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Cronicas-->Anjo negro -- 05/02/2004 - 16:40 (maria da graça almeida) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Anjo negro
maria da graça almeida

Às vezes me parece -como minha terapeuta ajudou-me a definir- que o chão está fofo sob meus pés.
É uma sensação de insegurança que me invade e faz com que subitamente eu desconheça
as possibilidades do próprio corpo.
E foi assim que me senti, enquanto andava pelas ruas de Copacabana, entre camelós e gente
despojadamente vestida para o enfrentamento do calor que, insuportável, botava-me a nuca e os seios molhados.
Conversando com a moça da loja de bolsas, soube, logo no primeiro fiapo de conversa, que o pai nascera em Ribeirão e agora se mudara para Manaus; que ela estivera poucas vezes no interior e que amava São Paulo.
Com ritmada fluência e a peculiar simpatia do carioca, foi me contando toda a vida, sem que
nada eu lhe tivesse perguntado. Depois de ouvi-la com prazer e paciência, pedi
que me indicasse algum lugar agradável e tranquilo onde eu pudesse almoçar, longe da ansiedade da Avenida.
Sem pensar muito, respondeu-me que logo ali, na Barata Ribeiro, havia uma loja de CD
e no fundo encontraria um bom restaurante .
Meio em dúvida, ainda com o chão afofado sob os pés, dirigi-me para lá.
Entrei curiosa e deparei-me com uma quantidade de discos, que, com certeza, atenderia
às mais variadas preferências.
Ainda fiquei parada por uns instantes a olhar todo o espaço, indecisa se ficaria ou não.
Depois de um reconhecimento parcial, dirigi para o local das mesas, começando a achar que a sugestão fora boa.
Tão logo sentei, o garçom trouxe-me o cardápio e eu pus-me a examiná-lo, sem pressa.
Foi nesse momento que ele adentrou.
Caminhava devagar e em silêncio.
O rapaz que o conduzia, levou-o ao piano, que até então eu reparara fechado. Com gestos
cuidadosos retirou o feltro protetor das teclas, dobrando-o delicadamente e a partir daí, com firmeza, ajudou o homem a acomodar-se.
Olhando-os, atentamente, atraí a atenção do rapaz, que se aproximou e disse-me baixinho:
_ Prepare-se para o show...
Sorri e continuei a conferir o cardápio.
Uns arpejos insinuaram-se brejeiros, cedendo lugar aos acordes que irromperam soberanos.
A melodia soou plena, lindamente arranjada na medida exata, sem se distanciar da linha melódica para não perder o propósito do compositor, ou lhe faltar com o respeito.
O ambiente todo foi envolvido pelo som do anjo negro, que mesmo na total escuridão conseguia iluminar sentimentos e pensamentos através da luz de seus dedos, que pelo teclado deslizavam com maestria.
Engoli a salada com azeite e lágrimas.
A torta de limão, ainda que deliciosa, nem de longe se mostrou à altura das notas que ali dançavam sob angelicais silhuetas.
Deixei-me ficar ali, durante horas.
Quando, enfim, levantei-me, senti que magicamente o chão enrijecera.
Pisei forte, segui firme, apertando contra o peito o CD do anjo negro, o mesmo que agora ouço, enquanto escrevo para dizer do pedaço de tempo em que me permiti estar mais perto do céu.






























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