Eu começo o meu dia
pegando o meu jarrão;
inicio assepsia
e faço a ligação.
Apronto a internet
e sento no cadeirão,
nada de pintar o sete,
é hora de oração.
Media Player arrumado,
vou até à biblioteca,
o cursor é apontado
para minha discoteca.
"Estações" é minha lista,
que começa com o grilo;
para abiogenista,
nasceu sozinho aquilo.
Ao fundo, só madrugada,
pássaros madrugadores,
primeiros silvos e nada,
são os primeiros cantores.
A água de um riacho
faz a primeira lambança,
é quando me despacho
pra reza que não me cansa.
Escutando sabiás,
ferreiros e canarinhos,
começo lá, bem detrás,
a explorar meus cantinhos.
Aprendi a buscar fé
para ter algum socorro,
mas não foi com um issé,
foi depois de muito morro.
Entrega e abandono
da vontade ajuntada
é que tiram nosso sono,
em meio à passarada.
Busco a fé verdadeira
com Cristo no coração,
pra ser minha companheira
na ora da oração.
Faz presença bem-te-vi,
depois vem o som de ondas,
ouço vem-cá-siriri,
gaviões e trapizondas.
Soam as ondas do mar,
cantam baleias, e rezo,
quero me harmonizar,
há corpos que não desprezo.
Sinto este ambiente
como parte do meu ser,
formas, cores, qualquer ente
passa a me pertencer.
Vontade unificada,
imaginada assim,
é com essa passarada,
com ventos e o capim.
E esta abandonada
à simplicidade vem,
à sinceridade dada,
ao espontâneo também.
Os sons, então, fazem parte
de tudo que está dentro,
vêm de "ab utraque marte",
é quando mais me concentro.
Vêm chuva e trovoada,
coachar longo e breve,
correnteza, mais toada,
e já estou bem mais leve.
Os barulhos desse mar,
dessa chuva, dos trovões,
esses cantos vêm cantar
em meu corpo, meus rincões.
Meu sangue de vermelho
com a chuva se azula,
chove em meu aparelho,
é a fé que perambula.
Perambula de azul
dos pés para a cabeça,
de norte até o sul,
que tal fé me favoreça.
Quando assim me percebo,
é hora de decretar,
Em nome de Deus concebo
este dia superar.