Credo!
maria da graça almeida
Caninamente, cada um defende seu credo.
Credo? Credo! Cansei.
E ainda há quem iludido, ingenuamente, hasteia
a bandeira da inocência no alarde dos hipotéticos
méritos deste ou daquele.
A ideologia morreu de decepção, de vergonha, de tédio.
Muitos querem estar Lá, tendo ou não condição,
prontos ou não. E que diferença faz?
Desejam chegar sem o ensaio do passo-a-passo.
Pretendem correr, antes mesmo de conseguirem andar. Metem-se!
Tentam satisfazer a necessidade do poder.
Cada qual atendendo à premência da ganância e da vaidade.
E há quem os aplauda. Creio que o povo precisa de sonho, de quimera.
Talvez, a esperança tão-só seja isso. E o engano, a única saída.
Amanhã direi ao meu dentista:
- Sente-se. Agora, cuido eu de seus dentes.
Correrá ele o risco?
Por outro lado, há outros que estão e não querem sair.
Provaram do trono. Gostaram!
O assento é confortável, proporciona status. Ondula o ego.
Esses aí, sim, usam e abusam das rimas ricas, do discurso bonito.
Dizem-no bem e em várias línguas. Impressionam.
Privilegiados, ocuparam os bancos de boas escolas e de quebra
cursaram a faculdade da política “conchaveira”, mentirosa,
política que às vésperas das eleições, alarga a boca indisposta
e beija crianças pobres, idosos carentes.
Enquanto o tolo tira o roto chapéu e sob as intempéries coloca
em risco a própria cabeça,
os senhores do poder, mesmo em face dos ventos amenos e das finas
garoas tratam de abrigar-se,
de corpo inteiro, com o exagerado zelo que se permitem destinar.
Enquanto para poucos, na riqueza da vestimenta, as luzes acendem-se,
para muitos a nudez e a escuridão tornam a barriga tão vazia
quanto a carteira de trabalho que na gaveta experimenta
o gosto frio do papel em branco.
E salve-se quem puder. No fim do túnel não há luz nenhuma.
Tampouco se avista a saída.
Pessimista? Quem? Eu?
maria da graça almeida
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