A morte do adúltero
maria da graça almeida
Era vivo, ora, jaz morto!
Da existência, um aborto.
É velado por queixumes
e soluços do ciúme.
O vil rosto macerado,
ri um riso disfarçado,
sorri das dores alheias,
zomba das próprias asneiras.
As mãos crispadas escondem
os carinhos de anteontem...
Hoje, quietas demais,
deixam as moças sem paz.
As lágrimas das viúvas,
que deslizam feito chuva,
lembram gotas sonolentas
com sabor de anis e menta.
Solitário, sem bagagem,
na derradeira viagem,
teme encontrar pelos céus
fogosas línguas de fel.
E nesse dia e hora,
o sol apaga-se fora.
A terra arranca do útero
um filho de vícios adúlteros
maria da graça almeida |