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Erotico-->Confesso: amei Susie -- 25/10/2001 - 17:19 (maria da graça almeida) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Beth,

Quando me viu tão abatida, você quis saber o que
estava havendo. Não detalhei o motivo, posto que a
ferida ainda estava aberta, mas, como dizia vovó,
o tempo é um santo remédio...
Hoje já me é possível tocar no assunto e,
apesar de crer que você esteja sabendo
das ocorrências, quero que ouça como foi tudo:
o início, o meio e o fim.

Confesso e não me envergonho: amei Susie.
Dizem que não existe paixão à primeira vista.
Existe!
Apaixonei-me por Susie, assim que a conheci.
Dócil, meiga, diria, até, carente!
E linda! Um porte invejável!
Quando saíamos, não havia quem não a olhasse.
E isso não me causava ciúme, mas certo orgulho.
Ao primeiro olhar entreguei-lhe a alma.
À primeira carícia entregou-me o destino.
Em pouco tempo, não mais resisti...
Apesar dos protestos dos familiares,levei-a para
casa.
E foi uma convivência pacífica,de muito amor e cumplicidade.
Entendia-me com um simples olhar.
Creio até que sabia mais de mim do que eu mesma.
Mas tudo que é bom, dura pouco, dizia o velho ditado. Sábio!
Passados oito meses de feliz convivência:
o falatório, o disse-me-disse.
Os vizinhos, percebendo que, efetivamente,
ela morava em meu apartamento,
não nos pouparam de olhares críticos, reprovadores
e de uma censura, que inicialmente velada,
posteriormente, chegou a ser levada à reunião
de condôminos como assunto de interesse geral.
A situação ficou crítica.
Sem saber qual o melhor procedimento para solucionar
a desagradável ocorrência,resolvi afastar Susie,
mas só por um período.
Levei-a até minha chácara, num condomínio próximo
à Sorocaba, onde ela permaneceria até que a poeira
maledicente assentasse...

Quando a deixei, não chorou...eu sim...lavei-me nas lágrimas
que despencavam, despudoradamente.
Meu caseiro coçava a cabeça... olhava-me a falta de recato, entre desconfiado e surpreso e eu só o que fazia era recomendar seus cuidados para com ela.
Sua esposa cuidaria das refeições e eu já havia providenciado tudo, nos mínimos detalhes, não lhe faltaria nada.

Retomei a estrada poeirenta e pelo espelho retrovisor ainda enxergava a figura querida impassível,olhando o carro que se afastava.
Chorei no trajeto inteiro.
Às vezes tinha ímpetos de voltar e trazê-la de volta.
As más línguas que se danem...
Não o fiz. Morar em comunidade, às vezes, exige certos sacrifícios.

Já me havia determinado vê-la todo final de semana.
E o fiz!
Minhas idas eram sagradas.
Não deixava de comparecer nem mesmo doente.
Sabia que ela me esperava ansiosa.
E eu, quando me aproximava da chácara,
sentia o coração batendo em desalinho: Estará bem?
E assim foi... durante quatro ou cinco semanas.
Até que um dia, chegando, assustei-me. Susie estava prostrada.
Maria, a caseira, disse-me preocupada:
-Não “ta” comendo nada! Olha como emagreceu!
Não sei mais o que fazer... sente sua falta!

Fiquei apavorada! Em uma semana ela havia murchado.
Os olhos estavam opacos. Deitava estava, deitada ficou.
Não se levantou nem mesmo quando me aproximei...

Desesperada, com ajuda do caseiro levei-a para
o carro e a trouxe de volta.
O que poderia estar acontecendo?
Nem vim para casa, já a levei, diretamente,
a um competente profissional de saúde.
Escolhi o que julguei fosse o melhor, no momento.
Ele examinou-a, olhou, refletiu e não conseguiu
fazer um diagnóstico que me serenasse.

Depois desse, foram vários outros...ela só piorava.
Minhas amigas, as verdadeiras,
ligavam-me com palavras de consolo,
contando casos parecidos
com finais felizes. Nada me tranqüilizava.

Um dia, logo depois do almoço, percebi que ela estava pior.
Levei-a para o carro, desta vez,
com a ajuda de minha empregada e a do zelador do prédio.
Chorando muito, resolvi que pediria que a deixassem internada.
Minha esperança era que permanecendo no soro, apresentasse melhora.
Talvez ficasse mais forte. Alimentava-se tão pouco...
Colocaram-na no banco da frente.
Preferi dessa forma... iria olhando-a.

Quando cheguei à porta da Clínica, os funcionários,
que ali descansavam, solícitos, correram para me ajudar.
Assim que a viram, notaram com pena:
-Está morta!
Estremeci!
Senti como se um enorme mão apertasse-me o
pescoço.
Respirei fundo, esperei que a tirassem do carro,
nem desci!
Coloquei a marcha, arranquei feito louca e
aos gritos, fui dirigindo pelas ruas...
Ainda assim, andei muito tempo, pondo em risco
minha vida e de muitos outros, pois, dada à
dimensão da aflição, mal enxergava.

Quando voltei para casa, chocada, avistei os
vizinhos, que um dia reclamaram da presença de Susie.
Senti uma ira enorme! Tive de me controlar,
a vontade era a de estrangular um por um.
Outro respiro fundo... esse me saiu feito um gemido.
A notícia já havia corrido e elas,
as línguas venenosas, correram -me ao encontro.

Decerto, querem regozijar-se com o tamanho
do meu sofrimento - pensei com raiva-.

E aí me vem Dona Dalva, com seus olhinhos espertos,
o pescoço enrugado, cheio de colares coloridos,
a vozinha antipática, num tom de falsa comiseração:
- Não fique assim, meu bem! Quem sabe agora você
compra um poodle! Boxer é muito grande para criar
em apartamento! Não serve!...

Maria da Graça Almeida
texto publicado na revista Fresta




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