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Poesias-->MINHA PALAVRA ARDENTE -- 19/04/2005 - 10:31 (João Ferreira) |
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MINHA PALAVRA ARDENTE
Jan Muá
19 de abril de 2005
Adormeci na psique muda onde mora minha palavra
E agora ouço-a tênue, pequenina, pronta para renascer e se expressar em vagidos tênues
Ouço-a e sinto que vai crescendo como se já estivesse na maioridade
Com voz adulta e natural se articulando em sons lógicos de expressão e significação
Sinto-a como um sangue que em mim circula
Nos vários rostos com que me toca a retina
Ora como verbo, ora como vocábulo, ora como fone, ou voz, ou som, mas sempre-sempre como expressão de minha raiz de vida
Como algo que nasce e voa, que se ouve e se exprime
Se radicaliza e toma vulto
No mundo dos meus sentidos
Na minha mente e na minha glota
No meu sentimento, na minha vontade e na minha inteligência
Ela vai correndo solta e alegre
E se mostra se esconde num delírio de posse do mundo
É convivente, pacífica, sempre expressiva
No jogo dos contrários
É doce mas também tem raiva também se revolta
É piedosa, acarinha, proclama e reclama
Traduz, interpreta e explica
Me faz companhia me arrasta me apresenta e me representa
Quando ela se incendeia aquece, é ardente, explosiva
Porque sua força é total com o semblante de uma rainha simbólica que é a mãe de todas as princesas
Ela me conduz por montes e vales
Me leva ao pino da montanha e me mostra os horizontes
Me faz descer ao porão do meu id
E mergulhar em minhas sombras
É por ela que eu falo do que vejo e do que sinto
Como se fosse minha base favorita
Como se fosse floresta de símbolos articulados
Onde há troncos ramos folhas e frutos
Como misteriosa árvore deixada na terra que me desse a sensação de companhia amante nobre
No maravilhoso mundo das sensações
Floresta que me dá as cores e as variantes sugestivas do mundo
O verde e o amarelo o vermelho e o azul
A sensação e o deleite das águas e dos ventos
das altitudes dos vales dos rios e das correntes
Do firmamento, das nuvens, da luz e do sol, dos astros infinitos do cosmos
Como fada que me dá a faculdade de poder desenhar a terra
Seus píncaros e suas montanhas
Seus rios e riachos, suas veigas e campinas
Suas fazendas de gado nelore e de boi gordo,
Seus mercados e suas indústrias
Soberana que me acompanha nos cafés,
Nas associações academias e grêmios,
No lançamento de livros e revistas,
Na redação dos textos eletrônicos e dos textos gráficos
Nos borrões, nas redações dos jornais
Nas revisões dos planejamentos e nas formas de estar no mundo
Nas filosofias e nas artes
Nos modos de querer e nos modos de desejar
Me mostrando com ardor
As passeatas das ruas e as revoltas dos mascates e dos meninos e das meninas de rua
O sacrifício quase rejeitado e quase balbuciante das mães abandonadas com seus filhos nos braços
As palavras soltas gritadas da janela de um trem
E as palavras sussurradas nas alcovas dos amantes
Ela me abre as escolas
E me mostra as palavras alfabetizadas
E também o mundo das palavras reais em sua força metafísica
As palavras românticas enamoradas
E o intrincado das palavras aprisionadas pelo receio pelo medo e pela insegurança dos sentimentos movidos pelo desejo
A alma daquelas que saem de meu íntimo e daquelas que chegam até mim
Das palavras eternas e definitivas
Que me tolhem ou me libertam
Das palavras que me animam ou me incendeiam
Na floresta dos signos e dos enganos
Onde me concentro
No fogo ardente
De um símbolo que é minha vida e minha fagulha permanente
Nas peripécias de um mergulho profundo
Que tem tudo
Para dar sentido a uma vida que me segura no mundo.
Bela Vista, 19 de março de 2005
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