RICARDÃO, A SOLUÇÃO!
Paccelli M. Zahler
Com os tucanos no poder, era de se esperar que os tempos ficassem bicudos. Muito desemprego, muita falta de comida, falda de salário digno para sustentar a patroa e os bacuris.
A história nos mostra que em tempos difíceis a criatividade e a solidariedade proliferam. Assim, muitos pais de família já estão deixando de lado o orgulho e o preconceito e aceitando uma segunda fonte de renda - a do Ricardão! Isso mesmo! Se o salário não dá, o jeito é arranjar um trabalho noturno e pedir à patroa que consiga um Ricardão bem de vida para complementar o orçamento, seguindo a velha máxima da Dona Cotinha: "Faça de tudo, minha filha, só não dê beijo na boca!"
Alguns até têm sorte como , por exemplo, o Zé Domingos lá de Castanhal, cuja patroa arranjou um Ricardão boiola que precisava fingir ter uma amante para o pessoal não desconfiar e ele não ser despedido do emprego.
Em menos de um mês, o Zé Domingos trocou a velha bicicleta por um carro zero quilômetro e, de vez em quando, ainda faz a festa no roscofe do Ricardão fajuto.
Menos sorte teve o Pedrinho de Santarém, cujo Ricardão tinha 2 metros de altura, 109 kg, era latifundiário e ciumento. Pedrinho ganhou um apartamento e uma pensão de dez mil reais por mês, mas perdeu a patroa. Ossos do ofício!
Apesar de ser uma faca de dois gumes, em tempos bicudos, vale a pena tentar.
Ponha um anúncio no jornal com os seguintes dizeres:
"Procura-se Ricardão para complementar o orçamento familiar. O interessado deve preencher os seguintes requisitos:
- gozar de boa saúde, ser solteiro, carinhoso e sem dependentes;
- não pode ser ciumento e possessivo;
- ter condução própria e salário acima de R$ 3.000,00;
- ter disponibilidade para lidar com crianças;
- ser sério e responsável.
Em troca, oferece-se casa, comida e roupa lavada."
Boa sorte!
(Publicado no Jornal PQP, Belém, PA)
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