Depois de meses de cerco, conversas furtivas, olhares desejosos, apertos de mão demorados, suspiros, suor frio, despedidas, marcaram um encontro naquele barzinho à beira mar, pouco frequentado, iluminação propositadamente deficiente.
Ele chegou quinze minutos antes, escolheu uma mesa bem ao fundo, discreta. Roeu as unhas enquanto esperava, olhando para o relógio a cada minuto.
O garçon rondava como um beija-flor, perguntava: vai beber alguma coisa?
Respondia impaciente: estou aguardando alguém. Depois.
Mas, dali a pouco o homenzinho voltava, rodipiava em torno da mesa, parecia flutuar e tornava à pergunta:
vai querer beber alguma coisa?
Retrucava: já disse, estou esperando alguém.
Passou da hora marcada. Começou a duvidar da vinda dela. Já não tinha mais unhas para roer, estava quase em carne viva o dedo indicador da mão direita. Batia na boca para náo fazer mais aquilo. Nervoso. Suando.
Chamou o garçon e pediu um uisque com gelo.
Bebeu o primeiro gole e, justamente naquele momento ela apareceu, vestido preto, maquiada, sorridente.
Esperou muito?
Mentiu, pigarreando. Não, acabei de chegar e pedi uma dose de uisque. Você, o que vai beber?
Ela sentou-se, arrumou o cabelo, pos a bolsa na cadeira vazia e respondeu:
Um guaraná diet com gelo e laranja.
Chamou o garçon que se metera nalgum lugar escondido. Ele veio saltitante. Fez o pedido.
O garçon trouxe a latinha. Puxou o anel, entornou um pouco do guaraná no copo com gele e uma rodela de laranja.
Ela sorveu o primeiro gole.
Ficaram calados por alguns instantes.
Depois, ela falou:
O que vamos fazer? Você náo pretende ficar a noite toda aqui, não é? E lançou aquele olhar indiscreto e pidão que ele detestava nas mulheres ousadas.
Ele perdeu todo o romantismo. Achou-a desinibida demais para a moça tímida que tanto idealizara. Chamou o garçon, pagou a despesa. Lá fora, sem dizer mais nada, chamou um táxi, deu uma nota ao motorista e ordenou: deixe esta senhorita em casa, por favor.
Ela olhou surpresa, entrou no táxi indignada.
Até hoje não conseguiu entender porque ele agiu daquele modo.
|