Há estreita relação
nesses dois belos conceitos,
do zombar e da razão,
ainda que imperfeitos.
Em distinto cavalheiro
reconhecemos a graça
e seu zombar mais treteiro,
mas educado, na praça.
É preciso ser polido
pra tratar por outra via,
mas também comprometido,
o tema da zombaria;
suportar a gozação
de zelosos companheiros
que têm opinião,
mas não aceitam terceiros.
Bem usado tal caminho,
com total educação,
nossa via zombeteira
tem sempre aprovação.
Mas o que em causa está
é saber em que medida
a zombaria será
justa, sem causar ferida;
em que sentido bem faz
para conversa separada,
pro social mais fugaz,
ou em geral, pra moçada;
e não um apenas meio
de, sem dó, diminuir
e escarnecer quem veio
com adverso sentir.
A via da zombaria
de geral aplicação
é justa, em qualquer dia,
pois não tem definição.
No convívio social
os papos não têm castigos,
sem rigidez ritual
zombaria faz amigos.
A boa sociedade
deixa o homem polido,
educa com liberdade
o por ela seduzido.
Qual cristais, nós nos polimos
em amigáveis atritos,
e também nos poluímos
com toleráveis afitos.
Sem lustre e sem sujeira
os entendimentos somem,
some a boa maneira,
a educação do homem.
Livre pra dialogar,
em colisão amigável,
o homem vai professar
a polidez, ser amável.
Inda que não dê em nada,
que resulte confusão,
ambiente camarada
gera nova discussão.
Durável disposição
para raciocinar,
feita de repetição,
vai o homem educar.
Esse hábito saudável
é que vai propiciar
alegria inefável
a quem o praticar.