Eu já falei mais de mil vezes sobre o complexo de Artaxerxes, aquele homem humilde de Atenas, amigo de infância do administrador da metrópole e que, da primeira vez que foi falar com amigo quando ele se tornou importante, no meio da multidão, quis abraça-lo forte e fraternalmente, como faziam quando eram ambos pobres e, desconcertado, viu o amigo desvencilhar-se rapida e bruscamente daquele amplexo e mostrar-se como que ofendido e falar asperamente para os guardas: "Guardas! Levem daqui este homem que está me importunando!". Artaxerxes saiu dali cabisbaixo, com as antenas da sensibilidade arriadas, com os sentimentos pululando descompassadamente no seu coração, humilhado e destroçado nos seus brios.
Vale a lição para todos quantos tentam se aproximar dos poderosos, mesmo que tenham gozado de sua íntima amizade no passado, naqueles tempos das chamadas vacas magras. A maioria das pessoas quer esquecer o passado sem brilho quando atinge os denominados píncaros da glória, sem lembrar que, a maior parte das vezes : "a glória é o orgulho de quem a vê e a desgraça de quem a possui".
Artaxerxes calculou errado, partiu de suas próprias convicções e padrões, olvidou-se que o ex-amigo passou por expirências multifacetadas antes de chegar ao apogeu e agora, nos braços móveis e escorregadios do Poder, procura ser um homem diferente daquilo que sempre foi, um homem forte, mas embriagado pela força que emana de todo Poder, uma força mais embriagadora que o alcool, mais destruidora que a mais destruidora das drogas, isto é, se o homem não tiver sido talhado para a grandeza, não tiver a têmpera rija e incorruptível daqueles que, ocupando o cargo que ocuparem, sabem se mostrar e permanecer eles próprios, por conseguinte, mais importasntes do que qualquer posição. |