Diariamente dou uma volta pelo agitado Centro comercial do Recife para recarregar as baterias desgastadas pelas horas de reclusão na caverna onde me refugio para proteger-me dos perigos que rondam a cidade quando a noite cai.
Atravesso as ruas, fora da faixa de pedestres, por entre os carros parados nos sinais vermelhos.
Deparo-me com meninos e meninas de rua, crianças ainda, cheirando cola. Encontro mendigos que conheço há anos esmolando nos mesmos lugares. Não dou esmolas, sou contra.
Jovens oferecendo cartões de crédito da C&A, Lojas Riachuelo, etc. Adultos distribuindo panfletos oferecendo dinheiro na hora ou com propaganda de cursos preparatórios para concursos. Alguns oferecendo-se para comprar jóias ou cartelas de penhor da Caixa Económica.
Camelós nas calçadas vendendo CDs piratas, relógios contrabandeados e mil e uma bugingangas.
-A, B e C, compro e vendo. Gritam nos pontos de ónibus os cambistas do vale transporte.
Abusados e insistentes "flanelinhas" achacando indefesos e estressados motoristas em troca da incolumidade de seus carros.
Mulheres de todas as idades e raças oferecendo sexo barato nas esquinas e praças.
Passo pela lojas sem olhar para as vitrines, não tenho interesse em comprar nada.
Entro no Banco, confiro o meu extrato.
O saldo ainda é suficiente para pagar as contas que faltam e para me manter até o próximo pagamento da minha aposentadoria.
"Sou um privilegiado", suspiro.
Almoço e volto para a minha caverna de onde só sairei no dia seguinte para repetir tudo da mesma maneira.