UM PORTA-JÓIAS SEM DONO
José de Sousa Dantas
Contemplei um PORTA-JÓIAS
num museu abandonado,
com RELÍQUIAS a seu lado:
cadeiras, malas, tipóias,
anéis, correntes e bóias...
dentro do bojo um tecido
com um feltro revestido
quase da cor de carbono.
Um PORTA-JÓIAS sem dono
me lembrou um amor perdido.
Um amor que no começo
era cheio de paixão,
numa perfeita união,
entusiasmo e apreço,
mas de tropeço em tropeço,
aquele doce cupido
foi perdendo seu sentido,
caindo no abandono.
Um PORTA-JÓIAS sem dono
me lembrou um amor perdido.
Era um amor exemplar,
bonito e surpreendente,
inusitado, envolvente...
sem limites de amar,
formando um romântico par
harmonioso e unido,
feliz e bem sucedido,
indo de outono a outono.
Um PORTA-JÓIAS sem dono
me lembrou um amor perdido.
Dois seres apaixonados,
unidos por muitos anos,
idealizaram planos,
a serem realizados,
mas depois de separados,
cada um desiludido,
com o coração partido,
enfrentou noites sem sono.
Um PORTA-JÓIAS sem dono
me lembrou um amor perdido.
Vendo aquele ESTOJO exposto
me deu logo a impressão
de uma separação –
– um amor que foi deposto;
mas num centro estava posto,
conservado e protegido,
pronto para ser vendido
e ocupar um novo trono.
Um PORTA-JÓIAS sem dono
me lembrou um amor perdido.
Há muito o que se contar
desse AMOR que fez história,
pela sua trajetória
venturosa e singular,
para se avaliar
o que tem acontecido
sobre um castelo caído
em ruína e desabono.
Um PORTA-JÓIAS sem dono
me lembrou um amor perdido.
Vi que ali tinha POESIA,
fui direto ao vendedor
para saber o valor
e acertamos a quantia,
consegui no mesmo dia
o TESOURO pretendido,
que se acha reunido
com os que coleciono.
Um PORTA-JÓIAS sem dono
me lembrou um amor perdido.
Versos de José de Sousa Dantas,
Mote de Daniel Duarte Pereira Sabiá.
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