Juvenal vai arriscar,
pois está sem um centavo,
precisa se empregar,
resiste como um bravo.
Há meses desempregado,
mas sem perder o juízo,
para ser selecionado
Ju compensa prejuízo.
É prova de seleção,
Juvenal se inscreveu,
e nessa competição
a muitos já venceu.
Na entrevista final,
seu salário mais recente
foi ato documental
que teve que estar presente.
Salário-mínimo foi
o que esteve ganhando,
pobre, pegava o boi
quando então trabalhando.
Prometeram-lhe fortuna,
dez mil dólares por mês,
por ser formado na Una
e por falar o Francês.
Se, de fato, aprovado,
vai rodar bem menos mal,
vão trocar por importado
seu carrinho nacional.
Viajar vai ser seu forte,
navio e avião,
lest`oeste, sul e norte,
fará parte da missão.
Londres, Paris, Roma, Rio,
Nova Iorque e Berlin,
com calor ou muito frio,
vai aprender Mandarim.
"Quase seu é o emprego,"
diz o entrevistador,
"mas não fique com apego,
dependo do diretor.
E só até amanhã,
sexta-feira, meia-noite,
no calendário nissan,
pode haver um açoite.
Não recebendo, então,
nenhum telegrama meu,
pode fazer o festão,
pois o emprego é seu."
Juvenal foi para casa,
radiante d´alegria,
se pudesse punha asa,
a família não sabia.
Seus parentes reuniu
e a todos explicou
o que então conseguiu,
que ainda não findou.
Mesmo assim foi festejar,
fez boca-livre geral,
queria comemorar
o tal momento final.
Às nove, banda tocava,
tinha chope bem gelado,
churrasco solto rolava,
todo mundo animado.
Onze horas, Juvenal
já era do bairro rei,
sem ter pedido aval
gastou muito, ao que sei.
Todos encheram a pança,
por conta do Juvenal,
foi atrevida gastança,
até o lance fatal.
Onze e cinquenta e cinco,
buzina o motoqueiro,
e agindo com afinco
diz o nome do festeiro.
É telegrama, correio,
para Juvenal de Tal,
a festa parou no meio
daquela nota fatal.
A banda emudeceu,
um bêbado arrotou,
silêncio então se deu,
a velha gazes soltou.
Surgem as exclamações:
"Quem pagará esta conta?"
"Joguem água nos tições!"
"A mulher dele tá tonta!"
Juvenal não pode crer,
"Será mesmo para mim?",
mas teve que o receber,
"Telegrama!" É o fim!
Tirou os grampos, então,
e a lê-lo começou,
u´a mão no coração,
outra que o segurou.
Encostou-o mais ao peito,
olhos pra cima ergueu
e gritou bem satisfeito:
"Mamãe, mamãe faleceu!"