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Cartas-->Quando éramos felizes e não sabíamos -- 24/06/2003 - 18:08 ( Andre Luis Aquino) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Amor de mãe é o que chamam de laços eternos, aquelas que jamais se desfazem, aqueles que resistem a qualquer coisa, até a morte, a ligação de uma mãe com um filho é algo incompreensível para o entendimento ou para a nossa razão, é algo que só a alma sente e não existe coração maior nesse mundo que o coração de um mãe.
Bom, já dá para perceber que eu vou contar um história triste, muito triste, porém verdadeira, humana e dolorida. O titulo tem um caráter meio saudosista e é um pouco pessimista porque fala de algo que passou e não tem mais volta, nós seres humanos vivemos apenas por dois motivos (falo dos instintos básicos e inconscientes):
Fugimos da dor e buscamos o prazer o tempo todo e a todo custo.

Seria apenas mais uma das minhas ficções se essa história não tivesse acontecido tão próxima de mim e ela aconteceu na mesma cidade onde nasci e fala de pessoas que conviveram comigo muitas vezes.
Falo de Danilo um garoto que tinha seus 18 anos e tinha o apelido de mosquito, justamente porque tinhas as pernas finas e era muito magro como o tal inseto (herança paterna de seu Mário, que é um descendente de japoneses bastante magro), jogava bola no mesmo campinho que eu jogava, quem me conhece sabe que sou louco por futebol e passei muitas horas de minha infância correndo atrás da bola, nos falávamos pouco, mas me lembro de muitas vezes termos trocado palavras e de ter encontrado ele na praia algumas outras tantas vezes, em cidade pequena todo mundo se conhece e é amigo do amigo e por ai vai.
Mas quem me inspira a escrever nesse momento é a sua mãe, uma mulher realmente incrível que se ergueu do fundo do poço da dor, uma dor terrível que deve ser a pior dor que um ser humano pode sentir que é a perda de um filho amado e querido.
Danilo naquele sábado quando o encontrei no bar ,aonde todo mundo ia naquela época, parecia tranqüilo tomou umas duas cervejas na mesa ao lado da minha e conversou animadamente com um amigo em comum (o boca, um dos meus melhores amigos), ele tinha problemas com drogas, assim como quase toda um geração, mas nunca foi de incomodar ninguém.
Ainda me lembro quando apertei sua mão pela ultima vez e fomos para lados opostos (se me fosse permitido naquele momento saber o que aconteceria não teria deixado ele ir embora para sempre).
Naquela noite cheguei em casa e não fiquei sabendo do acontecido apenas minutos depois de ter passado na mesma curva onde ele perdeu sua vida, no dia seguinte a cidade estava de luto e sua mãe enlouquecida pela dor de ter que enterrar um filho.
Danilo morreu numa curva quando o carro que um amigo seu dirigia (apenas um conhecido meu, não tinha amizade com esse) bateu num poste bem do lado do carona matando-o na hora (até hoje quando passo por essa curva sinto um arrepio frio).
Até então não conhecia a sua mãe, mas a cidade toda podia sentir a sua dor pelos gritos desesperados e pelas lágrimas de sangue que ela chorava pela morte de seu filho mais velho, uma ferida enorme em sua alma estava formada e parecia que nunca seria curada.
Só a conheci anos depois da morte de seu filho, ela tornou-se amiga da minha Mãe através da igreja e se tornaram irmãs na fé, começou a freqüentar a minha casa e senti um tremendo carinho desde a primeira vez que falei com ela, uma coisa inexplicável para mim que sou tão tímido e tenho tantas reservas com as pessoas.
Vanilda (esse é o seu nome) só sobreviveu porque ainda tinha o outro filho, Marquinhos (que mora com um dos meus irmãos numa república em Santos), pelo amor de seu Marido e pela fé em Deus.
Mas o motivo maior deste texto é um só, é um fato que marcou para sempre a minha vida e que me abriu os olhos, que me fez amar aos meus pais e a minha família como jamais amei outra coisa na vida.
Um dia quando minha mãe estava com ela voltando de um culto, minha mãe comentou de atravessar o canal (mamãe vive em São Sebastião que tem a Ilhabela emoldurada pelo mar bem em frente) para comer o famoso cachorro quente prensado(um cachorro quente como todos os outros, só que prensado numa chapa) que é vendido numa barraquinha (uma das coisas mais gostosas que já comi na vida e que todo mundo gosta e comenta).
Ela começou a chorar, um choro muito doído e forte, um choro que vinha do fundo da alma ferida pela dor da perda irreparável e mamãe não sabia o que tinha acontecido, ficou desesperada e perguntava o que ela tinha feito ou dito.
A Vanilda não conseguia parar de chorar e não conseguia falar, mamãe levou ela para casa e então um pouco mais calma ela contou o motivo.
Quando o Danilo era vivo ele vivia pedindo para ela atravessar o canal com ele para comerem o cachorro quente prensado, mas ela nunca foi com ele...
Outro dia eu estava na varanda lá de casa brincando com o papagaio e dando umas gostosas risadas e não percebi que ela tinha chegado em casa e quando me virei vi que ela estava olhando para mim com um olhar perdido, como se visse em mim o filho perdido.
Muitas vezes estamos vivos e nem nos damos conta disso, muitas vezes temos tantas coisas que nos fazem felizes e só uma que nos faz triste e isso é motivo para reclamarmos, muitas vezes somos felizes de verdade e não sabemos que somos.
Você fugirá a vida interia da dor e muitas vezes encontrará refugio em muitos prazeres e em coisas materiais, mas nunca haverá abrigo ou amor maior do que o amor de uma mãe e de um pai.

Texto dedicado a minha Mãe querida que criou e me formou e a uma das minhas mães que me empresta livros maravilhosos,obrigado Vanilda.

André Luis
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