Se você é pescador,
sabe um grampo usar
junto ao distorcedor
para um peixe fisgar.
Se tem nome de sargento,
não é das forças armadas,
é apenas instrumento,
deixa coisas apertadas.
Serve para apertar
roscas, até parafusos,
e também pra enganchar
os cabelos circunfusos.
Quando feito com metal
serve para construção,
tem alcunha de miau,
faz das pedras ligação.
Prende o chapéu pra dona;
se mineiro, é besteira,
se goiano, é ramona,
na Paraíba, friseira.
Prega nossos aramados
pra qualquer coisa cercar,
e os fios são firmados
pra você telefonar.
Fica em grampeador
se é pra papéis juntar,
pede um instalador
se é para escutar.
A cavalo, em canoa,
lateral, ou bem de frente,
grava conversa à-toa
entre gente negligente.
Há grampos policiais
e grampos inteligentes:
estaduais, federais,
de revistas imprudentes.
Onde temos os papéis,
os grampos temos também;
onde haja coronéis,
juiz, ou joão-ninguém.
Se você é empregado,
não fale mal do patrão;
você será grampeado,
depois vem a demissão.
Você mesmo nada sabe,
mas é frágil sua mesa,
por baixo nela bem cabe
um grampo azul-turquesa.
Não reclame do salário,
nada diga da amante
do mais alto mandatário;
pare de ser implicante.
Qualquer suspiro em falso
pode levá-lo ao tronco;
você vai pro cadafalso,
nem quero ouvir seu ronco.
Mas se você é patrão,
gerente, encarregado,
ou se faz supervisão,
tome muito mais cuidado.
Cuidado com seu peão,
ele anda tão a pé
que faz qualquer gravação
pra sindicato de fé.
Se você tem namorada,
namore sem telefone;
tem gente de emboscada,
doido pra bocar trombone.
Se você tem dez por cento
nalguma licitação,
olhe bem o seu assento,
proteja seu cuecão.
S´ocê é presidiário,
muda logo seu jargão,
muda seu vocabulário,
pra num saí daí não.
Porque se falar direito,
a ponto de ser ouvido,
num vai ter mesmo jeito,
não vai ser mais protegido.
Se você é jogador
e muita grana fatura,
vê se tem algum sensor
na sua chuteira dura.
Você pode ser barrado,
conforme o que falar;
pra você ser escalado,
seu negócio é jogar.