Era baixinho mesmo, por isso não se importava com o modo como lhe chamavam, sempre no diminutivo: Bricinho. Quando alguém, menos íntimo, gritava o seu nome: Brício, muitas vêzes nem olhava, pensando até que não era com ele que estavam tentando falar.
Fora um aluno brilhante, tirando sempre as melhores notas na sua turma. Além disso, era uma pessoa alegre, gostava de brincadeiras, de passeios, de jogar, de beber, de fumar.
Mas, de uns tempos para cá, todos notavam a transformação, andava meio borocochô, jururu, depressivo, sei lá, o nome que quiserem dar àquela pessoa que, carcomida por dentro com o vírus da tristeza inexplicável, vai perdendo o elã, a garra, o sentido da vida.
Os amigos e parentes começaram a se preocupar quando manifestou, pela primeira vez na vida, uma súbita vontade de morrer. A mãe, desolada, sentindo que o filho estava como que ficando louco, pensava em mil formas de distraí-lo. Chamava os amigos para reuniões, promovia festas, chamava garotas, mas ele, o olhar perdido num lugar que ninguém sabia qual, parecia indiferente a tudo.
Confessou para dois ou três amigos que estava ficando impotente, não tinha mais tesão com as meninas, nem que fossem as mais arrebitadas e sapecas, as mais sensuais e gostosas.
Levaram-nos a uma sessão espírita, levaram-no a um curandeiro e a uma rezadeira. Nada deu resultado. Era um caso pratricamente perdido.
A mãe levou-o numa viagem e contou, depois, que ele não se animava com coisa alguma e que, muitas vezes, o supreendeu chorando. Ela pereguntava o porquê, mas, soluçando, ele balbuciava palavras que ela não conseguia entender.
Até que, um belo dia, chegou a carta da Alemanha, escrita, contudo, em Inglês. Era de um lourinha que morava numa cidade pequena, perto da Hamburgo, que havia descoberto o endereço dele numa relação de estudantes brasileiros e, como era admiradora do Brasil e queria aprender português, resolvera escrever-lhe para iniciarem uma correspondência amistosa, um intercâmbio internacional. Junto, um retrato recente da garota, cabelos lisos, olhos azuis, rosto cumprido, nariz afilado.
Lendo a carta, esboçou um sorriso de satisfação9, coisa que não fazia há mais de seis meses. Apressou-se em responder, fez a barba, correu ao estúdio para revelar uma fotografia.
Ele mesmo fez questão de ir ao Correio postar a carta, saindo de casa sozinho depois de muito tempo.
Milagre, todos exclamaram. Em poucos dias, voltou a ser aquele de outrora, rindo, bebendo, fumando...e ninguém sabe o motivo daquela estranha apatia. Tampouco se pode explicar porque uma simples carta foi capaz de trazê-lo de volta à vida. |