A morte das pretensões (http://pesp.hpg.com.br)
P. Espinosa
Quem quer que nos esteja a ler, pensará no tom dramático deste título. Afinal, um quase jovem, um young man, como diriam os ingleses, não devia estar tão triste.
O que me leva a isto?
Mas não será a tristeza apenas o confortável findar das pretensões? Estes textos mal acabados, que por vezes escrevo nestas páginas não têm semelhança com o que antes tentei escrever. Era então muito mais pretensioso e, quando o perfeccionismo não embotava a vontade de escrever, fazia com que os textos fossem reescritos e reescritos muitas vezes.
O que cancela minha inclinação ao perfeccionismo é apenas a vontade de acalmar esse monstro angustiante, que tantas vezes leva à tristeza e à insatisfação.
Borges dizia que é um ofício de tolos escrever grandes livros. Certamente não diria que reescrever pequenos livros seja tolo.
Contudo, Borges há um só, e todo o espaço possível está hoje subdividido entre muitos candidatos a Borges, cada um deles com seu direito a 15 minutos de fama.
Mesmo que houvesse alguém dizendo palavras tão interessantes quanto as de Borges, essas palavras se perderiam no meio da cacofonia de muitas outras palavras não tão interessantes ou fecundas quanto as de Borges. O que seja ainda mais impressionante é que na cacofonia possa haver mais outros 15 da mesma altura de Borges, cada um deles dizendo coisas diferentes.
Ninguém vai ouvir qualquer um dos 16 possíveis sucessores de Borges, que vão passar desapercebidos do mundo. Talvez, algum dia, um outro Borges descubra, no meio da montanhas de livros e idéias, um seu predecessor. Mas de que adiantará?
Ninguém ouvirá esse Borges louvar um outro...
Assim, resta dizer, como os grandes latinos, que a verdade está na mediocridade.
Nada de muito grande, nada de muito esforçado, nada de muito belo.
S. Paulo, 24 de agosto de 2002
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