Não sei o que há de verdade ou de folclore nas
histórias que relacionam sustos e vontade da
mãe na gestação, com os medos e sinais que
os filhos apresentam. Mesmo assim...
Minha mãe morava na fazenda.
Barriga enorme, compasso de espera.
Eu estava lá dentro me aprontando.
Ela, sensível pelo estado e ainda mais pela
surpresa de uma gravidez não planejada.
Meio-dia, meia dúzia de palmas-campainha era coisa
da cidade -equilibrando a barriga e a enxugar
as mãos na brancura do pano de prato, lá vai ela
à porta.
Com sorriso triunfante, o cocheiro da fazenda
exibia como grande feito o enorme lagarto
que, capturado na hora do furto, ainda conservava
o ovo de galinha entre os dentes. Dentes?
Fora flagrado com a boca na botija, ou melhor,
no galinheiro.
Minha mãe conta que por pouco não desmaiou.
Passou muito mal e temeu que eu nascesse
ali mesmo, diante da desagradável visão
e do desavisado homem.
Sempre tive verdadeiro pavor de todos os bichos
assemelhados à lagartixa. Nunca nem quis saber de
sua estrutura física. Não os observo nem
mesmo em gravura.
Ainda bem que sempre consegui esconder o fato
dos meus alunos ou poderia confrontar-me
com brincadeiras maldosas.
Este meu é um medo que não passa. Nem sequer diminui
com a passagem dos anos.
Creio que nem mesmo uma boa terapia daria jeito
no danado do destempero.
Seria reflexo do ocorrido?
Não! Creio que não...bobagem.
Folclore. Será?