“ÉRAMOS SEIS” MACHÕES
Paccelli M. Zahler
Toda sexta-feira era a mesma rotina. Saíamos do trabalho, tomávamos umas cervejinhas no Bar do Coutinho e partíamos em direção à zona – uma verdadeira incursão pelo mundo das orgias, das bacanais, tal qual os romanos.
Durante a semana, muita malhação, vitaminas e anabolizantes para manter a forma.
Não sei se por efeito colateral dos anabolizantes ou do excesso de malhação com halteres pesados, Elias começou a apresentar dores nos braços. Mais tarde, o braço encolhia e a mão ficava dependurada, lânguida, no melhor estilo “drag queen” em baile do orgulho gay.
- Sei não – disse Pedro – acho que o Elias está desmunhecando!
- Que é isso pessoal,já perderam a confiança em mim? Ainda sou macho, muito macho!
Mas os sintomas foram se acentuando. Não adiantava massagem, fisioterapia, estufa, ondas curtas, do in, massagem ayurvédica ou acupuntura.
Ficamos preocupados e alertados para a gravidade do problema quando o Elias começou a se interessar pelo massagista.
Fizemos uma reunião de emergência pois estávamos começando a apresentar os mesmos sintomas.
Resolvemos suspender os anabolizantes e partir para a testosterona. Tudo voltou ao normal.
No carnaval, decidimos desfilar no “Bloco das Virgens Desvairadas”. Foi a maior zorra e, para nossa surpresa, uma revelação.
Sentimo-nos tão bem com aquelas perucas coloridas, colantes, corpetes, mini-saias e sandálias de salto alto que decidimos assumir o nosso lado feminino.
Éramos seis machões fortes, másculos, garanhões. Hoje, somos delicados e conhecidos como as “drag queens” da Praça da República.
É preciso ser macho para deixar o lado feminino se desenvolver plenamente e manter o equilíbrio Yin-Yang, como diziam os chineses.
Na verdade, todo homem é um veado em potencial, mas poucos têm coragem de assumir.
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