões carnais de que a beleza

É sempre o fulcro de qualquer poema,

Que a dor e o amor se vêem de forma extrema.



Aqui, nestas paragens de harmonia,

Os mestres só requerem que haja paz:

Por mais que sofra a moça ou o rapaz,

Precisam controlar a fantasia,

Enaltecendo o bem que se depura,

A cada instante, nesta fé segura.



Meu bom amigo, estime a sua vida

E contribua com um pouco mais,

Que a caridade é dom que mal não faz

Ao coração que estua e que convida

A ser perseverante na doutrina

Que o Espiritismo prega e a morte ensina.



Peço a Jesus perdão, pois, atrevido,

Pretendo estimular a reação

De quem jamais lhe disse um simples não

E a quem meus versos não detêm sentido.

A bênção rogo, em prece compungida,

Pois posso presumir que seja ouvida.







5. O que se aprende se aplica



Preciso condensar minhas idéias,

Se quero um verso lúcido e oportuno.

No etéreo, não sou mestre mas aluno,

O mais discreto nestas assembléias

Em que são discutidas as virtudes,

Para mudar as almas muito rudes.



Aí, o meu leitor há de dizer

Que o verso é o desmentido do que digo,

Querendo até brigar muito comigo,

Porque não tem em si o tal poder

De registrar, em trova, um bom assunto,

Que traz interessado o seu bestunto.



Eu vou contar agora uma historinha

Para explicar por que sou bom no verso:

É que treinei bastante, estando imerso,

A vida inteira, numa mesma linha

De feitos mui pomposos, literários,

Ao publicar meus textos temerários.



Em terra de ceguinhos, quem tem olho,

Que seja apenas um, para enxergar,

Vai conduzir o povo devagar,

Sem encontrar, na via, um só abrolho,

O qual ferir pudesse os companheiros,

Nem vai deixar que caiam nos bueiros.



Quando ler esta lauda tão fraquinha,

Querendo o seu autor dar importância

A tudo quanto escreve com ganância,

Que a intenção não seja mui mesquinha:

O meu amigo pode até sorrir.;

Mas deve prevenir-se p’ro porvir.



E como há de fazer para evitar

Os males de escrever sem ter treinado?

É justo que se esmere, de seu lado,

Mas deve ler quem seja popular,

P’ra não fazer do texto mau pasticho.;

Nem deve contentar-se com meu lixo.



Existem bons poetas cá da terra

Que sabem solfejar mui belas rimas,

Daquelas importantes, as opimas,

A ponto de ofender, que a gente berra,

Se não entende a fala do sujeito,

Pensando não na causa e sim no efeito.



Agora que transpus o meu modelo

P’ra nobre condição dos bons preceitos,

Escolha, bom amigo, e torne eleitos

Uns santos que, na vida, em doce zelo,

Fizeram sacrifícios pelo povo,

Jurando repetir tudo de novo.



É como o verso meu cá se apresenta,

Não tanto pela forma que se doa,

Sem se ofender, se a coisa vem à toa,

Mas quanto ao conteúdo, que aparenta

Ser novidade sempre, pois recrio

Meu universo, que se põe num fio.



Assim, nestas alturas, ponho tento

Que a prece se faz tarda e tenho em vista

Apenas realizar uma conquista,

A décima jornada, em que o talento

Agradeço em louvor e peço luz,

Bênçãos e paz ao Pai. — Graças, Jesus!







6. Resposta a uma injustiça



Encolho o texto meu e peço ajuda

Ao mestre, que me traz cá na coleira,

Não tanto porque muito o gajo queira,

Mas é que nada sai, se não se estuda

O metro da virtude peregrina,

Que a lei das conseqüências nos ensina.



Em vida, as minhas sombras me diziam

Que estava em permanente rebuliço.

No etéreo, o meu quimérico serviço

Me mostra o quanto as dores me agoniam,

Pois tento demonstrar e não consigo

Que é belo o pensamento a que me obrigo.



Apenas um aviso fica claro

No texto, que componho de improviso:

É que, se não se tem melhor juízo,

O verso com sentido se faz raro

E a gente, ao repensar o devenir,

Percebe que o melhor é concluir.



Pretendo vir com rimas desusadas

Mas vejo que repito, unicamente,

Os sons com que formei a minha mente,

Escudos p’ra enfrentar cruéis espadas,

Que o povo não perdoa, se entrevê

Que existe hesitação dentro em você.



Aí, a construção mais literária

Também se incrusta, sem qualquer rigor,

E o ato de ensinar, ao vir transpor

Os elementos métricos do pária,

Se dissemina pela trova tarda

E o gajo o fim esquece e não resguarda.



“Preciso pôr mais luz em cada verso!”,

Pensa o poeta, triste pela rima,

Sabendo, embora, que o amor sublima

O que possa escrever de mais perverso,

Por vir preocupado co’a malícia

Que os maus põem na mente, sem polícia.



Também hão de dizer que tal cuidado

Demonstra ser o gajo inferior,

Por mais que tente dar do seu amor,

Se bem que com modéstia e com agrado,

Porquanto os raciocínios dos humanos

São meros sentimentos, vis enganos.



O médium se conforma co’o estribilho,

Mas vai ouvir dos outros que claudica.;

Que a rima cá do etéreo, em sendo rica,

Não pode traduzir-se sem rebrilho,

Com resultado fosco, chato, informe.;

Que o nosso amigo escreve enquanto dorme.



Não posso concordar, no coração,

Com o roteiro injusto dessa crítica.

Bem sei que, na doutrina, essa política

Evita que se dê malversação

De muitas oferendas de virtude,

Pois pensa-se no mal de que alguém mude.



Mas é preciso respeitar o etéreo,

Ainda que bem fraca esta mensagem.

Ocorre que espíritos reagem

De modo desigual, mas sempre sério,

Quando o animismo é dado como engodo

Deste escrevente, o qual produz a rodo.







7. Vontade e criação



Retiro o que disser, se me provarem

Que tenho errado muito em meus conceitos.

Não somos escolhidos nem eleitos,

Por isso é bom que todos se preparem

P’ra receber as leis de supetão,

Pois todos pelos crivos passarão.



Eu argumento, é certo, com malícia,

Pois tudo digo sempre conhecer,

Mas indiretamente, que o dever

Me obriga a agir aqui com tal blandícia

Que devo disfarçar a dor que sinto,

Sem nunca demonstrar p’ro mal instinto.



— Blasfêmia! — hão de dizer os que se enjoam

De tanta sordidez, nas entrelinhas.

Mas devo afiançar que não são minhas,

Porquanto as rimas simplesmente soam

Nas vozes conturbadas dos terrenos,

Que ficam a embalar sonhos amenos.



São rudes os bons versos cá do etéreo.;

Precisos, nos conceitos destas leis,

Embora nunca passem já de seis,

A cada estrofe estranha e com mistério,

Que a rima eu ponho embaixo do que faço

E deixo p’ra depois meu forte abraço.



Ninguém há de entender o meu assunto,

Se me julgar também doido varrido:

Vai ter de imaginar — o que eu duvido —

Que sou bastante bom, nobre bestunto,

A elaborar as trovas num repente,

Para o resgate deste ser que sente.



Se o gajo que me lê tem seus critérios

Para aprovar as trovas que lhe passo,

Não vai ter bom sucesso mas fracasso,

Se pensa que pratico os ministérios

Do amor e do perdão, em cada linha,

Pois tudo se resume em vil caninha.



Mas, figuradamente, eu falo assim,

Porquanto perturbado não estou.

O povo que me entende, neste show,

É que pode gostar bem mais de mim,

Que o bom é construir o seu palácio,

Com base no progresso do pancrácio.



Por isso, ao se encerrar o meu trabalho,

Pretendo evoluir mais um pouquinho,

Pois acho que me encontro no caminho,

Ao lado de quem nunca se viu falho,

Porquanto alcança sempre compreender

Qual é o bom sentido do dever.



Jesus há de aplaudir quem desafia

Os sacrifícios todos da consciência,

Sabendo praticar benemerência,

Até ao recitar esta poesia,

Que o bloco dos poetas vem à rua,

Enquanto a vida é prenhe e o bem estua.



Senhor, quero pedir-vos que me aceitem

Os meus amigos todos, algum dia.

Por isso, dai mais luz e melodia,

Que eu possa transformar, que se deleitem,

Os bons leitores, quando, em comoção,

Sentirem que os meus versos bons estão.







8. Em branco e preto



Retratos seis por dez, em cada estrofe,

Procuro refletir um sentimento.

Talvez não tenha fé, porém, me agüento,

A ver se não estrago o estrogonofe.

Por não ter bofes para os tais gracejos,

Os versos vêm pesados, malfazejos.



Jesus desceu da cruz, em linho cru,

E foi posto no chão, sem importância.

Será que tal retrato ofende a ânsia

De respeitar os mortos sem baú?...

Ou vale o seu espírito divino,

Que sobre nós se põe em lindo ensino?...



Maria, a mãe do Cristo, está presente,

Quando se reza a prece de seu filho?

Virá para ajudar, neste estribilho,

Ou muito o coração já se ressente,

Porquanto a trova é pálida e sem vida

E deste meu amor também duvida?...



José, peço perdão se te ofender,

Mas não posso aceitar que estejas longe.

Na cela do convento, reza um monge,

Pensando em só cumprir o seu dever,

Que o pai de Jesus Cristo cá na terra

Estende a sua mão para quem erra.



Tomé queria ver, sentir, cheirar,

Pois o sensório tinha por normal.

Mas era bem capaz dum ideal,

Na busca de entender ser exemplar

A vida de seu mestre e confessor,

Que achava ter morrido por amor.



Ressuscitar seria mui ruim

P’ra quem viver não tinha já valor,

Porquanto o texto sábio, superior,

Não era o que esperava mesmo assim.;

E punha as suas dúvidas em tudo:

Na forma e, mais, também no conteúdo.



João se pôs em choro convulsivo,

Querendo restaurar o seu passado:

Não mais andava o Mestre do seu lado,

Mas ele imaginava que, bem vivo,

Corria toda a esfera conhecida,

Ressuscitado e pronto para a vida.



Foi Paulo quem passou a idéia tola

De ser bem mais feliz quem sacrifica

A vida dos parentes e mais rica

A curtição do amor, ao vir compô-la,

Estando a meditar lá no deserto,

Dizendo estar do céu muito mais perto.



Quem comprovar os quadros que montei,

Ao aceitar as trovas por piedade,

Vai encontrar um texto que lhe agrade,

Um só, que o compromisso está na lei

Do bem a que se obriga quem não falha,

Sem permitir, na fé, fogo de palha.



Eu vou abrir na trova uma exceção,

Fazendo um verso fértil, oportuno,

P’ra demonstrar que o gajo, como aluno,

Vai querer dos leitores a visão

Do Cristo Redentor, que se apresenta,

Nesta doutrina pura, e me acalenta.







9. Orientação por tabela



Retrato mais um pouco e já termino,

Para explicar que sou quem aparece

Nas fotos de terceiros, pobre messe,

Deste plantio que faço, em rude ensino,

Costume de exaltar, sem justo inquérito,

O feito de compor por próprio mérito.



Na vida que passei tão distraído,

Não fui o mesmo que demonstro agora:

Nos versos de hoje em dia, já vigora

O luxo de expressões co’algum sentido.

Na correria impressa antigamente,

Os dons do amor o gajo só desmente.



Embatucava o verso controlado?

Deixava a rima branca em descompasso.;

Buscava uma palavra no regaço,

Reminiscências só, sempre de agrado

Do meu leitor, porquanto ele comprava,

Mas tendo a mente sempre minha escrava.



Tomo cuidado, agora, co’a virtude

E menosprezo a trova em si tacanha:

Se o meu leitor, nos íntimos, se assanha,

Não posso concordar.; quero que mude,

Para pensar no fundo e não na forma,

Pois tal é deste plano a rija norma.



Não vou perder os hábitos melhores:

Vou pô-los a serviço dos meus versos,

Porquanto sei que são mais controversos

No âmbito da mente e derredores

Do espírito que habita cá no etéreo.;

E não do ser humano, alegre ou sério.



Precisa seja bom o companheiro

Que quer desenvolver-se na doutrina.

Kardec é quem discute e nos ensina

As normas que lhe exponho e que requeiro

Para seguir avante na leitura,

Senão seu entusiasmo não perdura.



E qual é a maior, a mais exata,

Para cumprir as metas desde logo?

É justamente o ponto que interrogo

A quem quer assentar depressa a data:

Se for a caridade do perdão,

Aí entendo o gajo e estendo a mão.



Se for simples auxílio, sem vigor,

Se o coração não tem qualquer certeza,

Qualquer que possa ser minha proeza,

Bem pouco me dará o tal, valor:

Ao menos, numa prece comovida,

As forças siderais a fé convida.



Da mesma forma, o vate se apresenta,

Desconfiando um pouco do que diz,

Sabendo que seu povo está feliz,

Mas ele mesmo a dor não afugenta,

E muito se amesquinha co’a consciência

De que não praticou benemerência.



Jesus, sede por nós, os sofredores,

E dai a cada qual um lenitivo,

Esteja o gajo morto ou mesmo vivo,

Pois vamos arrostar vis dissabores:

Precisa desperteis a nossa fé,

Para saber que o Pai por todos é.







10. Enfastiado?



Alcanço a compreensão desta doutrina,

Porém, somente o fiz estando aqui.

Na Terra, em todo o tempo em que vivi,

Apenas desejava a vitamina

Das hóstias consagradas pela igreja,

Regadas, logo após, pela cerveja.



Dizia que era muito religioso,

Que tinha medo grande pelo inferno,

Sabendo muito bem, no mundo interno,

Que tudo produzia para o gozo,

Deixando p’ra depois os tais tormentos,

Porque flanava em prol dos sentimentos.



Não sei se descrevi o meu descrédito

Nas falas dos pastores das ovelhas,

Pois era como via tão parelhas

As teses doutrinais, mas não inédito

Sentido punha em meus rompantes d’alma,

O que me aflige agora e o mal espalma.



O texto que produzo é tão malevo,

Fluente da fluência dos matreiros,

Que podem me enxergar entre os primeiros,

Que a dor desta consciência não relevo,

Porque, p’ra meu prazer, tenho sossego,

Se venho dar ao sonho um bom emprego.



Consciente destas rimas que me imponho,

Não me envergonho nunca por tão feias,

Na relação que entrego, sem mancheias

E sem semblante franco nem risonho.;

Apenas comprometo-me co’a turma,

Ao permitir que o grupo sempre durma.



Não quero esmorecer na caminhada,

Que, às vezes, quanto faço é quase nada,

Perante os desempenhos dos mentores.

Mas, como ser feliz fazendo versos,

Se todos me parecem tão perversos,

Ao descrever os males destas dores?...



Mudei de rumo e de figura e vejo

Que a trova vem p’ra comprovar que estudo,

Não tanto pela forma, que não mudo,

No que contém o prisma em realejo,

Que a criação da rima é jogo sujo,

Mistura de noções: o dito-cujo.



Alguém vai suspeitar que estou confuso,

Que não posso dançar conforme o tom,

Porque não me propus um ente bom,

Pois venho com versinhos onde abuso

Deste perdão que peço ao meu amigo,

Seguindo na jornada aqui comigo.



Não vim para assustá-lo, meu leitor,

Também não vou deixar, seja o que for

Que possa perturbar-me aqui no fim,

De retratar o seu descaso além,

Caso a promessa de Jesus também

Ao coração se mostre mui ruim.



Muito agradeço a Deus este trabalho,

Que sei que não fiz bem, pois me atrapalho

Co’os sentimentos de meu tosco ser.

De qualquer jeito, tenho por parceiro

Exatamente aquele que requeiro,

A quem eu passo a bola e o bom dever.







11. Abrindo o jogo



Retive este meu dom de versejar

E ponho disponível para os temas

Que os mestres nos apontam por problemas

Com solução nem sempre regular,

Que os textos mais se aprumam pela forma,

Que constitui, no etéreo, dura norma.



Assim, se tento um termo um pouco estranho,

Que não demonstre a idéia exatamente,

Vou ter de formular outra vertente

Para o entusiasmo meu, porquanto arranho,

Nos toques destas unhas mais compridas,

As entranhas perfeitas das jazidas.



Não pense o meu leitor que assim reclamo

De não ter liberdade p’ra poesia.

Reclamo, sim, de haver, por outra via,

Servido com desleixo a um pobre amo,

A ponto de lucrar no desperdício,

Que a imagem, no poeta, é mesmo um vício.



O meu fator de segurança aqui

É demonstrar que tudo o que senti,

Durante o meu encarne venturoso,

Vai ser aproveitado, com certeza,

Porquanto cá não venho para a mesa,

Sem propiciar ao povo um nobre gozo.



E qual é esse gozo, finalmente,

Se tudo quanto faço é tão premente,

No tempo que disponho tão pequeno?

Está no meu leitor toda a alegria,

Pois outra o mesmo tema não daria,

Variável deste verso, sem co-seno.



Não disse que outro jeito poderia

Causar, no meu leitor, tal ojeriza,

Ao rejeitar de vez quem cristaliza

Um modo diferente de poesia?

Então, volto aos assuntos mais amenos,

Virtudes que se explicam de somenos.



Um mais arguto amigo há de notar

Que todos os assuntos aqui cabem:

Os gajos a escrever é que não sabem

Como fazer a rima se adequar,

Talvez não tanto pela forma antiga,

Mas por não terem paz que ao bem obriga.



Também não posso mais pôr-me no fogo

Destas acusações sempre mui sérias.

Na Terra é que gerei graves misérias,

Pois, rico, não ouvia qualquer rogo,

Por mais que o sofredor erguesse as mãos:

Tocava o meu tambor aos gritos vãos.



Escrevo qualquer coisa a revelar

Os males que causei junto ao meu lar,

Pois infiel eu fui e, mais ainda,

Traí a confiança dos meus pais,

Os filhos eu tratei como animais:

Como fazer agora a trova linda?



— Pedindo a Jesus Cristo me perdoe,

A prometer que a rima já ressoe,

A fomentar alheias contrições,

Pois não viria aqui mui simplesmente

Para pedir amor a toda a gente,

Mas para reprimir vis emoções.







12. Para cumprir tabela



Não ergo mais a taça para um brinde,

Sem que contenha apenas leve chá,

Pois tudo o que eu bebi não contará

No meu contrato, já que a dor rescinde

Os compromissos cármicos da vida

Que levo, cá no etéreo, constrangida.



Não pus nos versos todas as virtudes

Nem quero lhes causar as inquietudes

De quem se perturbou quando na Terra.

É lógico e normal que tenho impresso

No coração o molde do progresso,

Do mesmo modo de quem muito erra.



Não vejo diferenças muito sérias

Entre os pecados, mas nas rudes mentes

Dos que se afogam nas razões candentes

Com que desculpam todas as misérias,

Porque me atenho ao fundo e não à forma,

Segundo já lhes disse: é rija a norma.



Preciso desmentir, se lhes parece

Que dito co’emoção a minha prece,

Lá no final da trova que componho.

Eu faço o que é possível com a rima

Para alcançar do meu leitor estima,

Embora seja o verso tão bisonho.



Não deprecio o tema, mesmo assim,

E dou o mais que tenho dentro em mim

Dos meus recursos, ao compor o verso.

Se tudo lhes parece tão igual,

Ao menos não me julguem pelo mal

De me atrever a dar-lhes o universo.



É que, ao compor a trova que se forma,

Se contiver das escansões a norma,

Vai parecer supimpa aos olhos seus.

Então, eu me contento e me despeço,

Pensando haver disposto, com sucesso,

Algumas expressões p’ro meu adeus.



Aí, vejo que faltam muitas linhas,

Até que possa dar com meu aceno

Ao companheiro que se põe sereno,

Sabendo borrifar as estrelinhas,

P’ra festejar o dia de trabalho

Com muitas alegrias, porque malho.



O tempo é que se esvai a me apressar

A permanência, neste bom lugar,

Que me recebe as rimas com prazer.

Repito uns versos toscos, simplesmente,

Para cumprir dever, estando crente

De possuir ainda este poder.



Mas tudo quanto afirmo cá no fim,

Vai ser usado sempre contra mim,

Por não deixar a trova inda mais bela.

Ao afirmar que sei fazer uns versos,

Não deixei claro como são perversos

Os meus leitores críticos, sem trela.



Jesus, vosso perdão eu rogo agora

Conforme o bom costume que vigora

Entre os poetas tolos cá do etéreo.

Os puros, os perfeitos, os saudáveis

Conseguem rimas muito mais notáveis,

Mas vós nos destinais ao refrigério.







13. Quero redimir-me



Não posso reformar esta maneira

De formular a trova, embora queira

Tornar mais agradável meu assunto.

Os temas, me propõem os caros mestres,

A bem dos meus irmãos que são terrestres,

Enquanto sobre o amor eu lhes pergunto.



Respondem-me que devo sempre mais

Usar do meu direito de escrever,

Não tanto p’ra me expor mas por dever,

Ainda que não sejam magistrais

Os versos resultantes do trabalho.;

Mas sem me comover, porquanto falho.



Há de ficar, porém, mui cansativo:

Aquele que me ler, estando vivo,

Irá se aborrecer a cada rima

Que vir aqui de novo reprisada,

Pois vim propor por tema um quase nada

E a dor que sente agora o desanima.



Escrevo, então, para não mais ser lido?

Meu verso perde seu melhor sentido,

Organizado e justo, mas sem vida.

Ao gajo que me serve de escrevente,

Eu peço, comovido, que me agüente.;

Um dia irá ouvir-me a despedida.



Porém, se trago n’alma uma euforia

Que posso transformar nesta poesia,

Alegra-se este povo e se entusiasma.

Um tico de grandeza e de virtude

Irá fazer com que minh’alma mude

E toda a gente fica atenta e pasma.



A glória é ser perfeito em cada gesto,

Ainda que, no fundo, eu sinta o gosto

Amargo do sofrer que foi imposto,

Ao ter consciência de que um pouco presto,

Porquanto me preocupa muito o bem

Que o gajo que me lê faça também.



Se devo preocupar-me mais comigo,

Como é que vou tornar o verso antigo

Um jogo de verdade e de saber?

Crescendo na doutrina, simplesmente,

Que o gajo que se doa não se sente

Apenas a cumprir rude dever.



Aos poucos, um sorriso mostra os dentes

Dos meus amigos, que se põem freqüentes,

Na confiança de que sou capaz

De receber, em desafio, um mote

Que não requer que minha rima esgote

Mas que me dá mais esperança e paz.



Por isso, quando chega a nona hora,

Eu faço logo a estrofe e, sem demora,

Carrego já com ela p’ro escrevente.

É num minuto apenas que lha dito,

P’ra ouvi-lo murmurar: — Ó ser bendito,

Que leva o tempo meu tão sorridente!



Jesus, perdoa o gajo que hoje escreve,

Pensando vir dispor sempre o que deve,

Conforme se propõe para os mentores.

Envia a tua bênção a quem sofre,

Abrindo das virtudes o teu cofre

E faze dos amigos bons leitores.







14. Tornando a rima leve



Quando peço por mim mesmo,

Pareço pedir a esmo,

Pois os sons de minha voz

Repercutem na memória,

Trazendo de novo a história

Dum tempo demais de atroz.



Salpico, nuns versos toscos,

Os engodos e os enroscos,

Maldades de um’alma triste.

Isto tudo é de sobejo,

Pois só toco o realejo,

Sem pôr o meu dedo em riste.



Ao lamentar a poesia,

Pensando que poderia

Outro texto formular,

Apenas sinto a desgraça

Dum instante que não passa.;

E não mudo de lugar.



Faço versos tão impuros

Que mais sofrem esconjuros

Dos leitores de improviso,

Porque não sabem que as rimas

Requerem deles estimas,

Para além do meu juízo.



Por isso, venho ao Senhor

Solicitar que o compor

Me desobrigue do bem,

Pois o que faço é terrível,

Bem longe de ter o nível

Dos perfeitos cá do além.



Em todo o caso, o perigo

De sofrer rudo castigo

Não ronda estes versos meus,

Porque sei que o bom colega

O pasticho nunca entrega,

Por confiar mais em Deus.



E tudo aqui prevalece

No mais simples desta prece

Carinhosa e proficiente,

Pois Jesus me dá conforto,

Dizendo o passado morto:

Que o futuro me acalente!



Sendo assim, não me envergonho

De lhes contar o meu sonho

De perfeição literária.

Qualquer dia, chego aqui

P’ra demonstrar que senti

Os tremores da malária.



Hoje em dia, sigo alegre,

Querendo ver que se integre

A doutrina nos meus versos.

É tão pouca a inspiração

Que certamente não vão

Deixar de julgar perversos.



Mas não me importo com isso,

Pois cumpro o meu compromisso

De calar os impropérios.

Tendo Deus no coração,

Jesus está sempre à mão,

P’ra resolver os mistérios.



Se não pensa assim o amigo

Que chegou junto comigo

Ao final dos versos meus,

Ao menos, vamos orar,

No recesso do seu lar,

Rogando as bênçãos de Deus.







15. Poesia e vida



Devo refrescar-me um pouco,

Do contrário acabo louco,

Nos calores cá do etéreo,

Pois trago a alma ferida,

Por ter estragado a vida,

Sem compreender o mistério.



Muitas vezes o sujeito,

Por sentir-se satisfeito,

Pensa que tudo está certo.

Não percebe quanto o mal

Extrapola o que é normal,

Tornando a mente um deserto.



Agora não mais requeiro

Ter no bolso um bom dinheiro

Para gastar sem juízo,

Desperdiçando quantias

Com tantas mesquinharias,

Para além do que é preciso.



Mas vocês podem dizer

Que não me cabe o dever

Deste parecer amargo,

Pois, se fui tão mal na vida,

Como posso dar guarida

Às virtudes deste encargo?!...



Está claro que mudei,

Pois reconheço esta lei

De progresso e de justiça.

O dia de ontem foi duro,

Porém, hoje me asseguro

De que a dor não mais me atiça.



Nem por isso sou perfeito,

Nem escolhido ou eleito,

Para habitar outra esfera.

Sou soldado nesta briga,

Mas meu grupo não periga

No respeito que assevera.



Por isso, me atrevo ainda

A dizer que hoje não finda

A tarefa que empreendi.

Tenho muitas trovas feitas,

Examinadas, aceitas,

Pelos mentores daqui.



Mas vale do meu leitor,

Esteja ele onde for,

A opinião decisiva,

Porquanto a rima que falha,

Ao perder esta batalha,

Vai p’ro cesto, onde se arquiva.



Compromisso é compromisso:

Tenho de mostrar serviço,

Nas dez estrofes da norma.

Mas, quando falo do verso,

Um sentimento perverso

A rima logo deforma.



Sendo assim, ó meu Jesus,

Dai-me mais força, mais luz,

P’ra terminar tudo em prece.

Protegei o meu leitor,

Com vosso manto de amor,

Que estes males logo esquece.







16. Sob tristes impressões



Eu tenho de ajudar o meu irmão,

Estando ele cansado desta vida.

Nem sempre este trabalho ao bem convida,

Se a ele não se entrega o coração:

O aviso chega tarde e se desfaz,

Se não se sente afim o bom rapaz.



Vou recolher-me, então, muito mais cedo,

Dizendo que não vale a minha rima,

Porquanto este meu tema o amor sublima,

Ao superar o anseio, a dor e o medo,

Pois as sextilhas chegam p’ra provar

Que estamos a compor junto ao seu lar.



Mas é trabalho insano, pobre, feio,

Pois nosso estímulo não tem vigor.;

Não repercute n’alma do leitor,

Enquanto, nestes versos, titubeio,

Pedindo a Jesus Cristo a melhor bênção,

Para que os meus amigos se convençam.



Jesus, perdoa o pobre desafeto

Que de tão longe mede o meu trabalho.

Permita-me enxergar onde é que falho,

Para tornar o verso mais correto

E dar ao médium meu mais confiança,

Porquanto, mesmo assim, o gajo avança.



E segue a repetir o que lhe dito,

Sabendo não ser dele esta poesia.

Não quer acrescentar um todavia,

Pois julga que não pode estar aflito.

Quando se perturbar, de forma injusta,

Espera que lhe cobre o que me custa.



Prossigo no improviso desta trova,

Buscando, em meu bestunto, o tema certo,

Porque ninguém que pregue no deserto

Aspira a revelar a boa nova,

Que a multidão não vê e não conhece,

E ali só cabe bem alguma prece.



Jesus, perdoa o pobre que me ofende,

Sem conceber que possa errar de novo.

Se o verso meu não se mostrar ao povo,

Bem pouco este poema a mim me rende,

Porque não faz ninguém pensar na vida,

Conforme a traz aqui quem não revida.



Suspendo o pensamento contra alguém

Que nem sequer suspeita que reajo,

De forma a responder mui sério ao gajo,

Ouvindo dele o mal, fazendo o bem,

Sem esperar resposta nunca mais,

Pois responder seria ir contra a paz.



Bondade em solidão encontra apoio

No pensamento que se eleva ao Pai:

Toda pessoa que hoje reza vai,

Um dia, separar trigo do joio.

Aí, o descortino da verdade

A dar uma guinada persuade.



Senhor, aceita trova tão mesquinha

E estende a mão a quem não tem ouvido

A pregação do amor, porque duvido

Que, se escutasse a minha voz fraquinha,

Não ia agradecer ao Pai a luz

Que esparge sobre nós Cristo Jesus.







17. No capricho



Preciso demonstrar algum talento,

Se quero progredir nesta poesia:

É tudo quanto espera quem, um dia,

Perdeu algum dinheiro, desatento,

Porque gastou na compra do volume,

Talvez por desfastio ou por costume.



Mas como melhorar os versos meus,

Se não melhoro a mim quanto à virtude?

Também quem desespera p’ra que mude

Não há de evoluir, pois quer que Deus

Proceda a algum milagre, em boa hora,

A desprezar a lei que hoje vigora.



Da mesma forma, o homem, quando encarna,

Não deve requerer só benefícios:

Deve afastar de si os rudes vícios,

Senão vai se coçar com outra sarna.

Se as coisas não são fáceis cá na Terra,

Piores vão ficar, se ao mal se aferra.



Por isso, dou conselho e mais me esmero,

Querendo receber bom elogio,

Não tanto quando a trova desafio

A receber do povo mais que zero,

Mas quando me apetrecho com a rima

Que vai provar que o gajo aqui se anima.



E quando o meu leitor descoroçoa,

Sem nunca mais achar algo que preste,

Preciso relembrar que existe a peste

De tanto verso feito assim à toa,

Que os meus até parecem proveitosos,

Favorecendo, alegres, lindos gozos.



Mas, neste ponto, peço ao bom Kardec

Que venha em meu socorro co’a doutrina

Que tantos bons espíritos afina,

Abrindo de Jesus o amor em leque,

Em cântico de luz e de prazer

Que eleva ao Reino com veraz poder.



Sustento este meu tom em nota longa

Mas temo desabar, se, de repente,

A dor do meu passado se apresente,

Que o verso, sem que eu queira, se espandonga,

Por não cumprir as rútilas promessas,

Deixando as tais virtudes às avessas.



Devo correr, então, atrás do abrigo

Que sempre consegui junto a Jesus,

Nas preces tão ligeiras que compus

E que a dizer aqui hoje me obrigo,

Se o gajo que me lê não desprezar,

Deixando p’ra depois, às mãos do azar.



Meu Deus, fazei de mim um serviçal

Que nunca mais destroce um compromisso.

Se tenho de trazer algo mortiço,

Que seja o mais saudável e normal,

Que a morte, quando chega e nos arrasta,

Nos leva de roldão, sem dom nem casta.



Livrai-me da preguiça e da impostura,

Para que o verso seja de proveito,

Que os males já não quero e não aceito

Que o meu leitor se frustre, pois se apura

O sentimento deste amor divino

Que a vós elevo, quanto entôo um hino.







18. Meditem sobre isto



As outras entidades que aqui vêm,

Com o seu texto em prosa bem composto,

Ocupam mui felizes este posto,

Pois sabem resguardar-se muito bem

Das falhas que cometem na prosódia,

Que é fácil de alcançar boa custódia.



Os vates, entretanto, penam mais,

Pois devem vir compor na segurança

De que o pior sentido não avança

Nos versos, por fatores naturais,

Que o nosso médium prima pela forma,

Mas não se vê seguro quanto à norma.



Repetem-se, por isso, muito as trovas

E os versos não parecem progredir,

Deixando aflito o amigo Wladimir,

Cansado de sofrer severas sovas,

Embora tudo chegue bem depressa,

Passando o tempo sem que o gajo meça.



Mas o produto que se vê no fim

Talvez não traga o bom prazer da paz,

Porquanto à gente apenas satisfaz

Quando não lembra fato algum ruim,

Nesta medida que se entende logo,

Quando a Jesus por muita luz eu rogo.



Meu compromisso, assim, se desvirtua,

Porquanto apenas trato desta rima,

Pondo de lado o bem que mais anima

Quem quer sossego, sob a luz da Lua,

Depois de trabalhar o dia inteiro,

Tendo de ouvir os sons que não peneiro.



Além do mais, o amor não se estimula,

Se ponho a lamentar-me, como acima:

O meu amigo quer trazer-me estima,

Mas racha o sentimento, que se anula

Nestas terminações tão más, soezes,

Porque já se repetem muitas vezes.



Assim é que reflito sobre a vida

Que me mantém imerso neste Umbral:

Por tanto repetir na Terra o mal

Que o gozo dessa carne o bem olvida,

Agora a minha trova chega tarde,

Que o fogo deste inferno mais me arde.



Não quero descontar no meu leitor,

Então, dou-lhe de leve co’a notícia

De que meu caso escrevo, sem malícia,

Deixando de mostrar, no meu compor,

As lágrimas que lavam minha face,

Pois faço com que o tempo logo passe.



Também, disponho os sons com harmonia,

Disfarce que aprendi regendo orquestra,

Ao sugerir somente, na palestra,

Que nada aqui melhor produziria,

Se fosse evoluído e com mais luz,

Amigo dos amigos de Jesus.



Eu quero agradecer, mui comovido,

Por ter chegado ao fim dos versos meus,

Rogando que intercedam, junto a Deus,

Aqueles bem mais puros, pois convido

A todos que me leram que convençam

Os santos benfeitores para a bênção.







19. São contentamento



Detenho grande força em meu poder,

Pois sou dos que sustentam esta turma,

Na corda bamba, pois um só que durma

Demonstrará que o verso é de doer,

No coração da gente que se informa,

Para saber do etéreo qual a norma.



Preciso, pois, lograr tremendo apuro,

Nas rimas que componho toda tarde,

Pedindo p’ra que o povo se resguarde

De requerer um verso mais seguro

Das teses doutrinárias de Kardec,

A quem devo fazer salamaleque.



O termo acima não contém perjúrio:

É que rimar eu devo sempre bem,

Porém, nem todo termo que me vem

Impede que, entre o povo, haja murmúrio.

Se em prosa fosse a minha descrição,

Iriam encontrar outro refrão.



O dia está propício p’ra que o tema

Se envolva de felizes harmonias.

Então, tu me dirás que não darias

A mesma solução para o problema,

Que o gajo que aqui vem mais se atrapalha,

Pois quer mover na vez uma só palha.



Assiste-me o meu mestre e professor

E espanta-se co’a rima que produzo.

Às vezes se chateia pelo abuso

Dos sons que intermedeio, sem valor,

Apenas p’ra provar que tenho o mérito

De haver muito rimado no pretérito.



Aí, bem reconheço ser pecado

Fugir de aproveitar este momento.

Mas é com prontidão que me atormento,

Depositando os males deste lado,

Que as trovas se produzem com esmero,

Para o leitor que gosta do tempero.



Quem desconfia deste autor nefando,

Querendo pôr-me um nome conhecido,

Não vai gostar de mim, nesse sentido,

Pois tenho a produção dum miserando

Poeta sem destino e melodia,

Sabendo que um qualquer melhor faria.



Por isso me convidam para o estudo

Dos preitos doutrinários dos mortais,

Fugindo destes textos sempre iguais,

Para afirmar mais tarde: — Agora eu mudo! —,

Deixando de escrever qualquer poesia,

Que o mudo é p’ro silêncio que faria.



Quem quer que seja alegre no mistério

Não pode contentar-se com tão pouco,

Pois há de declamar, ficando rouco,

Multiplicando os versos cá no etéreo,

Até compreender a seriedade

Que anima o bom leitor e o persuade.



Jesus, eu temo as reações do povo

E venho requerer a vós, de novo,

Me protejais dos meus irmãos furiosos,

Tornando a minha rima tão alegre

Que faça com que a gente a mim se integre

E tenha, finalmente, nobres gozos.







20. Fruindo sem comprometimento



Caríssimo, eu lhe peço um só minuto

Do tempo destinado ao seu lazer:

Pretendo demonstrar o meu poder

De dominar os sons, pois sou arguto,

Embora não consiga muita cousa,

Que o gajo que me lê também repousa.



Na esfera em que me encontro, não sou bamba,

Porquanto mui me aflijo co’a virtude,

Querendo que minh’alma sempre mude,

No instante que p’ro mal ela descamba.

Mas, não fazendo muito além dos versos,

Não tenho como ver se vão dispersos.



Na vida literária que passei,

Cometa a deixar cauda sem rebrilho,

Tratei cada poema como um filho,

Pensando no futuro como lei,

Que o povo um dia iria compreender

O quanto dessa dor me deu poder.



No entanto, não deixei nada de bom:

Fagulhas, nada mais, sem gênio algum.

Mas cria divertir, sendo incomum

A solução que dava a cada tom,

Na escala dos valores dum momento,

Querendo a eternidade do talento.



Minha poesia faço de tal jeito

Que dê p’ra demonstrar na forma o assunto.

Por isso, tenho medo e não pergunto

Se agrado, quando eu mesmo não aceito,

Tornando o melhor clima muito tenso,

Perdendo mas pensando que hoje venço.



Não há de ser assim com meu leitor,

Que criva de perguntas cada rima,

Achando bem melhor, quando se anima

Nas faldas da montanha do valor,

Ao crer que já subiu perto do cume,

Estando para o vôo ainda implume.



Mas devo de afirmar esta virtude

Do jeito que disponho a minha voz:

É que disfarço bem o mal atroz

Que impede ao meu leitor que mais estude,

Nos versos que lhe trago, a tal doutrina

Que o mestre que me instrui ao povo ensina.



Por isso, ao ver passar alegre corso

De doces fantasias, lá da Terra,

Eu temo pelo amigo que abre guerra,

No empenho em que acomoda o seu esforço

Para gozar a vida e ser feliz,

Sem compreender as leis deste país.



Se falo da doutrina e não agrado,

O risco é de perder o meu leitor,

Ainda que demonstre tanto amor,

Deixando o meu orgulho deste lado,

Porquanto já não primo pela rima,

Pois muito mais me vale a sua estima.



No fim, peço a Jesus que me resguarde

Ao menos para as bênçãos que rogar

Que caiam sobre todos deste lar,

Que as luzes naturais da bela tarde

Se foram, a reinar noutras paisagens,

Restando um pouco apenas nas mensagens.







21. A cada passo, uma pegada



Não posso demorar-me com os versos,

Que o tempo está premido nesta esfera.

E, se não passo a rima, vira fera

O companheiro médium e os diversos

Leitores que acompanham a poesia,

Querendo algo melhor a cada dia.



Assim, como fazer algo de vulto

Que possa efetuar um crescimento

No coração da gente que atormento,

Se todo o bem no etéreo deixo oculto,

Por falta de sentir dentro do peito

A mesma vibração dum ser eleito?



O meu leitor amigo já pensou

Se cá viesse um ser mui superior,

Daqueles cujo halo, em esplendor,

Iria por si só dar o seu show,

Na crosta, como aurora boreal,

Queimando no seu fogo todo o mal?



Que versos comporia o nosso amigo?

Que temas nos daria, em expansão

Do amor mais puro e terno, coração

Que bate em sintonia já comigo,

Porque, para entendê-lo, era preciso

Tornar mais puro e terno o meu juízo?!...



Aos poucos, as palavras que hoje junto

Demonstram que sorrio e não me importo

Se o texto se permite vir — e exorto

Todo respeito ao som do meu bestunto,

Que as trevas exteriores são terríveis

E eu vejo alguma luz em nossos níveis.



Preciso enfatizar que todos nós

Seguimos lentamente pela estrada:

Talvez o que hoje faço seja um nada

Mas é melhor que o estrago tão atroz

Que um dia cometi contra a poesia,

Recordação que o sangue logo esfria.



Nem tudo que lhes trago é muito feio,

Porquanto o meu respeito ao professor

Me obriga a solfejar trovas de amor,

Enaltecendo os pontos que permeio

De sã doutrina espírita, que curto

Mas não consigo pôr neste meu surto.



Então, faço o que posso com a rima

E dou ares de prosa ao verso tolo,

Que apenas me permite que, ao compô-lo,

Esteja mais alegre, pois se anima

Aquele que suspeita estar no fim

O surto da poesia mais ruim.



Um anjo que viesse p’ra rimar

Teria de buscar um patamar

Que fosse mais sutil para o seu verso,

Que a rima que compõe, bem lá no alto,

Acaba por deixar em sobressalto

O coração na trova mais imerso.



Aí é que pergunto ao Nazareno

Quem é que, estando em solo tão ameno,

Exige sacrifícios dos amigos:

— O pobre que verseja no momento,

Querendo que lhe diga que sustento

O povo resguardado em seus abrigos.







22. Comentário imprescindível



Concordo, quando dizem ser bem fraca

A rima que disponho e que sublinho,

Porque tudo o que faço logo alinho

E passo ao escrevente, quando empaca,

Porquanto outras virtudes requeria,

Para dar vida às asas da poesia.



Minhas figuras não se põem felizes,

Que é como sabem os mortais as trovas,

Pois querem que estas flores sejam novas,

Que as árvores se elevam das raízes,

Ou seja, o tronco, os ramos e as sementes

São coisas de somenos, para as gentes.



Se deito estas raízes na doutrina

E ponho falação nos pecadilhos,

Vão logo reparar nos estribilhos,

Que a língua dos mortais é bem ferina:

Se o preconceito aflora de repente,

Não há vate que aceite ou que se agüente.



Mas devo confirmar, inda uma vez,

Que tudo quanto escrevo vai perder-se,

Que o som, quando me serve de alicerce,

Ressoa, junto aos críticos, soez,

Que o belo se resume nas palavras

E paira muito longe destas lavras.



Conseguirei alguém que me respeite

O texto pouco lúcido que rimo.;

Alguém que possa ser o meu arrimo

Nas tristes decisões, para o deleite

De ver que existe quem não tem pudor

De oferecer aos pobres seu amor?



Assim me sinto bem e me estimulo,

A dar, junto aos mortais, um simples pulo,

Alegre e satisfeito, agradecido,

Sabendo ser bem pouco o sentimento

Do irmão que me quer bem e que atormento,

A ponto de rezar por mim no olvido.



Faltando muito pouco para o fim,

Estranho esta tristeza que me invade:

Foi rara, mas foi, sim, felicidade

O que me trouxe alegre ao bom festim

De cores, brilhos, sons e fantasias,

Nas trovas de tão parcas harmonias.



Sutis, irão pensar que quero apenas

Que me ponham no céu, junto aos poetas.

O que não sabe o povo é que completas

Estão as tais esferas, pois, pequenas,

Resguardam alguns vates superiores,

Que é duro de agradar os meus leitores.



Lamento, finalmente, o tema triste,

Porquanto o meu pavor inda resiste

Às teses doutrinárias comezinhas.

Eu fico a lamuriar-me eternamente,

Querendo e não querendo que se aumente

O quadro do horizonte nestas linhas.



Jesus, peço por todos que me lêem

E que, conquanto feias, não descrêem

Das rimas que lhes trago tão bisonho.

Fazei por eles muito mais que um verso.;

Trazei algumas luzes do universo

E povoai de amor meu pobre sonho.







23. Reflexões natalinas



Jesus Cristo é o Salvador

Que o Pai mandou até nós,

Que lhe demos cruz atroz,

Em troca de tanto amor.

Hoje em dia, esplende em luz,

Nos corações que seduz.



Nasceu em terras hebréias

Mas espargiu pelo mundo

Um sentimento profundo

Que transformou as idéias,

Tornando o povo selvagem

Mais feliz pela mensagem.



Hoje, há guerras sanguinárias

Mas o povo está esquecido

De aplicar, no bom sentido,

As virtudes, que são várias,

Para bloquear a dor,

Para a esperança compor.



Se Jesus hoje voltasse,

Cheio de luz e de paz,

Seria o povo incapaz

De dar outro desenlace

À vida de sacrifícios,

Pois mantém todos os vícios.



Todo dia, uma criança

Perece à míngua, na Terra.

Inocente, serve à guerra,

Quando a paz ninguém alcança.

E quem pensa em seu favor?

E quem lhe dispensa amor?



É Jesus inda do etéreo,

Pois acolhe o sofredor,

Pedindo para transpor

Os portais do cemitério,

Com o coração sereno,

Pelas mãos do Nazareno.



Muitos querem retornar

Para causar mais transtorno,

Que a luz só serve de adorno

Para os gajos do lugar:

Não brota do coração

E as dores aumentarão.



Muitos, porém, que conheço

Seguem a voz do Senhor,

Aquele ser superior

Que não muda de endereço:

Está no reino de Deus,

Onde abraça os filhos seus.



Não me transtorna a miséria,

Porquanto sei quanto é séria

A promessa de Jesus.

Não importa quanto peque,

Em nome de Allan Kardec,

Venho acender uma luz.



Se o meu verso é muito pouco,

Não me faça ouvido mouco,

Rezando agora comigo:

Ó Jesus, manda o seu povo

Descer à Terra de novo

E reconstrói teu abrigo!







24. Carlos se retira



Encerro estes meus versos bem feliz

De haver participado desta mesa.

Quisera ter o dom de mor beleza,

Para deixar impressa a diretriz

De como pôr nas trovas as lições,

Como Kardec o fez nas edições.



Mas devo estar contente com a rima,

Pois traduzi afeto, amor, estima,

Em rústico penar de bom castigo.

Apenas não concordo que haja dor

Na esfera em que o amigo e bom leitor,

Não sente o meu abraço e o meu abrigo.



Por mim deve de orar a melhor prece,

Pois tudo quanto expressa se oferece

Em vibrações de luz de forte amparo.

Aí, vou confortar-me, criar vida.;

Vou convidar a quem também convida

Para elevar ao Pai o dom mais caro.



Jesus vai ser por nós, tenho certeza,

Porquanto o amor que gera, sem surpresa,

A fé que temos todos na doutrina

Se estenderá também ao coração

Dos mestres que nos passam a lição

Que, no seu labor, Kardec ensina.



Jesus, sede por nós, onde estejamos.;

Faze que sejam doces, nestes ramos,

Os frutos das virtudes que nos pede

A luta pela vida em prol do amigo

Que sofre e que batalha aqui comigo.;

E faze desse amor noss’alma a sede.



Senhor, nós te rogamos nos perdoe

A atribulada busca da poesia,

Que é certo que qualquer melhor faria

Que a rima que nos pesa bem ressoe,

Nos corações que vibram mais perfeitos,

Porque, mais que escolhidos, são eleitos.



Reduzo os sentimentos, pois que vim

P’ra ser um mero escravo que te serve:

Não quero um sofrimento que me enerve

E torne este poema contra mim.

Faze que o meu leitor o considere

Simples canto de dor, um miserere.



Se devo aqui ousar um alto vôo,

Na trova em que desnudo est’alma rude,

Dá-me, Jesus, que tenha uma virtude:

A de entender as falhas, pois perdôo

A todos que me ferem com seus zelos,

Quando não sei ainda conhecê-los.



O mais corre por conta do mistério,

Que os versos que componho, muito sério,

Não dão para entender todos os dramas.

Falei pouco de mim, na realidade,

Mas o que disse aqui me persuade

Que não devo entregar a trova às chamas.



Que tenha a sorte o meu poema torto

De não haver nascido natimorto,

Que alguém o possa ler e me estimar.

Senhor, eu peço, então, que me abençoes.;

Que tudo quanto fiz de mau perdoes.;

Que ampares os amigos deste lar.













MARIA



















1. Meu nome é Maria.



Meu filho era traquinas e eu dizia

Que muito mal na vida acabaria,

Se desprezasse tanto os meus conselhos.

Um dia, fez das suas lá no mundo,

Caindo de bem alto num profundo

Buraco, cá no etéreo, de fedelhos.



Isso só vim saber depois de velha,

Quando aprendi do Espiritismo as leis.

Além daquele, eu tinha outros seis

Mas presa ali fiquei, que a dor engelha:

Se alguns vão bem, o outro se engrandece,

Para nos provocar a nossa prece.



Depois que retornei para o mistério

E descobri que o filho se perdera,

Pois, na verdade, a queda que sofrera

Não tinha tido ainda um refrigério,

Me pus a perguntar a toda a gente

Se traz um bem ao outro o que se sente.



Então, eu compreendi que já lhe dera

A compreensão da falha, pelo menos.

Se lhe aumentei a dor, com meus acenos,

Agora iria dar-lhe, nesta esfera,

O carinhoso afeto de quem sabe

Que o pagamento é sempre o que lhe cabe.



Ao procurar por ele nos abismos,

Fui prevenida, sim, de haver quem quer

Prevalecer na dor, por ser mulher

A protetora cheia de truísmos,

Mãe carinhosa e meiga, sem maldade,

Mas plena desse amor, por caridade.



Distribuí afetos a mancheias

E fui apedrejada muitas vezes,

Que existem entidades vis, soezes,

Que culpam as pessoas pelas peias

Que prendem os seus pés e não permitem

Ir muito além das dores que transmitem.



Mas consegui livrá-lo, finalmente,

Trazendo-o comigo para a escola.

A ele pareceu ser uma esmola,

Que a vibração de medo tão recente

Faz tudo cheirar mal ao derredor

E ao paladar saber muito pior.



Aos poucos, compreendeu que tal auxílio

Lhe veio num momento de ternura,

Ao relembrar da mãe a eterna jura

De nunca abandoná-lo, nesse exílio

Que representa o mal que ontem se fez

E que jamais se vai todo, de vez.



Hoje, rezamos juntos a Jesus,

A quem pedimos muita paz e luz,

Não só por nós, porém, p’ro mundo inteiro.

A minha parte eu vim fazer ao vivo,

Nesta poesia em que me dou e ativo

A minha fé em Deus, a quem requeiro



Que mande ao mundo as bênçãos da razão,

Porque somente assim compreenderão

Os homens que precisam se esforçar

P’ra merecer um pouco de sossego,

Fazendo dessa vida um bom emprego,

A começar do povo do seu lar.







2. A natureza moral dos versos



Se quebro o meu jejum de vários anos,

Não devo demonstrar que estou sem jeito:

Um pouco mais e logo o esquema aceito

E o faço a revelar meus desenganos.

Na estrada que percorro, ainda agora

A dor dentro do peito desarvora.



Mas tenho o compromisso e sigo em frente,

No mínimo a dispor com amargura

O que devera ser a forma pura

Dum lépido destino, mais contente,

Porquanto a mente vem com seu recado,

Deixando o sentimento já de lado.



Já disse que meu filho desandou

E deu, durante a vida, um triste show,

Buscando contrariar as leis de Deus.

Disse também que fui atrás do cara,

E peço ao meu leitor que se depara

Não mesma situação: — Não perca os seus!



Quem é que já não tem qualquer rancor,

Por vislumbrar nos outros o vigor

Com que pretendem nos fazer de otários?

O mundo, é certo, nos conduz às provas

Que, cá no etéreo, o povo põe em trovas,

Para evitar os gestos arbitrários.



Se venho prevenir os que se odeiam,

Não julgue o meu amigo que permeiam

Os meus dizeres as noções do mal:

Toda intenção é boa quando ativa

A consciência, que se põe mais viva,

A compreender que a dor é natural.



Se os pobres versos não contêm beleza.;

Se o meu trabalho aqui, junto da mesa,

Não satisfaz ao crítico exigente,

Ao menos me dêem crédito na tese

De que se deve honrar quem melhor reze,

Se põe o coração em paz, somente.



Depois dum certo tempo, a gente prima

A ver se alcança dar, em nobre rima,

A mais forte doutrina da existência.

Mas, quando se apercebe, muito errou,

Pois a felicidade não dá show

E o verso fica apenas na aparência.



Os dias são contados cá na Terra.

No etéreo, o que se passa não se conta

E tudo ganha dimensão de monta,

Enquanto os inimigos fazem guerra.

Por isso é que avisamos os mortais

De que a dor, cá no etéreo, dói bem mais.



Avisos já não faltam, mas vontade

E modo de pensar na realidade

São fatos que independem da poesia.

Quem vem com tais palavras de atenção

Não sabe compensar o seu irmão,

Se diz que tal conselho não daria.



Jesus será por todos, pode crer.

Assim, quem quer cumprir o seu dever

Deve rezar até por seu rival:

— Ó Pai, fazei que os homens sejam bons.;

Que saibam divisar, na trova, os dons,

Fazendo bem melhor o seu astral.







3. A provocação



Meu filho, o do trabalho, me acompanha

Ainda, quando venho p’ra poesia,

E quer dar-me o prazer que não daria

Se fosse outra qualquer esta façanha,

Ao sugerir uns versos de arremedo,

Sabendo, embora, ser um tanto cedo.



Preciso, então, conter tal arremesso,

Que a vida não é só fazer e pronto.

Desejo que ele veja que desconto

Os vícios que possuo e que conheço,

P’ra não deixar um rastro de soluços,

Falando o que me der e sem rebuços.



Também para escrever uns simples versos,

Precisa que haja luz nesta caverna,

Que um mal que se registra mais consterna,

Que os temas devem vir também imersos

No amor que o Cristo tem por todos nós,

Pois ouve com afeto a nossa voz.



Por isso, importa tanto cada rima,

Pois vibra o coração do bom poeta,

Se a trova está perfeita e se completa

Na mente do leitor que também prima

Por elevar ao Pai a melhor prece,

Sabendo que o momento favorece.



Meu filho entende tudo quanto digo

E ri muito contente com meu verso,

Pois sabe quanto bem incontroverso

Encontra em cada linha do castigo,

Ao dar ao conteúdo a melhor forma,

Segundo a compreensão da velha norma.



E peço que me escute e me repita,

Em forma de poesia, cada idéia.

Então não se conforma e não estréia,

Com medo de ofender, a mente aflita,

Pensando no porvir de sacrifícios,

Pois traz no coração uns poucos vícios.



Se lhe forneço o tema e mais ajuda,

P’ra que disponha as rimas no lugar,

Sugere que não faço de auxiliar

Mas tudo sai de mim e nada muda

Nos textos que produz por esse jeito,

Pois acha necessário um outro efeito.



É certo que razão lhe assiste assim,

Porquanto versejar requer paciência

E treinamento forte, que a ciência

Está neste exercício, o qual, p’ra mim,

Nenhum segredo guarda muito sério,

Porque consigo já bom refrigério.



Qual há de ser, então, o meu desejo,

Além de ver meu filho versejar?

Eu quero refazer meu doce lar,

P’ra dar aos protetores claro ensejo

De respeitar as leis e o compromisso

Que têm para comigo, se aterrisso.



Meu filho se arrepia e eleva a voz,

Clamando por Jesus, em leve prece,

Dizendo que ao jejum não se oferece,

Pois reencarnar lhe sabe muito atroz:

— Senhor, sede por mim nesta amargura:

Fazei que minha mãe se sinta pura!







4. Lições além da vida



— Mamãe, me pede o filho do meu lado,

Será que eu posso versejar também?

É claro — lhe respondo — pois quem tem

O que dizer aos outros gera agrado.;

Mas é preciso conhecer as normas

De dar aos conteúdos belas formas.;



Senão os versos seus não vão passar

De prosa, em metro tosco, só com rima,

Que é como a sua mãe a trova anima,

No ensejo de lhe pôr do tema ao par,

Pois dou os meus exemplos com amor,

Menos no ponto exato do compor.



— De que me vale o verso, se não primo

Por algo de valor junto aos mortais? —

Pergunto ao meu pimpolho, pois quer mais

Explicações do assunto, para arrimo

Da tentativa que supõe que deve

Levar avante, p’ra pegar de leve.



Então me diz que o fato não comporta

Análises do prisma dos mortais,

Que as trovas devem ser bens naturais,

Fluindo do mistério, ainda que torta

Consiga ser a tese que interpreta

O rude trabalhar deste poeta.



Concedo que as razões têm seu apoio

Nos sentimentos nobres dessa estima.;

Mas como pôr no verso, em doce rima,

Ao separar do trigo o mal do joio,

Esta lição superna que incentivo,

Sem dar ao coração algo aflitivo?



O que se faz, no etéreo, alcança a alma

Daquele que conduz, no bem, a vida,

Se for um benefício que convida

O ser humano a ver que mais se acalma,

Quando de amor reveste cada ação

Que põe, num pedestal de luz, o irmão.



O povo que me lê e que me entende

Nem deve reparar se falho tanto,

Que o coração vai receber o encanto,

Como se fossem versos de um duende

Que brilha e cambalhota nas estrelas

Que faz luzir p’ra quem deseja vê-las.



Assim, vou superar o medo de cair

No enredo torpe da suspeita alheia,

Apenas porque o povo julga feia

A trova que lhe dá do devenir

A clara e mui perfeita segurança

De que ser mui feliz a gente alcança.



Meu filho vibra muito e mais se agrada

Ao respeitar meus versos como são,

Dizendo que as pessoas saberão

Que o estro do poeta já na estrada

Há de florir, em cachos luminosos,

No coração de quem compreende os gozos.



E pede o meu garoto a melhor prece

Que pode a sua mãe em versos pôr.;

Mas tenho de convir ser inferior

O que nas minhas trovas se oferece.

Então rogo a Jesus que nos ajude,

Desenvolvendo o amor como virtude.







5. Confissões de um coração de mãe



Meu filho não depende só de mim,

Pois tem uns professores muito bons,

Que dão aos meus conselhos outros tons,

Para lhe demonstrar que é bem ruim

Ficar num livro só durante a vida,

Pendente da lição que consolida.



Por isso, muita vez venho sozinha,

Podendo refrescar-me nestas águas,

Que as lágrimas transferem minhas mágoas

Para o papel molhado que encaminha

As dores que me ferem a quem tem

Desejo de rezar em prol de alguém.



A hora que hoje passo nesta esfera

Um dia vai compor-se para efeito

De dar ao filho meu, mais satisfeito,

A dimensão do mal que depaupera

As doces ilusões da mãe contrita

Na fé que alimentou e que explicita.



Preciso, então, contar que tenho medo

De me perder nos tópicos do enredo

Que quero ministrar nesta missão.

Poeta do improviso, vou levando

O tema da canção, mas até quando? —

Pergunto, sem resposta p’ra questão.



Alguém há de pensar que perco a calma

Mas, na verdade, o bem que amor espalma

Me traz mais controlada e mais serena.

O medo que citei é do porvir,

Pois sei que meu reencarne pode vir

Quando a missão ainda mal se engrena.



Não sente o companheiro o bom desejo

De ver esta poesia completar-se,

Trazendo p’ros problemas a catarse

E não estes rascunhos que bosquejo,

Sem arte e sem primor, pois não me empenho,

Acomodada e triste, sem engenho?!...



Preciso esclarecer que o desconsolo

É forma de mostrar o lado pobre

De alguém que quer apenas que algo sobre,

P’ra meditar o gajo, ao recompô-lo

Na mesma condição que imprimo à rima,

Ou seja, na intenção que se reprima.



Com o meu filho ao lado, eu crio força

E ponho, nos meus versos, mais vigor.

Assim como hoje está vou recompor

P’ra que ninguém me acuse e o mal retorça,

Deixando p’ra depois as vitualhas

Da minha mesa farta sem tais falhas.



É quando já descai e se perdoa

O débito do verso que preocupa,

Que peço ao meu cavalo esta garupa,

A qual me faz alegre a rima à-toa,

E sigo, nos caminhos da esperança,

Pois, com Jesus no peito, o bem se alcança.



Perdão devo pedir mas sem vergonha

Por ter feito tão pobre a trova amarga.

Mas, como não me pesa tanto a carga,

Minh’alma com sucessos inda sonha,

Se Deus me permitir volver ao lar

De quem ora por mim p’ra me ajudar.







6. Dando explicações



Pediu-me o meu pimpolho para ler

O texto que deixei ontem escrito,

Mas não ficou contente nem aflito:

Apenas me exigiu, como dever,

Que lhe explicasse as dúvidas surgidas

E que expusesse em rimas comedidas.



Saber queria como é que alguém

Não quer mostrar que sofre a quem mais ama

E junto ao Pai, nas orações, reclama

Que não possui, no amor, o próprio bem,

Trazendo, na consciência muito aflita,

O sentimento de que a dor contrita.



Estar de bem consigo mesmo é fruto

De muita luta p’ra causar benesses

Aos semelhantes, que, ao colher as messes,

Vão esquecer o chão tão seco e bruto

Que revolveram, ao misturar as fezes,

P’ra fermentar a terra, sem reveses.



O que se come, então, vem orvalhado

Das lágrimas dos homens que cultivam

O solo co’as virtudes, que se avivam

Após o sofrimento do cuidado

Que o trabalho prescreve a cada qual,

Se for um resultado natural.



Explico-lhe que a trova que escrevi

Foi no momento azado para o exame,

Bem longe de supor que alguém nos ame,

Porquanto me enfurnei, estando aqui,

No coração da dor de ver frustrada

A tentativa sã desta jornada.



Assim, minha poesia se completa,

Sem grandes emoções à flor da pele.

Espero que, com isto, o amor cinzele

Estrofes que não pejem o poeta,

Tornando alguma coisa menos dura,

Neste labor profano que depura.



Um outro sentimento me pergunta

Se deve angustiar quem ama tanto:

A frustração do metro deste canto,

A par do conteúdo que se junta,

P’ra dar ao bom leitor a idéia clara,

Pois é com muita dor que se depara.



Ao responder, proponho um desafio,

Ou seja, se é possível sofrear,

Mantendo toda a água num lugar,

Sem permitir que avance dentro ao rio.

O meu pimpolho ri e me responde

Que, ao congelar, o rio tal água esconde.



Mas logo me acrescenta que é normal,

À luz do Sol, o gelo desfazer,

Não tendo o ser humano o tal poder

De suspender as dores desse mal,

Que exige das pessoas mais valor,

Ao menos quando vêm para compor.



E juntos nós rezamos nossa prece,

Agradecendo ao Pai esta poesia,

Sabendo que melhor ninguém faria,

Se a dor no coração não se arrefece,

Rogando ao bom leitor que nos ajude,

Ao ler com mais paciência e angelitude.







7. Reviravolta final



Suspeito que meu filho não insista

Nos tópicos das falhas que cometo

(Na casa do ferreiro o rudo espeto...).;

E põe só qualidades nessa lista,

Deixando que o conserto do meu mal

Se faça de maneira natural.



Mas como endireitar o que está torto

Nas malhas de terrível confusão?

Os homens, lá na Terra, poderão.

Mas como todo aquele que está morto

Irá se desfazer de tantos vícios,

Se aqui não assinar uns armistícios?



Ocorre que, no etéreo, os inimigos

Procuram arruinar os desafetos,

Se nas virtudes não se põem corretos,

Jamais trazendo aos corações abrigos,

Pelo perdão dos males e caprichos

Que transformaram seus irmãos em bichos.



No mundo superior, creio que o bem

Esteja sempre acima da vingança.;

Que o mal encontra o mal e mais alcança

Aqueles que as virtudes não retêm

E gozam, sofredores com seu crime,

Sem descobrir quanto essa dor redime.



Por isso, eu vejo que preciso ainda

Dar muito afeto e paz à alma sua,

Antes de vê-la palpitante e nua

A me pedir perdão, porque deslinda

As relações do carma dessa vida,

Que trouxe tanta dor e tanta lida.



Mas tudo tem seu tempo no mistério

E chega o bom momento da união.

É quando os inimigos sentirão

O quanto o compromisso se faz sério

De progredir na lei e na virtude,

P’ra merecer estar na angelitude.



Eu digo p’ro meu filho que me aguarde,

Enquanto escrevo as rimas deste dia,

Sabendo que ele mesmo aqui daria

Um bom conselho, com menor alarde,

Sem grandes inquietudes, pois se ajeita,

Passando pela porta mais estreita.



Quem deverá ficar em penitência,

No aguardo de mais luz e mais arrimo?

Aquele que suspeita quanto estimo

Criar uma poesia sem clemência,

Que vibre em desatino contra mim,

Na busca de mostrar o que é ruim.



Mas o meu filho clama contra o verso

Que mostra muito mais o que é perverso,

Sem complacência alguma e sem proveito.

E diz que, enquanto sofro nesta rima,

Os males essa dor jamais sublima:

Melhor seria se lhe desse um jeito.



Então, escrevo a trova p’ra que o povo

Não veja quanto a luta me estragou.

Pelejo, sim, mas para dar um show

Que possa revelar o dom de novo

Do riso que perdi nalgumas linhas,

Envolta nas paixões antigas minhas.







8. Com algum discernimento



Suspeito que meu drama não tem fim

E que meu filho clama sempre em vão,

Agora mais que nunca, pois dirão

Que o meu motivo é bronco, tanto assim

Que as rimas se repetem tão sem graça

E o meu desejo cresce e a dor não passa.



Deveria mudar o tom da voz,

Dispondo, no meu verso, outro sentido,

Que o pobre do leitor, mui comovido,

Há de julgar o etéreo assaz atroz,

Ao destacar as rimas tão cruéis,

Fomento simplesmente dos cordéis.



Assim, fica deveras bem mais rica

Minha demonstração de imagens tolas,

Não precisando vir aqui dispô-las

Com muitos artifícios, pois se aplica

O tal conceito justo e permanente

De que deve gostar quem muito sente.



Empenho o meu leitor no compromisso

De respeitar as leis da urbanidade,

Mas sei que o verso nunca persuade

Aquele que me lê sem que o feitiço

Desta razão sem causa lhe apeteça,

Fazendo desandar sua cabeça.



Por isso, mui freqüentemente peço

Que os meus atrevimentos se perdoem:

Licenças da poesia que se põem

Tão livremente e nunca com sucesso,

Que as rimas e os compassos mais não rendem,

Se os meus princípios tolos não se entendem.



— O meu amor a Deus não tem limite! —,

Assim pensava outrora e desandava,

Pois do confessionário eu era escrava,

Arrependida sempre e sempre quite

Com a consciência doce de quem erra,

Sem compreender direito a rude guerra.



Estou, portanto, aflita e com razão,

Agora que compreendo o coração,

Quando revela, sério, os erros meus.;

E peço que o meu filho me sustente,

Nas ânsias de voragem tão freqüente,

Orando, neste altar, aos pés de Deus.



Não quero, simplesmente, a melhor frase,

Pois uma inteligência mais arguta

Sabe partir o pão, enquanto luta

Para conter a fome, caso atrase

O cesto dos legumes e das tortas,

Levando em paz o povo às horas mortas.



Este alimento apenas me contenta

As ânsias e os furores de minha’alma,

Porém, eu sinto que meu tema acalma

O sofrimento dos irmãos e, atenta,

Vou terminar, enquanto o verso esfria

Os vezos das angústias, na poesia.



Jesus, não quero aqui deixar a prova

De que o saber me afeta o coração:

Confio em que os leitores saberão

Que a dor, ao se entender, não se renova.

Por isso é que vos peço: — Abençoai

O povo que obedece às leis do Pai!







9. Preparando os espíritos



Preciso estimular o meu leitor

Para que aceite a tese da poesia.

E como hei de fazê-lo, se a Maria

Não sabe o bê-á-bá deste compor,

Que os versos faço bem e até me esmero,

Mas no sentir mereço a nota zero?!...



Queria ser alegre nesta rima,

Tornando o tema vivo e mais seguro

P’ra quem compulsa o livro, que depuro

No intento de aumentar a sua estima

Por quantos vêm do etéreo versejar,

Pedindo aos corações um bom lugar.



Mas o que tenho é isto.; o mais eu calo,

Pois o sofrer perdura, enquanto a crise

A volta toda corre, que o deslize

Não pede a quem compõe p’ra amenizá-lo,

Pois a verdade fere, quando é triste.;

Bem mais ainda, quando a dor persiste.



Já disse, no princípio, que meu filho

Eu fui buscar no abismo, pois sofria.

Preciso vir dizer-lhes, todavia,

Que tanto sofrimento compartilho.;

Que o meu desejo nobre de ajudar

Carece de exibir algo exemplar.



Por isso é que meu verso é tão medonho

Nas partes do emotivo e da razão:

As dores causam dores, irrisão!

Nos raciocínios, falho, pois mais sonho,

Porque a doutrina espírita desperta

Para o roteiro justo e a rima certa.



Um dia, vocês vão me compreender,

Que a todos cá se pedem versos toscos

E quem mais se atrapalha nos enroscos

Não vai poder deixar que o tal dever

Se esqueça nas calendas dos martírios,

Porquanto os mestres trazem belos círios.



Eu mesma vacilei durante a vida

E, quando cá cheguei, muito jejuna,

A rima pareceu-me inoportuna.

Agora, já não mais reconsolida

O medo das ações, pois me despacho

E recomponho os versos, mulher-macho.



Alguém vai suspeitar que já fui homem,

Nalguma encarnação menos perversa.

É claro que já fui mas a conversa

Exige que as pessoas não retomem

O vício da defesa costumeira.;

E eu peço que o leitor o bem requeira...



Não vou contar de novo a minha história

De um ponto mais antigo e mais terrível.

Prefiro que me aceitem neste nível,

Que a dor, embora triste, é transitória,

Conforme testemunha esta criança

Que agora me sustenta e não se cansa.



Pedir eu peço muito a Jesus Cristo.;

Não dou, porém, de mim mais que uns versinhos.

É hora de seguir outros caminhos?

Então, por que na trova tanto insisto?

A crise não passou mas ficou clara:

Agora vou orar que a mágoa pára.







10. Vencendo o primeiro obstáculo



Em breve, vou poder regenerar-me,

Porquanto já compreendo uns pontos falhos:

Existem, nesta fase, uns espantalhos

Aos quais vou promover total desarme.

Eis que meu filho ajuda na empreitada:

Sem ele não faria quase nada.



Perdoa-me o pimpolho o destrambelho

Que um dia, noutra vida, cometi.

Apenas a memória resta aqui:

A causa do tormento e do conselho

Que agora passo ao povo que me lê:

Não caia na esparrela sem mercê.



Aflita estou no meio da poesia,

Ansiosa por chegar tão logo ao fim.

Preciso conformar-me, mesmo assim,

Que tal trabalho insano não se adia.

É como quando chove e a casa inunda

E a gente não se muda e leva a tunda.



O bem que vou fazer ao meu leitor

É dar-lhe idéia exata do mistério.

Assim, quando se deixa o cemitério,

Errando pelo espaço exterior,

O gajo aqui procura a sua turma,

Embora o povo pense que ele durma.



Se teve um desempenho muito bom,

Irá desembarcar junto aos melhores.

Se mau, nem vai ficar nos arredores,

Pois sua vibração lhe dá o dom

De se ajeitar no mundo dos traquinas,

Porque perdeu a vida nas esquinas.



Mas sempre há tempo p’ra crescer em mérito,

Caso à doutrina espírita obedeça,

Pois, se cuidar de pôr sua cabeça

Em bom lugar, os fatos do pretérito

Acabam esquecidos e sem dor,

Porque Jesus perdoa com amor.



Não seja hipócrita, porém, o gajo,

Querendo a salvação sem compromisso:

Precisa trabalhar, mostrar serviço,

Da mesma forma como aqui reajo,

Fundindo a cuca p’ra trazer tais versos,

Correndo o risco de compor perversos.



E, quando eu erro, vem meu mestre a mim,

Para explicar a correção mais justa,

Pois meu senão ao seu amor não custa,

Que não quer ver a trova tão ruim:

Talvez a rima não atice tanto.;

Mas o que escrevo deve ser sem pranto.



Como é que vê o meu leitor a trova?

Será que tem sofrido algum revés?

No seu conceito, serve p’ros galés

Que penam nessa estrada em rude prova?

Ou nada se aproveita e perco o dia,

Argamassando o tema sem poesia?



Jesus eu peço a vós, em simples prece:

Iluminai-me os passos nesta esfera

E dai ao meu irmão uma quirera

Do vosso afeto augusto, pois merece

Um lenitivo a dor de quem sofreu

A rude compulsão do verso meu.







11. Dominando as circunstâncias



Ainda mais me cresce este entusiasmo,

Ao ver que vou vencendo cada etapa.

Às vezes, algum verso mau derrapa,

Mas ponho sentimento no marasmo

E logo surge a rima e me dou conta

De que meu titubeio não reponta.



O resultado é tudo quanto vale,

P’ra que o leitor amigo persevere

Atônito, se lê tal miserere,

Em rimas muito ricas, sem que abale

A fé que devo pôr nos mestres meus,

Pois mandam respeitar as leis de Deus.



Etapa por etapa, vou crescendo

Depositando amor em cada linha,

Enquanto a confiança mais se aninha

No coração de todos, sem remendo,

Que o verso nasce inteiro em minha mente,

Após confabular com minha gente.



Se dito devagar e com cuidado,

Meu médium mais se aflige de seu lado,

Julgando que não deve interferir.

Meus mestres é que trazem nobre aviso,

Pedindo p’ra que julgue ser preciso

Ir mais depressa, junto ao Wladimir.



Se o meu rascunho elege a melhor rima,

Não há que duvidar da minha estima,

E logo vou transpondo o meu limite,

Pois tenho tido sempre a companhia

De quem muito melhor tudo faria,

Mas não quer que o poeta sempre imite.



Mas ser original é tão difícil

E a gente aqui decora o rol dos sons!

Quando começo a trova, não são bons

Os versos que compõem este edifício.

Então, o pobre vate se perturba,

Porque pensa nas vaias já da turba.



Se contornei o mundo, p’ra chegar

No ponto em que hoje estou, tão devagar,

É claro que não dou um bom exemplo.

Aí, peço ao leitor que pense um pouco:

Não faça, caro amigo, ouvido mouco

E veja com que rima o bem contemplo.



Trabalho exige a vida do poeta,

De forma que as palavras ganhem força:

Se penso, antes senti, sem que se torça

A fórmula do amor, que se completa

Nas trovas que se fazem no capricho,

Pois corto, estico, emendo, prendo e lixo.



Existem duas formas de entender

O verso com que enfeixo a estrofe acima,

Pois é quanto ao sentido dessa rima

Que pude concentrar o meu poder

De rir, quando componho um verso sério.;

Mas não vou explicar: fique o mistério.



Alívio é o que senti, ao concluir

Que posso orientar esta poesia,

Sem suspeitar que alguém aqui faria

Melhor que eu, pois penso no porvir,

Agradecendo ao Pai este trabalho,

Sabendo onde é que está seu ponto falho.







12. Cada um dá o que tem



No meio da jornada me encontrei

Envolta nestes versos tenebrosos.

Queria ao meu leitor dar doces gozos,

Mas p’ra quem não tem luz não vale a lei

De ter poder quem quer, mas só quem sabe

Se conduzir no bem, sem que se gabe.



Não hei de aqui jurar ser mais contente,

Que a dor inda perdura.; e sigo em frente,

Conforme o meu destino e ameno sonho.

Se ri no verso acima, foi bem triste

Que recobrei consciência de que existe

Quem tenha de enfrentar um mal medonho.



Aí, vão me dizer que o sofrimento

Que vejo nos parceiros e me dói

Não pode doer tanto, quando sói

Aborrecer quem tem entendimento.;

Porque Jesus teria apenas pranto,

Na compreensão da dor... Então me espanto...



— Em que extensão a dor é compreensível?

Estando o bom espírito encarnado,

Aceite quanto irmão se ponha ao lado,

Solicitando ajuda em mesmo nível.

Porém, na esfera em que me encontro agora,

A lei do amor e do perdão vigora.



Mas para amar e perdoar preciso

Compreender que o Pai ampara a todos,

Sem exigir demais, que os tais denodos

De toscas aparências, sem juízo,

Não vão causar piedade além da conta,

Pois basta uma oração que o bem desponta.



Notívaga, seguia pela estrada,

À luz da lua prateada e pura,

Pensando lá nas freiras da clausura,

Que não sabiam das belezas nada.;

E não gozei a minha liberdade,

Que a dor alheia o coração me invade.



— Tu és injusta, porque tens pendores

De argumentar ou de enfrentar as dores,

Como produtos da maldade eterna.

São de um segundo os sofrimentos todos

E não merecem de quaisquer rapsodos

Mais de um versinho.; e sem causar baderna.



— A tua lágrima somente diz

Que és infeliz e que não tens sossego.

É bem melhor então que um outro emprego

Do teu esforço dê ao bem raiz,

Para crescer, no tronco das virtudes,

Flores e frutos com que tu te escudes.



O sofrimento alheio é quase um vício,

Quando se espera muito já de si.

É o egoísmo que se nutre aqui,

Em vez de se propor um benefício

Que leve o companheiro à compreensão

De que seus males logo acabarão.



Vamos chorar quando a emoção for forte

E superar a dor com nossa prece:

O coração não tem razão, se esquece

Que existe alguém que nos dará suporte

Para o progresso, ao lado de Jesus,

Ao carregar, sereno, a nossa cruz.







13. Continuação pura e simples



Por isso, estou feliz no etéreo e sinto

Que faço muito bem em versejar,

Aproveitando a oferta deste lar

E do meu mestre, com valor distinto,

Pois, se sofrer aqui, corro o perigo

De me perder e merecer castigo.



Castigo, sim, o verso, sem dar trela

Ao arremedo simples do modelo.

É forte a tentação, pois, desde cedo,

Acende-se p’ra mim a luz da vela,

A tremular no escuro de minh’alma,

Que, embora seja pobre, muito acalma.



E sigo em frente, intimorata e forte,

Sabendo merecer que me conforte

A transmissão do verso que compus.

Ao vê-lo impresso n’alma de poeta,

Apresso-me a ditar, pois se completa,

Porquanto traz o ensino de Jesus.



— Mas qual ensino? — me pergunta o filho,

Aflito por me ver tão poderosa.

— Não é verdade que o valor se dosa

Pela humildade nobre do estribilho? —

Aí respondo em versos, pois não sei

Meio melhor p’ra demonstrar a lei.



Eu amo este meu filho, no limite

Do amor que entre as pessoas se permite,

Sem ofender aos mais dos arredores,

Pois todos querem ter o nosso afeto.

Por isso é que este verso já completo,

Com a lição que devo aos meus maiores.



O pensamento voa dispersivo,

Chegando à praia de quem, sendo vivo,

Não pode imaginar como se sente

O espírito que escreve esta poesia,

Senão pelo que diz, enquanto cria

Um mundo de ilusões, na luz tremente.



Por isso é que falei da vela pobre

A iluminar meu braço, que se apóia

Na força do meu mestre, rara jóia,

De amor e caridade, que o mal cobre

Com sua compreensão tão generosa,

Pois ele é quem o que hoje escrevo dosa.



Preciso terminar e já começo

A estremecer, na fúria que contenho.

Meu filho fica sério e cerra o cenho,

Pois gostaria de alcançar sucesso

Na falação com que me dá mais força,

P’ra que a virtude exponha e não retorça.



Mas seu sorriso indica que aceitou

A rima e o compromisso de dar show,

Pois declarei estar feliz no início.

Caso se estrague a rima de algum modo,

Peço perdão, pois sei quanto incomodo,

Quando não passa a trova de artifício.



Jesus há de saber o quanto estou contente

E vai abençoar o povo que me lê.

Então, eleve a voz e diga ser você

O meu irmão na luz das bênçãos que hoje sente,

Mostrando ao Salvador que busca o seu destino

Na esperança e na fé — no amor que disciplino.







14. Indo ao ponto nevrálgico



Se deixo p’ra depois minha poesia

E ponho-me a pensar na triste vida

Em que sofri deveras, me revida

O filho que me ajuda, pois se adia

O ensejo de mostrar qualquer virtude,

Nas ânsias de que alguém, ao ler, se mude.



Então, eu me apetrecho com as rimas

E ponho no papel os pensamentos,

Buscando os poderosos, sem tormentos,

E digo ao filho meu: — Bem sei que estimas

O bom trabalho que se faz aqui,

A ver se as dores, pelo tom, tolhi.



Não quero que acreditem que inda temo

Minhas recordações mais tenebrosas,

Mas ouço a voz do mestre: — Vê se dosas

A culpa de que acusas, mal extremo,

Os teus irmãos na carne, que te escutam

Mas sem saber direito por que lutam.



Na esfera em que me encontro, a fantasia

Jamais irá ter vez, porque a consciência

Exige que se faça a conferência

De quanto bem o gajo poderia

Haver realizado de sobejo,

Se para tal tivesse algum desejo.



Por isso é que lhe trago, meu amigo,

O fruto do trabalho desta mente,

Mas peço p’ra que seja mui clemente

E faça a crítica feroz comigo,

Porquanto eu mesma não me aceito (e pronto!),

Se não me der ao parecer desconto.



Meu filho sofre, enquanto rimo a dor,

Por compreender que deverei dispor

Com alegria as tais lições de vida:

— Por que chorar o leite derramado?

É bem melhor sorrir, com doce agrado,

Ao ver que a luta ao nosso amor convida.



São rimas simples, mas que importa o texto,

Quando se sabe a trova só pretexto

P’ra refletir o gajo nas virtudes?!...

Caso outros termos cá teriam dons

De transformar os maus em seres bons,

Eu peço a ti que esta poesia estudes.



Quem não terá paciência para o estudo

Talvez não saiba o quanto sofro ainda,

Porque não vejo a trova ser tão linda,

Conforme imaginei seu conteúdo

Expresso nestas frases com sentido,

Repercutindo fundo em nobre ouvido.



Mas cada qual bem sabe dos problemas

Que enfrenta, a cada dia, aí no mundo:

Não quer que o tempo corra, enquanto inundo

De vis lamentações, causas supremas,

O seu miúdo desfilar de crises,

Neste enredar de leis e diretrizes.



Eu peço ao Pai que traga a todos paz,

Em suas bênçãos de total pureza,

E que me esperte junto desta mesa,

Para falar de amor, pois sou capaz

De vir cumprir as regras da poesia,

Ao disfarçar a dor nesta harmonia.







15. Breve inventário



Não quero me enganar neste trabalho,

Pensando estar fazendo um’obra-prima.

Se conseguir um pouco só de estima,

Preciso compreender que já não falho.

O meu pimpolho aperta a minha mão,

Sabendo que os leitores convirão.



Preciso, então, mostrar-me mais feliz

Nas rimas desta tarde de poesia.

Bem sei que ao meu rebento agradaria

A simples referência à diretriz

Do amor que o Cristianismo nos legou,

Sem dar neste poema grande show.



Se é simples o meu verso, é bem sincero

E serve p’ra resgate, sim, dos males

Que um dia pratiquei... — Quero que cales,

Mãezinha, essa lembrança. Sim! Eu quero!

Se vens para ditar felizes versos

Não vais, perante mim, pô-los perversos.



Estimulei a reação mais dura

De quem a vigiar-me se oferece.

Enquanto estou ditando, imerso em prece,

Meu estimado filho se assegura

De que os meus sentimentos não vacilam

Nem os meus pensamentos se maquilam.



Abraço o meu pimpolho ao terminar

E ponho os sentimentos no lugar,

Na exaltação dos versos que compus.

O pobre, em pranto, alegra-se também,

Sabendo que amanhã a dor não vem,

Debaixo dessas bênçãos de Jesus.



A cada dia, pois, o nosso afeto

Se estreita fortemente, no vigor

Deste trabalho rude de compor,

Na ânsia de tornar o bem completo,

Pois, quando se encerrar minha empreitada,

Bem sei que não teremos quase nada.



Mas restará conosco a melhor parte.;

E não porque trabalhe com tal arte,

Que me expressei deveras com valor.

Mas fui capaz de dar ao filho meu

A condição de ser quem compreendeu

Que amar e ser amado é bem compor.



Já dei o meu recado deste dia,

Mas devo refletir que, na poesia,

Nem tudo se retrata plenamente.

Por isso, não encerro logo agora,

Sabendo que o perdão inda demora,

Até que ao meu leitor a luz aumente.



Não tenho o que dizer neste estribilho

P’ra fomentar as ânsias do trabalho

De quem não compreendeu meu ato falho,

Estando acompanhada do meu filho,

Deixando que ele estenda a sua mão,

Enquanto me perturbo na escansão.



Jesus, desejo agora descansar,

Compondo meu rascunho devagar,

P’ra apresentar na próxima sessão.

Inspira-me melhor, pois meu amigo

Não pode vir sofrer tanto comigo:

A tua bênção peço a cada irmão.







16. Sinceramente alegre



Do infinito vem a luz

Que se propaga na Terra.;

Não a do sol: a que encerra

As virtudes de Jesus.;

A que os anseios acalma,

Iluminando noss’alma.



Quem é que vela por nós

Desde as esferas sublimes?

Quem faz parte desses times?

Quem do amor é porta-voz?

São os amigos do etéreo,

Que nos dão bom refrigério.



É gente mui devotada.

São missionários divinos.

Ao cantar, entoam hinos

Que alegram nossa jornada,

Porquanto sempre presentes,

À mão de todas as gentes.



— Como vou saber se estão

Com vontade de ajudar?

Vou recolher-me ao meu lar

E estudar minha lição:

Vou vigiar meus abalos.;

Vou orar p’ra dominá-los.



Se tenho fé na doutrina

E nos dons de Jesus Cristo,

Não preciso mais que isto,

Pois meu mentor sempre ensina

Que a caridade proclama

Ao mundo quem mais nos ama.



Meu filho é todo alegria,

Pois sente nesta poesia

O quanto estou melhorando.

Já tranqüilo, reza ainda,

Mas sabe o quanto está linda

A cantiga, em verso brando.



Ao receber tanta ajuda,

A fórmula logo muda:

Preciso corresponder

À confiança da equipe,

Que vai dar-me um pique-pique,

Após cumprir meu dever.



Neste dia diferente,

A poesia que se agüente

Neste banho com sabão.

Transformei minha pessoa,

Para não compor à toa,

Desgostando o meu irmão.



Vendo os versos já mais gráceis,

Não vás pensar que são fáceis.;

Que se fazem sem capricho.

Ao contrário, sigo a lei

Das regras da minha grei:

Pinto, bordo, coso e lixo!...



Brincadeirinhas à parte,

Vou ver se ponho mais arte

Na prece da despedida,

Pedindo por mais amor

A Jesus, nosso Senhor,

P’ra seres feliz na vida.







17. Assunto obrigatório



Agrada-me trazer o verso pronto,

Para ditar dum jato, sem mistério:

Assim vão entender o quanto é sério

O texto do trabalho, que confronto

Com tantos que lidei quando na Terra,

A ponto de causar na mente guerra.



Se um dia fui poeta, metrifico

Agora o texto em prosa, que componho

E passo ao médium meu, o qual, tristonho,

Não sabe, nesta hora, quanto é rico

O metro que disfarça a dor no peito

E diz, estando em paz: — Eu tudo aceito!...



Mas lá no fundo d’alma se enternece,

Porque não tem domínio da estrutura:

Se a rima, a balançar na haste insegura,

Lhe lembra que precisa duma prece

Para fortalecer a vibração,

Também jamais nos disse um simples não.



Meu filho se diverte, pois bem sabe

Com que intenção provoco o médium meu:

Mas não escondo aqui que não mexeu

Num verso só, que a emenda não lhe cabe.

Assim, preservo o texto dos aflitos,

Que temem de enganar-se em falsos ritos.



Agora vão dizer que aqui já leram

Imagens semelhantes bem melhores,

Mais cheias de nuanças, pormenores,

E sentimentos bons, que protegeram

Este escrevente com mais força e brilho

E sem causar os risos de meu filho.



Não fosse a redatora muito sábia,

Iria demonstrar no verso a lábia

De quem só se atreveu a vir compor

Porque sabia bem que o resultado,

Por mais belo e feliz, se põe de lado,

Quando não mais comove o bom leitor.



E vou me expondo sempre e te asseguro,

Ó crítico voraz, que aqui dou duro,

Mas não neste momento de ditar:

Agora sinto apenas um tremor,

Que a vibração repete o meu compor,

E julgo estar ainda em alto mar.



A obrigação cumpri e me despeço,

Porque já fiz tremer o coração

De quem por mim orou com emoção,

A ver se conseguia algum progresso

Na forma e na virtude da poesia,

Deixando um texto forte como guia.



Ninguém é poderoso enquanto pena

P’ra compreender as leis universais:

Mas é justo querer o gajo mais

De quem chega com fama tão terrena

A ponto de iludir-se o próprio vate,

Que o bem passa a rimar com disparate.



Eu vou rogar ao Mestre que abençoe

As rimas que hoje fiz e que perdoe

Meu filho tão querido e tão fremente,

Porquanto ainda ri, tendo a esperança

De melhorar, que o bem inda se alcança,

Por indução, tão-só, que a trova alente...







18. Aperfeiçoando o desempenho



Nas últimas poesias, tenho dito

Que quero melhorar e tudo faço

Segundo as leis do metro e do compasso,

Sem demonstrar, porém, se me habilito

Às luzes que provêm d’altas esferas,

Pois trago aos meus leitores só quimeras.



É mui difícil comprovar a força

Estando o sujeitinho cá no etéreo:

Por mais que seu exemplo seja sério,

Alguém sempre deseja que se torça

A informação precisa de que o bem

Vive no coração dele também.



Mas se não dou satisfação ao mundo.;

Se não pespego meus cascudos rudes.;

Se não demonstro possuir virtudes,

Por mais que estes meus versos calem fundo.;

Ainda o gajo pensa vir das trevas

Estas mensagens pobres, vis, primevas.



É justo aqui, portanto, arremedar

Aqueles que os mortais mais admiram,

Conquanto os seus conceitos sempre firam

A tese do respeito de seu lar,

Porque, se ascendem nas divinas luzes,

Não mostram que carregam suas cruzes.



— Verso de sofredor também tem graça —

Diria Allan Kardec à gente sua,

Sabendo que essa vida continua,

No superar das dores, que o mal passa,

Enquanto se espairece o vate pobre,

Deixando p’ra depois que o povo cobre.



Assim, bem determino cada rima,

Expondo os meus motivos de paixão.

Os amigos da turma exultarão

Ao término da trova que se estima

A mais feliz e douta da jornada,

O que, p’ra muita gente, é quase nada...



O que pensa meu filho disto tudo?

Exige que se dê bom conteúdo

À forma que domino com vigor.

Deseja que os floreios se acentuem,

Que os versos são melhores, caso atuem

No despertar do bem com muito amor.



O meu estilo é simples, despojado

Das lantejoulas desse romantismo.

A bem dizer, eu vou cair no abismo,

Se não me convencer não ser de agrado

Do povo que me lê a fala justa,

Porquanto a fantasia muito custa.



Vou escolher melhor certas palavras,

P’ro alheio coração espicaçar.

E vou dar ponto e nó no seu lugar,

P’ra embelezar as frases destas lavras,

Pois quero ouvir remedos de elogio,

Porquanto, embora pobre, tenho brio.



Desejo agradecer ao filho meu.;

Ao mestre, que me ouviu e convenceu

De que as sextilhas têm beleza e charme.;

E aos benfeitores todos da Escolinha,

Que dizem que o trabalho se avizinha:

Por isso, clamo ao Pai para ajudar-me.







19. Eu, pecadora, me confesso



Tracei o meu destino na certeza

De descobrir, juntinho desta mesa,

O grupo que me estima e me conduz,

Porquanto tenho fé nesta postura

De vir dispor a rima muito pura,

No ensino de Kardec e de Jesus.



Também procuro os termos mais bonitos,

Aqueles que projetam nossas almas

Cheias de anseios por ruidosas palmas

Para lugares belos, infinitos,

Neste universo em luz resplandecente,

Que serve de guarida à nossa gente.



Ninguém terá o desejo de parar

Esta leitura amena e de proveito,

Pois quero o meu leitor mui satisfeito,

Na paz e nos afetos de seu lar,

Lembrando-lhe que Deus lhe deu a vida

Para tornar a liça apetecida.



— É plágio! — hão de dizer os mais afoitos,

Que vida apetecida já se encontra

Em texto mui formoso.; é ser bilontra

Tirar ainda quentes os biscoitos

Da boca que se abriu para comê-los:

— Muito melhor faria sem tais zelos!



Nesta doutrina espírita exemplar,

Os versos também têm o seu lugar,

Inda que se repitam sem pudor,

Porque, se falam mais ao coração,

Ninguém irá dizer um simples não,

Na hora de aceitar o meu compor.



É generoso o gajo que me lê:

É ele a quem já chamo por você,

Enquanto vibro as emoções do dia.

Nas horas túrbidas da dor atroz,

É sempre bom ouvir a doce voz

Que disciplina o mal numa poesia.



Nem sempre a imitação é muito má:

Às vezes, chega a ser bem bonitinha,

Especialmente quando alguém cozinha,

P’ra que o biscoito coma quem está

Com fome verdadeira e já sem fogo,

Que a vida, muita vez, é rude jogo.



Meu filho quer ainda um pouco mais,

P’ra completar o número ideal,

Aquele combinado e coisa e tal:

Nesta pendência métrica de paz,

Que o dia só termina quando a décima

Estrofe que ditar não seja péssima.



Jesus, eu peço que me livre agora

Do compromisso que também vigora

Entre os irmãos que me elegeram vate:

Para ser boa, a rima deve ainda

Sofrer castigo intenso na berlinda.;

E tenho pouco tempo... Xeque-mate!...



Peço perdão, Senhor, por ser tão pobre

O verso em que concluo esta poesia.

Bem sei que mais estudo deveria

Propor ao filho meu, até que sobre

Um sentimento puro para o verso,

A resplender em luz no amor imerso.







20. Promessa de vida



Preciso vir dizer com emoção

Que a luta está no fim.; que o meu irmão

Já vai poder livrar-se da leitura

Destas sofridas linhas, pois não tenho,

Ainda que promova sério empenho,

Assunto que mereça esta estrutura.



Em paz, eu seguirei o meu caminho,

Na companhia alegre do meu filho,

Até que, um dia, vai surgir um brilho

Na mente de nós dois, eu adivinho:

Então, eu vou tornar à velha estrada,

Na rota do progresso, reencarnada.



O compromisso eu cumpro mesmo em dor,

Sabendo que se exige que o compor

De nova encarnação preveja a morte.

Vou dar à vida uma importância tal

E defender a lei universal

Do mal que o meu espírito transporte.



Enquanto, nestes versos, me dou bem

E tudo arranjo p’ra mostrar que venço,

Estende-me o meu mestre um lindo lenço

Para enxugar as lágrimas, que vêm

À simples alusão do sofrimento,

Pois outra encarnação não sei se agüento.



Meu filho é quem me diz que Jesus Cristo

Falou que a cruz mantém o peso certo.;

Que o gajo que a carrega traz bem perto

O protetor que um dia, por benquisto,

Lhe prometeu ajuda noite e dia,

Conforme ocorre nesta cantoria.



Terei meu filho vivo junto a mim,

Oferecendo apoio como agora?

Ou vai ficar no etéreo, pois vigora

A lei do amor, que busca não dar fim

Às ligações que se fizeram puras,

Juntando essas esferas e as ternuras?



Não creio em desperdícios nessas vidas,

Se a gente leva à Terra os companheiros.

Talvez não possam ser sempre os primeiros,

Mas sempre vão provar, em rudes lidas,

Que querem que cresçamos com Jesus,

Do jeito que esta trova hoje compus.



Explico essa assertiva sem pudor,

Dizendo, simplesmente, que o compor

Nos traz muita alegria ao coração.

Se temos a Jesus por guia, a vida

Irá facilitar nossa subida,

Degrau sobre degrau, jamais em vão.



Por isso a minha prece traz o selo

Da fé e da esperança, pois vou tê-lo

No coração ansioso por voltar

Mais nobre e mais feliz, que o desempenho

Recebe agora a luz, pois não desdenho

A ajuda dos irmãos, junto ao meu lar.



A Deus eu peço humilde que o destino

Reserve, para os meus, felicidade.;

Que a cada um de nós não desagrade

A luta pelo bem que descortino.

Nas mãos do Pai, entrego esse futuro,

Orando com fervor, em tom mais puro.







21. Batismo de amor



Vou dizer-lhes francamente

Que este dia está mui quente

E me sinto até febril.

Fui visitar uns amigos

Que reclamavam abrigos,

Nas cidades do Brasil.



Voltei bastante cansada,

Porém, não fiz quase nada:

Esquadrinhei suas mentes.

Os parceiros, bem mais prestos,

Me pouparam dos doestos

Daqueles mais exigentes.



Saí da torre, afinal:

Fui trabalhar contra o mal,

Tarefeira iniciante.

Levei comigo o meu filho,

Com quem hoje compartilho

O amor que esse bem garante.



Não chorei amargo pranto,

Que a dor agora suplanto,

Com mais fé, mais confiança.

Devo ser forte na lida,

Pois cada irmão me convida

A sentir que amor se alcança.



Perdi bastante do medo

Com que acordei hoje cedo,

Bem na hora do trabalho.

Fui ajudada, confesso,

Para alcançar bom sucesso,

Nesta poesia que espalho.



Aqui no etéreo é assim:

Se alguém precisa de mim,

Eu também recebo ajuda.

A corrente é fraternal,

Pois se considera o mal

Um ponto que a turma estuda.



Recomendo que o leitor

Queira sempre recompor

Cada faceta da luta,

Para entender que é melhor

Ter a resposta de cor,

Pois, assim, o bem desfruta.



É mais fácil quando o grupo

Entende a ofensa do irmão,

Abrindo-lhe o coração,

Debaixo de forte apupo,

Que o perdão que alguém lhe dá

É recompensa p’ra já.



Quando voltei, já sorria,

A pensar nesta poesia

Composta de coração.

Não escolhi as palavras:

Fui escrevendo estas lavras,

Pois decorei a escansão.



Não me importa sejam feias:

As moscas só caem nas teias

Pelo fato de voar.

Jesus me abriu doce manto

E, nesta prece, me encanto,

Ao pedir por nosso lar.







22. Inventário



— Falhei na tentativa de progresso! —,

Dirá meu bom amigo que me lê,

Porque não sabe bem quem é você,

Na hora do trespasse e do regresso,

Tomando por exemplo alguns fatores,

Nos testes que causaram fortes dores.



Porém, se Jesus Cristo faleceu

Na infâmia de um madeiro criminoso,

Não há ninguém querer do bem o gozo,

Dizendo estar composto o mundo seu:

Não pode ser ingênuo e já pensar

Se é nobre ou se é perverso o seu lugar.



Quem trabalhar na esfera da bondade,

Fazendo o bem que pode ao semelhante,

Há de continuar, seguindo avante,

No mesmo diapasão, pois persuade

O mestre que o agasalha na Escolinha

Que gosta do serviço e já se alinha.;



Pois esconder não pode quem não faz

Senão apedrejar o teto alheio.

Eu mesma já senti tanto receio

Que até perdi de vez a minha paz.

Preciso foi que o mestre meu me desse

As vibrações do amor, em meiga prece.



Meu filho está presente e me consola,

Pois sente que me privo da alegria

Perante a dor dos outros, que me adia

A recomposição da barcarola

Com que me atenuava esta viagem

Por água muito túrgida, selvagem.



Mas pessimismo mesmo já não tenho,

Que o verso está mais solto e mais catito.

Sou eu que não avanço e que me irrito,

Fechando do meu filho o doce cenho,

Dizendo e desdizendo, sem firmeza,

As dúbias trovas débeis junto à mesa



Por que razão me atrevo a conturbar

A paz que aqui criei num outro dia?

Terei sido malandra na poesia,

Falsificando o humor dentro do lar

Apenas p’ra tornar o meu leitor

Propenso a me aceitar neste compor?



Nem sempre o sentimento que me aflora

Contém toda a alegria que hoje sinto,

Porém, devo dizer que está extinto

Todo desejo vão de pôr p’ra fora

Os males que me trazem sofrimento,

Porquanto compreendi que tudo aumento.



Está perto da hora de partir,

Faltando só dois dias de ditado.

Por isso é que não pus tão já de lado

A idéia de mostrar que, no porvir,

Virei com mais poesia, e mais perfeita,

Pois nada que escrevi meu povo aceita.



Jesus, sede por mim na minha dor

E perdoai meus erros de escansão.

Fazei com que mantenha o coração

Batendo em bom compasso, ao vir compor

Um hino, em homenagem ao amigo

Que se manteve em paz aqui comigo.







23. Obrigado, amigo!



Preciso agradecer a cada irmão

Que reservou seu tempo para mim.

Agora, estando próxima do fim,

Não sei como é que muitos se haverão

Diante do trabalho que a poesia

Requer de quem procura esta harmonia.



Responsabilidade é coisa séria:

Exige que se tenha muito mérito.

Portanto, recomendo um bom inquérito

Junto à consciência pura, sem matéria,

Para saber se o bem se faz co’amor,

Palavra que hoje ouvi do professor.



E se não contiver meu coração

As qualidades todas que requeiro?

Preciso já saber o que primeiro

Virá na lista do serviço ou não

Irei fazer o meu melhor na vida,

Pois só o bem qualquer ação valida.



Estremeci ao ler os versos todos

Que forneci neste jargão etéreo:

Não sei se desdobrei este mistério

Ou se encobri apenas os engodos

Que para mim sussurro noite e dia,

Caso contrário a dor me afogaria.



Não é de obrigação que o vate aqui

Demonstre ser feliz ou muito bom.

Somente a mim me cabe, tendo o dom,

Vir relatar os dramas que vivi,

Mostrando onde pequei, onde cresci,

Em ondas de freqüência neste tom.



Por isso é que, no etéreo, esta poesia

Se mede diferente que na Terra:

Enquanto o bom mortal aí se aferra

Ao gozo melodioso da harmonia,

A gente mais se expõe e considera

Que são outras as cores nesta esfera.



Mas temos de ceder ao gosto humano,

Para fazer a trova convincente,

Senão o rude drama não se sente

E vão julgar que eu sempre o povo engano,

Mantendo-me afastada da virtude,

Querendo que o meu filho mais me ajude.



Preciso convencer que melhorei,

Para entender o povo esta poesia?

Como é que o meu amigo comporia

O texto, se seguisse a mesma lei

De só dizer aqui toda a verdade,

Em trova em que me pede que me agrade?



Meu filho fica alegre e me pergunta

Se tive a sensação de aqui compor

Alguma coisa boa, superior,

À parte de escrever obra conjunta,

Saindo desta mesa mui contente,

Ao ver que certo bem não se desmente.



Então, respondo, em prece comovida,

Rogando a Jesus Cristo que proteja

O povo que me leu e que viceja

Nas doces alegrias dessa vida

De ingente sacrifício, em prol do bem,

Orando aqui conosco e mais além.







24. Saudosa despedida



De todos os poetas, fui aquela

Que mais me emocionei e me perdi.

Talvez o resultado surja aqui

Com certa precisão, mas não revela

Quantos rascunhos fiz e desprezei

Por força de burlar do etéreo a lei.



Já me encontrava em plena condição

De dar tranqüilidade ao coração,

Quando o mestre passou este serviço.

O povaréu da classe prometeu

Que iria me ajudar, se um erro meu

Pudesse desfazer tal compromisso.



Meu filho se postou bem confiante

Ao lado desta mesa e me garante

Que tudo o que escrevi tem meu ‘tá lento...

Eu brinco co’a expressão mas falo sério,

Ao demonstrar que existe mais mistério

Envolto nesta prática que enfrento.



A perfeição vou postergar, assim

Ninguém irá cobrá-la já de mim

E o verso passa incólume na trova.

O mestre me sorri e diz que o brio

É qualidade rara, pois confio

Em que vou melhorar-me nesta prova.



Desejo agradecer ao médium meu,

Sem muitas efusões, mas vou compor

Um verso que demonstre, com ardor,

O quanto inda lhe devo ao bom museu,

Onde encontrei relíquias para as rimas,

Aquelas que tomei por obras-primas.



Aos companheiros deixo nesta lavra

Só a simplicidade da palavra

Que tenho ouvido deles ao meu lado.

Por tudo que me deram todo dia,

Não sei como expressar minha alegria:

Aceitem tão-somente este obrigado!



Ao filho tão querido nada digo,

Mas dou-lhe o meu abraço em doce pranto.

Espero que jamais se quebre o encanto

De tê-lo a evoluir junto comigo:

O eterno nos espera e nos conforta,

Enquanto não nos abre o Pai a porta.



Por meus mestres amados, minha prece

A Deus, para que colham dessa messe

Os frutos saborosos que provei,

Para distribuir pelos caminhos,

Pois todos já merecem novos ninhos

Onde ensinar os tópicos da lei.



A Jesus Cristo eu peço, humildemente,

Que me ampare, me ajude e me alimente,

Sob um manto de luz, de paz, de amor.;

Que faça com que a trova se transforme

Num hino a despertar o irmão que dorme.;

Num canto imarcescível de louvor.

Indaiatuba, de 21.10.97 a 04.02.98.

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